Coletivo Lixo Zero 2016: o que recebemos de pilhas e eletrônicos não foi brincadeira!

Por Letícia Maria Klein Lobe •
27 junho 2016
Realizamos o Coletivo Lixo Zero 2016 neste domingo, dia 26 de junho, durante a Rua de Lazer em Blumenau. Sempre se espera que a segunda edição seja melhor do que a primeira e, de fato, foi! Tivemos mais ações e o fluxo de pessoas foi bem bacana para um dia nublado. Mais de 200 pessoas passaram no local! Muitos ciclistas e caminhantes aproveitando a Rua de Lazer, quando uma das principais ruas do centro da cidade fica aberta somente a pedestres das 8h às 17h, todos os domingos.



O evento abriu com a participação especial da banda da Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, que é reconhecida internacionalmente e pelo MEC como escola criativa e sustentável. Que banda linda! Os estudantes tocaram músicas típicas alemãs, brasileiras e estrangeiras, antigas e recentes. Parabéns ao conjunto! Também tivemos uma feira de trocas, que não foi tão expressiva, mas pelo menos três pessoas levaram coisas para trocar. Aos que paravam na mesa onde eu coloquei os objetos lixo zero, a composteira e o minhocário, eu falava sobre o conceito, como aplicar no dia a dia e como fazer a compostagem em casa. Muito bacana, várias pessoas pararam para conversar e se interessaram pelo estilo de vida lixo zero. Yes!



Além disso, foram doadas mais de 200 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica pela Faema - Fundação do Meio Ambiente de Blumenau, que organizou o Junho Verde e que teve o Coletivo como evento do seu calendário. A Faculdade Senac levou quatro receitas feitas com aproveitamento total de alimentos, incluindo cascas e talos. O bolo de cenoura e a quiche de legumes foram os meus preferidos, estavam deliciosos! Para servir, foram usados "pratinhos" de folha de bananeira e copos de papel, que foram separados e enterrados no jardim de casa.





Também recolhemos resíduos perigosos: dois vidros de óleo de cozinha usado, quatro medicamentos vencidos, nove lâmpadas fluorescentes, dezenas de pilhas e dezenas de eletroeletrônicos. O óleo foi recolhido pela empresa Controil Ambiental, que destina o resíduos à fabricação de tintas e vernizes. Os remédios serão levados à Droga Raia, parceira no ano passado e que não pode estar presente neste ano devido à escala de funcionários. A Balaroti nos emprestou a caixa para depósito de lâmpadas e as pilhas foram levadas ao supermercado Giassi, que as encaminha para sua sede em Içara, de onde são enviados a uma empresa especializada no tratamento. Os eletroeletrônicos foram coletados pela Reciclean, que faz a separação das peças dos aparelhos e revenda a empresas (eles também têm uma máquina que quebra lâmpadas e separa todos as partes para serem revendidas como matéria-prima a outras empresas).

Resíduos perigosos coletados

Um agradecimento especial à Termosul, na figura do meu namorado, que me ajudou com a logística e estrutura do evento. Gratidão a todos os parceiros que nos ajudaram a tornar este evento realidade e a todas as pessoas que prestigiaram. Gratidão também à RBS TV, que fez uma entrevista comigo na sexta-feira anterior ao evento e também uma reportagem no dia.  Todas as fotos estão na fanpage da Juventude Lixo Zero Blumenau. Nos vemos de novo no próximo!
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Falar para (e com) crianças é mágico!

Por Letícia Maria Klein Lobe •
20 junho 2016
Como parte da programação do Junho Verde aqui em Blumenau, eu dei duas palestras sobre lixo zero na Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, que já apareceu aqui no blog por seu perfil de escola criativa e sustentável. Foi uma conversa de manhã e uma à tarde, com duas turmas em cada vez, mais ou menos 60 crianças entre 11 e 13 anos. Foi DE-MAIS, superou as expectativas!

Turmas de manhã.

Eu gosto muito de falar com as pessoas sobre temas ambientais. Já falei sobre reciclagem com crianças, sustentabilidade com adultos, compostagem e lixo zero com jovens e adultos. Desta vez, o público teve crianças/pré-adolescentes. O legal desta faixa etária é que eles interagem bastante, perguntam, respondem as minhas perguntas, fazem comentários e têm reações espontâneas.

Eu falei sobre o conceito lixo zero e usei uma apresentação de PowerPoint com muitas imagens. Expliquei o conceito, como podemos aplicar no dia a dia e apontei algumas coisas que já são feitas lá na escola, como horta e compostagem, por exemplo. Quando estava vindo de manhã para a Faema – Fundação do Meio Ambiente, onde trabalho, para então ir à escola, encontrei uma sacola plástica no chão. Já peguei e usei na palestra para falar de como um resíduo que parece lixo para alguém pode ser reutilizado e como as coisas que jogamos na rua vão parar nos oceanos.



Também mostrei a eles meu kit lixo zero com garrafinha, guardanapo de pano, canudo reutilizável, copo retrátil, talheres e sacola ecológica. Eles adoraram! Alguns disseram que queriam um kit assim também. Quando eu abri a sacola, que fica bem pequena quando fechada, foi um espanto só. A mesma coisa com o copo retrátil. Eles ficaram surpresos ao ver como coisas pequenas, que eles não conseguiram identificar a princípio, se transformaram em coisas que nos ajudam a ser lixo zero no dia a dia.

No fim, os estudantes aplaudiram, o que indica que gostaram e aprenderam algo novo e isso me deixou feliz! Estudando e convivendo no meio em que estão, numa escola voltada à sustentabilidade, e com uma diretora engajada e apoiadora, estas crianças têm um potencial imenso de crescerem com consciência plena de que são parte do meio, com atitudes sustentáveis e uma postura ativa em prol de um planeta melhor!

Turmas de manhã.

*As fotos foram cedidas pela diretora da escola.
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O que é ética ambiental? Reflexões ediscussões da abertura do Junho Verde

Por Letícia Maria Klein Lobe •
01 junho 2016
O mês do meio ambiente, o Junho Verde, começou nesta segunda-feira, 30 de maio, e começou muito bem! A mesa redonda sobre “A possibilidade de uma ética ambiental” teve a participação dos professores Adaltro Prochnov Nunes (IFC), Nicolau Cardoso Neto (FURB) e Luciano Felix Florit (FURB). Das áreas da filosofia, direito e sociologia, respectivamente, os três comentaram sobre o histórico, as definições e as realidades da ética ambiental.

O professor Nicolau é especialista em Direito Ambiental, área em que tem experiência com os temas: meio ambiente, saúde, cidade, política ambiental municipal, recursos hídricos, legislação ambiental e áreas naturais/ambientais. Ele abriu as reflexões e teve uma fala indagadora e provocativa. Ele começou contando uma situação que costuma apresentar em sala de aula, quando desenha no quadro um homem “das cavernas” e um homem com dinheiro e pergunta qual dos dois está certo. O que você acha? Os dois estão certos, mas para que ambos possam conviver é preciso um meio termo. O equilíbrio é essencial em mundo sustentável. Como achá-lo sem ferir a ética dos diferentes grupos sociais?

Para o professor, ética ambiental está relacionada à qualidade de vida, só que as políticas públicas que versam sobre a qualidade do ambiente e na sociedade não se conversam. Aí está um problema que precisa ser resolvido. O sistema político precisa de leis coerentes e convergentes para agir. O poder público precisa dos seus cidadãos para funcionar. Nós como munícipes devemos nos manifestar, participar ativamente das ações na cidade, se queremos uma cidade sustentável e que proporcione vida de qualidade para todos. Por isso, a ética ambiental, concluiu o professor, começa em mim, em você, em cada um nós.

Da esquerda para direita: José Sommer, educador ambiental da Faema,
prof. Adaltro, prof. Nicolau e prof. Luciano

O professor Luciano atua na universidade nas áreas de sociologia do desenvolvimento, sociologia ambiental e ética ambiental, focando atualmente na temática da ética ambiental e o desenvolvimento regional com os sub-temas: consideração moral de seres vivos não humanos e padrões de desenvolvimento, justiça ambiental e padrões de desenvolvimento e modelos de desenvolvimento, região, sistemas de valores e bem-estar.

A mensagem inicial do professor foi bem clara: o futuro será pior. Para alguns grupos, em determinados locais, será bem pior. Para alguns grupos já é pior do que há algumas décadas. A grande questão, disse ele, é deixar de ter uma visão antropocêntrica, que vê a natureza como um recurso que está lá para servir à humanidade, e passar a tratar a natureza e sua biodiversidade como um todo e um fim em si mesma, com valor intrínseco, dignidade e direitos.

A reflexão ética implica refletir sobre os diferentes valores dos grupos sociais e dos indivíduos e não apenas reproduzir valores passados de geração a geração. Neste aspecto, ele pergunta: até onde se estende nossa responsabilidade moral? As gerações futuras são importantes, obviamente, mas não devemos nos esquecer dos que habitam o planeta neste momento. Precisamos nos preocupar com os seres que existem e vivem hoje.

Por fim, o professor Adaltro, de filosofia, fez uma linha do tempo da ética ambiental nos pensamentos filosóficos. Ele começou com definições. Ética é a investigação filosófica sobre os fundamentos e princípios da moral. Existem três éticas: meta ética (sobre conceitos fundamentais), ética normativa (sobre os diferentes modos de ser) e ética prática (aplicação da normativa). As discussões sobre ética ambiental vêm desde a antiguidade. Os estoicos (adeptos do Estoicismo, escola de filosofia helenística fundada em Atenas no início do século 3 a.C) falavam em viver de acordo com a natureza, controlando as próprias paixões e guiando-se pela razão. Um exemplo atual de descontrole das paixões e desejos é o consumismo.

A ética ambiental também apareceu no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis, que faz um louvor a Deus pela natureza e os elementos do universo. Jean-Jacques Rousseau foi um crítico da humanidade, disse que os humanos deformam a natureza e a si mesmos. Defendia que a origem da ganância está na propriedade privada, na ideia que de que pessoas podem possuir a terra que não foi criada por elas. Contemporaneamente, a ética ambiental volta com os autores chamados utilitaristas, que defendem o “agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar” (a todos os seres). Neste aspecto, Jeremy Bentham aborda a senciência dos animais (a capacidade de sentir dor), por exemplo.



O professor concluiu dizendo que a ética ambiental demanda a valorização intrínseca da natureza e de todos os seres e não considerá-los instrumentos, meios para um fim. A natureza e a biodiversidade têm valor em si mesmas, independente dos interesses humanos. “Age de tal forma que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a manutenção e a valorização da vida na Terra”, foi a mensagem final de Adaltro. É uma ótima referência para nossas atitudes, não é mesmo?

As reflexões dos professores foram muito interessantes e provocaram perguntas, comentários e mais reflexões da platéia. A partir de tudo que foi falado, entendo que a ética ambiental começa em cada um de nós a partir da percepção e da compreensão da visão sistêmica da vida, entender que o nosso planeta é vivo e que cada elemento desse sistema é uma parte importante e com valor em si mesma. Cada um dos seres vivos e dos bens naturais é um nó na teia da vida, que contribui para a sua sustentação.

E você, já parou para pensar em ética ambiental? Qual o seu entendimento? Comente e contribua para a discussão! Veja também os outros eventos da agenda do Junho Verde neste post.
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