Por um ponto de equilíbrio

Por Letícia Maria Klein •
23 dezembro 2015
Dia e noite. Claridade e escuridão. Coragem e medo. Força e fraqueza. Dois lados da balança, dois extremos de uma situação. Opostos e complementares. Um não existe sem o outro, pois o sentido de um passa pela compreensão do significado do outro. São referências mútuas, que ajudam a explicar uma a outra. Uma não é melhor ou pior do que a outra, mas a tendência para apenas um dos lados costuma não acabar bem. A solução reside em respeitar ambos e aceitar ambos, escolhendo o meio termo. A solução é o equilíbrio

Equilíbrio na hora de fazer escolhas, na hora de falar, na hora de agir. Equilíbrio nos relacionamentos, na forma de viver a vida. Equilíbrio com a natureza e com o meio em que vivemos. O equilíbrio provém de conhecer a realidade, analisar os diversos aspectos de uma situação, pesar prós e contras, entender o contexto para então agir da maneira que considere tudo e não machuque nada. O melhor resultado é sempre o ganha-ganha, nenhuma parte perde, nenhuma parte sofre.

O equilíbrio está embasado no respeito. Respeito a nós mesmos, aos outros, ao ambiente. Nada se conquista e nada perdura sem respeito, pois ele é a base da vida em sociedade, das redes complexas do planeta vivo. O equilíbrio garante a sustentabilidade do sistema, a manutenção do meio e tudo que dele depende. O equilíbrio está em agir agora pensando no amanhã, em fazer escolhas tendo em mente as consequências, em tomar atitudes considerando a coletividade. 

O equilíbrio advém da consciência do eu, do autoconhecimento, da noção de indivíduo membro de uma sociedade, da compreensão do pertencimento ao meio, do reconhecimento da teia da vida. Equilíbrio é vida em abundância. Equilíbrio é paz.

A busca é constante, diária, pois equilíbrio não se ganha, se conquista. Utilizando-me das palavras proferidas em um discurso de formatura: “Insista, persista, nunca desista. Assim você conquista”. Que este Natal seja leve, iluminado e que abra as portas para um 2016 em que você conquiste o seu ponto de equilíbrio.


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A árvore do Sustenta Ações na Serra da Gandarela

Por Letícia Maria Klein •
20 dezembro 2015

Em julho deste ano, publiquei este post em prol da campanha “Plante uma Árvore”, organizada pelo Coletivo Cirandar e pela Floricultura Ikebana Flores para reflorestar a Serra da Gandarela, em Minas Gerais. Cada publicação sobre a campanha recebe uma árvore nativa plantada no Cerrado. No dia 14 de novembro, os 70 sites e blogs que divulgaram o projeto tiveram mudinhas plantadas em seus nomes e a do Sustenta Ações está lá! 

Como havia muitos voluntários para ajudar no plantio, ao total foram 230 mudas nativas plantadas. Esta foi a quinta etapa da campanha, que já plantou 537 árvores nativas na Serra do Gandarela de espécies como Candeia, Ipê Branco, Ipê Crioulo, Ipê Amarelo, Mogno, Jacarandá, Sucupira, Aroeira, Peroba, Jequitiba, entre outras. 



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O acordo de Paris e o que você tem a ver com isso

Por Letícia Maria Klein •
15 dezembro 2015
A COP 21 conseguiu o que se esperava das convenções do clima há muitos anos: um acordo internacional com força de lei, aprovado por 196 Estados (basicamente o mundo inteiro), fruto da união de todos contra as mudanças climáticas. O acordo é ambicioso no que se refere a limitar o aumento da temperatura a uma média bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-revolução industrial, fazendo “esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C”. A temperatura média do planeta já aumentou 1ºC (marca atingida neste ano), devido ao alcance de 400 partes por milhão de carbono na atmosfera, então dá para entender por que o acordo é visto como ambicioso. Entretanto, e aqui jaz um ponto crucial, o texto não faz nenhuma menção a metas (quantidades e prazos) de redução de gases de efeito estufa em longo prazo. 


Cientistas do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, estimam que, para evitar um aumento médio de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, as emissões teriam de cair entre 70% e 90% em 2050 (em relação a 2005) e zerar a partir de 2075. As INDC (Contribuições Nacionais Pretendidas), que são as metas de redução de emissões de gases estufa apresentadas por cada país, não garantem a temperatura média da Terra abaixo de 2ºC. Pelo contrário. Somadas, as medidas revelam um aumento médio entre 2,7ºC e 3ºC em 2100, então temos um grande desafio pela frente. O acordo de Paris estabelece que os países se reúnam a cada cinco anos para rever (lê-se aumentar) suas metas nacionais. O primeiro balanço está previsto para 2018, mas os países só devem ampliar suas propostas em 2023. 

O acordo também prevê que o IPCC realize estudos, nos próximos três anos, para avaliar a quantidade de emissões que precisa ser cortada para impedir o aumento médio de 1,5ºC, pois o documento não determina as quantidades de emissões que devem ser cortadas nem quando as emissões devem parar de subir e começar a descer. O que os países precisam fazer é reduzir ou zerar suas emissões de gases de efeito estufa, que são responsáveis pelo aquecimento médio da Terra e suas consequentes mudanças climáticas. Isso é possível, por exemplo, por meio de investimento em energias renováveis, como solar, eólica e biocombusíveis e do desinvestimento em combustíveis fósseis, como petróleo e carvão.


Para inserir o mundo numa economia de baixo carbono, os países desenvolvidos se comprometeram a financiar US$ 100 bilhões nos países em desenvolvimento por meio de ações que visam ao corte de emissões de gases estufa e à adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. As ações devem acontecer entre 2020 e 2025 e a partir desta data o valor do investimento será revisto, e reajustado para cima, a cada cinco anos. O que o acordo não diz, porém, é quanto cada país vai pagar e como será feito o financiamento.

Por fim, é importante ressaltar que o acordo é legalmente vinculante (tem força de lei), mas, como informa o jornalista André Trigueiro neste comentário, o texto não prevê multa, sansão, boicote ou retaliação contra os países que descumprirem o documento aprovado. Isso, aliado à ausência de metas para redução de emissões, significa que “nada se conquistou em relação à economia de baixo carbono e aos cálculos científicos”, como explica Trigueiro. Outro ponto relevante é que o acordo deve ser implementado em cada país por “ratificação, aceitação, aprovação ou acessão”. Esta matéria do G1 explica que, na prática, algumas partes do acordo, como o aumento médio menor que 2°C, precisam ser transformadas em leis e outras, como a implementação das metas nacionais de redução de emissões, podem começar a valer a partir de decretos presidenciais e outros instrumentos legais menos fortes.

Onde eu entro nesta história?

É lindo ver todos os presidentes aprovando o acordo de Paris, aplaudindo de pé e dando discursos motivacionais. É mesmo. Mas este documento é só o ponto de partida. Para conseguirmos evitar o aumento da temperatura média do planeta em 1,5º (desejável) ou 2ºC (máximo), é preciso que a ação parta de todas as esferas e segmentos da sociedade, do indivíduo cidadão aos grandes grupos econômicos formados por vários países. É necessário, urgente eu diria, que as pessoas repensem suas formas de consumo e modo de vida; que as empresas e as indústrias reavaliem suas formas de produção e manutenção; que o poder público crie políticas de incentivo a energias renováveis e a padrões sustentáveis de produção de alimentos, entre outros. 

Para cumprir as metas nacionais pretendidas, os governos em âmbito federal, estadual e municipal podem aumentar os subsídios e diminuir os impostos para energia renovável, diminuir até zerar o investimento em combustíveis fósseis, investir no transporte coletivo e sustentável por meio de melhoria e ampliação da infraestrutura, como corredores de ônibus e ciclovias, investir em gerenciamento de resíduos sólidos (pois a disposição final dos resíduos gera emissões de gases estufa), zerar o desmatamento e investir em reflorestamento.

Na esfera pessoal, cada um de nós também pode fazer a sua parte de várias maneiras:

- Usar o transporte coletivo ou bicicleta como principal meio de locomoção.
- Quando utilizar o carro, dar ou pegar carona sempre que possível, o que evita mais carros nas ruas.
- Comprar alimentos de produtores locais, que não precisam viajar longas distâncias e, portanto, liberam menos gases de efeito estufa para chegar até sua mesa. A regra vale, na verdade, para qualquer produto. Quanto mais local, melhor, afinal se gasta menos combustível e conserva-se mais o veículo, o que aumenta a vida útil de peças e partes, como os pneus, por exemplo.
- Consumir alimentos cultivados sem agrotóxicos. Além de contaminar o solo e os cursos de água, os fertilizantes geram gases de efeito estufa. Isto acontece porque os agrotóxicos são ricos em nitrogênio, mas grandes quantidades deste elemento não são absorvidas pelas plantas e retornam à atmosfera, onde reagem com vapor d’água e formam o óxido nitroso, um dos gases de efeito estufa.
- Reduzir (até parar, preferencialmente) o consumo de carne, visto que a pecuária é responsável por 14,5% dos GEE emitidos na atmosfera por atividades humanas, segundo a ONU. O dado está presente na publicação "Comendo o mundo", da Associação Vegetariana Brasileira, que aborda os impactos negativos no planeta provenientes da criação de animais para o abate.


- Instalar equipamentos que utilizam a radiação solar para aquecer a água ou gerar energia elétrica. O sol é uma fonte totalmente renovável de energia e o custo dos equipamentos se paga em pouco tempo, sendo uma média de dois a quatro anos para o sistema de aquecimento de água e de 10 anos para o microgerador com placas fotovoltaicas.
- Repensar seu estilo de vida e hábitos de consumo, buscando sempre seguir a ordem de prioridade referente à gestão dos resíduos sólidos, prevista no art. 9º da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/2010: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final, o que inclui a compostagem dos orgânicos.
- Plantar uma árvore. As árvores são parte fundamental do ciclo da água, regulam o ciclo das chuvas, reduzem a temperatura, filtram o ar, oferecem sombra, protegem do vento e da poluição sonora, evitam a erosão do solo e preservam a fauna. Uma árvore pode parecer pouco, mas se cada ser humano plantar uma, já serão mais de sete bilhões!
Economizar energia e trocar as lâmpadas incandescentes e halógenas por fluorescentes e LED, que são mais eficientes e reduzem a tarifa de energia elétrica. 
- Cancelar correspondências físicas de lojas, bancos e qualquer outra instituição, o que diminui a quantidade de coisas transportadas e, por sua vez, reduz as emissões de GEE.

“Acreditar é essencial, mas atitude é o que faz a diferença”. A COP 21 é considerada um marco na história da humanidade, pois conseguiu convergir todos os países na luta contra as mudanças climáticas. A partir de agora, é preciso que cada parte implemente as ações necessárias e faça tudo que estiver ao seu alcance para garantir o mínimo impacto negativo à vida na Terra como existe hoje. Conhecemos a teoria, temos as ferramentas, vamos à ação!
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7 vídeos para entender as mudanças climáticas

Por Letícia Maria Klein •
05 dezembro 2015
Negacionistas de plantão, atenção: as mudanças climáticas não são uma questão de opinião, são fatos. O aumento acelerado e intenso de gases de efeito estufa na atmosfera, provocado por ações humanas em grande escala, gera consequências graves para o planeta Terra e sua biodiversidade. Em clima de COP 21, a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, que está sendo realizada em Paris, nada melhor do que assistir a alguns vídeos e documentários que explicam as causas e os efeitos das alterações no clima e nos ajudam a entender a importância de diminuir a dependência que temos dos combustíveis fósseis.

Conferência de Paris sobre o Clima: Adaptando-se a um clima em transformação 

Neste vídeo, a ONU traz um panorama das causas e efeitos das mudanças climáticas e a necessidade de adaptação às novas realidades causadas por elas. Além deste, o canal da ONU Brasil no Youtube tem muitos vídeos sobre o tema.


Uma verdade inconveniente

Dirigido por Davis Guggenheim e apresentado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, este documentário trata da relação entre as mudanças climáticas e as ações humanas, comprovada por pesquisas, estudos, gráficos e imagens de satélite, entre outros. O filme foi vencedor de cinco categorias do Oscar, incluindo melhor documentário. Al Gore também fez três palestras no TED Talks sobre as mudanças climáticas. Além dele, há dezenas de palestras de outras personalidades falando sobre o tema no site do Ted Talks.


Mudanças climáticas

Bem didático e voltado para crianças, este vídeo produzido pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais explica desde o efeito estufa até as consequências das mudanças climáticas na Terra, incluindo informações sobre como cada um de nós pode contribuir para combater estas alterações no clima.


Mudanças do clima, mudanças de vidas

Este documentário da ONG Greenpeace Brasil mostra como as mudanças climáticas estão impactando os brasileiros em diversas regiões do país, além de trazer entrevistas com cientistas sobre as alterações no clima e o que deve ser feito, por nós, cidadãos, e por governos, para reduzir os impactos. 



Aula da USP sobre Mudanças Climáticas

Aula do professor Tércio Ambrizzi, disponível no Portal da Universidade de São Paulo, sobre as mudanças climáticas, passando por causas naturais e antropogênicas até as diversas consequências. Pode ser vista aqui.

Desmistificando a acidificação dos oceanos

Produzido pela California Academy of Sciences, este vídeo explica como acontece a acidificação dos oceanos, um dos efeitos das mudanças climáticas, e as consequências dela para a vida marinha e também terrestre. 





Derretimento de geleiras na Groenlândia

Um dos capítulos da série "Terra, que tempo é esse", produzida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, explica outra das consequências das mudanças climáticas: o derretimento das geleiras.


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Práticas cruéis – Parte 2

Por Letícia Maria Klein •
24 novembro 2015

Independentemente do motivo, nenhuma atividade humana deve estar baseada no sofrimento e sacrifício de outras espécies. Vivemos em rede, em um sistema chamado planeta Terra, e como parte dele, é nosso dever agir de maneira ética e colaborativa, fortalecendo o meio que nos sustenta. Toda ação tem uma reação e cada ato nosso de cada dia, por menor que seja, tem uma consequência, seja para nós mesmos, para o próximo, para o ambiente, para a sociedade. Por isso, cada atitude conta e nós temos, sim, o poder de fazer a diferença. Como o tema é práticas cruéis com animais, vamos ver o que cada um de nós pode fazer, na nossa rotina, para combatê-las.

Como diz a campanha do Ministério Público de Santa Catarina contra a farra do boi, “farra do boi é maldade e maldade não é tradição”. O jingle é muito legal, ouça aqui. A campanha é realizada nos municípios das regiões de Itajaí e Grande Florianópolis e inclui ações nas escolas, como palestras e concurso de redação, e também ações repressivas. Quem souber de alguma farra do boi, pode denunciar para a Polícia Militar pelo telefone 190



Aliás, a Polícia Militar atende qualquer denúncia de crime ambiental, tendo batalhões da Polícia Militar Ambiental em todos os estados. Denúncias de crime ambiental (conheça todos os crimes na Lei 9.605/1998) também podem ser feitas para o IBAMA pela Linha Verde, telefone 0800-618080, pelo e-mail linhaverde.sede@ibama.gov.br ou no próprio site. Outros órgãos ambientais, como fundações estaduais, por exemplo, também recebem denúncias. O canal da FATMA – Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina para denúncias é este aqui. O Ministério Público, seja estadual ou federal, também pode ser contatado nestes casos. Quando a denúncia for grande, o Poder Legislativo pode ser acionado. A ouvidoria da Câmara dos Deputados recebe denúncias e encaminha aos órgãos competentes.  

Outra forma de ajudar é participar de campanhas (presenciais, como estas contra as touradas e o foie gras) e de abaixo-assinados on-line, que funcionam de verdade. Tem sites como Avaaz.org e Change.org, em que dá para criar a própria campanha e coletar assinaturas para reivindicar uma causa perante governo, indústria ou comércio. Também é possível participar de campanhas de organizações não governamentais, como HSI, WWF, Sea Shepherd, Conservation International e Greenpeace, que tem suas repartições brasileiras. Outras ONG brasileiras incluem SOS Mata Atlântica, Instituto Socioambiental, Instituto Akatu, Instituto Ecoar, Recicloteca, ECOA, Fundação Gaia, Fundação Biodiversitas, Amigos da Terra e Renctas – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais. Silvestres. A campanha atual do Greenpeace Brasil, por exemplo, é “Carne ao molho madeira”, relacionada à origem da carne que as pessoas compram nos mercados e açougues. 


Falando nisso, que tem tudo a ver com a produção industrial de animais e suas práticas cruéis citada no post passado, uma das formas de boicotar as indústrias que têm métodos desumanos é consumir o produto de fazendas que priorizam o bem-estar animal, como já existem algumas no Brasil. Mas o melhor mesmo, de verdade verdadeira, é diminuir o consumo de carne progressivamente, até chegar a uma dieta sem este alimento. 

Esta publicação da Associação Vegetariana Brasileira fala tudo sobre os impactos ambientais da criação e consumo de animais, que incluem aumento dos gases de efeito estufa (que causam as mudanças climáticas), desmatamento e uso excessivo de água. A entrevista de Cynthia Schuck, uma das autoras do dossiê, ao Instituto Humanita Unisinos está muito interessante. Eu sou vegetariana há alguns anos e posso dizer com toda certeza que a carne não faz nenhuma falta; sinceramente, eu me sinto bem melhor seguindo esta dieta. Mas é importante diminuir o consumo aos poucos e fazer um acompanhamento com nutricionista para não prejudicar o organismo.


Publicação da AVB

Ainda falando de alimentos, o que também podemos fazer para boicotar e combater as práticas cruéis da indústria alimentícia é consumir alimentos orgânicos, como frutas e verduras. A agricultura sustentável preserva o solo e os corpos d’água e mantém os produtores locais, entre outras vantagens. O mesmo vale para produtos provenientes de animais criados eticamente, com liberdade e bem-estar. Saber que você está consumindo ovos ou leite e derivados de animais bem criados faz toda a diferença, para o ambiente e para nós mesmos. Ou você se sente confortável e de consciência limpa comendo produtos de animais que são confinados, apertados, estressados e machucados? 

A indústria do vestuário também se utiliza de animais para fazer produtos, como jaquetas, bolsas e sapatos de couro. Uma forma de contribuir neste aspecto é não comprar estes artigos. A demanda faz a oferta. Quanto mais as pessoas consomem, mais é produzido. Se eu deixo de comprar, já é um a menos a financiar este comércio. Imagine milhões de pessoas!? Claro que esta ação deve andar junta com a da alimentação vegetariana, coerentemente.

O capitalismo, movido pela ganância e orgulho de quem acha que pode mais porque tem mais dinheiro, inseriu a sociedade numa cadeia de massificação, industrialização e desumanização, onde o lucro vem primeiro, em detrimento da ética e da consciência. Nós temos poder de escolha e livre-arbítrio. As decisões que tomamos fazem toda a diferença, contribuindo para o bem ou para o mal. Quais as suas?
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Práticas cruéis – Parte 1

Por Letícia Maria Klein •
09 novembro 2015

Uma das características que distingue a espécie Homo sapiens dos outros seres vivos da Terra é a racionalidade. Um ser racional, segundo o dicionário Houaiss, é aquele que demonstra bom senso. Por sua vez, humano é quem mostra piedade, indulgência, compaixão. É surpreendente como estes significados podem ser tão verdadeiros em relação a uma parte da humanidade e tão mentirosos quanto à outra parte. Quando se fala em animais, temos, por um lado, pessoas humanas trabalhando ativamente na luta pelo bem-estar e conservação de espécies. Por outro, existem pessoas desumanas criando e promovendo práticas cruéis com outras espécies para inflar o ego e satisfazer a vaidade de sociedades fundamentadas no antropocentrismo, no individualismo e no dinheiro. Neste primeiro post da série sobre práticas cruéis, vou mostrar algumas atrocidades cometidas contra animais para que as “demandas” das populações humanas sejam atendidas e as “tradições culturais” sejam mantidas. 

Farra do boi

Trazida para o Brasil por portugueses, há cerca de 200 anos, a farra do boi é uma prática popular em Santa Catarina, principalmente na região litorânea, realizada na época da Páscoa. O animal é isolado e preso, sendo privado de comida e bebida durante os dias anteriores à “festa”. Quando é solto, pessoas o perseguem pelas ruas segurando pedaços de pau, pedras, chicotes, facas, cordas e lanças para ferir o boi. As crueldades incluem cortar o rabo do bichinho, quebrar suas patas e chifres, jogar pimenta nos olhos ou mesmo arrancá-los, introduzir um pedaço de madeira ou vidro no ânus e até queimá-lo vivo! Desesperado, o animal tenta fugir para o rio ou mar, onde acaba morrendo afogado. Quando não é este o cenário, os farristas prolongam o martírio do animal por dias a fio, até matá-lo, finalizando a farra com a divisão da carne e um churrasco. 


Graças à Lei Federal 9.605/1998, de crimes ambientais, e ao Recurso Extraordinário número 153.531-8/SC; RT 753/101, que proibiu a farra do boi em território catarinense, por força de acórdão do Supremo Tribunal Federal, na Ação Civil Pública de nº 023.89.030082-0, os criminosos podem pegar até um ano de prisão. Como sabemos, nem todos cumprem a lei e ainda são registrados casos de farra do boi no Estado. Em 2014, foram 65!

Tourada

Esta prática é comum na Espanha, México, Peru e Colômbia, principalmente. É muito antiga, datada do século 3 a.C., quando havia caçadas a touros. O formato atual foi adotado no fim do século 18 e só na Espanha são mais de 550 arenas! O pior de tudo, legalizadas e aplaudidas por milhares de pessoas. A prática consiste num enfrentamento entre toureiro e touro, em que o animal acaba morto depois de várias estocadas de lança e um golpe final de espada. O “espetáculo” dura cerca de meia hora e, depois, a carne do boi é vendida a açougues locais. Apesar de popular, cada vez mais cidades e estados estão proibindo o ato, como a região da Catalunha, na Espanha.


Também em arenas acontecem a vaquejada e o rodeio, no Brasil. A vaquejada é comum no Nordeste e gera muita polêmica, sendo legalizada em alguns lugares, como Paraíba, e proibida em outros, como Fortaleza. Nesta atividade, considerada esportiva, dois vaqueiros a cavalo têm de alinhar um boi até emparelhá-lo entre os cavalos e conduzi-lo a um ponto demarcado na arena, onde o animal deve ser derrubado. O boi sofre fraturas na queda e muitas vezes têm o rabo arrancado.

Matança de focas 

O governo do Canadá autoriza e subsidia o massacre de centenas de milhares de focas todos os anos, na costa oeste, durante a primavera no hemisfério norte. Em 2015, a cota foi de quase 470 mil, sendo que entre 95% e 98% são bebês de até três meses de vida, que são os mais visados por causa da pelagem branca, que é destinada à indústria da moda. As focas são caçadas por sua pele e carne, de maneira bruta e cruel. Algumas morrem com tiro de rifle na cabeça e a maioria é espancada até a morte com o hakapik, um martelo com um gancho na ponta usado para bater na cabeça do animal. A lei diz que os caçadores devem se certificar de que a foca está morta antes de retirar a pele, mas análises mostraram que 40% delas são escalpeladas ainda vivas! Os Estados Unidos, a União Europeia e a Rússia boicotam produtos provenientes da matança das focas e a Noruega deixou de subsidiar o setor a partir de 2015, o que deve contribuir para o fim da caça. 




Finning 

O finning, junto com a pesca de espinhel e a “prática esportiva”, é responsável pela morte agonizante de 150 milhões de tubarões todos os anos, tendo reduzido as populações de algumas espécies em 90%. Os tubarões são caçados por suas barbatanas, dentes, mandíbulas, pele, cartilagem e óleo de fígado. No finning, os tubarões são pescados, têm suas barbatanas cortadas e são jogados de volta ao mar, ainda vivos (!!!), morrendo afogados ou devorados por predadores. As barbatanas são utilizadas para fazer sopa em restaurantes asiáticos. Ai, que indigestão.


Puxada de cavalo

É uma corrida, em que cavalos emparelhados puxam carretas sem rodas levando sacos de areia que pesam entre 1 mil e 2,5 mil kg, por uma pista de lama de 24 metros. O sofrimento dos animais começa bem antes da prova, quando são “treinados” para que se tornem “competitivos”, sendo surrados e ameaçados. O esforço físico deles provoca exaustão e destruição da estrutura muscular, insuficiência renal e sofrimento orgânico, que pode acabar em morte. 


A competição acontece em cidades catarinenses do Médio Vale do Itajaí, como Pomerode e Benedito Novo. Em 2010, manifestantes de ONG contrários à puxada se manifestaram e foram agredidos violentamente por praticantes e simpatizantes. Em 2013, a justiça proibiu a puxada de cavalos em Pomerode a pedido do Ministério Público. No dia 14 de outubro de 2015, finalmente, a Assembleia Legislativa aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que proíbe a prática no Estado. Falta apenas a sansão do governador.

Produção industrial de animais 

Há alguns dias aconteceu uma manifestação aqui em Blumenau contra o patê de foie gras, contribuindo para a aprovação do projeto de lei complementar 1469/2015, que proíbe a produção e comércio do foie gras no município. Esta “iguaria”, como é referenciada, significa fígado gordo, em francês, e é feita a partir da alimentação forçada de patos e gansos. 



Os animais são alimentados contra a vontade através de um tubo enfiado em suas gargantas, entre a 10ª e a 14ª semanas de vida, quando recebem de 400 a 900 gramas de alimento, de duas a três vezes por dia. Depois do fígado expandir significativamente e atingir 60% de gordura, os animais são mortos. O vídeo abaixo foi divulgado com a campanha blumenauense e tem passagens que são de chorar.


A indústria de produção de alimentos, nos setores de produção de carnes, ovos, leite e derivados, é cruel com diversos animais. No caso da produção industrial de ovos, também chamada de convencional, por exemplos, a noção de bem-estar animal é bem distorcida. A União Brasileira de Avicultura criou um protocolo de bem-estar para aves poedeiras (sem força de lei), que indica um espaço, dentro de gaiolas, de 375cm² por ave para aves brancas e 450cm² para aves vermelhas. 


O primeiro é mais ou menos um quadrado de 18 por 20, menor que uma folha A4, como a jornalista Francine Lima esclarece neste vídeo. Num espaço assim, é óbvio que as galinhas ficam estressadas (ou por acaso é legal pegar ônibus lotado na hora do rush?) e quando isso acontece, elas brigam entre si. Para evitar isso, os produtores cortam os bicos, dedos e crista dos animais! Se este protocolo considera bem-estar, imagina o que seria mal-estar.

Tráfico de animais silvestres

O tráfico de animais silvestres está entre as atividades comerciais ilícitas mais praticadas no mundo, depois do tráfico de armas e drogas, tendo movimentado mais de R$ 7 bilhões no Brasil nos últimos 10 anos. As aves respondem por 80% dos animais capturados, sendo 90% devido ao seu canto. Nove em cada 10 também é o número de animais silvestres traficados que morrem antes de chegar ao destino. De 2004 a 2014, foram quase 6 milhões de aves comercializadas no país, o que significa que cerca de 60 milhões foram capturadas. 



Estas são apenas algumas das práticas cruéis com animais. Existem outras como o festival de Gadhimai (realizado a cada cinco anos no Nepal, foi banido após a última edição em 2014), rinhas de galo e cães, carnificina de golfinhos em Taiji/Japão, fábricas de filhotes (mais neste post), testes de laboratório em animais (também tem post), fazenda de criação de animais para extração de peles e assassinato de elefantes e rinocerontes pelo marfim. Devem haver outros, tamanha a criatividade maligna de seres desumanos. Estas informações nos tiram da nossa zona de conforto e causam mal-estar, indignação, revolta, choro. Mas conhecimento é poder, saber nos faz refletir e a reflexão é o primeiro passo para a ação. No próximo post, veremos o que está sendo feito em defesa dos animais e como cada um de nós pode ajudar.
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Walden ou A vida nos bosques, de Henry David Thoreau [Resenha]

Por Letícia Maria Klein •
27 outubro 2015
Henry David Thoreau foi um homem ousado e autêntico. Enquanto todos ao seu redor seguiam o fluxo do comercialismo e industrialismo crescentes dos Estados Unidos, glorificando o dinheiro e o status, ele deu meia volta e foi a para a mata, glorificar a vida. Seus escritos influenciaram personalidades como Gandhi e Martin Luther King e libertaram milhares do consumismo, do modelo de crescimento que depreda o ambiente, de uma vida de aparências e títulos vazios, fortificando o caminho para o minimalismo, a vida simples e cheia de significado. “Walden ou A Vida Nos Bosques” é o relato pessoal do tempo em que Thoreau viveu sozinho no meio da floresta, na casa que ele mesmo construiu e se alimentando não só do que plantava, mas também da essência da vida. 


Em julho de 1845, Thoreau foi para as matas do lago Walden, onde havia começado a construir sua casa em março daquele ano. Ele tinha 28 anos e muita sede de viver, de fato, como ele mesmo afirma nesta passagem: 

“Fui para a mata porque queria viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida e ver se não poderia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de, vindo a morrer, descobrir que não tinha vivido” (p. 95).

No livro, Thoreau descreve e explica tudo: o porquê da decisão de passar um tempo isolado da sociedade capitalista, como construiu a casa, com que dinheiro e recursos, sua dieta, sua rotina, por que deixou o lago e voltou para Concord (Massachussets). Observador contumaz, descrevia as belezas naturais e as espécies com uma sensibilidade tocante, muitas vezes criando metáforas e associações com situações humanas. Ele tinha o dom da palavra, escrevia versos poéticos e prosas melodiosas com maestria, brincando com os vocábulos, tanto seus significados quanto suas formas. 

Foi poeta, ensaísta, filósofo transcendentalista, escritor, carpinteiro, “puro e franco”, nas palavras de seu conterrâneo Ralph Waldo Emerson, que no discurso fúnebre quando da morte de Thoreau, disse que este “decidiu ser rico diminuindo suas necessidades e atendendo pessoalmente a elas”. De fato, conseguiu. 

“Estou convencido, por fé e pela experiência, que se sustentar nesta terra não é um sofrimento e sim um passamento, se vivermos com simplicidade e sabedoria” (p. 77).

Henry David Thoreau 

Também foi polêmico, contestador, revolucionário, reacionário, contrário às estruturas sociais e econômicas que priorizavam o status e o lucro em detrimento da natureza. Crítico ferrenho da sociedade capitalista, que valora tudo e todos e não valoriza a vida. Tido por muitos como misantropo, era rígido com a própria espécie, mas não sem razão, como provavelmente acreditava. Para Thoreau, não faltavam motivos para contrariar e ironizar as situações que viveu e as circunstâncias que o cercavam. 

“A Natureza não tem habitante humano que a aprecie. As aves com suas plumagens e melodias estão em harmonia com as flores, mas qual o rapaz ou moça que está em consonância com a beleza agreste e luxuriante da Natureza? Ela mais floresce sozinha, longe das cidades onde residem. E falais dos céus! Vós desgraçais a terra” (p. 193).

Ao viver sozinho por dois anos, dois meses e dois dias às margens do Lago Walden, Thoreau se mostrou um aventureiro de uma terra só, ávido por experiências viscerais. Um sonhador sensato, um pensador que parte para a ação. Um verdadeiro amante e apreciador da natureza. Consumidor de carne intermitente, reconhecia a validade e os benefícios de uma dieta vegetariana, ironizando, por vezes, o assunto: 

“Um agricultor me diz: ‘Você não pode viver só de vegetais, pois eles não fornecem nada para os ossos’; e assim ele dedica religiosamente uma parte do dia a suprir seu sistema com a matéria-prima dos ossos; e, enquanto fala, vai andando atrás de seus bois que, com ossos feitos de vegetais, vão avançando e puxando aos trancos o homem e o pessoa do arado, passando por cima de qualquer obstáculo” (p. 23).

Ele colocava muitos conceitos em perspectiva, propondo reflexões tão ou até mais atuais do que quando foram escritas. Sobre o conceito de espaço, por exemplo:

“Muitas vezes me dizem: 'Imagino que você se sentia solitário lá embaixo, e queria estar mais perto das pessoas, principalmente nos dias e noites de chuva e neve'. Fico com vontade de responder: esta terra inteira que habitamos é um ponto no espaço. a que distância você acha que moram os dois habitantes mais afastados daquela estrada acolá, cujo diâmetro nossos instrumentos não conseguem calcular? Por que eu me sentiria sozinho? Nosso planeta não fica na Via Láctea? O que você está me colocando não parece a questão mais importante. Qual é o tipo de espaço que separa um homem de seus semelhantes e o faz solitário? Descobri que nem o maior esforço das pernas consegue aproximar dois espíritos" (p. 132).

Cabana construída por Thoreau

Sobre a ideia e o real significado do conforto:

“Uma noite, alcancei um de meus concidadãos, que tinha acumulado o que se chama de “bela propriedade” na estrada de Walden, levando duas cabeças de gado para o mercado, o qual me perguntou como eu podia renunciar a tantos confortos da vida. Respondi que tinha plena certeza de gostar bastante da vida que levava; e não estava brincando. E então fui para casa me deitar, e deixei o sujeito escolhendo cuidadosamente onde pisaria na escuridão e na lama até Brighton, aonde só chegaria em alguma hora da manhã seguinte" (p. 133).

Sobre o lago Walden, mas na verdade, sobre espiritualidade:

“Um campo de água revela o espírito que está no ar. Do alto recebe continuamente nova vida e novo movimento. É, em sua natureza, o intermediário entre o céu e a terra. ... admirável que possamos olhar sua superfície do alto. Algum dia, quem sabe, olharemos do alto a superfície do ar, e veremos por onde a percorre um espírito ainda mais sutil” (p. 183).

Sobre a importância de cuidar de si, corpo, mente e espírito:

“Todo homem é o construtor de um templo, chamado corpo, dedicado ao deus que ele cultua, num estilo puramente seu, e não pode se desobrigar apenas malhando mármore. Somos todos escultores e pintores, e nosso material é nossa própria carne, nosso sangue e nossos ossos. Toda nobreza logo começa a refinar os traços de um homem; toda mesquinharia ou sensualidade, a embrutecê-los” (p. 213).

Sobre a fragilidade das construções e entidades humanas:

“Vocês podem derreter seus metais e despejá-los nos moldes mais belos que tiverem; eles nunca me empolgarão como as formas em que se derrama essa terra derretida. E não só ela, mas as instituições sobre ela são maleáveis como a argila nas mãos do oleiro” (p. 293).

Os móveis utilizados pelo autor 

Sobre os conceitos de pobreza e riqueza.

“Por mais mesquinha que seja sua vida, aceite-a e viva-a [...] ela não é tão ruim quanto você. Ela parece tanto mais pobre quanto mais rico você é. Quem vê defeito em tudo verá defeitos até no paraíso. [...] As coisas não mudam, mudamos nós. [...] A humildade, tal como a escuridão, revela as luzes celestiais. [...] se você está tolhido em seu nível por causa da pobreza, [...] está apenas confinado às experiências mais significativas e vitais; vê-se obrigado a lidar com o material que rende mais açúcar e amido. É a vida perto do osso a mais doce. Você não corre o risco de ser frívolo. Ninguém jamais perde num nível inferior por sua magnanimidade num nível superior. A riqueza supérflua só pode comprar supérfluos. Não é preciso dinheiro para comprar o necessário à alma” (p. 309). 

Sobre o aprendizado constante, mais facilmente e agradavelmente absorvido para quem está disposto a aprender:

“A luz que extingue nossos olhos é escuridão para nós. Só amanhece o dia para o qual estamos despertos. O dia não cessa de amanhecer. O sol é apenas uma estrela da manhã” (p. 314).

Penso que se mudar para a mata para viver deliberadamente seja uma daquelas experiências que nos faz despertar para a verdadeira essência existencial, para os valores morais estruturantes e para as prioridades que orientam o ser humano para uma vida de amor, caridade e paz. Por fim, uma reflexão de Thoreau que cai como uma luva nos tempos que vivemos, de excessos e vazios:

"Que importância têm as coisas que você pode esquecer? Um pequeno pensamento é o sacristão de todo o mundo” (p. 335).

Nada como a luta contra si mesmo para o autodesenvolvimento.

“Dirige teu olhar para dentro de ti,
E mil regiões encontrarás ali,
Ainda ignotas. Percorre tal via
E mestre serás em tua cosmografia” (p. 302).
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Aprendizados do II Encontro Blumenauense de Educação Ambiental

Por Letícia Maria Klein •
17 outubro 2015
A palavra de ordem no II EBEA foi amor. Logo na palestra de abertura, o professor Daniel Silva falou sobre “Os fundamentos emocionais da educação ambiental”. Foi fantástica! O professor tem muito conhecimento e sabe transmitir a informação de maneira apaixonante. Ele convidou algumas pessoas da plateia para contribuir com depoimentos ao longo da explicação, o que enriqueceu muito o momento. Além da palestra, o professor também ministrou uma oficina no dia seguinte, sobre o significado da sustentabilidade, que foi igualmente enriquecedora. Como auxiliar, participei de três oficinas com temas e públicos bem diferentes, mas muito interessantes. No post anterior eu falei sobre como foi participar do II EBEA como organizadora e neste comento sobre a palestra e oficinas de que participei.

Palestra de abertura

A palestra de abertura foi muito bem construída. O professor Daniel falou sobre a inexistência de gratuidade na natureza, o que significa que nada é por acaso e tudo tem relação, interdependência ou complementaridade com outro elemento ou parte do sistema da Terra. Esta visão sistêmica pode ser adquirida através da educação ambiental, que constrói consciências a partir de emoções. São três: emoções fundadoras, pedagógicas e estratégicas. As fundadoras são o amor e o bem comum. O ser humano não se encerra em si mesmo, ele precisa do meio e de outros seres para viver, preservando o que ama e o que é comum a todos. 

As emoções pedagógicas são as do dia a dia da educação ambiental, que têm o objetivo de religar o humano consigo mesmo e com a natureza, estabelecendo a pertinência (noção de pertencimento ao meio) e afinidade (valorização, respeito e reconhecimento do meio e dos outros seres vivos). Por fim, as emoções estratégicas tem relação com nosso futuro. Os educadores são comprometidos com o futuro e com a futuridade. Agir em compromisso com a futuridade é realizar ações no presente para construir o futuro e ter responsabilidade, que significa responder às situações com habilidade.

Para cada emoção, o professor chamou duas pessoas da plateia, que ele já conhecia de outras ocasiões, para darem um depoimento sobre o tópico. Foi muito interessante! Uma delas, integrante do GTEA RH7, que realizou evento paralelo ao II EBEA, disse que não gosta de falar educação ambiental, pois não se separa o que é inseparável. Não é possível educar sem relacionar o ambiente em que vivemos, desde nossa residência até a grande casa Terra. Os aspectos ambientais, sociais, econômicos, políticos são parte intrínseca da educação, pois se educa para a vida como um todo. Concordo com esta visão, e você?

Oficina com professor Daniel

Além da palestra, participei de quatro oficinas, sendo três como auxiliar. A oficina do professor Daniel foi bem prática e propôs uma metodologia de trabalho a partir da leitura de um texto sobre sustentabilidade, do qual cada um extraia o que considerava mais importante. Em seguida, cada grupo de quatro ou cinco pessoas deveria formular um conceito de sustentabilidade a partir da opinião de todos os membros, culminando na elaboração de um cartaz que simbolizasse a definição estabelecida pela equipe. A dinâmica foi ótima e o aprendizado, valioso.

A oficina sobre ferramentas de mobilização, ministrada pela fundadora da Minha Blumenau, Amanda Tiedt, começou com uma dinâmica muito interessante sobre democracia participativa, que mostrou que as mesmas pessoas podem ter opiniões similares sobre determinado assunto e opiniões diferentes sobre outro, e nem por isso elas vão deixar de conversar ou manter um relacionamento. Também foi falado sobre a cidadania ativa e o conceito de rede, colaboração e canalização da ação. Para entender na prática, Amanda mostrou quais as ferramentas que a Minha Blumenau disponibiliza aos cidadãos para reivindicar posturas do governo, sugerir propostas ou mobilizar ações e depois, em grupos, nós tivemos que escolher uma causa e a melhor ferramenta para potencializá-la.

A oficina do professor Amarildo Otavio Martins foi para suscitar nos estudantes o amor, ou ao menos a curiosidade, pela química. Crítico do sistema atual de ensino, que afasta os estudantes das ciências, Amarildo atua de forma a despertar, por meio de equipamentos e instrumentos em aulas práticas, o interesse das pessoas pelas ciências, em especial a química. A oficina foi sobre determinação de metais em matrizes ambientais utilizando a espectrometria atômica. Na prática, como identificar metais potencialmente tóxicos em água, solo, plantas, entre outras matrizes, utilizando o aparelho de espectrometria, que emite chamas coloridas, sendo que cada cor está relacionada a um metal. O conhecimento desta técnica, aliado ao monitoramento desses metais, como chumbo, cádmio e mercúrio, permite o desenvolvimento de metodologias mais eficientes e com alta sensibilidade analítica.


Oficina do professor Amarildo

A MPB Engenharia, responsável pela duplicação da BR-470, ofereceu uma oficina de como fazer um abajur decorativo com imagens da Mata Atlântica. A bióloga Daiane Kafer e a engenheira ambiental Marília Machado ensinaram mais de 30 estudantes a confeccionar abajures a partir de garrafa pet. Um lado não tão bom foi que apenas a garrafa foi um material reaproveitado, todos os outros materiais utilizados para fazer o abajur foram comprados novos, o que fugiu um pouco da proposta do EBEA que era a de reutilizar o máximo de resíduos possível. De qualquer forma, a criançada gostou bastante e ficou bem entretida durante toda a oficina. 

A programação deste ano do EBEA foi bem diversificada e interessante. Se você teve a oportunidade de participar, comente aqui embaixo o que achou do evento. =)
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Olhares de dentro do II Encontro Blumenauense de Educação Ambiental

Por Letícia Maria Klein •
12 outubro 2015

No ano passado, estive presente no Encontro Blumenauense de Educação Ambiental como participante e neste ano como organizadora. São duas experiências diferentes e igualmente ricas. Desta vez, acompanhei todo o planejamento e organização do evento, que começou em junho no GTEA L (Grupo de Trabalho de Educação Ambiental de Blumenau), depois de finalizada a Semana Municipal do Meio Ambiente. É energizante poder participar de toda a montagem das exposições no local, da arrumação das salas para as oficinas e de todos os preparativos para que tudo ocorra conforme o planejado. No fim, é gratificante ver que expositores, oficineiros, palestrantes e participantes gostaram e aproveitaram e também receber agradecimentos de professores pela oportunidade de apresentar os belos trabalhos que realizam com seus estudantes.

Parte do grupo do GTEA L com o professor Daniel Silva, 
após a cerimônia de abertura.

Foram 34 escolas que expuseram trabalhos fantásticos de educação, englobando horta comunitária, reutilização de materiais recicláveis, estudos de solo e fontes alternativas de energia, entre outros. As 12 oficinas tiveram públicos diferentes e abordaram temas como compostagem, atividades e ações educativas, gestão de resíduos, ferramentas de mobilização social e música com sucata, dentre outras. 


Exposição da Escola Básica Municipal Professora 

Norma Dignarti Huber sobre os tipos de solo.
Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau.

Exposição sobre o processo de taxidermia (empalhamento).
Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau.

Exposição da Escola Básica Municipal Francisco Lanser 
sobre o trabalho de horta e plantações.
Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau.

Aconteceram também apresentações artísticas e culturais e atividades interativas nos corredores e salas de aula, como peças teatrais, músicas e a Rede de Protetores das Águas, em que pessoas podiam confeccionar peixes e escrever neles mensagens de preservação. Também houve visitas de escolas à Estação de Tratamento de Esgoto da Odebrecht Ambiental, na Fortaleza. Cerca de 500 pessoas participaram das oficinas e por volta de 1000 de todo o evento, que aconteceu de 30 de setembro a 2 de outubro de 2015. 

No dia 30, à noite, foi a cerimônia de abertura, que contou com uma palestra belíssima do professor Daniel Silva, da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre “Os fundamentos emocionais da Educação Ambiental”. Merece um post à parte, que sairá em breve. 

Oficina de compostagem.
Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau.

Crianças interagindo com as minhocas
durante oficina de compostagem.
Fonte: Prefeitura Municipal de Blumenau.

Na tarde do dia 30 e na manhã do 1°, paralelamente ao II EBEA, foi realizado o 1º Encontro dos Grupos de Trabalho de Educação Ambiental das Bacias Hidrográficas de Santa Catarina. Consegui participar de algumas palestras e conhecer o trabalho de GTEA de outras regiões, além de ouvir opiniões interessantes e esclarecedores sobre a educação ambiental e políticas públicas relacionadas. 

Cada membro do comitê organizador do EBEA recebeu tarefas para desempenhar durante o evento e dentre elas estava a de acompanhar oficinas e auxiliar no que fosse preciso. Nesta função, participei das oficinas de Ferramentas de Mobilização, realizada por Amanda Tiedt, fundadora da Minha Blumenau; Abajur Decorativo com Imagens da Mata Atlântica, da MPB Engenharia, responsável pela duplicação da BR-470; e Determinação de Metais em Matrizes Ambientais utilizando a Espectrometria Atômica, ministrada pelo professor do campus da UFSC em Blumenau, Amarildo Otavio Martins. Também falarei sobre elas em outro post, junto com a palestra de abertura, pois foram muito interessantes.

Além disso, pude participar de uma oficina ministrada pelo professor Daniel sobre o conceito de sustentabilidade, que foi bem prática, com dinâmicas em grupo. Show de bola! Falo mais dela no outro post. Por fim, terminamos o II EBEA com o Encontro de Coletivos de Blumenau, do qual participou a Amanda da Minha Blumenau, a Fabíola Cordeiro da Sinergia Urbana, o Giovani Seibel da ABCiclovias e eu com a Juventude Lixo Zero Blumenau. Cada um falou sobre os objetivos e ações do seu movimento e a plateia interagiu com contribuições bem legais. Nossas cabeças saíram fervilhando de ideias, aguardem!

Na oficina do professor Daniel. 
Foto de Cássia Koehler.

No Encontro de Coletivos de Blumenau.
Foto de Cássia Koehler.

Além de auxiliar nas oficinas, nós do GTEA também ajudamos os expositores e oficineiros a organizar seus locais, providenciando os materiais necessários e dando instruções. Carregamos muitas mesas e cadeiras e juntamos uma quantidade considerável de quilômetros ao fim dos três dias, andando e até correndo de um lado para o outro para garantir que tudo estivesse em ordem. Contamos com a ajuda de pessoas ótimas (da Uniasselvi Fameblu, da segurança e limpeza, entre outros), que contribuíram para o sucesso do II EBEA. Foi uma experiência maravilhosa e recompensadora, que evidencia a necessidade de investir na educação e a importância de valorizar esta que é a principal ferramenta de construção de uma sociedade justa, ética e sustentável.
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