Logística reversa da Dudalina – Semana do Meio Ambiente 2014

Por Letícia Maria Klein •
27 junho 2014

O projeto de logística reserva da Dudalina rendeu uma economia de mais de R$ 55 mil para a empresa em 2013, ano em que foi criado. Blumenauense de fundação, a Dudalina produz camisaria feminina e masculina de alto padrão e conta hoje com 100 lojas em todo o país. No fim do ano passado, ela foi vendida para fundos de investimento estadunidenses. Na palestra sobre a logística reversa da Dudalina, Bruno Luz Martins, engenheiro ambiental e analista de meio ambiente da empresa, explicou como surgiu o projeto, como ele funciona e quais os benefícios. Teve até sorteio de sacolas ecológicas para os participantes (feitas com restos da produção!).


Logística reversa é quando uma empresa recolhe os materiais que produziu ou vendeu para que eles sejam reaproveitados ou reciclados. Está na Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305, de 2010. Empresas que vendem lâmpadas, por exemplo, são obrigadas a aceitá-las de volta após o descarte por parte do cliente (então, quando você for descartar uma lâmpada, leve-a de volta ao estabelecimento onde comprou). 

O projeto de logística reversa da Dudalina começou com uma preocupação ambiental. Era tamanha a vontade de um dos donos da empresa, Rui Dudalina, que nem estudo de viabilidade financeira foi feito. No começou foram muitos os problemas, mas aos poucos o projeto foi sendo aperfeiçoado. 

Os objetos visados pela logística reversa da empresa são os acessórios que acompanham a camisa que chega às lojas. O cliente que compra uma camisa Dudalina sai da loja apenas com ela, mas da fábrica à loja a camisa leva vários acessórios. Clipes de metal e plástico, suporte de PVC, borboleta de PVC, suporte de papelão, papel de seda, saco plástico, peitilho, tag da marca, cartão de instruções e caixa de papelão. 

Bolsa coletora fechada

Antes, as vendedoras tiravam todos esses acessórios e jogavam no lixo (que era destinado à reciclagem local). Com a logística reversa, os acessórios são separados e guardados numa bolsa coletora, que têm bolsos específicos para cada objeto. Estes materiais voltam para a fábrica e são reaproveitados em outras camisas. 

Os únicos acessórios que não têm potencial de reutilização direta pela empresa são o suporte e a caixa de papelão e o papel de seda, que são enviados diretamente para a reciclagem (o papel de seda volta para Blumenau para ser reciclado aqui). 

Em 2013, foi evitada a compra de 699.775 desses itens que acompanham a camisa, gerando uma economia para a empresa de R$ 55.462,35. O conjunto de acessórios por camisa tem um custo de um real para a Dudalina. 

Bolsa coletora aberta, com bolsos para cada acessório

A bolsa coletora onde os objetos são guardados teve várias versões até chegar à atual, que ainda está sendo aprimorada. Elas são confeccionadas a partir de sobras da produção. A maioria das lojas tem duas bolsas, mas as lojas maiores ou que têm mais demanda ficam com três ou quatro. Cada bolsa leva de 10 a 15 dias para encher.

A fase piloto do projeto envolveu três lojas Dudalina, que ficam na região de Blumenau. A fase 1 incluiu mais 10 lojas de São Paulo e atualmente 30 lojas participam do projeto. De acordo com Bruno, todas as lojas serão atendidas até o fim de 2014, mas vão começar separando apenas parte dos materiais. 

Ainda há alguns ajustes para serem feitos no projeto, como agilizar o envio dos coletores de volta às lojas, encontrar uma forma de lacrar as bolsas para que elas não sejam mexidas no trajeto e arrumar os bolsos para que os acessórios não caiam. 


A Dudalina já tem um trabalho bem bacana na área social, com incentivo à formação de grupos de geração de renda através do Instituto Adelina, nomeado em homenagem à fundadora da empresa. Agora a empresa caminha para incluir a sustentabilidade e a preocupação com o meio ambiente em suas rotinas. O próximo projeto da Dudalina em relação à sustentabilidade é calcular a pegada ecológica de cada camisa e incluir as informações nos produtos. 

Uma curiosidade: a perda de tecido na indústria têxtil é de 30 a 40%. Na Dudalina, a média é 15%. Essas sobras vão para o Instituto Adelina, que repassa a instituições e grupos de geração de renda para serem transformados em produtos com patchwork, como as sacolas ecológicas que foram sorteadas na palestra. Com isso, os 15% viram 8%. Este material restante também tem seu uso: ele é destinado à reciclagem, onde vira barbante e assoalho de carro. Sem perda de tecido! Segundo o site da Dudalina, quase 53 toneladas de retalho deixaram de ir para o lixo com os projetos do Instituto Adelina. 

Bolsa de patchwork produzida 
pelos grupos de geração de renda

Muito bacana, né, gente. Até o próximo, e último, post da Semana do Meio Ambiente!
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Saneamento em Blumenau – Semana do Meio Ambiente 2014

Por Letícia Maria Klein •
20 junho 2014

Palestra perfeita para entender o projeto de saneamento básico em Blumenau, compreender a importância do tratamento de esgoto e saber sobre o cronograma de obras na cidade. Quem falou foi o gerente operacional da Foz do Brasil, Cleber Renato Virginio da Silva. A Foz, que muda seu nome para Odebrecht Ambiental em julho, é a empresa concessionária que faz as obras e a manutenção do tratamento de esgoto em Blumenau. Para ficar por dentro do projeto de saneamento da cidade, dê uma olhada abaixo nas informações da palestra. 

Primeira coisa, separar alhos de bugalhos. A Foz do Brasil é responsável pelo esgoto. Água e lixo são departamento do Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Blumenau). Os três vêm descritas na fatura de água, sendo que o valor da taxa de lixo é baseado no volume de água consumido e o valor do tratamento de esgoto fica em torno de 100% do custo do consumo de água. Ou seja, o dobro.



Abro breves parênteses aqui. Não foram poucas as pessoas que reclamaram do aumento da fatura de água quando o tratamento de esgoto começou a ser implantado em Blumenau. Sinceramente, por que é tão fácil ver preço e tão difícil ver o valor da coisa em si? O bem que o tratamento de esgoto traz ao meio ambiente e à sociedade compensa qualquer investimento. 

Eu gostei do comentário que o presidente da Faema (Fundação Municipal do Meio Ambiente), Jean Naumann, fez após a fala de um participante de que sua conta de água tinha dobrado de 30 e poucos para 70 e poucos reais. Como ele disse, qualquer almoço ou jantar em família ou amigos sai mais caro que isso e vale só por aquele momento, enquanto que a taxa do tratamento de esgoto é paga uma vez por mês e dura por semanas. 

Na hora de dizer que precisamos ser sustentáveis e cuidar do meio ambiente, muita gente se dispõe a falar; agora na hora de agir, a postura é outra. Cadê a coerência? Cadê a coletividade? Cadê a preocupação com os outros e o meio em que vivemos? Mandemos a hipocrisia às favas, minha gente. Muito mais que preço, as coisas têm valor. Que apreciemos o valor do tratamento do esgoto e paguemos a devida conta com orgulho e consciência de sua importância. Fim dos (talvez não tão breves) parênteses.

Quando a Foz assumiu a concessão, em 2010, a cidade tinha apena 4,8% do seu esgoto tratado, que contemplava a rua XV de Novembro, a Beira-rio e o bairro Garcia. Hoje, 30% das residências de Blumenau têm tratamento de esgoto. 

Estação de Tratamento de Esgoto do bairro Fortaleza, 
em foto tirada por mim no roteiro dos resíduos em 2013.

O cenário anterior, de menos de 5%, contribuía para que Santa Catarina figurasse entre os piores estados brasileiros em relação ao tratamento de esgoto. O estado ocupa a 19º posição entre os 26. De todas as cidades pelas quais o Rio Itajaí-Açu passa, Blumenau é a que mais o polui, sendo responsável por sujar 40% do rio

Um dado muito importante: a vazão dos canos de esgoto está prevista para a demanda que a cidade terá em 2050. Até lá, todos os 1.100 km de tubulações da rede de esgoto, equivalentes aos 1.100 km de rios e córregos da cidade, estarão implantados. De acordo com o cronograma da Foz, as obras para implantação do sistema de tratamento de esgoto devem terminar em 2026. Depois disso, quando estiver concluída a universalização do sistema de tratamento de esgoto (como é chamado o processo), a Foz continua operando o sistema. Como Cleber explicou, o trabalho da Foz não é fazer obra, é tratar o esgoto. 

No ano passado, durante a Semana do Meio Ambiente 2013, eu participei do roteiro de resíduos em Blumenau, que incluiu uma visita à Estação de Tratamento de Esgoto do bairro Fortaleza. Se você ainda não leu e quiser saber como funciona o tratamento de esgoto da cidade, dê uma olhadinha no post sobre o roteiro. Para saber mais sobre o assunto, vale uma visita ao site da Foz do Brasil. Está bem legal e traz muitas informações sobre o sistema de tratamento de esgoto.
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Mudanças Climáticas: causas e impactos na sociedade – Semana do Meio Ambiente 2014

Por Letícia Maria Klein •
10 junho 2014

“Impõe-se uma nova revolução civilizacional e uma evolução do conhecimento e da tecnologia”. A frase é do professor e geólogo Juarês José Aumond, que abriu a Semana Municipal do Meio Ambiente de Blumenau com uma palestra sobre “Mudanças climáticas – causa e impactos na sociedade”. O salão estava lotado e a palestra foi muito interessante! Ele mostrou dados e imagens que mostram as transformações que os humanos estão causando no clima, compartilhou informações das pesquisas dele e falou sobre o que devemos fazer para reverter a situação. Vamos a uma pincelada sobre os principais pontos da palestra.

Juarês José Aumond. Fonte: SindsegSC.

O professor deu um grande puxão de orelha na humanidade. “Os dinossauros viveram 100 milhões de anos na Terra. A humanidade existe há 200 mil anos e já mostra sinais de que não vai durar tanto”. Isso porque, entre outros motivos, “o homem sempre viu a natureza como estoque de matéria-prima”. Pois, é. Isso é um enoooooooorme problema.

Um pouquinho de informação técnica. Existem duas típicas eras no planeta: glaciais e interglaciais (“de efeito estufa”, como chamou o professor), que são fenômenos naturais do planeta. O problema é quando o efeito estufa é intensificado e acelerado pelos humanos, o que vem acontecendo desde o século XVII – Para saber mais sobre as causas da mudança climática, confira este post do blog. 

As eras glaciais sempre duram muito mais tempo que as épocas de efeito estufa. A última era do gelo durou entre 100 mil e 13 mil a.C.. Nestas épocas, as florestas diminuem e há secas. No período interglacial, que estamos vivendo agora, deveria ser o contrário: aumento das florestas e chuvas. Mas as florestas vêm diminuindo graças à ação humana e os eventos climáticos (secas, tornados, enchentes, etc.), vem aumentando. 

Procurando imagens sobre era glacial, achei esta charge. Não resisti. 

Bem, quem é responsável por essa bagunça no clima? Nós, pessoas. As evidências de flutuações entre efeito estufa e era do gelo estão mais frequentes, segundo o professor. Não importa quais países mais causam o aquecimento global, todo o globo sofre. “Não só a economia está globalizada, as mudanças climáticas também. A crise ultrapassa fronteiras”, disse Juarês. “A natureza está dando sinais!” 

No começo da palestra, ele mostrou vários desses sinais: fotos de catástrofes climáticas ao redor do mundo, como a nevasca em Nova York em 2010 (a pior dos últimos 40 anos); chuvas concentradas na China e no Paquistão; o maior deslizamento do Brasil, no Rio de Janeiro, em 2010. Juarês também mostrou fotos que tirou durante suas pesquisas no Alasca e na Antártida, onde também há sinais das mudanças climáticas.

Deslizamento de terra nos morros em Teresópolis (RJ) após as fortes chuvas - 12/01/2011
Deslizamentos no Rio de Janeiro. Fonte: Veja.

“O que precisamos fazer é saber interpretar estes sinais da natureza e tomar as medidas certas. As mudanças climáticas vão transformar os padrões de produção e consumo como conhecemos hoje e vão incentivar a inovação tecnológica.” A lição do professor é que os problemas existem e estão aumentando, mas eles são uma oportunidade de aprendizado. 

Quais as ações que devemos tomar? De acordo com Juarês, precisamos de mais informação e mais consciência para mantermos a Terra no seu ponto de equilíbrio. Temos os desafios de identificar as áreas críticas, prever e praticar ações estratégicas que reduzam a frequência e a intensidade dos desastres, cooperar com todas as esferas da sociedade e aprender cidadania socioambiental. Em suma, precisamos de soluções que sejam economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. 

Tá acabando! No fim da palestra, na parte das perguntas, eu perguntei a ele qual a importância que ele dava para as ações que cada um pode fazer no seu dia a dia. Ele contou um caso muito interessante que aconteceu com ele e que valeu mais do que qualquer outra coisa. 


Enquanto estudante na escola de geologia, ele saiu para fotografar a erosão do rio junto com professores e o corpo de bombeiros. Sabe o que ele fez com o plástico da câmera? Jogou no chão. Foi quando uma colega chegou perto e disse: “Viu o que tu fez, Juarês?”. Ele disse que esta chamada de atenção foi a maior lição que recebeu e que valeu mais que qualquer palestra de um grande orador. Moral da história: o poder dos bons exemplos. Vamos ser sustentáveis no nosso dia a dia e servir de exemplo para os outros. 

Agora acabou. Ah, tem algumas curiosidades abaixo, também da palestra. 

- Hoje ocorrem 300 mil mortes por anos em decorrência das mudanças climáticas. Nos próximos anos, serão 500 mil mortes anuais. 
- Os pólos do planeta são termoestabilizadores, ou seja, controlam a temperatura da Terra. O grande problema é que eles estão derretendo. O Ártico já perdeu 40% do seu gelo permanente desde 1985. Há 244 geleiras na Antártida, das quais 212 (87%) estão reduzindo. 
- Contabilizando toda a água que se gasta na cadeia de produção de bens de consumo, cada ser humano consome, por dia, 800 litros de água!!
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