Por onde começar? Como identificar os impactos que causamos e adotar hábitos sustentáveis

Por Letícia Maria Klein •
24 julho 2016
Muito se fala – inclusive aqui – que para termos um planeta sustentável, o cultivo de hábitos sustentáveis deve entrar em cena no nosso dia a dia, assim diminuímos o impacto negativo e aumentamos o positivo. Existem centenas de receitinhas prontas que podemos usar na rotina. Mas como você pode transformar essa mudança de hábitos num processo autônomo, que te permita refletir sobre as particularidades da tua rotina, do teu estilo de vida e te dê ferramentas para pensar e agir de outras formas?

Quando eu comecei a me interessar pela temática ambiental, o que mais chamava minha atenção era a questão preservacionista, de preservar espécies e habitats, até porque é o que a mídia de massa mais veicula. Na época da pesquisa para o meu trabalho de conclusão do curso de jornalismo (sobre jornalismo ambiental e espetáculo televisivo), eu li o livro Mundo Sustentável, do jornalista ambiental André Trigueiro, que mudou minha visão sobre o planeta e as questões ambientais.

Visão sistêmica

No livro, ele menciona a visão sistêmica da vida, área de estudo do físico Fritjof Capra, que diz que tudo no planeta, estendendo para o universo, é interligado e interdependente. É como um sistema – por isso se chama teoria dos sistemas, criada por Ludwig von Bertalanffy – em que os elementos trabalham em conjunto, cada um fazendo a sua parte para que o todo (o sistema) funcione. A teoria sistêmica surgiu como um contraponto à visão cartesiana de mundo (de René Descartes), que dizia que se podia analisar o todo por suas partes, quando, na verdade, analisando sistematicamente, a gente percebe que o todo é muito maior e mais complexo do que a mera soma das partes. Veja um formigueiro, por exemplo. Não é só um monte de formigas vivendo juntas. Cada grupo de formigas tem sua função para a manutenção da casa delas, criando caminhos, buscando e estocando comida, se reproduzindo para perpetuação da espécie. A mesma coisa com as abelhas na colmeia. E humanos em sociedade.

A compreensão da visão sistêmica da vida nos ajuda a perceber as relações delicadas e ao mesmo tempo complexas entre o meio e os seres que o habitam, entre os elementos bióticos (vivos) e os abióticos (não vivos, como água, ar, terra, minerais). Cada elemento cumpre um papel na manutenção do sistema do nosso planeta. Capra chama o sistema da Terra de teia da vida não por acaso. Como em uma teia de aranha, cada ponto é importante, pois se um elo se perde, um nó se desfaz, a teia enfraquece e pode cair. Assim é com a Terra: cada elemento é importante e qualquer mudança vai gerar um impacto, positivo ou negativo. Cada ação gera uma reação, pois os elementos dessa teia se afetam mutuamente, em algum grau, e estão interligados de várias formas.



Basicamente, a visão sistêmica nos mostra que não podemos fazer o que bem quisermos e entendermos com o planeta. Conseguimos ver isso claramente em nosso dia a dia. Quem mora em grandes centros urbanos cheios de veículos consegue sentir que o ar está poluído. E ver também (sabe aquela faixa amarronzada logo acima da linha do horizonte?). A poluição do ar é um problema grave causado por nós, pela quantidade tremenda de veículos nas ruas consumindo combustíveis fósseis, que está afetando nossa saúde e contribuindo para as mudanças climáticas, que estão desequilibrando o planeta inteiro.

A visão sistêmica se aplica a tudo, não apenas quando falamos da sustentabilidade planetária, mas de todo e qualquer sistema, todo e qualquer ambiente que tenha elementos que trabalham em conjunto. Uma empresa, uma escola, uma prefeitura. Ter em perspectiva essa rede de conexões, interligações e interdependências nos auxilia a identificar, nas nossas ações, como estamos afetando o meio e como ele nos afeta (por meio, tem-se tudo que ele envolve: habitat natural, habitat construído, espécies, bens naturais, tudo).

Existe uma ideia bem equivocada de dualidade homem e natureza, mas sem a natureza o homem não existe. Respiramos oxigênio, comemos alimentos que vieram da terra, utilizamos água para higiene, limpeza, lazer e trabalho. Dependemos diretamente destes elementos para viver. As algas marinhas fornecem oxigênio, as árvores purificam o ar. Quanto mais árvores nas cidades e nas florestas, melhor a qualidade do ar, mais fresco o ambiente (dá pra reduzir o uso do ar condicionado) e também maior o volume de água circulando (lembra do ciclo da água?). Muitas espécies vegetais e o solo nos dão todos os alimentos e nutrientes essenciais que precisamos. Muitos grãos, frutas, sementes só existem na quantidade que existem porque insetos e aves ajudam na polinização deles, então a extinção destes animais significa uma redução drástica no estoque de alimentos.

Relações, relações, relações. Não somos autossuficientes, não, minha gente. Nenhuma espécie é.


Este vídeo da ONG Sustainable Man mostra claramente as relações entre
os animais e o ambiente e como funciona o equilíbrio na natureza

Sair do automático e pensar fora da caixa

Para identificar os impactos das nossas ações, precisamos pensar criticamente, analisar, nos perguntar sobre a origem e os processos do que comemos, compramos, usamos, descartamos, tudo o que consumimos e a forma como consumimos. Precisamos ter um olhar observador e questionador sobre tudo, não tomar nada como garantido ou óbvio ou normal ou comum. Quem, o que, por que, como, quando e onde são as perguntas básicas que precisam estar na cabeça de todos a todo momento. No começo é mais difícil, pois somos muito rápidos para nos acostumar, acomodar e não questionar, mas com o tempo se torna um hábito e você vai desenvolvendo uma consciência plena de si como indivíduo, como cidadão e como nó da teia da vida.

O simples acordar de manhã e ir ao banheiro escovar os dentes já suscita várias perguntas: a marca da pasta de dente que eu uso tem microplásticos na fórmula? A embalagem vai ser reciclada ou vai para o aterro sanitário? Posso usar uma pasta natural? Quanta água eu uso para a higiene bucal? E assim vamos nos perguntando sobre tudo no nosso dia a dia: de onde vem o alimento que como? Usou agrotóxico? Quais os impactos do uso destes produtos químicos? Quais as fontes da energia elétrica na minha casa? Quem fez a roupa que estou usando? Esta pessoa trabalha com dignidade ou em regime de escravidão? Como se diz, são as perguntas que movem o mundo.



Essa análise de nós mesmos abrange pelo menos quatro esferas: pessoal, você como indivíduo, cidadão e membro da sociedade; familiar, tanto o espaço físico da sua casa quanto as relações afetivas; social, os espaços que você frequenta e as relações com amigos e conhecidos; trabalho e/ou estudo, o ambiente e as relações com colegas. Os círculos vão expandindo e quanto mais analisarmos, mais conseguiremos identificar as relações de interdependência, de causa e efeito. Nossos princípios, valores, hábitos, costumes e estilo de vida são indicativos da pegada ecológica que deixamos neste planeta. Podemos buscar ao mesmo tempo no passado e na tecnologia do presente as soluções para os resíduos sólidos, as mudanças climáticas, a extinção de espécies, a imobilidade urbana, as doenças causadas por poluição e agrotóxicos, e por aí vai.

“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”

Albert Einstein é tido como autor dessa frase. Conhecimento é poder e é a melhor ferramenta para mudar a si mesmo e a sociedade. Então vamos ler, pesquisar, conversar, esgotar o assunto. Estão aí internet, tv, rádio, jornal, livros. O importante é sair da inércia e ir atrás de informação para entender o cenário. Se você usar pelo menos 15 minutos por dia durante uma semana para pesquisar um determinado tema, com certeza terá fundamentação suficiente para fazer suas escolhas e tomar atitudes com consciência.

O processo é contínuo. Não dá para mudar da noite para o dia. Nem é bom, na verdade, o tempo de adaptação é importante tanto para nós mesmos quanto para aqueles com quem convivemos. O que importa é estar sempre em ação, não se deixar abater por dificuldades que podem (e vão) surgir e adotar uma filosofia a la Pollyana, enxergando o copo meio cheio. Afinal, nós somos ou não protagonistas da própria vida, cidadãos do mundo e exemplos para os outros?



Vamos juntos! =)
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Primeiro oficinão sobre lixo zero (tão completo quanto o tempo permitiu)

Por Letícia Maria Klein •
10 julho 2016
Já fiz várias palestras e oficinas também, como você já deve ter visto por aqui. Mas nos moldes da realizada no dia 05 de julho, foi a primeira. A primeira de muitas, espero! Foi um evento em parceria com a IsCool, um negócio que viabiliza a educação alternativa e independente, na Offcina Café e Coworking, em Blumenau. Foram duas horas e meia de imersão na temática do lixo zero, buscando contextualizar a problemática do lixo e mostrar muitas formas de reduzir a geração de resíduo e de rejeito na nossa rotina.

Foram oito participantes, inclusive de outras cidades, que se interessaram e interagiram muito durante toda a oficina, fazendo comentários e perguntas. Durante o tempo, falei sobre como aplicar o conceito lixo zero em várias esferas da vida, ensinei a fazer composteira e minhocário e sugeri como tornar autônomo o processo de autoaperfeitçoamento na busca por um mundo sustentável. Como mostra a foto, levei vários objetos que uso no dia a dia para evitar gerar lixo e viver de forma mais natural. No fim, cada um recebeu uma sacola ecológica e social do Instituto Adelina para já começar as mudanças em prol da vida sem lixo.



Deixei alguns desafios para eles no fim, que você também pode tentar: ficar uma semana sem “jogar o lixo fora”, para visualizar o tanto de resíduos que você produz e identificar maneiras de reduzir o montante; ficar um mês sem usar produtos ditos descartáveis, como copo, talheres, prato, canudo e guardanapo de papel; criar um perfil no site Habitica, “um jogo que o ajuda a melhorar hábitos da vida real”.

Se você também busca mudar alguns hábitos para ter uma vida mais plena, feliz e sustentável, acompanhe as redes sociais do blog, da Juventude Lixo Zero Blumenau e da Juventude Lixo Zero Brasil para dicas e sugestões! =D
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Última semana do Junho Verde 2016 e julho com novidade!

Por Letícia Maria Klein •
01 julho 2016
O primeiro Junho Verde de Blumenau chegou ao fim. Foram mais de 60 ações, 33 escolas envolvidas, duas mil mudas de árvores doadas e mais de cinco mil pessoas alcançadas. Nestes últimos dias, eu participei como palestrante no Centro Cultural da Vila Itoupava, onde falei para mais de 100 crianças sobre o lixo zero. Na Fundação Cultural da cidade, falei sobre consumismo, sua origem, conceitos, problemas e soluções. Por fim, teve a mesa redonda sobre unidades de conservação, que encerrou o calendário de eventos em comemoração ao ambiente.

No Centro Cultural da Vila, foram dois momentos. O primeiro, de manhã, para crianças a partir de oito anos. Já à tarde, para crianças de seis a nove. Portanto, tive que improvisar. Na primeira, consegui usar a apresentação de slides que usei na escola Visconde de Taunay. Na segunda, usei também, mas foquei na fala e aproveitei os elementos da exposição sobre recicláveis que foi montada no centro. Apesar de um pouco mais agitadas, as crianças menores são mais espontâneas e ouvem com mais atenção e interesse, sempre respondendo às perguntas e querendo participar. Foi bem bacana, gostei bastante!



Para a conversa sobre consumismo, eu me baseei na apostila “Crianças e o consumo sustentável”, do Ministério do Meio Ambiente e nos documentários “A história das coisas” e “A história secreta da obsolescência programada”. Conversamos sobre a origem do consumismo, conceitos de obsolescência programada e percebida, problemas socioambientais do consumismo e soluções.

A mesa redonda sobre unidades de conservação teve a participação de Cíntia Grüner, criadora do Projeto Carnívoros, Gioni, da Polícia Militar Ambiental e Lauro Bacca, da Acaprena – Associação Catarinense de Preservação da Natureza e foi realizada no campus da UFSC em Blumenau.

Bacca fez um resumão sobre as unidades de conservação, o SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação, quais as categorias e alguns problemas. A importância das UC está nos serviços ambientais que elas prestam ao planeta, como manutenção da biodiversidade, preservação de espécies, providência de alimentos e água, entre muitos outros. Ele também falou sobre a importância dos corredores ecológicos para ligar unidades de conservação, que funcionam como rodovias que ligam cidades. Por fim, Bacca citou alguns problemas que ocorrem em parques hoje, como acontece no Parque Nacional Serra do Itajaí. Cachorros domésticos de propriedades vizinhas, que perseguem animais silvestres e acabam matando-os de cansaço, como é o caso do veado, que não tem condições físicas para fugir por muito tempo e acaba morrendo de ataque cardíaco. Outro problema é a iluminação artificial, que mata dezenas de insetos por dia. O termo “unidade de conservação” é corretíssimo do ponto de vista técnico, mas pouco atraente ao público em geral. Desafios a superar!

Depois, a Cíntia apresentou o projeto Carnívoros, que monitora pumas no Parque Nacional Serra do Itajaí, e falou sobre como os dados obtidos com os programas e via satélite podem ajudar na preservação de espécies, na identificação de lugares para corredores ecológicos, no estabelecimento de mosaicos de UC e na tomada de decisões. No parque, existem apenas três pumas machos. Alguns dados mostram, por exemplo, qual o tamanho da área que eles percorrem. O mais jovem anda por 15 mil hectares e o mais velhinho por 11 mil! O número de pumas é tão pequeno principalmente por causa da caça, além das enfermidades transmitidas por cães, dos atropelamentos e da perda de habitat.

Por fim, o policial militar Gioni explicou que o principal papel da polícia militar ambiental é fiscalizar. Ele apresentou uma série de fotos sobre os crimes ambientais executados dentro do parque: degradação de Área de Preservação Permanente – APP, caça, corte ilegal de vegetação nativa, contrabando de palmito, mineração, poluição de solo e rios e pesca. Os crimes ambientais e as penalidades para ações em UC estão previstos na Lei de Crimes Ambientais (9.605/1998), no Código Florestal Federal (12.651/2012) e no Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina (14.675/2009).

Da esquerda para direita: Juliana (Faema), eu, José Sommer (Faema), Cíntia (Carnívoros),
Gioni (PMA), Laruo Bacca (Acaprena), Sérgio (PNSI), Cristina (UFSC)

Na rodada de perguntas, eu questionei os três sobre quais os métodos mais eficazes para diminuir os crimes nas unidades de conservação e ampliar a proteção e efetividade das UC. Eles responderam que uma fiscalização efetiva é aquela que não cria rotina, é “aleatória”, faz rotas diferentes a cada dia. Também é preciso apoio da sociedade, patrulhamento, parcerias com instituições de ensino, empresas, organizações não governamentais e poder público, busca por conhecimento e conscientização e a educação ambiental, principalmente para crianças.

Como sempre tem pontos a melhorar, preciso dizer que o público deixou a desejar. Não sei o que acontece em Blumenau, mas algo tem. Não falta programação, mas poucas pessoas prestigiam. No dia do encerramento, alguém falou sobre um outro evento da área de tecnologia da informação que é sempre lotado de gente onde é realizado e os ingressos esgotam rápido. Aqui em Blumenau, foi diferente, como a pessoa contou. Eu mesma fui a um dos concertos de inverno da escola de música do Teatro Carlos Gomes e me surpreendi com a falta de público. Nem metade do auditório estava ocupada. Não é de ficar chateado?

Na conversa sobre o consumismo foram só duas pessoas e no encerramento foram duas pessoas de fora, que não estavam na universidade onde foi realizado. Ao todo, estavam presentes 15 pessoas, contanto organizadores e palestrantes. Desanima, sabe? Porém, o debate foi bem rico, e no fim é isso que importa: a qualidade. Acho que este é um trabalho de formiguinha. Será que faltam consideração e vontade do público? Os modelos de atividades estão ultrapassados? A educação ambiental deve ser reformulada? Questões para refletir.

Para terminar, um curta documentário que a Cíntia recomendou que mostra como lobos mudam rios. Isso mesmo! Vídeo rápido e didático sobre a importância de cada espécie na natureza e como se dá o equilíbrio nos habitats.



Ah, não esqueci da novidade, não! Nesta terça, dia 05 de julho, farei uma oficina sobre como e por que ser lixo zero no dia a dia. Mais informações e inscrições no site da IsCool, nossa parceira.
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