O que o detox do meu guarda-roupa me ensinou sobre sustentabilidade

Por Letícia Maria Klein Lobe •
31 março 2021
Eu amo comprar livros! Roupas? Nhé. A prática do consumo consciente, de comprar somente quando necessário e tal, somado à minha falta de vontade de adquirir peças novas e às que eu ganhava da família nas datas comemorativas resultou em anos da minha vida sem comprar quase nada (eu conto nos dedos as peças que comprei na última década). Eu tinha roupas (tenho ainda) com mais de dez anos de uso. Mas boa parte do meu guarda-roupa tinha peças que já não serviam, que eu não usava há algum tempo ou que eram de uma Letícia que não existe mais.

Eu acabava usando sempre as mesmas roupas e pelos menos uma vez por ano eu separava algumas para doar ou vender. Mas fazer o tal processo detox, como eu aprendi recentemente, é muito diferente. 

Desde o ano passado eu venho mudando minha forma de pensar sobre vários assuntos e um deles foi o vestuário e tudo que ele implica. Acontecimentos diversos foram me dando uma nova energia e eu senti que precisava fazer circular aquela que estava parada no meu guarda-roupa. Eu estava enjoada das minhas roupas, não me encaixava em muitas delas e queria mudar meu estilo. Ou melhor, encontrar meu estilo.

Letícia encostada no guarda-roupa, vestindo calça verde e blusa social listrada
Desde então, a vontade de me reinventar cresceu e eu descontruí pré-julgamentos. Eu sempre havia considerado que imagem é superficial, que aparência não mostra quem você é, que moda é futilidade. Mas não é assim que funciona. Pelo menos, não é mais assim que funciona para mim. Faz diferença você se sentir bem-vestida, e o que eu quero dizer com bem-vestida é você se reconhecer nas suas peças e se sentir bem consigo mesma, poderosa e animada. Se sentir bem te deixa bem-humorada, e isso é um baita incentivo para aproveitar bem o dia.

Faz quase um ano que venho tendo esses novos pensamentos (inspirados em parte pelas mulheres da Assinatura de estilo), e sabe de uma coisa? É muito bom quebrar nossos próprios estigmas e preconceitos. Mudar é libertador! Como tão bem cantou Raul Seixas, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. A única constância na vida é a mudança, então é melhor recebê-la de braços abertos.

Mudar traz movimento, e eu estou numa fase de novos movimentos na minha vida. No fim de fevereiro, eu desmontei meu guarda-roupa (figurativamente, claro). Acho que tirei uns 40% de tudo que tinha lá, para doação, venda ou reutilização (alô, pufe). Fiz a grande limpa! Fui tirando as peças sem dó nem piedade. Além de me sentir muito mais leve, eu senti que meu guarda-roupa estava mais leve e livre

Se você chegou até aqui e está se perguntando o que raios um post sobre detox de roupa está fazendo num blog sobre vida sustentável, eu te respondo que uma coisa tem tudo a ver com a outra. Para além da ideia de responsabilidade ambiental, social e econômica, o termo sustentabilidade traz um conceito mais abstrato que eu gosto muito: o que te sustenta? Na sua vida, enquanto ser humano, enquanto espécie da natureza, enquanto membro de uma família, enquanto parte de um círculo social e da sociedade, o que te dá sustentação física, emocional e espiritual para viver?

A partir daí nós temos o tripé do cuidado de Satish Kumar: cuidado consigo, com o outro e com o meio. Também é sustentabilidade, sob outra perspectiva. Se a mudança do mundo começa em cada um de nós, como disse o também indiano Mahatma Ghandi, a gente precisa mudar. E então a mudança ao nosso redor é inevitável.

Com o detox do meu guarda-roupa, cuidei de mim e contribuí para a rede do consumo colaborativo, doando e vendendo muitas peças (o que eu não vender pela internet, vira moeda de troca no brechó). Algumas poucas tiveram outro uso aqui em casa. O consumo de moda não só pode como deve ser sustentável, então eu vou continuar comprando peças em brechós e de amigas elegantes que eu tenho, além de empresas têxteis responsáveis, respeitando sempre a sustentabilidade, que é um valor fundamental para mim. A diferença é que, a partir de agora, estarei mais consciente em relação a como eu me sinto e como quero estar.

Se for para resumir esse processo todo em três lições, são estas:
Roupa parada é energia presa e dinheiro desperdiçado;
Você se veste para você mesmo em primeiro lugar, para se sentir bem;
As roupas são um reflexo de nós, então não adianta vestir uma pessoa que você não é.

Um ecobeijo e até breve.
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Parque São Francisco e Nova Rússia: a Mata Atlântica em Blumenau

Por Letícia Maria Klein Lobe •
10 fevereiro 2021
Blumenau é a cidade com maior cobertura vegetal no estado de Santa Catarina, tendo 67,46% do município cobertos por fragmentos de Mata Atlântica, segundo o Diagnóstico Socioambiental. O maior fragmento está na região da Nova Rússia e corresponde ao Parque Nacional da Serra do Itajaí, que se estende por nove municípios. Outra parte muito importante está no centro da cidade, no Parque Natural Municipal São Francisco de Assis.

No último fim de semana visitei os dois. Passei duas horas no sábado de manhã percorrendo as trilhas do Parque São Francisco, e no domingo passeei com meu marido pela Nova Rússia, no bairro Progresso, onde tomei um banho de rio delicioso e revigorante na propriedade do Restaurante Permita Ser.

Trecho do rio na Nova Rússia
Trecho do rio na Nova Rússia
Começo da trilha no Parque São Francisco
Começo da trilha no Parque São Francisco

Estar imersa na natureza é como ser confortada num abraço. A natureza do lado de fora me orienta em direção à natureza que existe no lado de dentro, a minha própria essência. A natureza me retira do caos urbano e me abriga numa redoma de calmaria, onde tudo flui na velocidade do equilíbrio. É no silêncio em meio aos sons da natureza que eu me escuto melhor, busco respostas e me faço ainda mais perguntas.

Parque São Francisco

O Parque Natural Municipal São Francisco de Assis foi criado em 25 de outubro de 1995, pela Lei Municipal 99/95, quando passou a ser considerado uma Unidade de Conservação (UC), na categoria parque, que é uma das 12 categorias do Sistema Nacional de Conservação (SNUC).

Trecho de mata no trajeto inicial do parque
Trecho de mata no trajeto inicial do parque
Espécie de banana-rosa
Espécie de banana-rosa
Já perdi as contas de quantas vezes estive no parque, até porque eu costumava guiar as trilhas eventualmente quando trabalhava na antiga Fundação do Meio Ambiente, atual Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade, que é responsável pela administração do parque (uma das funções que eu mais gostava de desempenhar).

Vista no deck quando você olha para cima
Vista no deck quando você olha para cima
Espécie de borboleta listrada, branca e cinza, pousada numa folha
Uma das muitas espécies de borboletas
Já fazia quase um ano que eu não ia, então aproveitei o último sábado de sol e vento fresco para caminhar muito por lá. Foi a primeira vez que eu avistei uma coruja, o que me deixou muito feliz. Ela estava paradinha no galho, dormindo, numa árvore perto do deck (que, aliás, foi reformado recentemente e está lindo!). Antes de ir embora, passei lá de novo e ela continuava no galho, mas agora bem acordada e de olho em mim.

Trecho de floresta com céu azul ao fundo
Se você olhar bem, verá a lua no céu
Uma espécie de briófita e outra planta
Uma espécie de briófita e outra planta
Vi ainda outras aves, várias borboletas e demais insetos. O que eu percebi foi a ausência de muitas árvores. Conversando com uma amiga minha que trabalha na Secretaria, ela disse que várias caíram. Espero que a floresta se recupere, porque esse espaço é precioso, abrigo de uma biodiversidade rica e fonte de uma energia calmante e revitalizante. Saí de lá renovada.

Espécie de fungo dominando o tronco caído
Espécie de fungo dominando o tronco caído
Uma parte da trilha coberta por plantas
Uma parte da trilha coberta por plantas
Localizado no centro de Blumenau, o parque tem 23 hectares de Mata Atlântica e um pequeno curso d'água, que nasce lá dentro. Você pode caminhar em quatro trilhas autoguiadas: Trilha do Tatu (483 metros), Trilha da Cutia (82 metros), Trilha Caminho das Águas (723 metros) e Trilha do Tucano (415 metros).

Nó de árvore
"É o nó da madeira"
Espécie de herbácea com flor azul
Espécie de herbácea
O parque recebe visitantes em quase todos os dias da semana e a entrada é gratuita. Se você vai sozinho ou em um grupo pequeno de pessoas, é só chegar e percorrer as trilhas seguindo as placas. Para grupos maiores, de escolas, instituições públicas/privadas ou em atividades promovidas pela própria secretaria (caminhadas noturnas, diurnas ou observação de animais), é necessário agendamento, e a visita é feita com guia. Segundo a secretaria, mais de 13 mil pessoas visitaram o parque entre 2017 e 2020.

Espécie chamada Psychotria nuda
Espécie chamada Psychotria nuda
As pesquisas científicas realizadas no São Francisco já identificaram 394 espécies de flora (entre nativas e exóticas), 22 espécies de mamíferos134 espécies de aves (sendo 67 consideradas raras) e a publicação de duas novas espécies de fungos (Fomitiporia atlantica e F. subtilíssima). Em 2018, foi realizado o I Simpósio de Pesquisas do Parque São Francisco, com o objetivo de divulgar essas descobertas.

A coruja

Nova Rússia

Minha primeira vez na Nova Rússia foi em 2014, durante a Caminhada das Nascentes, um trajeto de 10 quilômetros da entrada da localidade (na Estação de Tratamento de Água III) até a entrada do Parque Nacional Serra do Itajaí, que é gerido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), um órgão federal. Desde então, já visitei a região várias vezes, tanto a trabalho quanto lazer.

Rio que cruza o terreno do restaurante
Rio que cruza o terreno do restaurante
Mesa com arranjo de flor e montanhas ao fundo
                              Vista do restaurante

Além do PNSI tem o Parque das Nascentes, que fica dentro do parque nacional e é administrado pelo Instituto Parque das Nascentes. São quatro trilhas, e a do Morro do Sapo tem uma vista incrível! A Nova Rússia abriga ainda o Parque Ecológico Spitzkopf (propriedade privada), o Ecomuseu Dr Agobar Fagundes, a Pousada Rio da Prata, alguns restaurantes (que costumam vender produtos caseiros) e vários acessos ao rio para tomar banho. Nos fins de semana de calor, é certo encontrar muitas pessoas se refrescando nas águas.
 
Arranjo de flor com a seguinte frase no vaso: "Seja a sua mente o seu próprio paraíso"
"Seja a sua mente o seu próprio paraíso"
No domingo, fomos até o restaurante Permita Ser, que fica no mesmo terreno da pousada. Antes do almoço, caminhamos um pouco pela trilha em meio à floresta que tem na propriedade e eu tomei um banho de rio, que estava maravilhoso! Tem vários acessos ao rio e alguns afluentes nessa trilha, e ficamos bem no começo, num dos afluentes. A água estava totalmente cristalina e refrescante. Eu sou apaixonada por água e aproveito todas as oportunidades para dar um mergulho, seja no rio ou mar. 

O almoço vegetariano (pizzas com saladas orgânicas da horta do restaurante, deliciosas) foi acompanhado de música ao vivo por Lúcio Locatelli e um vento fresquíssimo, coroando a paisagem das montanhas ao sol e um fim de semana de muita natureza.

Música especial a pedidos: Certos amigos, do grupo Expresso Rural

Serviço:

Parque São Francisco
Endereço: Rua Ingo Hering, 390, Centro, Blumenau, 89010-205
Horários de funcionamento:
De terça a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h.
Sábados, domingos e feriados, das 8h às 12h e das 13h às 16h.
O parque é fechado para manutenção nas segundas-feiras e em dias de chuva.
Entrada gratuita.

Restaurante Permita Ser
Endereço: Rua Minas da Prata, 170, Progresso, Blumenau, 89027-386
Horários de funcionamento:
Sábados e domingos, mediante reserva.
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