Sustentabilidade na fala e na prática - Semana Municipal do Meio Ambiente de Blumenau 2015

Por Letícia Maria Klein Lobe •
23 junho 2015

Durante a mesa-redonda da Semana Municipal do Meio Ambiente, não foram apenas os palestrantes que abordaram a sustentabilidade em suas falas, mas o próprio Senac, local do evento, que ofereceu um coquetel com ecopos de papel e pratos de folha de bananeira, além da própria comida, que foi feita reutilizando cascas de frutas. É assim que se faz, coerência é tudo! Os palestrantes foram Daniel Silva, professor aposentado da UFSC, e Diego Pasqualini, professor da Faculdade Senac. Eles apresentaram vários dados importantes sobre a água e o novo paradigma da sustentabilidade. 

Super show, só tem que tomar rapidinho.

O professor Diego começou a exposição com um dado surpreendente: em 1800 havia 1 bilhão de pessoas no planeta. Em 1950, a população atingiu 2,5 bilhões de pessoas e hoje, em 2015, somos mais de 7 bilhões. Em pouco mais de 200 anos, a população cresceu 700%! A Revolução Industrial, que começou em 1750 na Inglaterra, trouxe a industrialização e mudanças no comportamento das pessoas, que levaram ao consumismo e ao uso irracional dos bens naturais, dentre outros problemas socioambientais. 

Exemplo de uso racional dos bens naturais:
 folha de bananeira como prato.

Hoje 780 milhões de pessoas tem problemas de acesso à água potável e em 2025, daqui a apenas 10 anos, este número será de dois bilhões, quase 1/3 da população. Enquanto isso, um milhão de pessoas consomem de 86% da água doce do planeta. A água é essencial a vida e o tratamento que muitas pessoas e segmentos da sociedade dão a ela é de descaso. O Brasil desperdiça 40% de água em processos agrícolas, industriais e de distribuição e estima-se que 55% dos municípios brasileiros sofrerão com falta de água em 10 anos. Na Europa, o desperdício gira em torno de 15% e no Japão é de somente 3%. Saber utilizar conscientemente a água e mantê-la limpa são as bases da preservação deste bem. 

O professor Daniel falou sobre a urgência de revermos comportamentos e hábitos, pois a vertente do consumismo e do desperdício está indo para o colapso. A civilização vem demandando sustentabilidade há algumas décadas e é esta vertente das ecosoluções que precisamos seguir para ter sociedades sustentáveis. A criação da ONU em 1945, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972 (Conferência de Estocolmo), a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992 (Rio 92), a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012 (Rio+20) e outros congressos mundiais sobre meio ambiente e sociedade demonstram a necessidade de rever conceitos e mudar paradigmas.

Da esquerda para direita: Daniel Silva, Diego Pasqualini 
e José Sommer (educador ambiental da Faema)

Foi o que fez a Rio+20 ao estabelecer política, pedagogia e cultura como o novo tripé da sociedade sustentável. Precisamos de conexões políticas para legitimar ações em prol da sustentabilidade, precisamos de educação para embasar e desenvolver comunidades sustentáveis e precisamos incorporar culturas positivas e sustentáveis com base na própria história da humanidade e com base no que queremos para o futuro. Existe um problema cultural muito grave nas sociedades hoje que é a exclusão da natureza, por isto é essencial trazer a natureza para o nosso dia a dia, em atitudes e hábitos conscientes.

Para avançarmos numa sociedade sustentável, precisamos aprender com a natureza, com a experiência e com o futuro. Como disse o professor, o futuro só existe no presente. A ideia de futuro existe no tempo do agora e será o reflexo do que está acontecendo hoje, pois a sustentabilidade não é genética, e sim determinada por nossas ações.
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Quando a questão é água, é uma questão de todos - Semana Municipal do Meio Ambiente de Blumenau 2015

Por Letícia Maria Klein Lobe •
10 junho 2015
A palestra “Água, recurso para a manutenção da vida”, ministrada pelo professor Hector Raúl Muñoz Espinosa, abriu a Semana Municipal do Meio Ambiente de Blumenau 2015, no dia 1º de junho. Hector é docente na Univali, onde coordena projetos na área de Hidrologia e Gestão de Bacias Hidrográficas, e é consultor autônomo em gestão de recursos hídricos. A fala do professor deixou claro que a água é um bem de todos os seres vivos, necessária à vida no planeta, e que abundância de água não significa muita coisa quando ela não tem qualidade. O ditado “é melhor prevenir do que remediar” pode ser aplicado neste caso, pois devemos, antes de querer tratar a água, mudar nossos hábitos para mantê-la limpa desde o princípio.

A palestra foi interessante, mas eu senti falta de uma abordagem ecossistêmica da água, uma conversa sobre a interdependência deste bem natural com todos os seres vivos e a maneira como a água é utilizada em nosso dia a dia, nos processos industriais e em qualquer atividade econômica. Ao contrário, a palestra conteve muitas informações técnicas. Algumas delas foram relacionadas à quantidade de água doce superficial nos continentes: a América, por exemplo, tem 46,5% enquanto que a Europa tem 6,8%. A questão, entretanto, não é a quantidade, mas sim a demanda e a qualidade da água. 

Professor Hector

De 1900 a 1990, a população cresceu quatro vezes, porém, a demanda por água cresceu sete vezes, sendo que, em médias mundiais, cerca de 70% dela é utilizada na agricultura, 20% na indústria e 10% para consumo humano. O ponto chave é que a demanda sempre aumenta, mas a quantidade de água no mundo não, ela é sempre a mesma. Ela pode não acabar, mas os processos das indústrias e mesmo das nossas casas sujam a água e este é o problema, pois limpar depois sai caro. Muito mais do que custaria para manter a água limpa desde o início de seu uso. Caro tanto em termos econômicos quanto ambientais, como quando há contaminação de corpos hídricos, fauna, flora e pessoas. 

As sociedades têm uma noção de que a água é um recurso gratuito, infinito e que pode servir como repositório de resíduos. Nada mais longe da verdade. Estas ideias, este traço cultural como o professor Hector chamou, induzem ao esbanjamento, ao desperdício e a não preocupação com um bem que é essencial à vida no Planeta Terra. Podemos não perceber, mas todos os produtos que consumimos, direta ou indiretamente, precisaram de água para serem feitos. Nós precisamos de água para nos manter vivos; por mais que não se tome água pura, ela está nos alimentos e nas bebidas. É da água do mar que vem o oxigênio que respiramos, produzidos pelas algas. Estes são apenas alguns exemplos da nossa dependência deste bem natural, que vai além. 

Os cenários podem não ser otimistas, mas podem ser mudados. Há muitas maneiras de cuidar da água, nos mais diversos estabelecimentos e nas indústrias. O sistema de abastecimento de água é responsável por um grande volume do desperdício, então apostar em alta tecnologia e na manutenção constante dos encanamentos e tubulações é uma solução. Aproveitar a água da chuva e a água de reuso (usar a água da máquina de lavar para a descarga do vaso sanitário, por exemplo) e comprar equipamentos que tenham mais eficiência hídrica também são técnicas das quais dispomos para preservar este bem. Além disso, é preciso limpar os corpos d’água e investir em educação ambiental, pois enquanto que a primeira é uma solução mais a curto prazo, a segunda é a verdadeira responsável por mudanças nos padrões de produção e consumo vigentes hoje no mundo.
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