Entrevista com Satish Kumar – Cofundador da Schumacher College
Como surgiu a Schumacher College?
Nós começamos a Schumacher College in 1991 e sentimos que o sistema educacional produz jovens condicionados a ir para o mundo, ganhar dinheiro, ter um bom emprego, ter sucesso, tudo isso. Mas enquanto eles estão fazendo seu trabalho para grandes corporações, grandes empresas, o exército, empresas internacionais, multinacionais, companhias como a Monsanto, estas pessoas estudadas estão prejudicando o mundo. Então nós precisamos criar uma nova forma de educação em que as pessoas saiam desta faculdade, vão para o mundo e façam coisas boas para a Terra, façam coisas boas para a sociedade e aprendam de uma maneira holística, não de uma maneira fragmentada. Então essa foi a ideia e eu tive muita sorte que Dartington Hall tinha este Old Postern vago, e eu disse "vamos criar uma faculdade", uma faculdade para estudos ecológicos, ambientais e espirituais, ciência holística, economia holística, todos estes tipos de assuntos.
Como você se sente vendo a escola hoje, 25 anos depois?
Eu estou encantado que, depois de 25 anos, a Schumacher College continua forte e florescendo. Quando começamos, em 1991, muitas pessoas diziam: “a escola vai sobreviver por quatro ou cinco anos, talvez. Quem vai vir estudar ecologia, espiritualidade, ciência holística, economia holística? Vocês não vão ter sucesso”. As pessoas duvidavam da Schumacher College. Mas nós continuamos aqui depois de 25 anos e mais de 15 mil estudantes já passaram por aqui, seja nos mestrados ou cursos curtos. Então eu me sinto muito emocionado e encantado.
Entrevista com Jon Rae – Diretor da Schumacher College
Quais são os pilares da escola?
As grandes convicções centradas no coração da faculdade são que as abordagens racionais científicas que sustentam a civilização ocidental são incompletas, elas não contam a história toda e não dão a direção na qual seguir, não dão um contexto. Nós precisamos encontrar novas visões da nossa relação com a Terra e com os outros. Então, o papel da Schumacher College, para mim, é em muitas formas como um eixo filosófico para o compartilhamento e surgimento de ideias para criar perspectivas filosóficas e testá-las por meio de iniciativas em escala humana, e isso significa conectar espírito e prática, seu grande propósito como indivíduo. Então, quando eu falo sobre cultivar perspectivas filosóficas, eu me refiro a empreendimentos individuais e coletivos das pessoas aqui na escola que sejam expressados e testados por meio de iniciativas em escala humana. Este, para mim, é o papel da escola: cultivar perspectivas filosóficas e, através do aprendizado pelo fazer, colocá-las em prática e aprender a partir daí. Isto é absolutamente importante. [Ernst Friedrich] Schumacher, que deu nome à escola, viu e sentiu essa questão da civilização e escreveu seu famoso livro “Small is beautiful”. Ele escreveu o livro como um amuleto contra tudo da sociedade industrial que tem um efeito desumanizador. Mas ele, como nós, não viu uma única panaceia [uma substância capaz de curar todas as doenças]. Nós não acreditamos em panaceias, nós evitamos panaceias. Ao invés, o que surge são iniciativas de escala humana, aquelas que realmente conectam espírito e prática. Ver estas iniciativas através do que ele considerava uma abordagem econômica, que é uma abordagem econômica e cultural que tem relação com subsidiariedade e conseguir alcançar o que se quer no nível mais apropriado possível. Cultivo de alimentos, por exemplo, seria feito mais localmente, enquanto que formas de defesa seriam administradas regional ou nacionalmente; a coordenação de atividades para o ambiente global seria em nível global. Há níveis diferentes de organização. O que Schumacher falava era sobre qual o nível mais apropriado para se fazer ou alcançar as coisas. Para mim, a escola é sobre estas iniciativas em escala humana, os indivíduos testarem suas perspectivas filosóficas e colocá-las em prática ao longo de toda sua vida. Estas iniciativas em escala humana podem ser pequenas, como fornecer frutas e vegetais orgânicos de Riverfood [fazenda orgânica local] para quem não tem acesso em Torbay [cidade vizinha], ou grandes, como alumni [ex alunos] que foram às Nações Unidas e tiveram um papel importante na COP 21, em Paris [em 2015]. Nosso interesse está nestas iniciativas humanas, sejam grandes ou pequenas.
Qual é a estrutura da escola?
O currículo tem duas partes: uma é o próprio programa e a outra é participar das atividades diárias da faculdade, ambas como uma forma de prática reflexiva e também reconhecendo que nós andamos lado a lado com o aprendizado e não podemos separar aprender de viver. Se nós andamos lado a lado com o aprendizado, então nós participamos das atividades diárias, tanto em relação a cuidar do espaço físico, colhendo alimentos, trabalhando na horta, cozinhando e limpando, quanto a apoiar uns aos outros emocionalmente. Estas são atividades coletivas das quais é importante que estudantes, colaboradores e voluntários participem.
O que há de especial em relação a Schumacher College?É importante ser humilde quando falamos sobre o que nos distingue porque não temos ideia do que está acontecendo em tantos outros lugares e iniciativas ao redor do mundo. Mas o que nos difere de universidades, digamos assim, é que nós temos um posicionamento forte do paradigma ecológico de que o indivíduo está inserido na comunidade e na sociedade e que sociedade e cultura estão inseridas na natureza. Nós não afirmamos que sociedades e indivíduos estão separados da natureza e que nós temos alguma forma de controle ou administração sobre a natureza. Nós não temos esta relação. Não temos a ideia, que permeia muito o pensamento ocidental, de divisão entre natureza e cultura, entre mente e corpo, entre o racional e o intuitivo. Não podemos ter essa separação, não faz sentido e não é parte da nossa realidade. A realidade é que a cultura está na natureza, não há outra opção. Não existe divisão entre mente e corpo. Não é possível traçar uma linha clara entre o racional e o intuitivo, entre o objetivo e o subjetivo. Nós vivemos fundamentalmente num mundo subjetivo. Nós começamos a partir deste ponto e exploramos abordagens filosóficas a partir dessa posição. Então isto é bem característico da Schumacher College em comparação com outros lugares de educação superior. Aqui eu uso a palavra educação com cautela, porque nós não estamos aqui para educar de fora para dentro, mas sim extrair do indivíduo ao invés de inserir informações nele. O segundo aspecto em relação ao diferencial da escola é a abordagem genuína e autêntica de que nós andamos lado a lado com o aprendizado. O terceiro aspecto são as pessoas que são atraídas para cá. É um lugar de encontro extraordinário, para indivíduos extraordinários, que vão fazer coisas extraordinárias. Eu diria que somos diferentes nestes três aspectos, mas digo isso humildemente.
Como é ser o diretor da Schumacher College?Em termos de liderança, eu entrei neste papel como um líder entre iguais e esta é uma abordagem muito interessante de se ter. Eu tenho a responsabilidade final, mas não estou sozinho. Eu estou aqui com meus pares e é a dinâmica intelectual e emocional que diz para onde a escola vai. Então eu vejo meu papel como líder da escola mais em termos de facilitar e coordenar uma direção de intenção. Mas, em essência, meu papel é apoiar quem está aqui na escola a viver de acordo com essa intenção. Isso pode significar mudar o que eles estão fazendo, começar coisas novas para compartilhar e complementar o que estamos fazendo. Mas, especialmente, não é só o que acontece aqui. É a nossa habilidade em apoiar aqueles que querem empreender iniciativas em escala humana ao redor do mundo e como a escola pode ser o melhor lugar para apoiá-los, nos conectar com eles, colaborar e prover uma rede de aprendizado entre pares para que todos nós possamos aprender e compartilhar que estamos espalhados pelo o mundo caminhando em direção a uma civilização ecológica e como é importante saber que não estamos sozinhos neste esforço.
Entrevista com Tara Vaughan-Hughes – Chefe vegetariana na Schumacher College
Por que todos são envolvidos nas atividades diárias de limpeza, cozimento e trabalho na horta?
É parte de um processo chamado aprendizado incorporado. Então os estudantes podem aplicar os aprendizados da sala de aula na vida real, falar com outras pessoas enquanto trabalham nas tarefas diárias, conosco, entre eles. Às vezes os professores participam dos grupos de trabalho, da limpeza. Tudo isso ajuda a consolidar o aprendizado.
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