Caminhada cercada pela Mata Atlântica na Nova Rússia

Por Letícia Maria Klein Lobe •
24 julho 2014

Sob uma temperatura de menos de 10ºC, às 8h da manhã de domingo, eu e minha dinda encaramos o percurso de 10 km na Nova Rússia, localidade ao sul de Blumenau que fica no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Estávamos num grupo de dezenas de pessoas que se reuniu para a Caminhada das Nascentes, proposta e coordenada pela Secretaria de Turismo, com parceria da Fundação Municipal do Meio Ambiente. O dia estava maravilhoso! A neblina foi se dissipando e nos presenteou com um lindo céu azul. Uma manhã perfeita em meio a Mata Atlântica!

Eu e minha dinda Denise. Então, tava frio. 

Munidos de luvas, cachecóis, tocas e a camiseta do evento (feita a partir de garrafas pet!), os participantes largaram às 8h e pouco, depois de um alongamento coletivo. Importante, muito importante, vai por mim! Durante o percurso fomos acompanhados por policiais motorizados e por uma ambulância, que ia no fim da fila. Nos empurrando, como disse minha dinda, já que ficamos por último. 

Muita neblina de manhã, no começo da caminhada

Além da camiseta, a inscrição também nos deu direito a uma mochila ecológica. Saí de casa com ela, levando minha companheira de todas as horas, a garrafa de água, e a câmera digital. Pena que a mochila não era tão sustentável, pois no trajeto de volta ela arrebentou. A da minha dinda também. Bom, nada que uma costura não resolva.

Povo começando a caminhada. Olha a mochilinha aí.

Esta foi a primeira edição da Caminhada das Nascentes, chamada assim porque o trajeto termina no Parque das Nascentes, que faz parte do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Era para ter sido no dia 8 de junho, pra fechar a Semana Municipal do Meio Ambiente, mas choveu naquele dia, então passaram para 20 de julho. O que foi ótimo, o dia estava fantástico! Friozinho e mega ensolarado. 


Cruzando a ponte

Foram 10 km de caminhada e ciclismo (os ciclistas largaram às 9h, mas foram poucos os aventureiros nesta modalidade), com três paradas para reabastecer nossas energias. Em cada posto havia frutas e copinhos d’água, com latas de lixo próprias para cada tipo de resíduo. Como fruta é alimento orgânico, deixamos as cascas na floresta mesmo. Menos lixo. 


Sol aparecendo

Na parada final, dentro do Parque das Nascentes, tinha um café colonial com pães, cucas e geleias caseiras feitas por um dos ranchos localizados no começo do trajeto. Tem muitos lugares pra visitar e muita natureza pra observar na Nova Rússia, que fica no bairro Progresso. Ranchos para encontros em família ou amigos, almoços e venda de alimentos caseiros, recantos de natureza silvestre onde dá pra tomar banho no rio. 


Uma das propriedades ao longo do caminho, que são algumas.
Adorei o efeito dos raios.

Tem também pousada e eco museu, que ficam em outra direção, tomando a bifurcação da direita que aparece no meio do caminho. A Faema planeja uma caminhada com este roteiro, das Minas da Prata, em novembro. Já tá na agenda!

Dava pra fazer o percurso de volta a pé. Nós até consideramos, mas pra não forçar a barra (nem a coluna), voltamos com um dos micro-ônibus disponibilizados para trazer os participantes de volta ao ponto de largada. Eles saíam em períodos regulares a partir das 10h30. Eu e dinda chegamos ao ponto final nesta hora. Foram dez mil metros em pouco mais de duas horas. Muito bom! Ficamos para o café, respondemos a uma pesquisa de satisfação sobre o evento e voltamos lá pelas 11h30. 


Na parada final, o Parque das Nascentes

Que passeio, gente! Acordar cedo te dá outra disposição. Aproveitamos bem a manhã num lugar lindo, cercado de Mata Atlântica, num dia maravilhoso, curtindo a natureza e o ar puro. Não deu pra ver muitos animais, nem as aves apareceram muito, mas deu pra sentir aquela paz e aquele bem-estar que me invadem quando estou nesse meio É tão revigorante, motivador, gratificante. Amo demais! Como é bom estar em contato com a natureza! Já estou ansiosa pelo próximo.
+

Cerca viva de hibiscos: beleza e eficiência

Por Letícia Maria Klein Lobe •
17 julho 2014

O que fazer quando, mesmo com passarela, faixa de pedestres e sinaleira, as pessoas ainda atravessam a rua onde é mais perigoso? Como o problema é sério e educação é uma solução a longo prazo, a prefeitura pensou numa alternativa mais imediata. Uma cerca viva de hibiscos. É visualmente mais bonita do que uma estrutura de concreto, mais barata de fazer, fácil de manter e cumpre o propósito de coibir a passagem de pedestres apressadinhos. E você, o que acha da ideia?

O pedido para uma barreira na divisão entre as vias na Rua Antônio da Veiga partiu da Furb (Universidade Regional de Blumenau). O trânsito de pedestres da Furb, ou daquele lado da rua, para o outro lado, onde fica um supermercado, é intenso e muitas, tipo, MUITAS, pessoas atravessam sem usar a passarela, a faixa de pedestres ou caminhar até a sinaleira. Às vezes nem olham para o lado. Sério, eu já vi.

Trecho próximo à Rua São Paulo

Preocupada com essa situação, que vem de tempos, por sinal, a reitoria da universidade pediu, no começo de 2013, uma solução à Secretaria de Planejamento Urbano. Depois de muito discutir, a resposta veio em maio deste ano. O Robson Luiz Polmann, da diretoria de Desenvolvimento de Projetos da secretaria, me disse por telefone que, depois de muita discussão, o projeto vencedor foi a cerca viva de hibiscos. Ele comentou que alguns na secretaria queriam uma cerca de metal, então foi preciso muito diálogo. Que bom que os hibiscos levaram a melhor! 

As vantagens são várias, como tá lá em cima. Desvantagem: demora um pouco pra ficar pronta. As mudas foram plantadas agora, nesta semana, por causa do período de férias, e devem levar seis meses pra crescer. Até lá, estruturas de bambu foram colocadas junto das mudas para fazer as vezes de barreira física. Quando as plantas estiverem crescidas, os bambus serão retirados. 

Hibiscos em Zimbros

Foram plantadas 735 mudas de hibisco (Hibiscus sp) no trecho de maior demanda, que é na frente da Furb. São ao todo 220 metros, entre a esquina com a Rua São Paulo e com a Rua Max Hering. Robson explicou que eles escolheram hibiscos por ser uma planta bonita e fácil de produzir mudas, até porque a cerca vai precisar de manutenção regular para podas, adubação e plantio de mais mudas. 

A Secretaria de Serviços Urbanos, responsável pela plantação da cerca e sua manutenção, também substituiu os coqueiros jerivá (Syagrus romanzoffian), que já estavam no canteiro e tinham morrido. Ambas as espécies são produzidas pelo horto ornamental da secretaria.

Todo o trecho, que vai até esquina com Max Hering

Vamos combinar que nem seria necessária uma barreira se todas as pessoas respeitassem o trânsito e, principalmente, a própria vida. Muita gente não tem consciência de que estas medidas são para o próprio bem, para a segurança de todos. Espero que as mesmas pessoas que antes atravessavam neste trecho, agora respeitem a cerca e tomem consciência de que aquele minuto usado para chegar até a sinaleira ou cruzar a passarela é muito valioso e não uma perda de tempo. 

Gostei muito da ideia dos hibiscos para a cerca. Deixa a cidade mais bonita e mais verde. E você? Conte o que achou aqui nos comentários. 
+

A copa e o tatu-bola

Por Letícia Maria Klein Lobe •
09 julho 2014
Graças à sua carapaça especial, esta fofura brasileiríssima que é o tatu-bola consegue se fechar numa bolinha para escapar dos predadores. Mas a Fifa é uma predadora grande e já chutou essa bola pra bem longe. Ofereceu uma quantia para o projeto de proteção da espécie, a ONG responsável considerou a oferta insuficiente e nada de patrocínio para o bichinho, que está ameaçado de extinção. Pois a Fifa que vá embora com a sua mesquinharia. Os holofotes sobre a situação crítica do tatu-bola chamaram atenção de muitos, dentro e fora do Brasil, e já tem iniciativas para resgatar a espécie do caminho sem volta da extinção.

Foto: Mark Payne-Gill

O tatu-bola-do-nordeste ou tatu-bola-da-caatinga, (Tolypeutes tricinctus), que virou mascote da copa, é exclusivamente brasileiro, só existe aqui, nos biomas Caatinga e Cerrado. Com sua carapaça de três cintos (daí o nome em latim), o tatu-bola se fecha quando se sente ameaçado e vira uma bolinha, resistente até a ataque de onça. 

Infelizmente, a carapaça não é à prova de seres humanos, que nos últimos 10 anos foram responsáveis por reduzir o número de indivíduos da espécie pela metade, tanto pela caça quanto pelo desmatamento. Hoje ela está classificada como vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Considerando esse cenário, a ONG Associação Caatinga, que trabalha para a preservação do bioma, criou a campanha que elegeu o tatu-bola como mascote da copa. A ideia foi boa. Animal que vira uma bola combina com futebol. E chama atenção para a preservação do meio ambiente. Por isso o nome Fuleco, futebol + ecologia (pensando bem, deveria ser Futeco, mas acho que o primeiro soa melhor). 

Foto: Mark Payne-Gill

Em contrapartida, a Fifa patrocinaria o projeto de preservação da espécie na natureza, desenvolvido pela ONG. Aí surgiu o problema. A associação queria 1,4 milhão de dólares (mais ou menos 3 milhões de reais) e disse que recebeu da Fifa uma proposta de 300 mil reais. A Fifa diz que ofereceu 300 mil dólares. Há divergências aí. Mesmo assim, a diferença entre o que uma queria e o que a outra ofertou é grande. 

A ONG considerou o valor insuficiente para o projeto e tudo que ele requer (pesquisas e mapeamentos). A Fifa, então, destinou a quantia para outros projetos. As negociações, aparentemente, terminaram. A federação alegou que não tinha mais dinheiro para o tatu-bola. Convenhamos, com o orçamento da copa podendo chegar a R$ 28 bilhões, é muito difícil de acreditar que não houvesse mais verba para o projeto.

Foto: Rodrigo Castro

Mesmo sem o patrocínio da Fifa, Rodrigo Castro, secretário-geral da Associação Caatinga, tem motivos para comemorar. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou o Plano de Ação Nacional (PAN) para preservação do tatu-bola. Aprovado em 22 de maio de 2014, ele tem o objetivo de diminuir o risco de extinção do tatu-bola-do-nordeste e do Tolypeutes matacus, o tatu-bola-do-Centro-Oeste. Eles querem alcançar o objetivo em cinco anos, a partir da prática de 38 ações, divididas em seis objetivos específicos. 

Além de petições online para convencer a Fifa a ajudar o tatu-bola e mobilizações voluntárias de pessoas de outros países, como Alemanha e Suíça, a própria ONG Associação Caatinga está angariando fundos para o projeto, principalmente com a venda de produtos. O que mais está chamando a atenção é um tatu-bola de pelúcia que vira uma bolinha, confeccionado de forma artesanal. Qualquer pessoa pode ajudar e de várias maneiras. Para saber mais, é só clicar no banner abaixo.


A associação, que ajudou na elaboração do PAN junto com outras entidades, também desenvolveu um programa em pareceria com as ONGs The Nature Conservancy e Grupo Especialista em Tatus, Preguiças e Tamanduás. Com o Projeto Tatu-bola, eles esperam fundar Unidades de Conservação e corredores ecológicos em áreas prioritárias para a conservação do tatu-bola, aumentar o conhecimento sobre a espécie e os ambientes naturais onde ela ocorre e promover ações de educação ambiental

O desejo dos envolvidos na preservação do tatu-bola é que, no futuro, ele não seja apenas lembrado como mascote da copa 2014, mas que esteja a salvo da extinção. Que assim seja. 

+

Conservação e preservação da natureza – Semana do Meio Ambiente 2014

Por Letícia Maria Klein Lobe •
04 julho 2014

A mensagem dos participantes da mesa-redonda sobre conservação e preservação da natureza foi clara: precisamos conviver em harmonia com a natureza e os animais. Os palestrantes da noite foram Lucia Sevegnani, presidente da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena) e professora da Furb, Lauro Bacca, ambientalista e professor da Furb, e Jean Naumann, presidente da Fundação Municipal de Meio Ambiente (Faema). 

A primeira a falar foi a professora Lucia, que começou sua fala mostrando esta imagem abaixo, obra do pintor e matemático Escher. Ele conseguiu encaixar perfeitamente formas humanas e animais umas nas outras, representando assim a importância de respeitar as outras espécies e viver em paz, pois há espaço para todos. Lindo o quadro!

 Plane Filling II, litografia, 1957. Fonte: M. C. Escher

Ao longo da exposição, ela mostrou imagens de satélite das áreas verdes em Santa Catarina e fotografias do Parque São Francisco, que abriga de 500 a 600 espécies por hectare. A vegetação e as espécies animais do parque, assim como em todo o estado, fazem parte da Mata Atlântica. Hoje, os remanescentes de Mata Atlântica em SC estão entre 23% e 27%. Precisamos sim preservar a cobertura vegetal, afinal, além de purificar o ar, a vegetação ajuda a conter a erosão do solo de encostas, prevenindo tragédias ambientais, como a que aconteceu na região em 2008. 

Blumenau tem hoje 53% de cobertura vegetal, o que é bom, disse Lucia. Porém, no começo de 2000 a cobertura era de 57%, o que significa que a redução das áreas verdes na cidade está acontecendo rapidamente. A degradação da natureza acontece por causa de caça, roubo de palmito, abertura de estradas, pastoreio, e por aí vai. Com as populações urbanas crescendo, a pressão sobre os órgãos ambientais será cada vez maior, alertou a professora. 

O recado de Lauro Bacca foi o seguinte: “ou se preserva as áreas ambientais ou haverá extinção em massa de animais e vegetais”. O professor e sua esposa são donos da RPPN Bugerkopf, que fica no sul de Blumenau, e fazem parte da Associação dos Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Santa Catarina. Durante a palestra, ele falou sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e mostrou fotos de algumas RPPNs pelo Brasil. Uma mais linda que a outra!

Vista da RPPN Bugerkopf. Fonte: RPPN Catarinense

Para fechar a mesa-redonda, o presidente da Faema, Jean Naumann, citou uma frase que exemplifica por que a natureza sofre tanto nas mãos de pessoas: “O pobre faz por ignorância, o rico faz por ganância”. Claro que não são todos; sem generalizações, por favor. Enquanto alguns não sabem como agir e acabam fazendo errado, outros só querem ganhar, ganhar, ganhar e se dar bem à custa dos outros e da natureza. Existe solução pra essas pessoas? Tem! Conscientização, educação ambiental, bons exemplos.

Este foi o último post sobre as palestras da Semana do Meio Ambiente 2014 de Blumenau, mas tem mais! No dia 20 vai ter aquela caminhada no Parque das Nascentes, que tinha sido adiada por causa da chuva. Ainda dá pra se inscrever! Se você for, quem sabe não nos vemos lá? =)
+

© 2013 Sustenta Ações – Programação por Iunique Studio