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Tragédia climática no RS escancara necessidade de mudanças de pensamento e comportamento

Por Letícia Maria Klein •
07 maio 2024



Ilustração de Alberto Benett na Folha de S. Paulo 


"Somos feitos uns dos outros", diz Satish Kumar no livro "Amor radical", lançado em português em 2024 pela editora Bambual. 


Somos feitos das nossas experiências, das nossas interações com os outros seres, das emoções e sentimentos que vivenciamos desde o nascimento, de tudo o que lemos, vemos e ouvimos, do que damos e recebemos, de tudo que pensamos e fazemos, do que é feito conosco, de tudo o que nos alimenta, física e espiritualmente. Somos feitos dos nossos pais, amigos, conhecidos e até dos "estranhamentos". 


Somos feitos de carne, osso, sangue, alma, carbono, água, de minerais e vitaminas que adquirimos dos alimentos que vêm do solo e que passaram por diferentes mãos para chegar até nós. Somos feitos do ar que é gerado por algas marinhas e plantas terrestres, ar que é poluído pelo excesso de gases dos veículos e fábricas e por microplásticos que invadem nossos corpos e os dos animais sem pedir licença. 


Somos feitos da mesma água que abastece rios, lagos, mares e tantos outros seres vivos, todos dependentes do líquido que dá vida. Somos feitos do solo que nos sustenta e gera vida, que por sua vez nos alimenta com seus frutos e nos abriga com sua madeira, entre tantos outros presentes que não comumente reconhecemos nem valorizamos.  


Somos feitos das consequências de tudo que causamos - e tudo que causamos têm consequências, sejam pequenas ou grandes, boas ou más, individuais ou coletivas. Nós somos enquanto estamos em constante troca com o meio que nos cerca. 


Envenenar o solo com agrotóxicos, poluir o ar com gases nocivos, sujar a água com produtos químicos e plásticos, consumir sem critérios - sem pensar na necessidade da compra, na cadeia produtiva, na vida útil e no futuro descarte do produto, na responsabilidade social e ambiental das empresas - e votar em políticos que não pensam holisticamente e em longo prazo significa prejudicar a nós mesmos, agora e depois. 


As mudanças climáticas, que têm se manifestado na forma de eventos intensos e cada vez mais frequentes em todo o planeta - incluindo as enchentes no Rio Grande do Sul - são consequências dos comportamentos egoístas, individualistas, imediatistas e desconectados do meio e dos outros seres vivos que a humanidade tem tido nos últimos 400 anos principalmente (partindo da expansão do pensamento cartesiano e da Revolução Industrial). 


Agimos como se nossas ações não tivessem repercussão ou impacto sobre tudo o que nos cerca, como se fôssemos totalmente independentes e separados do solo, da atmosfera, da água e dos outros seres vivos que abrigam este mesmo planeta Terra onde vivemos. É um absurdo pensar que podemos ter um modelo econômico de crescimento infinito num mundo com bens naturais limitados, e ainda assim é dessa forma que a maioria absoluta das sociedades está estruturada. As consequências disso são inevitáveis e já chegaram, trazendo o aviso de que a situação vai piorar se nós não modificarmos nossas linhas de pensamento e ação. 


Precisamos mudar nossos comportamentos enquanto indivíduos, coletivos, instituições e estruturas sociais. O que fazemos reverbera no todo, que depois retorna a nós mesmos. Mudanças climáticas não são somente um assunto ou um problema ambiental, assim como nenhum outro é, porque tudo o que afeta o ambiente afeta diretamente a sua biodiversidade, à qual pertence a espécie humana. Segundo informações do Observatório do Clima nesta semana, vinte e cinco projetos de lei e três emendas à Constituição estão tramitando no Congresso brasileiro, com alta probabilidade de avanço imediato e que, se aprovados, "causarão dano irreversível aos ecossistemas brasileiros, aos povos tradicionais, ao clima global e à segurança de cada cidadão". Causarão danos a cada um de nós. 


Falar de mudanças climáticas é falar de produção de alimentos, de infraestrutura urbana, de saúde, de desigualdade social (visto que a maioria dos atingidos são as populações mais pobres e marginalizadas), entre outros temas que dizem respeito à vida humana em sociedade. É primordial voltarmos a viver e a ver a vida de maneira holística e sistêmica, compreendendo que estamos todos interligados numa teia existencial complexa e delicada, da qual não é possível sair e da qual dependemos integralmente. 


Somos feitos uns dos outros, então tudo que fazemos aos outros - sejam eles quem ou o que forem - fazemos a nós mesmos. Viver de maneira sustentável é, antes e acima de tudo, valorizar a vida. Não é um tripé com base financeira, é um tripé baseado no amor: a preservação da vida no planeta depende de cuidarmos de nós mesmos, do outro e do meio que nos sustenta, em relações de afeto, respeito e solidariedade. 

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O que o detox do meu guarda-roupa me ensinou sobre sustentabilidade

Por Letícia Maria Klein •
31 março 2021
Eu amo comprar livros! Roupas? Nhé. A prática do consumo consciente, de comprar somente quando necessário e tal, somado à minha falta de vontade de adquirir peças novas e às que eu ganhava da família nas datas comemorativas resultou em anos da minha vida sem comprar quase nada (eu conto nos dedos as peças que comprei na última década). Eu tinha roupas (tenho ainda) com mais de dez anos de uso. Mas boa parte do meu guarda-roupa tinha peças que já não serviam, que eu não usava há algum tempo ou que eram de uma Letícia que não existe mais.

Eu acabava usando sempre as mesmas roupas e pelos menos uma vez por ano eu separava algumas para doar ou vender. Mas fazer o tal processo detox, como eu aprendi recentemente, é muito diferente. 

Desde o ano passado eu venho mudando minha forma de pensar sobre vários assuntos e um deles foi o vestuário e tudo que ele implica. Acontecimentos diversos foram me dando uma nova energia e eu senti que precisava fazer circular aquela que estava parada no meu guarda-roupa. Eu estava enjoada das minhas roupas, não me encaixava em muitas delas e queria mudar meu estilo. Ou melhor, encontrar meu estilo.

Letícia encostada no guarda-roupa, vestindo calça verde e blusa social listrada
Desde então, a vontade de me reinventar cresceu e eu descontruí pré-julgamentos. Eu sempre havia considerado que imagem é superficial, que aparência não mostra quem você é, que moda é futilidade. Mas não é assim que funciona. Pelo menos, não é mais assim que funciona para mim. Faz diferença você se sentir bem-vestida, e o que eu quero dizer com bem-vestida é você se reconhecer nas suas peças e se sentir bem consigo mesma, poderosa e animada. Se sentir bem te deixa bem-humorada, e isso é um baita incentivo para aproveitar bem o dia.

Faz quase um ano que venho tendo esses novos pensamentos (inspirados em parte pelas mulheres da Assinatura de estilo), e sabe de uma coisa? É muito bom quebrar nossos próprios estigmas e preconceitos. Mudar é libertador! Como tão bem cantou Raul Seixas, “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. A única constância na vida é a mudança, então é melhor recebê-la de braços abertos.

Mudar traz movimento, e eu estou numa fase de novos movimentos na minha vida. No fim de fevereiro, eu desmontei meu guarda-roupa (figurativamente, claro). Acho que tirei uns 40% de tudo que tinha lá, para doação, venda ou reutilização (alô, pufe). Fiz a grande limpa! Fui tirando as peças sem dó nem piedade. Além de me sentir muito mais leve, eu senti que meu guarda-roupa estava mais leve e livre

Se você chegou até aqui e está se perguntando o que raios um post sobre detox de roupa está fazendo num blog sobre vida sustentável, eu te respondo que uma coisa tem tudo a ver com a outra. Para além da ideia de responsabilidade ambiental, social e econômica, o termo sustentabilidade traz um conceito mais abstrato que eu gosto muito: o que te sustenta? Na sua vida, enquanto ser humano, enquanto espécie da natureza, enquanto membro de uma família, enquanto parte de um círculo social e da sociedade, o que te dá sustentação física, emocional e espiritual para viver?

A partir daí nós temos o tripé do cuidado de Satish Kumar: cuidado consigo, com o outro e com o meio. Também é sustentabilidade, sob outra perspectiva. Se a mudança do mundo começa em cada um de nós, como disse o também indiano Mahatma Ghandi, a gente precisa mudar. E então a mudança ao nosso redor é inevitável.

Com o detox do meu guarda-roupa, cuidei de mim e contribuí para a rede do consumo colaborativo, doando e vendendo muitas peças (o que eu não vender pela internet, vira moeda de troca no brechó). Algumas poucas tiveram outro uso aqui em casa. O consumo de moda não só pode como deve ser sustentável, então eu vou continuar comprando peças em brechós e de amigas elegantes que eu tenho, além de empresas têxteis responsáveis, respeitando sempre a sustentabilidade, que é um valor fundamental para mim. A diferença é que, a partir de agora, estarei mais consciente em relação a como eu me sinto e como quero estar.

Se for para resumir esse processo todo em três lições, são estas:
Roupa parada é energia presa e dinheiro desperdiçado;
Você se veste para você mesmo em primeiro lugar, para se sentir bem;
As roupas são um reflexo de nós, então não adianta vestir uma pessoa que você não é.

Um ecobeijo e até breve.
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Feliz Natal sustentável

Por Letícia Maria Klein •
24 dezembro 2020
O ano está chegando ao fim, e que ano tivemos! Completamente diferente de tudo o que tínhamos vivido até então. Um ser vivo microscópico impactou o mundo inteiro e foi capaz de transformar relações sociais e mudar parâmetros que já estavam estabelecidos nos sistemas econômicos e políticos ao redor do globo.

Foi preciso que todos se unissem para superar os desafios que o vírus nos trouxe. Ainda é. Cada um individualmente e também em níveis organizacionais, empresariais e governamentais. A pandemia de Covid-19 foi uma professora severa e deu à humanidade muitas lições. Cada um aprendeu o que mais precisava aprender, passando pelo que precisávamos para continuar evoluindo e melhorando, como indivíduos e coletividade.

Tudo e todos estão interligados e são interdependentes, e o novo coronavírus provou isso. Não interessa em que parte da Terra você esteja, você sentirá os impactos que acontecem do outro lado de alguma forma e em algum momento. Tudo, absolutamente tudo que fazemos no nosso dia a dia provoca reações, não importa o tamanho ou o alcance. Por isso é tão importante, ou melhor, é fundamental, cuidarmos de nós mesmos, do outro e do meio.

Isso é sustentabilidade, e é a única forma que os seres vivos e os ambientes, unidos neste planeta que chamamos de casa, têm para prosperar e viver em equilíbrio.
 
Letícia segurando o gato Spock, os dois com toquinha de Papai Noel

Desejo um Natal feliz e sustentável para você, com atitudes e momentos que preencham a alma e nutram as relações.

Um ecobeijo e até breve.

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O que você pode fazer com o seu poder?

Por Letícia Maria Klein •
17 setembro 2019
Ontem na aula de tango, apareceu um novo casal. Ela com 20 anos, ele, 22. Quando eu perguntei o que os tinha levado até ali, ele me respondeu que foi a apresentação que eu fiz com meu professor no festival da escola, no último fim de semana. Em dois minutos, nós conseguimos transmitir emoção e contagiar um jovem casal de namorados com a magia da dança. Só posso dizer que eu ganhei a noite com aquele depoimento.

Me peguei refletindo novamente sobre a grande responsabilidade que eu tenho, enquanto pessoa e cidadã, de, no mínimo, me tornar uma pessoa melhor. Meu jeito de ser; meu estilo de vida; meus pensamentos, palavras e ações extrapolam o limite físico do meu corpo e impactam outras pessoas, outros seres vivos e o ambiente que eu ocupo neste planeta (ou até onde eu alcanço de alguma forma). Eu tenho uma grande responsabilidade. Tenho consciência disso. Isso é poderoso, potente. Assustador. O que eu faço com isso? O que eu posso fazer com isso?

O que você pode fazer? O poder do exemplo é transformador. Quem você é e o que você faz reverbera no mundo como uma onda, transformando tudo no caminho. Depois ela volta para você. Que tipo de onda você quer sentir? Por quais ondas você quer ser atravessado, coberto, arrebatado? Não precisa ser nada grande nem longo. “Em um momento se vive uma vida”, como diz Al Pacino no filme “ Perfume de mulher”. Em dois minutos, eu fiz diferença na vida de duas pessoas por pelo menos uma noite em que eles dispuseram de seu tempo para fazer aula. 


Quando se diz para aproveitarmos cada momento, não é mera frase de efeito. É porque um instante tem poder. Esse poder é seu. É verdadeiro dizer que o que importa é a qualidade, não a quantidade, porque é a intensidade que faz diferença. Pense em você mesmo, na sua vida. Como as mudanças aconteceram? O que te levou a ser diferente hoje do que ontem? O que te inspirou a mudar um pensamento, uma ação, uma forma de falar? A mudança mais importante é a íntima, acontece dentro de cada um. A partir daí, a onda emana e você não tem mais controle. A única coisa que você controla é o tipo e a qualidade da onda. O que ela faz no caminho é consequência do seu poder.

Acredite no seu potencial, aceite a sua responsabilidade e use o seu poder da melhor forma. Seja um exemplo vivo e intenso de tudo que você acredita. Nas pequenas coisas, nas coisas do dia a dia. Nas suas tarefas em casa, no trabalho, na sua relação com as pessoas, consigo mesmo e com o meio. Um ano é uma sucessão de dias, com muitas horas, muito mais minutos e ainda mais segundos. Instantes com potencial de transformação. A sua própria, a do outro, a do planeta. Bilhões de transformações pequenas, íntimas, pessoais, ao alcance da mão, a todo instante. Viemos ao mundo com nossas próprias missões, tarefas, planejamentos... Independentemente do que sejam, que possamos simplesmente fazer o nosso melhor e ser melhor em cada dia, prestando atenção nas ondas.

Um ecobeijo e até breve.
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Por que querem nos vender felicidade?

Por Letícia Maria Klein •
19 fevereiro 2019
* Por Chirles de Oliveira
Chirles é autora do site Felicidade Sustentável; este post foi escrito exclusivamente para o Sustenta Ações.

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Será que conseguimos datar a partir de quando a felicidade virou uma espécie de mercadoria vendida para nós como um estilo de vida baseado no consumo das coisas? Ou melhor, no consumismo exacerbado de coisas que não atendem apenas nossas necessidades, mas muito mais nossos desejos desenfreados pelo prazer?

Nos contaram que se tivéssemos dinheiro, status, fama ou boa aparência, seríamos mais felizes; que se abríssemos uma garrafa de refrigerante, seríamos mais felizes; que se comprássemos determinadas marcas seríamos felizes; que se usássemos certo perfume atrairemos o par perfeito.

Por muitas décadas, ou mais precisamente no século XX, a virtude da felicidade foi transformada em mercadoria, muito bem trabalhada nas campanhas publicitárias, influenciando nossa cultura do consumismo e propagando um comportamento baseado na ostentação, com foco exclusivo nos bens materiais.

É verdade que somos envolvidos desde criança pela cultura do consumismo, no universo de shopping, lojas, moda, modismo, gostos e não gostos. Influências vindas de nossa casa, da escola, dos amigos, dos meios de comunicação, do cinema, enfim, de todos os tipos de estímulos. Mas eis que chega um momento em que fazemos outras conexões, reflexões e opções.


E quando me pergunto o que me faz feliz? Certamente, respondo que não é o poder das compras, isso é prazer ou satisfação momentânea, que também tem algum benefício em algum momento dessa jornada.

Mas felicidade não tem a ver com possuir coisas. Ela é uma consciência, um estado de espírito, um apreço pela jornada, na qual podemos sentir e apreciar a beleza nas artes, na natureza, no banho de chuva, no simples encontro com os amigos verdadeiros.

Felicidade tem a ver com paz de espírito, com alegria, com serenidade, com gratidão, com realização, com crescimento pessoal, espiritual e profissional. A felicidade vem do nosso interior e da expressão das nossas forças de caráter, de viver uma vida com propósito, ou seja, uma vida significativa, conforme afirma Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva.

A felicidade está no poder das nossas escolhas. E, sim, podemos fazer boas escolhas, escolhas conscientes pensadas holisticamente por meio da tríade do cuidar de si, do outro como comunidade e do planeta. Isso para mim é felicidade sustentável.

Abraço fraterno! 

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Chirles de Oliveira criou o portal Felicidade Sustentável em 2015 com a missão de inspirar pessoas e desenvolver organizações que mudam o mundo. A Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPM/SP é também certificada em Ciências Holísticas e Economia para Transição pela Escola Schumacher Brasil, em Psicologia Positiva pelo IBCoaching e em Felicidade Interna Bruta, pelo Instituto Feliciência. Além disso, é praticante e professora de yoga e também colabora como colunista para o portal Eu Sem Fronteiras.

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Ambientalista: um ser contraditório?

Por Letícia Maria Klein •
16 agosto 2017
Uma das formas de exercer a empatia e a compreensão é pensar que existem coisas para as quais os outros despertaram e nós ainda não e vice-versa. Nessa lógica, se existem questões para as quais eu já despertei em termos de sustentabilidade e vida holística e outras questões ainda não, isso me torna uma pessoa incoerente? Será que o ambientalista é uma pessoa em constante contradição?

A jornalista Madeleine Somerville fala sobre isso neste artigo do The Guardian, intitulado “Como lido com a insuportável hipocrisia de ser uma ambientalista”. Madeleine começa dizendo que se considera ambientalista, mas ainda assim foi a uma concessionária comprar um carro novo no fim de semana anterior. Ela diz que defende o consumo de coisas de segunda mão e encoraja as pessoas a utilizarem o transporte público e andarem a pé (o que ela também faz regularmente), “mas lá estava ela pegando a chave e saindo num veículo novo brilhante e uma sensação de desconforto”.



Essa dissonância entre o falar e o viver também aconteceu com um advogado que ela conheceu naquela época. Ele trabalhava para proteger os rios e lagos que tanto ama no Canadá, mas este trabalho (importantíssimo, diga-se de passagem) não permitia que ele aproveitasse estas paisagens naturais, ficando de 50 a 70 horas por semana no escritório. “Ele está dividido entre a mudança que quer criar e sua capacidade de ver o mundo natural além dos fins de semana entre os casos”, conta Madeleine.

A maioria dos ambientalistas, ela coloca, se vê tendo que lidar com essa tensão, pois alguns têm seus próprios carros, outros ainda comem carne e os mais famosos voam longas distâncias para falar sobre os impactos das emissões de carbono. “Todos nós existimos dentro do próprio sistema que esperamos mudar. Eu uso um laptop, um smartphone, internet, eletricidade. A maioria das publicações em que escrevo artigos anticonsumismo são apoiadas e pagas por propagandas”, expõe.

“Essa hipocrisia é um delicado equilíbrio. Ele fala para a realidade aparentemente inescapável desta máquina norte-americana que construímos e que agora administra nossa vida. Para evitar isso, é preciso escapar para a floresta, sair do sistema. Você subtrairá a maior parte do seu impacto ambiental ao fazê-lo. Eu acho que todo mundo fantasia sobre isso de vez em quando (eu certamente faço), mas você também perderá conexão humana e cultura inestimáveis, junto com a capacidade de educar ou inspirar mudanças nos outros.”

Isso me fez lembrar de Christopher Johnson McCandless, um jovem viajante dos Estados Unidos cuja história de vida virou o livro e filme “Na natureza selvagem” (Into the wild), de Jon Krakauer. Uma de suas frases memoráveis é que a “felicidade só [é] real quando compartilhada”. Como seres sociais que somos, é muito importante estar em sociedade, pois é nos relacionamentos e situações sociais do dia a dia que muito aprendemos e nos melhoramos como pessoa. Mas, com toda a certeza do mundo, é sim necessário ter contato direto e frequente com a natureza, para o bem do corpo, da alma e da mente. Então, o ideal é você encontrar o equilíbrio que satisfaça suas necessidades e te deixe bem.



Madeleine termina o texto dizendo que se sente mal por ter um carro, mas ela se deu conta de que escolher tentar [ter hábitos sustentáveis] significa também aceitar que você vai falhar algumas vezes. “Você pode aceitar o status quo ou você pode trabalhar por algo melhor. Fazer isso se parece menos com mudar-se para uma cabana na floresta e mais com encontrar uma forma de existir numa uma sociedade desconfortavelmente insustentável enquanto também tenta mudá-la”.

No fim, tudo se resume a ser coerente consigo mesmo e mudar seus hábitos na medida da sua consciência e na velocidade que lhe permita ter leveza nas decisões. Comportamentos baseados na obrigação de agir diferente não duram muito. A mudança precisa fazer sentido. A compreensão das causas e consequências e sua ligação com aquilo que quer mudar precisam ser a base sólida que vão manter firme o seu propósito de viver e agir diferente do que antes. Não fazer nada para mudar as situações ruins é fazer parte do problema. Quem quer um mundo melhor precisa ser parte da solução e isso se faz começando em algum lugar. Não dá para fazer tudo de uma vez.

Conforme vamos adotando hábitos sustentáveis que não se enquadram no sistema e mudando de estilo de vida, ficamos mais suscetíveis a críticas e é justamente isso, analisa Madeleine, que previne as pessoas de adotarem mais práticas verdes. “Te pedem para justificar sua decisão de mudar qualquer coisa quando você não está se comprometendo a mudar tudo.” O quanto você quer mudar, como vai fazer isso e até onde quer ir diz respeito à sua consciência. Sempre haverá pessoas apontando o que o outro não está fazendo em prol do ambiente. Já pensou como seria se essas pessoas empregassem a energia e o tempo para criticar em determinação de agir sustentavelmente?

A crítica e a estranheza estão bem presentes na minha vida. Tem vezes que sou incompreendida por minhas crenças e hábitos (como de carregar meus próprios talheres) e vejo pessoas me olhando como se tivessem visto um ser de outro mundo. Outras olham com curiosidade. O que de fato importa pra mim é que estou sendo coerente com o meu pensamento de que precisamos parar de produzir lixo, porque isso faz sentido pra mim. Mas se eu falasse (como faço aqui no blog e em palestras) e saísse por aí usando copos e talheres descartáveis? Na minha cabeça eu estaria sendo incoerente.

Pode ser difícil mudar de hábitos quando vivemos no sistema, talvez para uns mais do que para outros. Porém, não conseguir adaptar tudo não significa que não possamos adaptar algumas coisas, mudar alguns hábitos ou no mínimo tentar. Como li esses dias por aí, “não tenha medo de ir devagar, tenha medo de ficar parado”. O que importa é agir, respeitando seu ritmo e vivendo de acordo com o que faz sentido pra ti. O universo está em constate movimento, nada é estático ou permanentemente imutável. Aceitar isso é entender que a mudança é inerente à vida. Quem hoje critica, eventualmente vai mudar de opinião. O que você não faz hoje pode eventualmente vir a fazer. Uma coisa vai ligando à outra, cada uma na sua hora.

Cada ação em prol da sustentabilidade é um ato de valorização da vida, como escrevi neste artigo para o Conexão Planeta, e a cada despertar, mais conectados e responsáveis nos sentimos com o todo que nos envolve.
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Mantra da teia da vida - Cuidar de si, cuidar do outro, cuidar do meio

Por Letícia Maria Klein •
27 junho 2017
Você já ouviu falar em teia da vida? É ela que rege a vida no planeta e no universo, conectando todos os seres vivos e elementos da natureza, como água, solo, atmosfera, minerais e corpos celestes como o Sol e a Lua. Estamos todos inseridos na teia da vida e dependemos desta rede de relações interdependentes em todos os momentos da nossa existência, do instante em que acordamos até acordar novamente no dia seguinte. Os gregos antigos já tinham esta visão, usando o conceito de physis para indicar as relações entre todas as coisas, vivas ou não.



Estamos tão embrenhados nesta teia de vida que não vivemos um mísero segundo fora dela. A começar por nós mesmos, que abrigamos uma colônia de trilhões de bactérias e outros microrganismos que nos ajudam nos processos fisiológicos que acontecem no nosso corpo. Porém, vivemos tão agitados, como se no piloto automático, que acabamos não percebendo as relações fundamentais. Por isso é tão importante cuidar do meu corpo, praticar exercícios, ter uma alimentação saudável, trabalhar com o que me satisfaz e dedicar um tempo diário ou semanal para me conhecer e me conectar comigo mesmo.

Os meus relacionamentos com os outros e com o ambiente onde vivo são um reflexo da minha relação comigo mesmo. Quanto melhor a minha relação comigo, melhor serão as minhas relações com os outros seres vivos e não vivos e melhor serão minhas atitudes, pois passo a desenvolver mais consciência de mim, do outro e do meio e de todas as inter-relações e interdependências que nos conectam. Práticas como a meditação, ioga e caminhada, entre outras, me permitem momentos de reflexão e autoconhecimento para uma vida com mais significado e propósito.



Quanto mais eu me conheço, mais entendo sobre meus desejos e necessidades, conseguindo identificar o que de fato eu preciso e o que é supérfluo, desde sentimentos, sensações, experiências e objetivos a coisas e bens materiais. Este conhecimento me torna um consumidor consciente e se reflete numa relação muito mais harmônica e equilibrada num planeta de proporções e bens naturais finitos, não renováveis em escala humana. A Terra consegue satisfazer a necessidade de todos os seres vivos, mas não a ambição e o orgulho de todos os seres humanos.

O consumo consciente diz respeito à maneira como eu uso meu tempo, minha energia, roupas, como eu me alimento, o que e como eu compro, como eu descarto os resíduos sólidos, entre tantas outras questões. A lógica minimalista de que menos é mais, neste contexto, se traduz em menos consumo de objetos materiais, de água, de eletricidade, de embalagens, menos geração de lixo, mais compostagem e reutilização, mais uso de transporte público ou bicicleta, mais consciência na alimentação, mais respeito e empatia a outros seres vivos e elementos da natureza, mais consciência ecológica, mais educação planetária.

Por viver numa teia da vida, é como se eu fosse um nó. Cada ação e atitude que tenho no meu dia a dia têm repercussões pelos fios invisíveis desta rede universal, de pequenas a grandes, locais a globais. Assim, sou as mudanças que quero ver no mundo.
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Meditação e seus reflexos no ambiente

Por Letícia Maria Klein •
27 março 2017
As relações de alguém com os outros e o ambiente onde vive é um reflexo da sua relação consigo mesmo. Venho pensando sobre isso faz um tempo e percebi que se a pessoa está mal consigo mesmo, a chance dela não se preocupar com outras pessoas, outros seres e o local que habita aumenta consideravelmente. Quanto melhor eu estou comigo mesma, com mais saúde e bem-estar, melhor minha relação com as pessoas do meu convívio e melhor minha relação com o planeta. Se eu estou mal, em estado depressivo, doente, sem respeito e amor próprio, que diferença faz se eu jogar alguma coisa no chão ou brigar com alguém? Faz sentido, né?

Satish Kumar, cofundador da Schumacher College, fala em cuidar de si, cuidar do outro, cuidar do meio (soil, soul, society - solo, alma e sociedade). Mahatma Gandhi disse que a mudança deve começar em cada um. Ensinamentos como esses mostram a importância, ou melhor, a necessidade, de cuidarmos de nós mesmos mental, espiritual e fisicamente para que também possamos cuidar bem da família, dos amigos, dos outros seres, dos bens naturais e do meio onde vivemos. E quando o meio em que vivemos está bem cuidado e mantemos relações harmônicas e amorosas com nossos entes queridos, acabamos querendo cuidar ainda mais de nós mesmos. São relações de feedback positivo, que se reforçam mutuamente. Uma bola de neve do bem!



Ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos e intelectuais, realizar leituras edificantes e ouvir música boa são exemplos de cuidados consigo mesmo. Neste post quero falar de uma prática que comecei a fazer quando estava na Schumacher College e que incorporei à minha rotina quando voltei: meditação. Sempre tive curiosidade em relação ao que é meditação, como fazer, quais os resultados, mas estava naquele grupo de pessoas que achava que meditação é não pensar em nada. Não é bem assim. Na verdade, é muito mais do que isso e pode levar bastante tempo para que se chegue ao estado meditativo a la monges.

A Robin, acadêmica egressa da Schumacher e que estava trabalhando como auxiliar dos professores no curso, é psicóloga e terapeuta e me deu uma aulinha sobre meditação. Minha primeira dúvida foi: como não pensar em nada? Daí veio toda a explicação. Um dos objetivos da meditação é o foco no agora, no presente. Ter consciência plena de si mesmo naquele momento, prestar atenção no próprio corpo, na respiração e se acalmar. Devido à ansiedade generalizada, à nossa agenda corrida e a vários outros fatores, os pensamentos vão surgindo, claro, o que acaba nos deixando mais ansiosos e faz com que muitos desistam da prática logo no começo.

O segredo está, segundo a Robin, em agradecer o pensamento quando ele vem e deixá-lo ir embora, dizendo, por exemplo, “obrigada, pensamento, mas agora não é momento” e então voltar o foco para o presente e si mesmo. Assim devemos proceder com todos os pensamentos que chegam, sempre os deixando ir e nunca nos apegando a eles. Quanto mais se faz, mais fácil vai ficando. O que também se indica é, quando um pensamento chegar, “dizer” na mente a palavra “pensando”, como um mantra. Isso porque, se você está focado no mantra, não pensa em outra coisa.



Além da conversa esclarecedora que tive com ela, encontrei uma revista temática sobre meditação durante uma das faxinas de ano novo depois da volta pra casa. Foi o que faltava para eu começar a meditar na minha rotina. Tenho feito três vezes por semana (nos dois dias em que tenho natação de manhã eu não faço, pois acordo bem cedo), por nove minutos (o tempo da soneca do celular). Sento geralmente numa almofada no chão, com as pernas cruzadas (existem várias posições de meditação, na verdade, até caminhando) e me concentro bastante na respiração e na postura. Pensamentos vêm, mas deixo-os ir e por vezes consigo focar inteiramente naquele momento, sem pensar em nada em particular, apenas respirando, sentido e ouvindo, com foco total.

Tenho gostado bastante da experiência e sinto falta nos dias em que não pratico. É uma forma de me conectar comigo mesma e me acalmar, pois o silêncio que eu tinha na escola tem me feito muita falta nesta cidade, grande para mim. São alguns minutos que me ajudam a despertar e me preparar para o dia que inicia. Com o tempo, vou aumentando o tempo de meditação. Na Schumacher, a prática era de 30 minutos e tem pessoas que ficam até uma hora meditando, talvez mais. Pode levar anos até que se consiga chegar no estado meditativo descrito pelos orientais como aquele em que a pessoa se conecta com o todo e tudo. É o nirvana, “um estado de paz e tranqüilidade alcançado através da sabedoria”, segundo a monja Coen Murayama, da Comunidade Zen-Budista de São Paulo.

Por possibilitar uma forte conexão consigo mesmo, a meditação é uma terapia, pois nos ajuda a identificar problemas que temos (e que às vezes queremos esconder) e dificuldades pessoais que precisamos superar. Além disso, por ajudar a aumentar a concentração, manter o foco e ficar mais atento, tanto no momento da prática quando ao longo do dia, a meditação é fantástica para atingir e manter o bem-estar pessoal e nos orientar para relações mais harmônicas e amorosas com os outros e o ambiente. Estou amando e recomendo de olhos fechados, sem nem pensar (o trocadilho foi inevitável). Dê uma chance! Ou várias! Quem sabe era o que você estava procurando para começar a mudar?
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Diário de bordo #9 – As sábias palavras de Satish Kumar ao redor da lareira

Por Letícia Maria Klein •
06 novembro 2016
Satish Kumar é um dos fundadores da Schumacher College e de vez em quando visita a escola para reuniões, para cozinhar pratos indianos e para sua tradicional fireside chat, uma conversa com todos ao pé da lareira. Já tivemos duas desde o começo das aulas e é sempre um momento muito especial e inspirador. Satish já foi monge e logo depois se tornou ativista pela paz e o ambiente, ecoando os ensinamentos de Gandhi. Desde 1973, é editor da revista Ressurgence & Ecologist, na Inglaterra (neste link tem uma breve biografia dele, em inglês).

Tem algo de mágico em Satish. Ele é um ser iluminado. Tem a palavra certa na hora certa e é o tipo de pessoa que vive inteiramente no presente, prestando atenção ao que está fazendo e com quem está conversando, que olha no olho e parece que o tempo congela. As conversas ao redor da lareira são inspiradoras, proporcionando muitas reflexões e emoções. Por isso, quero compartilhar aqui um pouco das duas conversas. A segunda está gravada e disponível aqui.



Satish começou a primeira conversa falando sobre ter e ser. “Quando nós temos, acabamos sempre querendo mais, mas quando nós somos, simplesmente somos.” Precisamos focar no ser, afinal “somos seres humanos, não teres humanos (human beings, not human havings)”.

“Não importa quanto tempo algo dura, mas a intensidade, a qualidade e o quanto você gostou e aproveitou, pois tudo passa. Por isso, faça o máximo do momento ou experiência”. Pode parecer óbvio ou repetitivo, mas é muito importante ter isso em mente e ser mindfull, uma expressão que usamos muito aqui. Estar completamente presente no que momento e aproveitar o que estiver fazendo.

Esta foi a resposta à pergunta de um dos estudantes sobre como conseguir falar para pessoas que não querem ou são resistentes a ouvir o que temos a dizer. “Quando conversamos com alguém, precisamos usar tanto o coração quanto a mente. Se queremos que as pessoas escutem o que temos a dizer, primeiro precisamos ouvi-las. Elas são mais importantes do que nossos pensamentos. O foco deve estar na pessoa com quem você está conversando, não no que está na sua cabeça. Precisamos perguntar pelo próximo e estar interessado nele. Então, procuramos por uma qualidade nesta pessoa, magnificamos esta qualidade como se usássemos uma lente de aumento e nos relacionamos com ela, usando-a para nos engajar com esta pessoa.” Desta forma, abrimos um canal de comunicação com qualquer pessoa, em que o respeito e o cuidado estão sempre presentes.

Uma parte da primeira conversa e toda a segunda foram sobre amor. “Amar alguém é aceitar esta pessoa como ela é, não esperar que ela seja como você quer. Se você espera, você não ama a pessoa como ela é. Não existem ‘mas’ e ‘se’ no amor. Para aceitar alguém como se é, primeiro precisamos nos aceitar como nós somos. Para amar alguém, primeiro precisamos amar a nós mesmos.”

Por fim, uma mensagem que me tocou bastante, sobre generosidade e preservação. “Precisamos sair do ego para o eco. Eco significa casa, então quando estamos em casa, com a família, não podemos ter ego, não podemos ser egoístas. Não existe lugar para o egoísmo dentro de casa” (seja a nossa pequena ou a grande Terra).
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Por um ponto de equilíbrio

Por Letícia Maria Klein •
23 dezembro 2015
Dia e noite. Claridade e escuridão. Coragem e medo. Força e fraqueza. Dois lados da balança, dois extremos de uma situação. Opostos e complementares. Um não existe sem o outro, pois o sentido de um passa pela compreensão do significado do outro. São referências mútuas, que ajudam a explicar uma a outra. Uma não é melhor ou pior do que a outra, mas a tendência para apenas um dos lados costuma não acabar bem. A solução reside em respeitar ambos e aceitar ambos, escolhendo o meio termo. A solução é o equilíbrio

Equilíbrio na hora de fazer escolhas, na hora de falar, na hora de agir. Equilíbrio nos relacionamentos, na forma de viver a vida. Equilíbrio com a natureza e com o meio em que vivemos. O equilíbrio provém de conhecer a realidade, analisar os diversos aspectos de uma situação, pesar prós e contras, entender o contexto para então agir da maneira que considere tudo e não machuque nada. O melhor resultado é sempre o ganha-ganha, nenhuma parte perde, nenhuma parte sofre.

O equilíbrio está embasado no respeito. Respeito a nós mesmos, aos outros, ao ambiente. Nada se conquista e nada perdura sem respeito, pois ele é a base da vida em sociedade, das redes complexas do planeta vivo. O equilíbrio garante a sustentabilidade do sistema, a manutenção do meio e tudo que dele depende. O equilíbrio está em agir agora pensando no amanhã, em fazer escolhas tendo em mente as consequências, em tomar atitudes considerando a coletividade. 

O equilíbrio advém da consciência do eu, do autoconhecimento, da noção de indivíduo membro de uma sociedade, da compreensão do pertencimento ao meio, do reconhecimento da teia da vida. Equilíbrio é vida em abundância. Equilíbrio é paz.

A busca é constante, diária, pois equilíbrio não se ganha, se conquista. Utilizando-me das palavras proferidas em um discurso de formatura: “Insista, persista, nunca desista. Assim você conquista”. Que este Natal seja leve, iluminado e que abra as portas para um 2016 em que você conquiste o seu ponto de equilíbrio.


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Afinal, por que preservamos?

Por Letícia Maria Klein •
13 maio 2014
Porque nos sentimos responsáveis. Quando temos algo ao qual damos valor, nos sentimos responsáveis por este algo e, portanto, queremos preservá-lo. Parece óbvio, mas traz uma grande reflexão. A questão surgiu na aula de Direito Digital da minha pós-graduação. A noção de responsabilidade pode ser muitas vezes inconsciente. Nossa vida é um exemplo: damos valor a ela, instintivamente, por isso a preservamos. O tema é perfeitamente aplicável à preservação da natureza. E a natureza está intimamente ligada à vida, humana e de qualquer ser vivo, mais do que às vezes nos damos conta. 

Para provar, é só se perguntar algumas questões básicas. Qual o valor que você dá para o ar puro? Qual o valor que você dá para a água potável? Para água, em geral. Qual o valor da alimentação natural e abundante que a natureza nos oferece? Frutas, verduras, legumes, grãos. Qual o valor do vento, da chuva, do sol? Qual o valor do frio e do calor? Qual o valor das florestas? Elas, que regulam a temperatura e fazem a manutenção das chuvas, entre outras grandes funções. Qual o valor da terra, que nos dá alimentos e minerais? Qual o valor dos rios e mares?

Foto minha, tirada em Rio dos Cedros

As perguntas não param, e todas têm relação com a natureza, seja direta ou indiretamente. Afinal, tudo o que produzimos, consumimos e compramos precisou de bens naturais, matéria-prima e energia para ser feito. A sociedade humana se desenvolveu a partir da natureza, muitas vezes à custa dela. O mínimo que podemos fazer é retribuir tudo que recebemos. 

Eu acredito em preservação como um fim, não como um meio, mas perceber como nós somos tão dependentes da natureza dá aquele choque de realidade. É quando você percebe que sem natureza, sem água, sem árvores, sem alimento, sem animais, a vida humana deixa de existir. Por que tudo está interligado e se influencia mutuamente. Então, por associação, se damos valor à nossa vida, também damos valor à natureza. Ou deveríamos dar. Só que muitos ainda não se tocaram disso. 

Quando se percebe o poder e a influência da natureza na nossa vida, surge o senso de responsabilidade e a vontade de preservar. Vontade é pouco, eu diria. Surge a necessidade de preservar. Pelo menos, é assim comigo. Estou sempre pensando em como minhas maneiras e modos de agir impactam o meio ambiente. A partir das reflexões sobre os impactos que eu gero, vou me adaptando e mudando minhas atitudes para alcançar um estilo de vida cada vez mais sustentável. 

Foto minha, tirada em Santo Amaro da Imperatriz

Quando algo me incomoda, não consigo ficar inerte. Destruição da natureza, a irracionalidade do comportamento consumista, o desrespeito ao meio ambiente e aos seres vivos, a ganância dos homens me incomodam. Muito. Eu amo a natureza, amo a água, o ar, a chuva, o sol, o mar, o vento, os animais, amo a vida. Dou extremo valor a tudo isso e por isso quero preservá-los. Por isso preservo. 

Ainda estou longe do que considero uma vida sustentável ideal, mas já comecei a mudar. E, segundo Ghandi, é assim que se muda o mundo, começando por nós mesmos. Não tenho a pretensão de mudar o mundo, mas de braços cruzados sei que não posso ficar. Seja nas minhas ações diárias ou aqui no blog, estou pondo em prática o que acredito que é importante e necessário. 

E você, o que te incomoda e te faz querer agir? Meio ambiente, educação, política? Se você dá valor, preserve.
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Um pontinho azul no universo e uma bela mensagem

Por Letícia Maria Klein •
02 janeiro 2014
Eu sempre me interessei por astronomia. Ler e assistir a programas de TV sobre o assunto, ver estrelas à noite, admirar a lua. Nossa, adoro a lua! Mesmo de dia eu gosto de olhar o céu, me dá uma sensação boa, de liberdade. Até astronauta eu já quis ser (quem nunca, né, imaginação de criança é uma beleza!). Acho lindas as imagens do espaço, de planetas, constelações, galáxias. É fascinante! Mas um aspecto em particular sempre me chamou muito a atenção, principalmente em fotos: nós somos muito pequenos. Tá vendo esta foto aqui? Aquele pontinho brilhante no meio é a Terra

Fonte: O Eco

Somos grãos de areia, como disse Renato Russo. Esta foto, tirada em 2013 pela sonda Cassini, dá a exata dimensão disso. Nosso planeta parece um grãozinho de areia comparado com Saturno, que fica a 1,44 bilhão de quilômetros de distância. Essa foto coloca nossa vida em perspectiva. Aliás, este é um dos motivos pelos quais eu gosto de imagens de astros e estrelas: elas ajudam a colocar a vida, os problemas, os desafios, os sonhos, tudo em perspectiva. Nos fazem refletir sobre a existência, as relações, atitudes e comportamentos, sentimentos e emoções, sobre os outros e si mesmo.

Às vezes nos preocupamos demais com um problema ou nos estressamos muito com uma situação. Outras vezes brigamos com amigos ou familiares, dizemos palavras duras e não pensamos nos outros ou no coletivo. A verdade é que às vezes não pensamos antes de dizer ou fazer algo do qual nos arrependemos depois, né. Também acabamos dando valor demais às coisas materiais e valor de menos às pessoas e aos nossos relacionamentos. 

Ainda testemunhamos falta de valor, respeito e amor à natureza, ao planeta Terra, razão primária da nossa existência, da vida humana e de todas as espécies, pois é a mãe natureza que nos dá todas as condições para que possamos existir: ar, água, minerais, alimentos, energia. O mesmo planeta que sofre diariamente nas mãos de milhões de pessoas que destroem, desmatam, poluem, degradam, sujam, matam, que só pensam em si e no benefício próprio, esquecendo que fazem parte de uma cadeia, uma teia que tudo interliga e através da qual todos encaram as consequências de tamanha crise ambiental global.

Então, que a partir deste novo ano que se inicia, possamos aprender com a mensagem que a imagem ali em cima traz: humildade, respeito e gratidão. Antes de perder os cabelos por causa de um problema, devemos ver o todo, pensar na solução, no depois. De que vale tal situação de estresse ou dificuldade daqui a dez anos? Na maioria absoluta das vezes a resposta é que não vale nada. O meu problema não é o maior do mundo. Muitas vezes nem chega a ser problema, nós que colocamos empecilhos no caminho. Que possamos amar mais, perdoar mais, ter mais paciência e tolerância para com as pessoas, esquecer mágoas, fortalecer elos fraternos e de amizade, pensar mais nos outros e na coletividade do que apenas em si próprio e no seu próprio benefício. Que a pergunta “o que eu posso ganhar com isso” dê lugar a perguntas do tipo “como posso ajudar o outro a melhorar”, “como posso melhorar”.

Fonte: O Eco

Que possamos dar às coisas materiais o seu devido valor, de objetos que “pegamos emprestado” durante nossa vida na Terra. Na verdade, verdade mesmo, que possamos ir nos desapegando das coisas materiais e possuindo menos objetos em casa. Que a gente se apegue mais à vida, às experiências, às oportunidades, aos amigos, aos parentes, ao conhecimento, ao aprendizado, à generosidade, à sustentabilidade. A natureza e o planeta Terra agradecem cada gesto, cada ação que fazemos pensando neles e nas gerações futuras, seja um ato grande ou pequeno. Não importa o tamanho, o que importa é agir. Abrir mão de certos comodismos e ajudar, contribuir, melhorar o lugar em que vivemos, o que ajuda a melhorar o todo. Respeitar a natureza e as espécies que vivem no planeta. A Terra não é só dos humanos, precisamos nos lembrar disso. Vamos poupar, reduzir, reutilizar, reciclar, compartilhar. 

Pra finalizar, um trecho em vídeo do livro “Pálido ponto azul”, do astrônomo Carl Sagan. O nome do livro é como ficou conhecida a imagem acima, registrada pela nave Voyager 1, em 1990, a pedido de Carl, que foi um colaborador da Nasa. O escritor gravou em vídeo a passagem no livro que fala sobre o pálido ponto azul, que é o planeta Terra. Uma linda mensagem que nos faz refletir.


Desejo um ano maravilhoso a todos, cheio de felicidade, paz, amor, coragem, fé, boas experiências, oportunidades de ser melhor e fazer melhor a cada dia. Feliz 2014!
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A crítica de Andy Singer

Por Letícia Maria Klein •
28 novembro 2013
Carros, aquecimento global e destruição ambiental são um dos principais alvos do cartunista estadunidense Andy Singer. O estilo de vida atual e a presença maciça de tecnologias e indústrias também. Seus cartoons, intitulados No Exit (Sem Saída), são publicados em jornais, livros e revistas nos Estados Unidos e em outros países, além de já terem sido lançados em seis livros. Em 2012, as obras do artista foram expostas pela primeira vez no Brasil, na cidade de São Paulo. Andy começou a desenhar desde cedo, com dois anos de idade, e hoje é reconhecido internacionalmente por seu olhar ambiental e visão crítica da sociedade. Eu trouxe pra cá alguns cartoons que achei bem legais. Veja abaixo e depois me diz se gostou também!

Rapidinho, antes das imagens, uma curiosidade. O site Vá de Bike contou que o cartaz da exposição apontava o transporte e alternativas para automóveis como um dos grandes interesses na vida do cartunista. “Andy Singer e sua esposa não possuem carro e tentam chegar a todos os locais com bicicletas, caminhando ou utilizando transporte público. Em seu tempo livre, Andy também é voluntário co-presidente da Saint Paul Bicycle Coalition, tentando fazer a sua cidade (Saint Paul, Minnesota) mais amigável à bicicleta”. Legal, né!


Esse cartoon desconstrói o que se tem por evolução automotiva. O carro aqui é uma forma anterior à bicicleta, que é mais evoluída porque causa muito menos impacto ambiental, é ótima para mobilidade urbana, ajuda a fazer atividade física e a deixar seu condutor em contato com o ar livre e a natureza. 


Adorei este aqui. Ele põe em perspectiva o que é realmente o sucesso. Se ter carro, perder horas do dia no trânsito e viver estressado é “ser uma pessoa de sucesso” perante à sociedade capitalista e consumista, prefiro “parecer mal-sucedida” andando a pé, de bike ou ônibus e vivendo bem. Sucesso não está relacionado apenas a trabalho. Pode-se ter sucesso sendo mãe, pai, dono de casa, voluntário, enfim, qualquer coisa com a qual você sonha ou gosta de fazer e que vai te trazer plena satisfação. 


Triste este aqui. A primeira coisa que empresários do setor pensam é em derrubar a floresta para ganhar dinheiro. Sendo que dinheiro não é o mais importante na vida, não deve ser um objetivo e fica na Terra quando seu dono sai dela. É muito melhor para o planeta e seus habitantes manter a floresta viva, em pé. Como os empresários querem dinheiro, melhor que pensem assim: uma floresta morta dá dinheiro uma vez, enquanto que uma viva dá dinheiro sempre. Um grande exemplo disso é o ecoturismo.

Evite os 4Ds do aquecimento global. Negação (denial) – aquecimento global não está acontecendo ou, se está, humanos não o estão causando. Desilusão (delusion) – Vamos resolver o aquecimento global com uma tecnologia que conserte, como carros verdes ou carvão limpo. Derrotismo (defeatism) – Sem apoio internacional, é muito tarde para reduzir o aquecimento global. Então vamos explorar petróleo no ártico. Morte (death).

Neste cartoon, Singer alerta para os problemas de não resolver ou não tentar resolver o aquecimento global, seja negando-se a acreditar que ele exista ou ficar esperando de braços cruzados que alguém ajude. Esta é uma luta de todos os seres humanos e todos podemos, e devemos, fazer nossa parte para preservar o ambiente como o conhecemos hoje. 


Este trabalha a questão do individualismo. A pessoa dentro do carro, no conforto e ar limpo, joga gases do efeito estufa na atmosfera, que são inalados pelos pedestres. Mas na verdade, o motorista também inala, porque ele não fica em ambientes fechados 24 horas por dia. 


Quando os humanos finalmente se derem conta de que os animais não vieram ao planeta para servirem à espécie humana e que eles merecem ser tratados com respeito tanto quanto qualquer pessoa, a natureza finalmente estará em equilíbrio (ou perto dele). 


Uma gracinha este O ideal de mobilidade urbana: muitas bicicletas e poucos carros, a densidade certa. 

O que este homem precisa é de menos governo, para que ele possa estar livre de regulamentações – livre para prosperar.

Crítica política legal. Difícil prosperar quando o governo parece estar contra a população, com políticas públicas que atrapalham em vez de ajudar. 


Mobilidade urbana dos EUA na mira. Tem uma versão deste cartoon em cores que diz embaixo no quadro de baixo Tour de Brasil. Também vale. Convenhamos que está mais pra imobilidade urbana. 


Engraçado este. Já pensou se viesse mesmo com advertência? Não seria uma má ideia. Mas, como já falei aqui no blog, não se trata de demonizar o carro, mas sim usá-lo sabiamente ou às vezes substitui-lo. 

E você, o que achou dos cartoons? Adoro ler a opinião de vocês nos comentários!
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Desenhos de Pawel Kuczynski que refletem realidades

Por Letícia Maria Klein •
10 outubro 2013
É incrível como uma imagem tem o poder de dizer coisas que um texto, por maior e melhor que seja, talvez não consiga. Por meio de pintura, desenho ou fotografia é possível contar diversas coisas de uma só vez ou uma coisa de diversas formas. Ela pode nos fazer chorar, rir, sorrir, falar, calar, refletir. As ilustrações de Pawel Kuczynski conseguem fazer isso. Com temas como sociedade, economia, política e ambiente, o artista polonês não te deixa indiferente. Os desenhos dele podem te provocar, inquietar, abalar, preocupar, comover. O maior propósito, eu diria, é querer fazer você mudar

Ao mostrar comportamentos humanos e as consequências deles à sociedade e ao planeta Terra, Pawel alerta para os problemas que enfrentamos e os males que causamos à natureza e a nós mesmos, propondo reflexões sobre o que podemos fazer para mudar os cenários tão negativos que estão a nossa volta. O site espanhol EcoSiglos publicou 40 ilustrações dele e eu escolhi algumas que mais chamaram minha atenção. Abaixo de cada uma fiz um comentário sobre a mensagem que elas me passaram. 


Consumismo é a primeira palavra que me vêm à mente quando olho para essa imagem. O consumo desenfreado e desmedido, que gera toneladas de desperdício e lixo ao nosso planeta. Como não vemos para onde vai o lixo que produzimos, é fácil não pensar ele e no grande problema que ele gera. As montanhas de lixo, que infelizmente tem muito material que poderia ter sido reciclado ou reutilizado, são bem perturbadoras. Conto mais sobre isso neste relato que fiz sobre o roteiro dos resíduos em Blumenau.


Degelo, e com ele, o fim de algumas espécies que vivem nos polos da Terra, entre elas pinguins e ursos polares. É o que o aquecimento global provoca e ele está sendo intensificado em ritmo alucinante pela humanidade. Falando nisso, o IPCC lançou em setembro o quinto relatório sobre as mudanças do clima. As consequências são várias e para todos, inclusive os humanos. Situação crítica mesmo está para os animais que dependem do gelo e os que vivem no mar, que está esquentando. 


Depois que enegreceu, não adianta querer reverter a situação. Tapar o sol com a peneira não resolve nada, pelo contrário. É muito mais simples e barato prevenir do que remediar, evitar o problema a ter que inventar soluções pra ele depois. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa é uma necessidade pra ontem. Estamos poluindo nossa casa. A gente pode até não sentir muito os efeitos do aquecimento global agora, mas as próximas gerações vão sentir, e muito. 


Essa é mais social, mas quis colocar aqui porque achei impactante e porque, afinal, tudo está interligado. Não dá pra falar de ambiental sem falar de social, nem de política sem economia, e assim vai. Acho que o mais expressivo aqui é a questão de guerras e desavenças. Plantamos discórdia no lugar da paz. Ao invés de cultivar alegrias, cultivamos ódio e um monte de sentimentos ruins, e depois que a guerra começou, fica bem mais difícil fazer a paz. Também vejo a questão da fome. Investimentos para acabar com a fome no mundo dão lugar a investimentos no setor bélico. 


O que é brincadeira para algumas crianças, é questão de sobrevivência para outras. Aqui a fome, considerado pela ONU o maior problema solucionável da atualidade, é o tema principal e foi retratado com muita propriedade, o que causa bastante tristeza. Enquanto poucos têm muito, muitos têm pouco e a distância entre ricos e pobres parece só aumentar. 


A Terra virou uma panela de pressão. Está bastante relacionado ao aquecimento global, mas acho que também reflete a pressão existente em todos os setores da sociedade. Pressão para acabar com a desigualdade, a fome, a insegurança, a corrupção, a violência. Reparou que a tampa está pregada à panela? Existe um limite e ele está cada vez mais próximo. Mais cedo ou mais tarde, a panela vai explodir. Só que não estamos falando de uma simples panela. 


Estamos drenando os bens naturais, nos apropriando do que a Terra oferece a todos os seres vivos sem dar tempo dela repor. Os animais também sofrem, servindo muitas vezes a propósitos egoístas e mesquinhos de pessoas e corporações. 


Uma das que mais mexeu comigo. O tempo da Terra e de seus habitantes está contando. O que nós estamos fazendo com o nosso tempo? Que atitudes estamos tendo para tornar nosso planeta um lugar melhor, mais bonito e sustentável? Estamos fazendo nosso melhor? É preciso agir enquanto há tempo. E, como cantava Cazuza, o tempo não para. 

Agora é a sua vez. O que achou das ilustrações? O que elas te dizem? Não deixe de comentar. Estou curiosa pra saber sua opinião! 
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