Casa Aberta e PresentEco: dois projetos de educação para a sustentabilidade em Blumenau

Por Letícia Maria Klein •
20 novembro 2019
“Mudar o mundo uma pessoa de cada vez fazendo o que você gosta” é o lema de Mariane Gomes Sievert, que adotou a frase de um blog português. Há menos de dois meses, ela e a família colocaram em prática duas iniciativas de educação para a sustentabilidade em Blumenau: a Casa Aberta e o PresentEco. Mari trabalhou durante 15 anos como professora de educação infantil usando a metodologia Freinet e desde que sua terceira filha nasceu, dedica-se à família, aos estudos e a novos projetos como esses. Tivemos uma conversa muito bacana sobre as ideias, suas inspirações e as mudanças que ela quer provocar. As fotos foram cedidas pela Mariane.

O que é a Casa Aberta?
A Casa Aberta funciona na nossa própria casa: na sala, no quintal e na garagem. É um local que oferece eventos (nossos e de parceiros) e um espaço integrativo para acolher diversas pessoas e coletivos que estão buscando o mesmo olhar para infância, adolescência e família em que nós acreditamos. Queremos oferecer um espaço onde a criança e o jovem possam ser protagonistas, possam ser ouvidos e onde as coisas girem a seu favor. O objetivo da Casa Aberta é ser um espaço para conversarmos sobre educação positiva e cultura da paz e que oferece a reconexão com você mesmo, com o próximo e com a natureza.

Hoje em dia, as crianças estão superlotadas de eventos e ao mesmo tempo estão desorientadas em relação ao que fazer com isso tudo. O olhar que oferecemos não é o da religião, mas o da cultura da paz, que acolhe e integra as pessoas. Meditação, ioga e reiki são ferramentas que usamos que nos ajudam a manter o equilíbrio e nos mostram o que podemos aprender com a natureza. A natureza está sempre nos ensinando e nós não conseguimos perceber porque estamos desconectados.

Casa Aberta
Casa Aberta.
 
Como surgiu a ideia?
A ideia é fruto de um desejo antigo que foi se estruturando e agora conseguiu desabrochar. Existiam algumas crenças que eu precisava superar em relação a empoderamento, vencer as próprias limitações e ver quantas coisas boas eu tinha para compartilhar, não só como professora. Fiz o projeto, divulguei na rede social e comecei a arrumar o espaço.

Conte um pouco sobre algumas ações que vocês já realizaram.
Nosso primeiro evento foi no começo de outubro, com a venda de garagem protagonizada por crianças e jovens. Eles montaram suas próprias barracas e divulgaram nas redes sociais; tivemos cinco feirantes e bastante procura; além disso fizemos uma roda de conversa sobre consumo e produção de lixo naquele dia. Já participamos de feiras (especialmente com o PresentEco), do 2º Seminário Internacional de Ecoformação e da Semana Lixo Zero Blumenau, em que fizemos composteiras para os vizinhos. No seminário, fizemos oficina com professores sobre diminuição da produção de lixo no trabalho escolar com crianças e realizamos a dinâmica do ciclo de vida da borboleta, em que o foco é você e seus sonhos: seu sonho como um ovinho, como você o alimenta para que ele mude de fase e como você se abre para o mundo com seu sonho. 

Venda de garagem
Venda de garagem

Feira na Greenplace
Feira na Greenplace Park
Quais são os planos para o ano que vem? 
Nós queremos oferecer trabalhos contínuos, que funcionem periodicamente. Temos dois caminhos para explorar: foco em eventos ou abrir um espaço onde as crianças possam passar um tempo com acompanhamento educacional, livre brincar e espiritualidade (meditação, ioga, reiki, pintura de aquarela, entre outros) para desenvolver o empoderamento, a presença, segurança para se expressar e liberdade para modificar o lugar a partir de suas ideias. Um dos trabalhos que queremos fazer é sobre o feminino, voltado para meninas (como é para a menina ter a primeira menstruação, entrar na adolescência, como os indígenas veem isso, como a ayurveda vê isso etc). Queremos proporcionar o acesso desses conhecimentos a crianças e jovens, independente de religião, para que elas se conheçam melhor e busquem o que as torna inteiras. Além disso, queremos oferecer formação de professores nas escolas com ecoformação e cultura da paz (respeitar a si mesmo, o próximo e o ambiente). 

Dinâmica "um brinquedo chamado terra" no seminário de ecoformação
Dinâmica "um brinquedo chamado terra" no seminário de ecoformação
O PresentEco surgiu a partir da Casa Aberta?
Na semana da venda de garagem, fui tendo várias ideias sobre consumo e produção de resíduos, que acabaram levando ao PresentEco. “Existe o brechó, mas já pensou se existisse uma crença diferente em relação ao presente?” Marido e filhos adoraram.

O que é o PresentEco?
É um presente conceito que tenta mudar a crença de que o presente é algo que precisa ser novo, comprado na loja. O importante não é o presente em si. A ideia é que a pessoa tenha liberdade e consciência de usar algo da natureza que já foi manufaturado para dar de presente para alguém. Coisas que estão em estado ótimo, na sua casa, por exemplo, que possam ser dadas de presente. Em feiras das quais participamos com o projeto, algumas pessoas disseram que já deram de presente coisas que estavam em sua casa, mas não falaram para a pessoa que recebeu que aquilo não era novo, como se fosse motivo de vergonha. Se o objeto está como novo e não teve perda de valor, porque se pensa que ele vale menos? 

Produto à venda no PresentEco
Produto à venda no PresentEco
A ideia do PresentEco não é só proporcionar produtos usados em bom estado, mas também ser uma ferramenta de educação ambiental para que a pessoa reflita sobre o consumo e perceba que pode dar como presente coisas que tem em casa e que não usa. Queremos estimular as pessoas a pensarem sobre a necessidade de consumo e a fazerem esse caminho de perguntas e reflexões antes de comprarem algo. Uma das premissas do consumo consciente é o fornecimento local. A fonte mais local que existe é a sua própria casa. Não é porque algo não é novo que ele precisa ser somente doado. Como embalagem para o PresentEco, estamos reutilizando um material de serigrafia de empresas que estavam descartando. Junto com o presente, vai a explicação do projeto. Podemos migrar para outras ideias criativas de embalagem, porque também não queremos incentivar a produção desse lixo.

Como funciona o PresentEco? Qualquer pessoa pode participar?
Para participar comprando, a pessoa pode ir às feiras em que estamos presentes, que são divulgadas nas redes sociais. Para ser parceiro para vender, a pessoa deve ter um olhar crítico para as próprias coisas e ver o que está em ótimo estado que pode ser dado como presente (sem marcas, por isso não é exatamente como um brechó). A pessoa entra em contato conosco pela fanpage ou instagram e combinamos a retirada/entrega. A pessoa recebe o valor que estipulou para o produto e nós ficamos com uma pequena comissão que cobre custos de transporte e logística da feira.

Nossa intenção é educar sobre o consumo, produção de lixo e estilo de vida equilibrado, pois as pessoas trabalham muito para comprar tantas coisas. Será que você já não tem o presente que precisa dar? Precisamos repensar conceitos e ideias da sociedade em que vivemos. Queremos mexer com a pessoas, difundir a ideia e diminuir a resistência ao presente usado; provocar a pulga atrás da orelha, estimular desapego de coisas, estimular novas ideias; sermos um agente transformador do consumidor, que por sua vez transforma o mercado. Será que as coisas materiais, às quais você dispensa tempo em casa, não estão tomando seu tempo com famílias e amigos?

Como a família tem se envolvido nos projetos?
A questão da transformação é muito potente. Nossos filhos foram muito privilegiados, pois se envolveram muito. O objetivo é tornar os projetos sustentáveis financeiramente, mas se considerar tudo que já aconteceu, já foi muito válido por todo o conhecimento que eles adquiriram e a educação que estão tendo, que acabam passando para outras crianças na escola. A Lívia mostrou aos colegas as flores comestíveis, o Estevão deu muitas ideias de projetos na escola. Eles têm desenvolvido a criatividade e proposto ideias. 

Participação na Semana Lixo Zero Blumenau
Participação na Semana Lixo Zero Blumenau: produção de sistemas de compostagem para vizinhos. Eles armazenam os resíduos orgânicos nos baldinhos e a família da Mari coleta os resíduos para colocar no minhocário deles, dividindo a terra e o biofertilizante depois. O objetivo é que os vizinhos se interessem em fazer nas suas próprias casas.
Quais são as suas inspirações?
Educação positiva, escolas da floresta, quintais brincantes (uma inspiração é o Fava de Bolota em Tocantins), metodologia Freinet, cultura da paz, Paulo Freire, pedagogia Waldorf, jardins Waldorf e também a ideia de leveza (começar com o que você tem, fazer o melhor com o que tem disponível).

Que máximo, né! Muito sucesso à Mari, sua família e aos projetos.
Um ecobeijo e até breve.
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Golfinhos na baía e banho de rio em Governador Celso Ramos

Por Letícia Maria Klein •
06 novembro 2019
Foi a primeira vez que avistei golfinhos em alto mar! A experiência é emocionante. Estava num passeio de escuna pela costa do município de Governador Celso Ramos, em Santa Catarina. Foram mais de 20 golfinhos que apareceram na Baía de São Miguel, aos pares ou trios. Eles entram na baía para se alimentar, mas nem sempre as condições do tempo permitem vê-los, então tivemos sorte!

Que vento gostoso! Passeio de escuna
Que vento gostoso!

São dois golfinhos: na imagem da esquerda é possível ver um subindo, na imagem da direita vemos a barbatana dorsal dos dois
São dois golfinhos: na imagem da esquerda é possível ver um subindo, na imagem da direita vemos a barbatana dorsal dos dois.
Na primeira vez que estive na cidade, nos hospedamos num hotel à beira da praia de Henrique da Costa, que fica perto de onde sai o barco. Desta vez, ficamos no interior do município, num hotel entre montanhas. Naquela vez teve escalada em rochas na areia, desta teve trilha que leva a um mirante com vista do litoral.

Foi um fim de semana de relaxamento, tranquilidade e muita proximidade com a natureza, o que eu amo demais. Nosso quarto tinha vista para morros cheios de árvores e também para morros com áreas abertas, incluindo o mirante. Na sacada, uma rede que eu usei para ler um livro à noite. Como a região não tem tanta luz artificial, havia mais estrelas visíveis no céu, que é simplesmente a vista que mais me faz falta desde que voltei da Schumacher College. Não se compara, mas pelo menos é melhor do que a vista do céu noturno em Blumenau. A única vez que consegui rever um céu como aquele foi em Urubici, há dois anos, numa viagem fascinante pela serra catarinense

Morros à vista do quarto. Aquela árvore sozinha no canto direito marca o mirante.
Morros à vista do quarto. Aquela árvore sozinha no canto direito marca o mirante. A trilha até lá leva uns vinte minutos e te oferece uma vista lindíssima do litoral do município.
O hotel em que ficamos tinha piscina, mas o meu negócio é banho em águas naturais. Me joguei no mar na volta do passeio de escuna (quando podia fazer isso, claro; eu não dei a louca) e também no riacho que passa no terreno do hotel, vindo da cachoeira. Sou apaixonada por água e não perco a oportunidade de nadar no mar ou rio quando posso. A água estava geladinha, uma delícia! Não importa a temperatura, eu vou mesmo. 

Não é história de pescador, pulei no mar mesmo
Não é história de pescador, pulei no mar mesmo.
Outra parada do roteiro marítimo foi a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, construída no século 18 na Ilha de Anhatomirim, próxima ao continente, e que hoje é de jurisdição do município de Governador Celso Ramos.
Ilha de Anhatomirim.
Ilha de Anhatomirim.


A construção do forte começou em 1739 e tem influência da arquitetura renascentista. São vários edifícios distribuídos na ilha, entre eles a primeira sede do governo do estado e o quartel da tropa (o maior entre as fortificações brasileiras). Apesar de ter sido construído para fazer parte de um sistema triangular de defesa de Santa Catarina, o sistema não funcionou e a ilha foi sendo aos poucos abandonada após a invasão espanhola em 1777. Depois de ter servido para usos diversos na Revolução Federalista de 1894, na Revolução Constitucionalista de 1932 e na Segunda Guerra Mundial, ela foi aberta à visitação pública em 1984. Vale a pena conhecer, é muito interessante e historicamente rica, além de ter belas paisagens naturais. 

Casa do comandante Brigadeiro Silva Paes na Ilha de Anhatomirim.
Casa do comandante Brigadeiro Silva Paes na Ilha de Anhatomirim.
Adoro tanto praia quanto montanha, então unir os dois numa só viagem foi fantástico! Poder andar no mato, nadar no rio, mergulhar no mar, avistar outras espécies de aves que não tem aqui são aqueles momentos simplesmente mágicos e magicamente simples que me acalmam, me energizam e me inspiram a ser melhor e agir em prol de um planeta sustentável.

Um ecobeijo e até breve.
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