As belezas naturais do Alto São Bernardo

Por Letícia Maria Klein Lobe •
19 dezembro 2013

Há um tempinho, minha amiga Marta me deu a ideia de fazer uma série de posts sobre locais naturais bacanas para visitar no Vale do Itajaí. Eu, é claro, amei a ideia! No último domingo, 15 de dezembro, começamos nosso roteiro de férias na natureza com um passeio pelo Alto São Bernardo. A montanha fica na localidade de São Bernardo, no município de Rio dos Cedros (lá não tem bairro, são localidades). A cidade é vizinha de Pomerode, onde mora minha amiga, e Pomerode é do lado de Blumenau. O Alto São Bernardo é o topo, muito apreciado por quem gosta de saltar de parapente (dois saltaram enquanto estávamos lá!). O trajeto até o topo pode ser feito de carro (foi o que fizemos), de bicicleta ou mesmo a pé, mas daí é bom ir de manhã, quando é mais fresco. No caminho tem corrente de água, hortênsias, lagos e algumas poucas casas que resistiram à enchente de 2008. Também no caminho algumas surpresas, um vento delicioso e sensações indescritíveis de liberdade, paz e conexão com a natureza.


Pra não se perder

Nós fomos depois do almoço. De Pomerode a Rio dos Cedros dá uma meia hora, é rapidinho. O passeio pelo Alto São Bernardo também é super tranquilo em questão de horário, fizemos tudo em uma tarde. Contando subida e descida, paradas para tirar fotos e descansar um tempo na rampa, como é chamado o topo para saltos de parapente, acho que deu umas duas horas e meia ou três horas (não curto passear de relógio, então não marquei certinho).

Uma foto conceito, como diz a Martinha

Só eu na foto não vale. Tá aí minha guia turística local

Logo no começo da subida, uma surpresa: um urubu alçando voo com uma cobra no bico! Mas ele foi mais rápido do que eu e não deu tempo de tirar uma foto. Seguindo em frente, começamos a ouvir o barulho de uma corrente de água ao lado. Não demora muito e encontramos uma parte dele bem visível. Que vontade de se refrescar no laguinho formado ali!


Não vejo a hora de voltar e dar um pulo neste laguinho

O que mais se vê durante o caminho são hortênsias. Muitas mesmo, em grandes arbustos enfileirados. Elas nascem em toda a extensão do Alto São Bernardo, da base ao topo. É lindo de ver!

Estas estão na parte mais de baixo do Alto São Bernardo

Vitaminada esta aqui

Estas estão na na parte mais de cima

O que também não falta são aves. Consegui fotografar este tico-tico no meio da árvore. Achou?


Na entrada de uma das propriedades, adivinha o que avistamos? Um pavão! Lindo e formoso atravessando a estrada. É tão acostumado com humanos que nem se abalou com nossa passagem. Logo depois apareceu o cão da casa. Seguindo o caminho tem um pesque e pague.

Que fofo!

Que fofo 2!


E por falar em propriedade, que delícia e benção deve ser morar aí.

Mais um tantinho e chegamos ao topo do morro, que fica 540 metros acima do nível do mar. A vista é incrível e o vento que sopra lá em cima é maravilhoso. Ficamos um tempinho lá aproveitando o visual e acompanhamos o salto de parapente de dois rapazes. Muito legal! Dá uma vontade de saltar também! Você iria? Minha amiga Martinha não encarava, mas acho que eu topava. A sensação deve ser libertadora.


Do lado direito, cidade de Timbó

Do esquerdo, Rio dos Cedros


Vontade de pegar carona

No caminho de volta, mais paradas para fotos e um molhar de pés no riacho. Água bem geladinha, uma delícia! Aproveitamos também para fazer um lanchinho sustentável, sem gerar lixo: água de casa e algumas frutas.



Esta foi a primeira vez que visitei o Alto São Bernardo e adorei! Como eu me sinto bem em meio à natureza! É tão reconfortante e tranquilo. Dá uma paz de espírito. Esqueci completamente todo o resto, me desconectei da rotina, de tudo e de todos. Estava tudo perfeito (tá, confesso, os mosquitos incomodam – lembrar de reforçar o repelente na próxima). Quero voltar lá pra aproveitar mais aquela cachoeirinha. 

Eu e a Martinha devemos fazer mais passeios, mas ainda não sei para onde vamos dos tantos lugares que estão na lista. Fique de olho no blog ou acompanhe pelas redes sociais para conferir o segundo roteiro de férias na natureza.
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Como o consumo colaborativo pode mudar o mundo

Por Letícia Maria Klein Lobe •
13 dezembro 2013

Você está precisando de uma furadeira? Bem, digamos que sim. Mas você não tem uma. O que faz? Se pensou em comprar, repense. Será que vale a pena comprar uma furadeira que você vai utilizar por tão pouco tempo, de vez em quase nunca? Afinal, como diz Rachel Botsman, você precisa do furo, não da furadeira. Genericamente falando, o que queremos é o benefício que o produto nos dá, não necessariamente possuir o produto. O que abre portas para que possamos emprestar, compartilhar, trocar ou vender coisas que já utilizamos e que não são mais úteis para nós, e também alugar ou pegar emprestado aquilo que precisamos no momento. Esse é o conceito de consumo colaborativo, tema abordado pela australiana Rachel no livro “O que é meu é seu: como o consumo colaborativo vai mudar nosso mundo" (What’s mine is yours: the rise of collaborative consumption). E vai mesmo! Como ela mesma diz, será uma revolução!

Surgido em 1980 nos Estados Unidos, o consumo colaborativo deve sua expansão e fortalecimento em grande parte à internet, que permite a conexão entre pessoas de qualquer canto do planeta, com apenas alguns cliques e em tempo real. Outros fatores que impulsionam o consumo colaborativo, segundo Rachel, são: a crença renovada na importância da comunidade e redefinição do significado de amigo e vizinho, preocupações ambientais não resolvidas e uma recessão global que chocou radicalmente os comportamentos de consumo. Isso ela fala durante a palestra que fez no TEDxSidney em maio de 2010 (veja o vídeo no fim do post). 


Rachel diz que o consumo colaborativo é uma força cultural e econômica poderosa que está reinventando o que consumimos e a maneira como consumimos. São várias as vantagens! É uma prática sustentável, pois você compra menos coisas e objetos novos de lojas, podendo pegar emprestado ou comprar de alguém que já tem o produto. Da mesma forma, você pode emprestar ou vender para alguém que está querendo ou precisando de determinado objeto que você tem, fazendo com que essa pessoa não precise comprar um novo na loja. Evitar comprar produtos novos em lojas e trocar objetos com outras pessoas é uma prática anticonsumista, que alivia a pressão que todos nós fazemos sobre os bens naturais, pois os produtos precisaram de água, matéria-prima e energia para serem feitos. Dessa forma também diminuímos a quantidade de lixo que produzimos.

Outra parte boa é a economia de dinheiro, pois você vai comprar menos coisas para ter em casa. Na real, você pode até ganhar dinheiro, caso decida vender alguns produtos que não utiliza mais. De qualquer forma, você oferece para alguém a chance de usar aquilo que estava parado na sua casa, sem utilidade para você. O que também é uma ótima forma de desapegar e se desfazer de coisas que vão acumulando em vários cantos da casa. 

Durante seus anos de estudo, Rachel e o coautor do livro, Roo Rogers, perceberam que existem três sistemas de consumo colaborativo: mercados de distribuição, estilos de vida colaborativos e serviços de produtos. O primeiro é quando um produto vai de um lugar onde não está sendo usado para outro lugar onde ele é necessário, aumentando sua vida útil e reduzindo a produção de lixo. Estilos de vida têm a ver com compartilhamento de recursos como dinheiro, tempo e habilidades. Dois exemplos muito legais de mídias sociais que operam dessa forma são o Couch Surfing, onde pessoas de todo o mundo oferecem seus sofás para estrangeiros e procuram sofás para dormir durante suas viagens (quero muito usar um dia!) e o Bliive, um banco do tempo onde você oferece uma experiência, uma aula de pintura durante uma hora, por exemplo, e pelo tempo oferecido você recebe a moeda de troca da rede, chamada TimeMoney, que você pode trocar pela experiência que outra pessoa está oferecendo (adorei a ideia, já fiz meu cadastro!). Serviços de produtos é quando você paga pelo benefício do produto, sem precisar comprá-lo. O exemplo da furadeira no começo do post cabe aqui. Todas essas formas de consumo colaborativo “permitem às pessoas compartilhar recursos sem sacrificar seus estilos de vida ou sua estimada liberdade pessoal”, nas palavras de Rachel. O que é muito verdadeiro. 


Abaixo está uma série de sites que oferecem as três formas de consumo colaborativo. Fiz a seleção a partir desta e desta matéria do EcoDesenvolvimento e também do blog Consumo Colaborativo. Tem cada um melhor que o outro. Tem também milhares de site de consumo colaborativo no site de Rachel Botsman, o Collaborative Consumption. Na aba Directory dá pra procurar a rede de compartilhamento que mais te interessa por segmento, região e estilo de negócio. São mais de 1050 redes cadastradas! Veja abaixo algumas opções brasileiras e internacionais para compartilhar produtos e habilidades na rede.


Só para alugar

Não é preciso ter carro para se locomover de carro. Você pode alugar um nas locadoras da cidade, mas ainda sai caro. Uma boa opção é compartilhar carros. O ZipCar é um serviço que cobra uma pequena mensalidade dos usuários e disponibiliza os carros pela cidade. A pessoa usa pelo tempo necessário e depois devolve. O mesmo serviço é oferecido pelo Zazcar, uma empresa brasileira que opera em São Paulo. Mas não é só carro que você pode alugar. Vale de tudo, até baterias portáteis, que dá pra alugar no EGG Energy

Só troca

Não tem dinheiro pra alugar ou comprar? Sem problema! O Freecycle permite que seus usuários troquem produtos entre si, de graça mesmo. O LivraLivro opera no mesmo sistema, mas é só para troca de livros. Outro que é segmentado é o Troca Delas, uma página no Facebook para troca de produtos só entre mulheres. O projeto é fruto do trabalho de conclusão de curso da criadora do blog Consumo Colaborativo, que pretende um dia criar o site. 

Compra e venda

Quer uma coisa que perde a utilidade em curto prazo? Roupa de bebê e criança. No Retroca, as pessoas podem vender as roupas que os filhos não usam mais e comprar outras que as crianças estão precisando. O Retroca só aceita produtos com boa qualidade, assim como o Enjoei, um site para venda e compra de produtos em geral. Tem de tudo mesmo, de roupas e acessórios femininos e masculinos a móveis e instrumentos musicais. Muito show!

Mix de tudo

O DescolaAí é um mix de possibilidades, onde você pode vender ou trocar produtos e serviços. 

Ahh! Não deixe de assistir à palestra da Rachel, é muito interessante! (Dá para selecionar legenda em português na barra inferior).


Você já tinha ouvido falar em consumo colaborativo? Se sim, já comprou, vendeu ou trocou algo em algum dos sites acima ou em outros? Não deixe de comentar! 
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O que você quer de Natal? Uma vida minimalista, por favor

Por Letícia Maria Klein Lobe •
05 dezembro 2013

Você provavelmente já está ouvindo ou mesmo fazendo essa pergunta. Sempre queremos algo, né. Um livro, uma roupa, um objeto decorativo, um utensílio doméstico. Mas realmente precisamos? Outra coisa: precisamos mesmo dar presentes em datas comemorativas? Por que temos que dar presente no Natal, na Páscoa, no dia das mães, dos pais, dos namorados, das crianças? Bom, como o ditado diz que “as melhores coisas da vida são de graça”, acho que a resposta é não, não precisamos. As datas existem para simbolizar e nos fazer refletir sobre a vida, relacionamentos, sentimentos, comportamentos. Elas servem para nos aproximar uns dos outros e penso que devem ser comemoradas pelo seu significado e as oportunidades que nos proporcionam. Mas parece que cada vez mais o simbolismo está perdendo força e espaço para o comércio, que instiga as pessoas a comprarem coisas que não são necessárias. É um exemplo perfeito de consumismo, aquele consumo exagerado e sem propósito. Totalmente insustentável. Prefiro a prática do presente espontâneo, que a pessoa dá quando quer ou vê que o outro precisa e não porque há uma convenção social incentivando-a a comprar. O Natal, por exemplo, é uma época mágica e o maior presente é poder vivê-lo com quem se ama. Menos pacotes e papéis de presente, mais amor, união e paz, novos hábitos para uma vida mais simples


Vida simples, consumo mínimo, simplicidade voluntária, minimalismo. Vários nomes para uma mesma ideia: viver com menos é melhor, mais saudável, satisfatório e sustentável. A corrente do minimalismo prega uma vida com menos objetos e menos posses, mesmo que você tenha muito dinheiro. O objetivo, como os nomes dizem, é ter o mínimo, somente o que é realmente necessário, para ter uma vida mais simples, com menos preocupações e sem aquela pressão horrível da sociedade e dos meios de comunicação para que tenhamos carro, o celular mais moderno, a casa na praia ou no campo, a última moda no guarda-roupa. Pare e pense: você precisa mesmo de tudo que compra ou ganha, de tudo que tem em casa? Tenho quase certeza que a resposta é não. Às vezes compramos no impulso ou porque achamos que precisamos, sem pensar seriamente antes. Ou ganhamos muitas vezes coisas que não queremos, não precisamos ou nem mesmo gostamos, em todas aquelas datas comemorativas em que o comércio adora te empurrar alguma coisa pra dar pra alguém. 

A questão não é deixar de comprar, até porque não dá, afinal, precisamos comer, nos vestir, assim por diante. A questão é consumir conscientemente, e isso significa consumir menos. Pensar na real necessidade do objeto para a sua vida ou para a vida de outra pessoa que você quer presentear. Desde coisas menores, como roupas e calçados, a maiores, como automóveis. O trânsito é um bom exemplo de como podemos nos tornar reféns do nosso querer, de vontades e desejos. Será que vale a pena me estressar e perder tempo no trânsito só para ter o carro próprio ou economizo tempo, me sinto melhor e ajudo o meio ambiente andando de transporte público ou bicicleta? 

Carros são alvos do chargista Andy Singer. 
Veja outras charges dele neste post

Ter uma vida simples também significa desapegar, dar menos valor às coisas materiais, se desfazer do que você tem e não usa mais. Outras pessoas podem estar precisando de verdade. Eu sempre penso assim: se não usei nos últimos dois anos, vou doar. Se você não sabe para quem doar, existe um site legal onde pode doar objetos que não quer ou não usa mais: o Doabox. Foi uma dica da Marina Viana, do blog Um Ano Sem Compras. Ela deu uma entrevista muito interessante para o Sustenta Ações sobre a experiência que teve e como sua vida mudou. Hoje ela leva uma vida simples e mais feliz. 

Outra imensa vantagem, e consequência, do consumo mínimo é a sustentabilidade. Ao consumir menos coisas materiais – comprar menos roupas, calçados, maquiagem, acessórios, objetos em geral, utilizar transporte público ou bicicleta, evitar embalagens e sacolas plásticas, etc – poupamos também água, energia e matéria-prima que são utilizadas aos montes na confecção e uso de tudo isso ali em cima e muito mais, além de contribuir na luta contra o aquecimento global (Sabia que um carro abastecido com gasolina levando uma pessoa emite até 45 vezes mais gás carbônico por quilômetro do que ônibus ou metrô?). 

A história do minimalismo é bem antiga, como conta esta matéria da revista Planeta sobre o tema. Surgiu na Grécia Antiga em 400 a.C. com o filósofo Diógenes, o cínico. Ele defendia uma vida sem luxos e andava pelas ruas com uma lamparina, dizendo estar procurando um homem honesto. Muito tempo depois, no século XII, a vida simples foi vivida por São Francisco de Assis, santo católico. Ele renunciou a todos os bens materiais, pois acreditava na humildade como virtude. Quem continuou com o ideal foi o escritor estadunidense Henry David Thoreau, que morou dois anos em uma cabana na floresta e depois relatou a experiência no livro Walden: ou a Vida nos Bosques. Mais pertinho de hoje, em 1960, surgiram os hippies com um movimento cultural que pregava o amor e o fim das guerras. Como alternativa ao consumismo, usavam roupas despojadas e comiam alimentos orgânicos. Em 1990 surgiu a simplicidade voluntária, corrente que prega uma vida mais simples, mesmo quando se tem dinheiro. Henry Thoreau foi um dos inspiradores dessa corrente.

Réplica da casa de Thoreau em Walden Pond, 
próximo ao local da casa original

Desapegar, consumir menos, ter menos objetos e posses, ser sustentável são coisas que não se aprende da noite para o dia. Por isso, minimalismo, vida simples, simplicidade voluntária são estilos de vida, modos de ser que você incorpora e acredita. É muito mais do que os hábitos de doar, de pensar antes de comprar ou de reduzir, reciclar e reutilizar. É ver a vida e o mundo com outros olhos. É viver de dentro pra fora, buscando ser melhor a cada dia, ajudar os outros, pensar nos outros, preservar o planeta, descobrir o que te faz bem e feliz, focar no ser e não no ter, dar mais valor às pessoas e menos aos objetos, se libertar dos excessos que nos prendem a uma vida de máscaras, aparências, status, pesos que não precisamos carregar. Com menos coisas, objetos, estresse, preocupações, sobra mais espaço para ser feliz e aproveitar um presente que a vida nos dá todo dia: oportunidades. De amar, desenvolver-se, aprender, conhecer, compartilhar, buscar aquilo que vai te ensinar o sentido da palavra plenitude

Eu escolhi as datas comemorativas como gancho para falar sobre minimalismo porque, comercialmente falando, elas são um dos símbolos do consumismo, prática totalmente contrária à do estilo de vida simples. O Natal é uma das datas que mais tem apelo comercial, com aquela imagem tão propagada pelo comércio e pela mídia de pessoas trocando vários presentes perto da árvore natalina. (A imagem de dezenas de pessoas se esbarrando nas lojas, nos corredores e nas calçadas eles não mostram, né. Aliás, tá aí outra parte boa de não dar presentes em datas comemorativas: você evita o aglomero de gente). 

Então, neste Natal, que tal fazer diferente? Que tal repensar os hábitos de consumo e comportamento para uma vida mais simples? Desfazer-se dos excessos e dos desnecessários para um novo ano, recomeçar com novos hábitos, celebrar o que realmente importa na vida: a própria vida e nossos relacionamentos com quem amamos. Não precisa de presentes materiais, apenas presentes do coração. 


Eu desejo a você um Natal de muita luz, paz, união, amor e aquela sensação gostosa de compartilhar momentos felizes com quem amamos. A propósito, deixa eu perguntar de novo: o que você quer de Natal? 
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A crítica de Andy Singer

Por Letícia Maria Klein Lobe •
28 novembro 2013
Carros, aquecimento global e destruição ambiental são um dos principais alvos do cartunista estadunidense Andy Singer. O estilo de vida atual e a presença maciça de tecnologias e indústrias também. Seus cartoons, intitulados No Exit (Sem Saída), são publicados em jornais, livros e revistas nos Estados Unidos e em outros países, além de já terem sido lançados em seis livros. Em 2012, as obras do artista foram expostas pela primeira vez no Brasil, na cidade de São Paulo. Andy começou a desenhar desde cedo, com dois anos de idade, e hoje é reconhecido internacionalmente por seu olhar ambiental e visão crítica da sociedade. Eu trouxe pra cá alguns cartoons que achei bem legais. Veja abaixo e depois me diz se gostou também!

Rapidinho, antes das imagens, uma curiosidade. O site Vá de Bike contou que o cartaz da exposição apontava o transporte e alternativas para automóveis como um dos grandes interesses na vida do cartunista. “Andy Singer e sua esposa não possuem carro e tentam chegar a todos os locais com bicicletas, caminhando ou utilizando transporte público. Em seu tempo livre, Andy também é voluntário co-presidente da Saint Paul Bicycle Coalition, tentando fazer a sua cidade (Saint Paul, Minnesota) mais amigável à bicicleta”. Legal, né!


Esse cartoon desconstrói o que se tem por evolução automotiva. O carro aqui é uma forma anterior à bicicleta, que é mais evoluída porque causa muito menos impacto ambiental, é ótima para mobilidade urbana, ajuda a fazer atividade física e a deixar seu condutor em contato com o ar livre e a natureza. 


Adorei este aqui. Ele põe em perspectiva o que é realmente o sucesso. Se ter carro, perder horas do dia no trânsito e viver estressado é “ser uma pessoa de sucesso” perante à sociedade capitalista e consumista, prefiro “parecer mal-sucedida” andando a pé, de bike ou ônibus e vivendo bem. Sucesso não está relacionado apenas a trabalho. Pode-se ter sucesso sendo mãe, pai, dono de casa, voluntário, enfim, qualquer coisa com a qual você sonha ou gosta de fazer e que vai te trazer plena satisfação. 


Triste este aqui. A primeira coisa que empresários do setor pensam é em derrubar a floresta para ganhar dinheiro. Sendo que dinheiro não é o mais importante na vida, não deve ser um objetivo e fica na Terra quando seu dono sai dela. É muito melhor para o planeta e seus habitantes manter a floresta viva, em pé. Como os empresários querem dinheiro, melhor que pensem assim: uma floresta morta dá dinheiro uma vez, enquanto que uma viva dá dinheiro sempre. Um grande exemplo disso é o ecoturismo.

Evite os 4Ds do aquecimento global. Negação (denial) – aquecimento global não está acontecendo ou, se está, humanos não o estão causando. Desilusão (delusion) – Vamos resolver o aquecimento global com uma tecnologia que conserte, como carros verdes ou carvão limpo. Derrotismo (defeatism) – Sem apoio internacional, é muito tarde para reduzir o aquecimento global. Então vamos explorar petróleo no ártico. Morte (death).

Neste cartoon, Singer alerta para os problemas de não resolver ou não tentar resolver o aquecimento global, seja negando-se a acreditar que ele exista ou ficar esperando de braços cruzados que alguém ajude. Esta é uma luta de todos os seres humanos e todos podemos, e devemos, fazer nossa parte para preservar o ambiente como o conhecemos hoje. 


Este trabalha a questão do individualismo. A pessoa dentro do carro, no conforto e ar limpo, joga gases do efeito estufa na atmosfera, que são inalados pelos pedestres. Mas na verdade, o motorista também inala, porque ele não fica em ambientes fechados 24 horas por dia. 


Quando os humanos finalmente se derem conta de que os animais não vieram ao planeta para servirem à espécie humana e que eles merecem ser tratados com respeito tanto quanto qualquer pessoa, a natureza finalmente estará em equilíbrio (ou perto dele). 


Uma gracinha este O ideal de mobilidade urbana: muitas bicicletas e poucos carros, a densidade certa. 

O que este homem precisa é de menos governo, para que ele possa estar livre de regulamentações – livre para prosperar.

Crítica política legal. Difícil prosperar quando o governo parece estar contra a população, com políticas públicas que atrapalham em vez de ajudar. 


Mobilidade urbana dos EUA na mira. Tem uma versão deste cartoon em cores que diz embaixo no quadro de baixo Tour de Brasil. Também vale. Convenhamos que está mais pra imobilidade urbana. 


Engraçado este. Já pensou se viesse mesmo com advertência? Não seria uma má ideia. Mas, como já falei aqui no blog, não se trata de demonizar o carro, mas sim usá-lo sabiamente ou às vezes substitui-lo. 

E você, o que achou dos cartoons? Adoro ler a opinião de vocês nos comentários!
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Espiritismo e Ecologia, de André Trigueiro [Resenha]

Por Letícia Maria Klein Lobe •
21 novembro 2013

A ecologia e o espiritismo são duas ciências que nasceram na mesma época, entre 1850 e 1870. As duas estão ganhando cada vez mais visibilidade e despertando mais interesse e curiosidade. Outra semelhança é que ambas defendem o uso sustentável dos bens naturais, o consumo consciente, a coletividade em detrimento do individualismo e utilizam a visão sistêmica da biodiversidade, pela qual tudo e todos são interligados e interdependentes (o termo vem da Teoria Geral dos Sistemas, do biólogo Ludwig Von Bertalanffy). O espiritismo e a ecologia oferecem ferramentas que nos ajudam a compreender o mundo a nossa volta. No livro, o leitor percebe as diversas crises que a humanidade vem enfrentando e a necessidade de desenvolvermos novas noções de realidade, novos hábitos, e termos mais comprometimento com a vida, em toda e qualquer forma.


O principal objetivo deste livro [...] é demonstrar que Espiritismo e Ecologia são ciências afins, sinérgicas, e que sugerem abordagens sistêmicas da realidade, as quais ainda não foram devidamente compreendidas ou aceitas. É justamente essa visão sistêmica da realidade que nos oferece amplas condições de navegabilidade num mar revolto em que o analfabetismo ambiental vem causando grandes estragos. É muito feliz o pensamento – de autor desconhecido – que inverte uma antiga máxima do movimento ambientalista: “Mais importante do que cuidar do planeta para nossos filhos e netos, é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta.”

Escrito pelo jornalista ambiental e espírita André Trigueiro (autor de Mundo Sustentável), o livro apresenta capítulos curtos e objetivos que vão mostrando as semelhanças entre as duas ciências e despertando o leitor para a necessidade de preservar o planeta. O autor fala sobre brevemente sobre o espiritismo, que não se considera uma religião (na verdade, nós espíritas falamos em doutrina) e sobre sua origem, assim como conta sobre o nascimento da ecologia e o que ela estuda. O livro também passa por temas como sustentabilidade, lei da destruição (a destruição é necessária para a manutenção do equilíbrio), poluição e psicosfera, consumo consciente, publicidade e as crianças, ecologia na obra de Chico Xavier e traz ainda um pequeno dicionário ambiental com 140 verbetes.

Eu sou suspeita para falar, pois sou espírita e apaixonada pela temática ambiental (como o próprio blog mostra), mas o livro é excelente. André escreve de maneira clara e objetiva, e ainda assim cativante, apontando as semelhanças entre as duas ciências e a interdependência entre os seres vivos e o planeta com fatos, argumentos e citações. O livro proporciona uma leitura muito agradável e fluida, podendo ser lido em poucas horas. 

É muito mais um convite à reflexão e à mudança, mais sobre a realidade atual enfrentada pela humanidade e a urgência em cuidar de nós, dos outros e da Terra do que de fato uma exposição sobre espiritismo ou ecologia. Na verdade, as duas ciências são utilizadas como base e alicerce para mostrar que há muito mais entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, como diria Shakespeare. Somos muito mais ligados à Terra do que supomos e toda ação vem acompanhada de uma reação, tanto para quem faz quanto para quem está ao redor (ou ainda nem nasceu).

Há várias citações durante o livro que eu adorei. Deixo algumas abaixo só para dar o gostinho.

Nenhuma atividade no bem é insignificante. As mais altas árvores são oriundas de minúsculas sementes. (Chico Xavier).
A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. (Resposta à pergunta 705 do Livro dos Espíritos, sobre consumo).
[...] como ficar indiferente diante das perspectivas de um desequilíbrio ecológico, que torna inabitáveis e hostis ao homem várias áreas do planeta? [...] É urgente uma educação sobre a responsabilidade ecológica. (Papa João Paulo II).
[...] há chance de salvamento. Mas para isso devemos percorrer um longo caminho de conversão de nossos hábitos cotidianos e políticos, privados e públicos, culturais e espirituais. A degradação crescente de nossa casa comum, a Terra, denuncia nossa crise de adolescência. Importa que entremos na idade madura e mostremos sinais de sabedoria. Sem isso, não garantiremos um futuro promissor. (pensador católico Leonardo Boff, no livro Saber Cuidar). 

Gostou da resenha? Se ficou interessado, a leitura é super recomendada. Se quiser saber mais, André Trigueiro também tem palestras sobre o assunto.
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Um ano sem compras - Entrevista com Marina Viana

Por Letícia Maria Klein Lobe •
14 novembro 2013

Foi o que fez Marina Viana entre os meses de maio de 2011 e 2012. A psicóloga que vive no Paraná decidiu encarar o desafio de ficar 365 dias sem comprar qualquer coisa que não fosse estritamente necessária. Coisas que achamos mega importantes, mas que, na verdade, continuamos muito bem sem. Durante esse tempo, ela relatou tudo no blog Um ano sem compras, que fez para compartilhar a experiência (e no qual ela escreve até hoje). Roupas, maquiagem, produtos de beleza, calçados, bolsas, acessórios, CDs e DVDs, utensílios para casa, livros (que foram bem difíceis pra ela, que assim como eu adora ler!), revistas, entre outros, estavam na lista dos proibidos. Alguns eram liberados, claro, como xampu, sabonete, produtos de limpeza, comida, remédios, material para artesanato (que ela adora fazer), cinema, teatro e viagens, por exemplo. O objetivo? Refletir sobre o consumismo e os excessos que nos rodeiam em nossa rotina diária. Mas o projeto levou Marina muito mais além. Confira abaixo a entrevista super show que ela concedeu ao Sustenta Ações.

 Veja aqui o que Marina não podia comprar e o que ela podia comprar ou repor

Como surgiu a ideia de ficar um ano sem comprar o que achamos que é necessário? 
Marina Viana - Eu estava passando por uma fase de querer me desfazer dos excessos e fazia muitas pesquisas na internet sobre o assunto. Em uma dessas pesquisas descobri o site de uma inglesa que tinha passado um ano sem comprar na tentativa de vencer sua compulsão por compras. Achei a ideia interessante e quis fazer uma experiência semelhante, só que por outros motivos (nunca tive uma compulsão por compras). Eu queria refletir sobre o consumismo, o excesso de objetos que tinha em casa, a quantia de dinheiro que investia nisso e a minha forma de lidar com o consumo de um modo geral.

A sustentabilidade foi a ou uma das principais motivações? 
MV - Eu não diria que a sustentabilidade estava entre as principais motivações no início. Quando comecei o ano sem compras eu não sabia muito bem por que territórios eu iria caminhar e a sustentabilidade me parecia mais um efeito colateral de não comprar do que qualquer outra coisa. O interessante é que a sustentabilidade foi se tornando um tema de maior interesse da minha parte conforme o ano sem compras se desenrolava e aos poucos passou a ser um dos principais motivos para fazer algumas escolhas. Hoje eu percebo que a noção de sustentabilidade está intimamente ligada ao sentimento de pertencer a uma comunidade e ser um agente de melhoramento do mundo. Eu passei a acreditar mais na força das boas ideias e em fazer as coisas da melhor forma possível. A verdade é que meus motivos iniciais para ficar sem comprar eram bem confusos... Precisei ficar um tempo sem comprar para elaborar melhor a motivação. E aí a sustentabilidade acabou aparecendo com bastante força.

Como foi a experiência? Foi difícil no começo? Houve tentações no caminho?
MV - A experiência foi bastante intensa e diversa. Em alguns momentos foi fácil, em outros sentia mais dificuldade e assim eu fui seguindo... No início eu precisei pensar muito sempre que ia a locais voltados ao consumo, porque comprar era algo que eu fazia automaticamente. Houve momentos em que eu quis comprar sim, seria mentira dizer que não. Foi difícil deixar de comprar um livro que eu vinha procurando há anos e encontrei em um sebo, bem baratinho. Esse foi o momento mais difícil, porque a última vez que o livro foi publicado tem mais de um século...

Que técnicas você utilizou? No seu blog você fala em consumo colaborativo.
MV - Eu troquei alguns objetos com pessoas próximas e até com leitores do blog que acabei conhecendo pessoalmente. Aprendi a usar sites como o Livra Livro e semelhantes, que permitem fazer trocas com pessoas de todo o país. Outra coisa que eu fiz bastante foi dar novos usos aos produtos e objetos. Aprendi que hidratante corporal pode ser usado como creme para raspar as pernas e que uma camisa básica de botões fica ótima como uma blusinha de frio leve sobre um vestido se eu deixar os botões abertos. Tive de ser criativa, sabe? Hoje eu vejo valor e utilidade em praticamente tudo.

Como você administrou o tempo que antes era usado para fazer compras?
MV - No início eu fiquei sem saber o que fazer com esse tempo. Eu não era super consumista, mas acabei sentindo diferença em alguns momentos do dia. Na hora do almoço eu não podia comprar nada, então comecei a ler. Eu li 30 livros só nesses intervalos. Também passei a curtir mais as coisas que eu já tinha e a companhia das pessoas. Passei a desfrutar mais a vida.

O que essa experiência mudou na sua vida? Mudou sua visão de mundo? Você adquiriu novos hábitos? Quais?
MV - Mudou muita coisa! A minha visão de mundo se ampliou e percebi que muitas das inseguranças que as pessoas têm foram cuidadosamente arquitetadas e estimuladas pelo mercado. Passei a ter uma visão mais crítica desta ideia tão difundida da classe média de que a gente tem que estudar, fazer faculdade, ter um emprego que pague bastante, casar, comprar casa grande, carro bacana e ter casa na praia. E passei a ligar menos, muito menos para o que as pessoas pensam da minha vida e das minhas escolhas. Hoje em dia eu compro bem menos e me sinto realmente próspera. Aprendi a adiar o momento de comprar algumas coisas de que preciso (estou adiando trocar a geladeira há mais de dois anos e a que eu tenho, apesar de meio tosca, continua funcionando e dando conta do recado). Descobri que não preciso de quase todas as coisas que eu achava que precisava e aprendi a reavaliar as minhas necessidades para ter uma visão mais realista sobre o que é essencial, sobre o que é importante. Passei a valorizar mais os amigos, a família, meus bichos, meu trabalho e descobri que eu fico mais feliz quando levo essa mensagem a outras pessoas e trabalho para um mundo melhor, mais simples.

Quais foram os efeitos na questão econômica? A redução nos gatos foi significativa?
MV - Os efeitos foram quase nulos durante o ano sem compras. Eu não consegui juntar dinheiro, não fiz uma poupança. Acho que acabei gastando mais com coisas que eu queria fazer mas nunca sobrava dinheiro para fazer, como viajar, ir a espetáculos, etc. Hoje em dia, no entanto, estou conseguindo juntar dinheiro e me esforço para pagar quase tudo à vista. Vejo algumas pessoas próximas comprando roupas, sapatos e cremes aos montes e eu sigo vivendo em paz com as coisas que eu tenho, só comprando o que me faz falta de verdade. E como é pouca coisa, aos pouquinhos o dinheiro começa a ser empregado em coisas mais úteis.

Como foi a recepção das pessoas aos seus posts no blog Um Ano sem Compras? Você soube de leitores que seguiram seu exemplo?
MV - A recepção foi muito boa e eu não esperava isso. Algumas centenas de pessoas já passaram períodos sem compras após ler o meu e outros blogs que falam sobre consumo consciente. Eu achei que o blog fosse ter só uns três ou quatro leitores, mas ele tem milhares, o que só me leva a crer que esse movimento de repensar o consumo é algo que está realmente ganhando mais adeptos.

Quanto tempo depois de lançado o blog começou a ter boa visibilidade? Como você fazia a divulgação dele?
MV - O segredo de conseguir leitores para o blog foi participar de outros blogs com assuntos afins e comentar, manter contato. Linkar blogs que você gosta de ler também ajuda, porque o dono do outro blog começa a ver que está recebendo tráfego vindo do seu blog e vai te visitar. Se a pessoa gosta do que lê ou quer te dar mais visibilidade ela pode te linkar também. Blogar não deixa de ser uma forma de se relacionar com outros blogueiros, sabe? Aos poucos você consegue alguns leitores fiéis e começa a ter links seus por aí e a coisa começa a andar meio sozinha. O meu blog começou a ter mais visibilidade quando o ano sem compras já estava passando da metade. Foi uma coisa inesperada, sabe? Eu sempre achei que fosse ter poucos leitores.

Faz um ano e meio que você completou a tarefa. Como é a sua vida hoje? Você considera que o projeto foi um divisor de águas na sua vida? Você se considera mais feliz hoje do que antes do projeto? 
MV - Minha vida mudou bastante. Hoje aderi ao movimento que muitos chamam de vida simples e também adoto alguns princípios do minimalismo. A minha vida é dedicada muito mais às coisas que realmente importam, como minha família, meu trabalho, etc. O projeto foi um divisor de águas sim, apesar de eu continuar tendo as minhas contradições. Eu sou muito mais feliz que antes, mas isso não é só porque parei de comprar por um ano. O que mudou a minha vida foi a reformulação de muitos conceitos que eu tinha e a decisão por buscar sentido em coisas diferentes do que eu buscava antes.

Muito bacana, não é mesmo! Eu sempre pensei 10 vezes antes de comprar qualquer coisa. No começo, lá atrás, o motivo era financeiro. Há algum tempo minha maior motivação é a sustentabilidade. Desde janeiro eu comprei apenas uma peça de roupa, e ainda porque eu me esqueci de levar roupa de banho para um lugar que tinha piscina. E você, encararia o desafio? Como é a sua relação com o consumo?

ATUALIZADO: o blog Um Ano Sem Compras está aberto exclusivamente a leitores convidados. 
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Bicicletando por aí

Por Letícia Maria Klein Lobe •
07 novembro 2013
As bicicletas são cada vez mais frequentes nas cidades. Se pegarmos algumas cidades da Europa como base, a frequência é bem alta. E a quantidade também. Em 2013, a venda de bicicletas na maioria nos países da União Européia ultrapassou a de carros. É uma solução para muitos problemas e uma grande aliada da sustentabilidade. Ocupa pouco espaço, tem um preço acessível, é uma ferramenta para exercício físico, não te estressa no trânsito, permite maior opção de ruas no trajeto do que o carro e tem baixo impacto ambiental, pois não emite gases de efeito estufa e não precisa de combustível. Tanto que é um símbolo da sustentabilidade. Com quase 200 anos de história, finalmente a bicicleta está ganhando o espaço que merece. E eu ainda vou aprender a andar em uma. Sim, você leu direito, eu (ainda, veja bem!) não sei andar de bicicleta. 



A bicicleta tem muita história, mas serei breve. No fim do século XV, Leonardo da Vinci desenhou o que seria o primeiro projeto de uma bicicleta, mas os desenhos só foram descobertos em 1966, por monges italianos. A história começa de fato, porém, em 1790 com a invenção do brinquedo celerífero, criado pelo conde francês de Sivrac. Era uma construção em madeira com duas rodas alinhadas, e só. Em 1817, o engenheiro alemão e barão Karl von Drais, considerado o inventor da bicicleta, aperfeiçoou o celerífero, adicionando direção, freio e selim. Ficou conhecida como draisianaPorém, ainda faltavam os pedais, que é o sistema de propulsão da bicicleta. Quem complementou o invento foi o ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan, em 1839. Com mais adaptações nos anos seguintes, como por exemplo, a colocação dos pedais na roda da frente, a bicicleta tomou a forma que conhecemos hoje. 

Draisiana, criada por Karl von Drais. Fonte: D Bike

Desde as draisianas, as bicicletas se tornaram muito populares, principalmente na Europa, que foi o berço da invenção. Mesmo depois do surgimento do automóvel, em 1886, pelo alemão Carl Benz, as bicicletas eram as mais pedidas, principalmente devido às duas grandes guerras. Sem dinheiro e precisando se reerguer do zero, os países europeus evitam ao máximo gastos desnecessários. A bicicleta virou até política de desenvolvimento econômico e social, como conta o site Escola de Bicicleta. Após a segunda guerra mundial, a Europa conseguiu se reerguer com a ajuda dos Estados Unidos, o que acabou fortalecendo a indústria automobilística empreendida por Henri Ford. 


Bicicleta com pedais, criada por Kirkpatrick Macmillan. Fonte: D Bike

Enquanto em alguns países a bicicleta foi sendo aos poucos substituída por carros e motos, em outros, como a Holanda, o uso dela foi intensificado, pois se viu que a bike era uma forma de uso inteligente do espaço urbano. Até hoje, países europeus são alguns dos que mais utilizam bicicletas. Em 2013, como informa o site Mobilize, a venda de bikes por lá superou a de carros. Apenas em dois países dos 27 que compõem a União Européia (Bélgica e Luxemburgo), isso ainda não é realidade. 

Na Alemanha foram 3.966 milhões de bicicletas para 3.083 milhões de automóveis; no Reino Unido foram 3.600 milhões para 2.045 milhões; na França, 2.835 milhões para 1.899 milhões, na Itália, 1.606 milhões para 1.402 milhões e na Espanha, que não tinha tradição em bicicletas, as vendas foram de 708 mil para 700 mil. Um dos fatores que fez com que houvesse esse boom de bikes na Europa foi a crise econômica dos últimos anos. O número de carros vendidos ainda é muito alto, mas ver que as bicicletas se tornaram um concorrente à altura é excelente, especialmente em tempos em que ser sustentável deixou de ser opção para se tornar necessidade e estilo de vida. 

Mas não é só lá que as bikes fazem sucesso. No oriente elas também são muito populares. Pouco depois da invenção da draisiana, segundo Escola de Bicicleta, elas foram parar no Japão, que logo entrou no mercado internacional de fabricação do veículo. Na China, as bicicletas começaram a se popularizar a partir de 1949, com a Revolução Comunista. Na Índia e em Taiwan elas também fazem parte da paisagem. Na China, de acordo com Mobilize, a venda de bikes em 2013 também superou a de carros: foram 28 milhões contra 19,3 milhões. Só que nesse caso as bicicletas são elétricas. São melhores que carros, mas eu ainda prefiro as normais, pensando pelo lado sustentável.


Chinês em sua bike elétrica

Enquanto isso, no Brasil... A realidade é outra. O Mobilize informa que as indústrias do Polo Industrial de Manaus contabilizaram 875.835 bicicletas vendidas em 2012, quase 6% a mais do que no ano anterior. Carros vendidos? Até o início de outubro deste ano, foram 2.780.330, de acordo a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave). É uma grande diferença. Se levarmos em conta o tamanho do Brasil então, ela fica maior ainda. O incentivo ao uso de bicicletas ainda é pequeno e a cultura do carro é forte. Mas eu acredito, acho que é tendência até, que isso mude. Novos tempos pedem novos hábitos e o uso da bicicleta e de formas ambientalmente conscientes de se locomover é um deles. 

Em várias cidades existem sistemas de compartilhamento de bicicletas. Dependo da duração do trajeto, o uso pode sair de graça. Aqui em Blumenau foi implantado, mas infelizmente não deu certo. Rio de Janeiro e São Paulo têm (BikeRio e BikeSampa). Existe também em Londres (Barclays Cycle Hire), Paris (Velib) e Nova Iorque (Citi Bike), para citar alguns exemplos. Berlim é um baita modelo de cidade onde as pessoas compartilham bicicletas. São 400 serviços de compartilhamento gratuito! Conheça como funciona um deles, o Bike Surf, nesta reportagem da coluna Sustentável, do Jornal da Globo. Que show!


Mapa das ciclorrotas em São Paulo. Baixe aqui

Para que as cidades se tornem cada vez mais sustentáveis e as pessoas passem a ter estilos de vida mais saudáveis e ambientalmente amigáveis é preciso que os governos adotem políticas de mobilidade urbana que priorizem o uso de bicicletas e transportes públicos de massa, como metrô, trem e ônibus. No caso das bicicletas, é necessário também que a cidade implante ciclovias, para que seja seguro andar por aí sobre duas rodas. Na Europa, é possível ir de um país ao outro seguramente de bicicleta, seguindo, por exemplo, pela ciclovia do Rio Danúbio, que atravessa Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Sérvia, Bulgária, Ucrânia e Romênia. É uma rota muito utilizada por cicloturistas. Quem sabe um dia eu faça esse passeio, pelo menos um trecho... Vontade não falta!


Ciclovia da Rio Danúbio

Se na sua cidade não tem ciclovia (aqui em Blumenau tem um pseudociclovia, que só passa no centro), tomar medidas de segurança nunca é demais, como andar na direção contrária à dos carros, para que você possa olhar de frente para eles e assim evitar acidentes. Além, é claro, dos itens obrigatórios pela lei brasileira, como campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor do lado esquerdo – que, aliás, é uma questão controversa, pois é mais importante para o ciclista se concentrar no que está a sua frente do que atrás (leia mais sobre isso aqui). 

Você costuma andar de bicicleta? Vai para o trabalho, escola ou centro de lazer sobre duas rodas? Ou é apenas um hobby? Ah, me conte também se ficou com vontade de viajar por aí de bike. Até mais! 
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