Entrei em contato com a empresa Devon Contract Waste Ltd para saber detalhes do processo de reciclagem e troquei alguns e-mail com Simon Almond. Por serem uma empresa, e não governo, eles coletam os resíduos de quem os contrata, que são geralmente outros empreendimentos. Os resíduos coletados são levados para um centro de processamento de alta tecnologia na cidade de Exeter. Para tudo funcionar, os clientes precisam separar os resíduos sólidos gerais, a comida e o vidro em sacos diferentes.
Conforme informações de Simon, os resíduos sólidos gerais passam por um processo de sete etapas que extrai até 68% de materiais recicláveis, que incluem papel maior que três centímetros de diâmetro, papelão, polietileno, garrafas de plástico PET, plástico rígido PP, latas e outros metais e frascos de PEAD. Eles também reciclam lâmpadas, mas a coleta é separada do restante dos resíduos. Os vidros são reciclados separadamente.
O centro de processamento da empresa em Exeter
Como informa o rodapé do e-mail do Simon, “para cada tonelada de papel ou papelão feita de polpa reciclada, 17 árvores, 3 metros cúbicos de aterro sanitário, 7000 litros de água, 4200 kwh, 390 galões de óleo são poupados e 60 quilos de poluentes não são emitidos”.
O restante que não é reciclável é enviado para usinas de geração de energia a partir da queima dos resíduos. As usinas são das empresas Sita, no estado da Cornualha, e MVV, na cidade de Plymouth. Elas produzem energia para a rede de distribuição elétrica e água quente para as docas que aquecem os prédios das empresas.
Aqui na Inglaterra, todos os resíduos sólidos passíveis de reciclagem são colocados em um único saco. Penso que se eles coletassem os resíduos mais separados (como temos as latas coloridas, por exemplo), a porcentagem do que é reciclado poderia ser maior. Queimar resíduo não é a melhor das opções, pois, do ponto de vista do conceito lixo zero, são recursos valiosos que estão sendo queimados e este processo acaba incentivando a ideia de que não tem problema gerar lixo, pois ele vai ser queimado no fim para energia. Por ora, porém, é melhor do que deixar os resíduos apodrecendo no aterro sanitário.
Esta parte que sobra inclui pequenos pedaços de papel de má qualidade e menor que três centímetros de diâmetro, grãos, plástico sujo e itens como roupas velhas, sapatos e alguns alimentos que são colocados junto com os outros resíduos. Embalagens Tetra Pak também não são recicladas, sendo queimadas para energia (!!!). Confesso que fiquei horrorizada, pois aqui na Schumacher se consome muito leite vegetal (de arroz, amêndoas, soja) e eles são embalados em Tetra Pak. Simon afirmou que dos subprodutos da queima, 96% é gás e 4% cinzas, as quais são processadas em produtos de construção e que poucas cinzas tóxicas são geradas no processo, pois os plásticos rígidos são removidos. Ele ainda disse que, segundo a MVV, as emissões de gases na atmosfera provenientes da chaminé da usina são comparáveis, em termos de poluição, a um “típico carro familiar”.
Segundo Simon, a empresa coleta 30 mil toneladas de resíduos por ano nos locais que opera aqui na Inglaterra, o que representa menos de 5% de todos os resíduos gerados no setor comercial no condado de Devon. Deste total, 4800 toneladas (16%) são resíduos de comida, que vão para a fazenda Langage, perto de Plymouth. Lá, os restos de comida passam por um processo de decomposição anaeróbica. O gás gerado é queimado para produzir a energia que alimenta a fazenda, sendo que a energia excedente vai para a rede elétrica. A fazenda é uma fábrica é de sorvetes e o composto é usado no pasto onde ficam as vacas, que são usadas para produzir o leite para os sorvetes e cremes. Depois desta conversa com Will Tuttle e outras pessoas aqui na Schumacher, preciso dizer que não gostei dessa parte do processo.
Este vídeo da empresa mostra como funciona a máquina que separa os resíduos
Além do Simon, conversei também com o Patrick Edwards, coordenador das instalações aqui na Schumacher College, sobre reciclagem e o que pode ser melhorado aqui na escola em relação a isto.
Como a escola trata os resíduos gerados?
O que procuramos fazer aqui na Schumacher College e em Dartington é reduzir ao máximo o que enviamos para aterros sanitários. Contratamos a empresa responsável pelo programa Zero to landfill, um mecanismo através do qual conseguimos dispor quase todos os resíduos que produzimos nas lixeiras do Zero to landfill, que são levados a um centro onde é feita uma seleção mecânica do que é e não é reciclado. O que não é reciclado é queimado para produção de energia. Vidros e baterias são coletados separadamente. As baterias e pilhas são levadas a um ponto de coleta na cidade e os vidros são recolhidos por outra empresa. A escola e o Estate fazem parte do programa há cinco ou seis anos.
Localmente, em Totnes e no sul de Devon, os serviços de reciclagem oferecidos pelo governo não são tão bons quanto deveriam ou poderiam ser, nem tão bons quando comparados com serviços em outras partes do país. Em outros locais onde vivi e trabalhei, existem programas lixo zero em que tudo é separado. Localmente, o governo estipula o que você pode e não pode reciclar, então algumas coisas que você pode reciclar não são coletadas; por isso não utilizamos o serviço do governo.
Que melhorias podem ser feitas na escola para evitar a geração de lixo?
Não é só o que você gera de resíduo, mas o que leva à geração a partir do que você consome. Uma das maiores dificuldades que temos aqui é que muitos dos nossos equipamentos e utensílios somem ou quebram, porque as pessoas não cuidam exatamente bem. Então gastamos muito dinheiro e recursos comprando coisas que já temos e que foram danificadas. Por exemplo, as pessoas levam cobertores para fora e deixam na chuva. Todos nós como comunidade poderíamos fazer muito mais para evitar a geração destes resíduos, cuidando mais das coisas. Nós compramos os produtos de limpeza em unidade e nós poderíamos comprar refil. Tentamos isso antes e parte do problema é que ninguém usava os refis para encher os potes. Então, se conseguirmos mudar o pensamento e começarmos a viver e respirar comunidade, vamos gerar menos resíduos. As embalagens são recicladas, mas evitaríamos muito desperdício se não gerássemos esses resíduos em primeiro lugar.
Que soluções você vê para as coisas que desaparecem ou são danificadas?
Eu não sou fã de placas e anúncios, porque quando há muitos, você não lê. Frequentemente tentamos lembrar as pessoas para não levarem coisas consigo. Não sei exatamente porque as pessoas fazem isso. Não são só estudantes, mas voluntários e colaboradores também. Nós todos usamos mal os equipamentos e utensílios. Às vezes estou em casa e acho alguma coisa na minha mochila que é da escola e que eu levei para casa acidentalmente. Então, frequentemente, não é um ato deliberado. É um problema grande, muitas coisas elétricas, xícaras, pratos e até camas somem! Então, acho que é importante que todos tenham consciência do impacto que têm, do impacto das suas decisões sobre a escola e mais importante, sobre Gaia, o ambiente.
Não é porque temos o programa Zero to landfill que não devemos melhorar ou procurar alternativas para fazer melhor. No Reino Unido e na União Europeia, há regulamentos que se aplicam aos equipamentos eletroeletrônicos. Uma vez por ano nós contratamos uma empresa para recolher estes equipamentos e reciclá-los. Coisas que não queremos mais, mas ainda funcionam, como lâmpadas, são levadas a charity shops (brechó cuja renda é revertida para caridade). Móveis, quando possível, são levados a uma loja em Totnes para serem restaurados e eles também vendem móveis usados e restaurados. Uma dificuldade neste aspecto é que há leis ou regulamentos que temos que seguir como instituição/organização. Por exemplo, precisamos adquirir uma mesa para um funcionário e os regulamentos atuais preveem que as mesas possam ser reguladas para cima e para baixo, só que não conseguimos achar este tipo de mesa em loja de móveis usados. Então, neste caso, precisamos comprar uma mesa nova, mas procuramos ao máximo comprar móveis usados.
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