O passo a passo do guarda-roupa sustentável: da natureza à roupa (parte1)

Por Letícia Maria Klein •
29 março 2016
“Pelado, pelado, nu com a mão no bolso”. Esta música da banda Ultraje a Rigor, que embalou a abertura de uma novela, traz fortemente a questão do uso de roupas na sociedade. Falar de moda dá tanto pano pra manga, com perdão do trocadilho, que nós vamos focar na parte ambiental da coisa: fazer roupas gera um impacto negativo danado no meio ambiente. Grande consumo de água, de energia, de produtos químicos e tóxicos, de metais pesados, de agrotóxicos e pesticidas, geração de toneladas de resíduos. Nossa, pesou mais que armadura. Então, como é possível ser sustentável no guarda-roupa sem passar a andar pelado? Nesta série sobre o tema, vamos sair do padrão linear e predatório de produção e consumo, esquecer as promoções e entrar no país das maravilhas do consumo têxtil consciente.



Por que as fibras naturais orgânicas são o melhor do mercado?

Entre fibras sintéticas e naturais, nem precisa pensar duas vezes. As fibras sintéticas (poliéster, acrílico, elastano, poliamida, nylon e lycra) vêm do petróleo, um recurso não renovável, e são tratadas com produtos químicos durante e depois do processamento, além de usarem grandes quantidades de água e energia. Estes produtos e também metais pesados vazam para o ambiente, prejudicando corpos d’água, solo, ar e animais, além de causarem alergias a algumas pessoas e até câncer! Tem mais: 1) as estações de tratamento de água não conseguem eliminar estes químicos, que seguem rumo aos rios e mares; 2) a cada vez que uma peça sintética é lavada, ela libera de centenas a milhares de partículas de microplástico no sistema de água, que não são filtradas e acabam indo parar nos oceanos, contribuindo para a formação das gigantes ilhas de plástico que matam 1 milhão de aves marinhas e 100 mil animais aquáticos todos os anos! Neste impacto negativo também entram as fibras artificiais, como viscose e acetato. Camiseta feita a partir de PET? Esqueça, passe reto.

Qual a melhor composição, então? Fibras naturais, como algodão, lã, seda, linho, cânhamo e outras, cultivadas de modo orgânico (sem agrotóxicos e produtos químicos, entre outras regrinhas) e inseridas numa cadeia de produção que respeita as pessoas, abolindo o trabalho escravo, por exemplo. Acho que é bom reforçar: orgânico, tá? Como informa este estudo sobre o ciclo de vida do algodão orgânico, o cultivo deste, em comparação à plantação poluente, consome 91% menos água, emite 46% menos gases de efeito estufa, reduz em 70% as emissões responsáveis pela acidificação dos oceanos, diminui em 26% a eutrofização (excesso de nutrientes na água, o que leva a um aumento excessivo de algas) e usa 62% menos energia primária.

Do outro lado, o cultivo dito “convencional” do algodão é responsável por 25% do consumo de agrotóxicos e pesticidas no mundo e pelo maior índice de intoxicação e morte de trabalhadores em lavouras. Além disso, por não ser um alimento, os produtores têm permissão para usar até oito vezes mais pesticidas nas lavouras. Assim, o cultivo orgânico do algodão e processos de tecelagem e tingimento sem químicos tóxicos e metais pesados contribui para a preservação dos corpos d’água, do solo e do ar e para a manutenção da a saúde dos trabalhadores e consumidores.


Lã orgânica

Para garantir que é orgânica, a produção é inspecionada e recebe um certificado. No Brasil, a certificação é feita por uma agência acreditada pela IFOAM – International Federation of Organic Agriculture Movements (Federação Internacional de Movimentações de Agricultura Orgânica). Como o sistema orgânico tem rotação de culturas, que é quando espécies diferentes são alternadas no mesmo local para que os nutrientes do solo não se esgotem, e não usa agrotóxicos, a oferta de empregos é maior e os trabalhadores são melhor capacitados. Além disso, a produção orgânica utiliza adubo natural, como esterco de animais, faz controle biológico de pragas e doenças (nada de pesticidas) e mantém a estrutura e a profundidade do solo sem usar produtos químicos e sintéticos. Resumindo: sustentabilidade pura. Pessoas felizes, economia girando e meio preservado.

Algumas marcas já são adeptas da moda verde, que mantém a sustentabilidade desde o plantio do algodão até a confecção da roupa, dispensando, como já citado, o uso de produtos químicos no cultivo das plantas e no tratamento e tingimento das fibras, o que evita as alergias que algumas pessoas têm, e também substituindo a graxa de parafina usada nos teares por cera de abelha (tá, cabem mais discussões sobre este último ponto). Para tingir, só corantes naturais, que vem de cascas de árvores, folhas e raízes, ao invés dos artificiais que são produzidos com substâncias químicas. O modelo sustentável da indústria da moda também reutiliza a água durante a produção, reduzindo o desperdício e a poluição. Como consequência destes cuidados, a peça dura mais tempo.

Nesta cadeia sustentável, tem um segmento que consegue ser ainda mais verde: o do algodão colorido. Como ele já nasce colorido, não precisa passar pelo processo de tingimento, cortando uma parte da produção que, mesmo usando corante natural, consome muita água e energia. A produção do algodão colorido também é orgânica e bem antiga – existe há mais de 6.500 anos!

Plantação de algodão colorido

Dá vontade de fazer uma limpa no armário, né? No próximo post, vamos analisar o guarda-roupa e ver como podemos torná-lo sustentável com consumo consciente e práticas de slow fashion.
Com informações de: Autossustentável, EcoDesenvolvimentoeCycle, Instituto de Economia AgrícolaNatural Fashion, Planeta Sustentável, Tania NeivaUse Eco.
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Qual o seu impacto no planeta? Entenda o que é, como calcular e como compensar sua pegada de carbono

Por Letícia Maria Klein •
21 março 2016
As nossas atividades diárias, o que e quanto consumimos e a forma como vivemos emitem, direta ou indiretamente, gases de efeito estufa que provocam as mudanças climáticas. Questões relacionadas à sua casa, alimentação, locomoção pela cidade e hábitos de consumo constituem a sua pegada de carbono (carbon footprint, em inglês), que é a quantidade de CO2, ou gás carbônico, que você emite a cada ano, com base em todas estas variáveis. Emitir gases estufa na nossa rotina é inevitável, mas tem maneiras de reduzir e compensar a quantidade emitida. É aí que cada atitude faz a diferença.

O cálculo da pegada de carbono, que converte as emissões de vários gases de efeito estufa em CO2eq (equivalente em gás carbônico), pode ser relacionado a uma pessoa, organização, evento ou produto, segundo a Carbon Trust, um grupo de profissionais independentes que busca acelerar a transição para uma economia sustentável de baixo carbono, presente em vários países. Uma calculadora de carbono, como a CGD ou a da Iniciativa Verde, leva em conta o consumo médio de energia elétrica, de gás, tipos e quantidades de lâmpadas e eletrodomésticos, veículos de transporte, viagens aéreas e dieta alimentar para determinar as toneladas de CO2 emitidas.



As emissões podem ser diretas, quando, por exemplo, vamos de carro ao invés de ir a pé, ou indiretas, que são as emitidas durante algum serviço que usamos ou processo produtivo de algo que consumimos, como, por exemplo, a gasolina do carro, que teve sua origem no petróleo, que foi extraído, transportado e refinado. É por isso que quando compramos alimentos orgânicos de produtores locais, investimos em energia solar ou eólica, adquirimos eletrodomésticos eficientes, compramos lâmpadas econômicas, reduzimos ou paramos o consumo de carne, produzimos menos resíduos, entre outras atitudes, temos uma pegada de carbono menor.

A pegada de carbono faz parte do cálculo da pegada ecológica, uma metodologia que quantifica a terra necessária para sustentar o estilo de vida de cada um. Isso acontece porque o gás carbônico é absorvido por oceanos e florestas, que são áreas bioprodutivas. Por isso, desde a década de 1970, a pegada de carbono vem ocupando cada vez mais espaço dentro da pegada ecológica.

Conhecer a nossa própria pegada de carbono nos ajuda a identificar como as nossas ações influenciam as mudanças climáticas e como podemos adaptar hábitos de vida e consumo, contribuindo para a desaceleração do aquecimento global e a sustentabilidade no planeta.




Existem normas e protocolos quanto ao cálculo dos GEE. Tem o Protocolo de Gases Poluentes (Greenhouse Gas Protocol), um método usado para formular inventários dos gases e analisar as emissões nas cadeias de valor das empresas, sendo compatível com normas ISO e com métodos de quantificação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC; o PAS 2050, que quantifica as emissões de gases estufa no ciclo de vida dos produtos e serviços de uma empresa para gerenciá-los e reduzi-los, permitindo a sua rotulagem. Há também duas normas ISO: a 14064, que fornece ferramentas para o desenvolvimento de programas de redução de emissões que podem ser aplicados na indústria e no governo; e a 14067, que especifica princípios, requisitos e orientações para quantificar e comunicar a pegada de carbono dos produtos (PCP).

Uma das formas de compensar a pegada de carbono é plantar árvores, visto que elas capturam carbono no seu processo de fotossíntese. A calculadora da Inciativa Verde já converte sua pegada na quantidade de árvores necessárias para compensar. É bem tranquilo para quem tem jardim em casa, mas como nem sempre é possível sair por aí com pá e muda na mão, outras formas de compensação, ou melhor, de diminuição da pegada, são as mudanças de hábitos em si.

No quesito alimentação, é importante se fazer as seguintes perguntas quando comprar qualquer alimento: como foi produzido? De onde veio? Como chegou até aqui? Produtos orgânicos dispensam agrotóxicos, que emitem GEE, e podem ser adquiridos de produtores locais, que viajam menos até os consumidores do que os produtos de grandes empresas, gerando, assim, menos gases no transporte. O que também ajuda muito é plantar algumas coisas em casa, como verduras, ervas e temperos. Consumir toda a comida que se compra, não deixando sobras, é outra maneira de contribuir, pois você vai enviar menos lixo para o aterro sanitário.


Charge de Jeff Parker, em que o personagem diz "Lembre-se, objetos no espelho estão
mais perto do que parece". Para nos lembrar o tamanho da nossa pegada de carbono.

Ou, melhor ainda! Como os aterros sanitários emitem muitos gases estufa, uma das formas de contribuir é reduzir a produção de lixo, compostando os resíduos orgânicos e encaminhando os materiais recicláveis para a reciclagem. Desta forma, você vai acabar enviando apenas resíduos de banheiro e rejeitos para o aterro sanitário, que é somente o que, de fato, este deveria receber.

Quando a questão é locomoção, é sempre melhor optar pelo transporte público do que pelo carro. Se puder ir a pé ou de bicicleta, fantástico. Mas o carro é bom quando utilizado sabiamente. Veículos híbridos e elétricos são melhores do que os outros modelos. Vamos combinar que um carro levando uma só pessoa é desperdício, então procure levar colegas, familiares e amigos ou ir de carona com alguém.

O carvão e o petróleo são as duas principais fontes de energia na matriz energética mundial, ambas não renováveis e poluentes. As fontes de energia solar e eólica, por exemplo, são renováveis e limpas. Quando possível, instalar painéis fotovoltaicos para geração de eletricidade e sistema solar para aquecimento de água contribui para o combate às mudanças climáticas. Ainda sobre eletricidade, adquirir eletrodomésticos com selo A do Inmetro e lâmpadas fluorescentes e LED fazem toda a diferença na fatura de energia elétrica e nas emissões de gases de efeito estufa.

Outros hábitos sustentáveis incluem: recusar o que gera lixo, optar por produtos com embalagens recicladas ou que são recicláveis quando não der para comprar a granel com seu próprio pote, utilizar sacolas retornáveis, trocar os produtos de limpeza convencionais por alternativas naturais, como vinagre, limão, bicarbonato de sódio e sabão de coco, pensar 20 vezes antes de comprar alguma coisa, considerando a real necessidade do objeto, como e quanto ele será usado e como será descartado, entre várias outras. O importante é fazer uma análise do seu dia e identificar como tornar sua vida e suas atitudes mais sustentáveis.

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O evangelho da sustentabilidade - Conferência Estadual Espírita do Paraná 2016

Por Letícia Maria Klein •
14 março 2016
Este foi o tema de uma das palestras do jornalista e ambientalista André Trigueiro na Conferência Estadual Espírita do Paraná deste ano, que eu tive a oportunidade e felicidade de participar. Foi no Expocenter em Pinhais, de 04 a 06 de março, e além de André, teve a participação dos palestrantes Alberto Almeida, Divaldo Pereira Franco e Haroldo Dutra Dias. O tema desta 18ª edição foi “Construindo a consciência da imortalidade” e as palestras foram FAN-TÁS-TI-CAS!

Na sua exposição sobre “O evangelho da sustentabilidade”, André usou como base seu livro “Ecologia e Espiritismo” (tem resenha aqui no blog), falando das relações entre paz e preservação ambiental, mundo de regeneração e atitudes sustentáveis no agora, frases de efeito espíritas e suas interpretações, entendimento e aplicação da sustentabilidade no dia a dia e a consciência plena da imortalidade. 

André começou a palestra falando sobre como a preservação do ambiente é imprescindível para um mundo sem guerras e harmônico, citando como retratos da situação oposta os casos da Revolução Francesa e da guerra civil na Síria. No segundo, uma forte estiagem ocorrida entre 2007 e 2010, causada pelas mudanças climáticas, foi determinante para o estado bélico, pois, aliada às políticas frágeis de distribuição de água, estimulou o êxodo rural de 1,5 milhão de pessoas devido à falta do que plantar, agravando a crise socioeconômica do país. A falta de comida para a população também foi um dos motivos da revolução na França. Além destes, André citou o caso da Ilha de Páscoa, que está explicado no livro “Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”, de Jared Diamond, recomendado durante a palestra e que apareceu neste post.

André Trigueiro na Conferência Estadual Espírita do Paraná
André Trigueiro durante a Conferência Espírita

Estes fatos mostram claramente como o cuidado com a natureza e os bens naturais é fundamental para a manutenção de uma sociedade pacífica. André também deu nova luz à interpretação de frases muito utilizadas pelos espíritas e que podem levar a um relaxamento, uma despreocupação, em relação à preservação ambiental, como “estou neste mundo de passagem”, “a verdadeira vida é a vida espiritual” e “o mundo de regeneração está chegando”. As duas primeiras podem dar a impressão de que não há necessidade de cuidar do meio terrestre. Porém, o modo como vivemos, tanto na forma quanto tratamos os outros como na forma como tratamos o meio, é que determina o passo da nossa evolução e as condições das múltiplas existências na Terra. 

No primeiro dia do curso de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – ESDE, que faço aqui em Blumenau, perguntei sobre a conciliação entre o estado de mundo de regeneração, para o qual a Terra se encaminha, e a crise ambiental da atualidade. André falou exatamente sobre isso. Ele disse que não encontrou, na literatura espírita, referências ao fator ambiental nas definições de mundo de regeneração (atualmente o planeta está no estado de provas e expiações, onde o sofrimento e o mal prevalecem; em um estado de regeneração, o bem predomina). Isto se dá, segundo André, porque o mundo de regeneração, no seu sentido ambiental, está em construção. Depende de nossas atitudes hoje, no nosso dia a dia. Ele pode ser moral e eticamente melhor, e será, mas ainda assim com cenários críticos e graves problemas socioambientais, como eventos climáticos extremos e fome.

Portanto, como cada pessoa evolui por si mesma, com base na sua transformação íntima, significa que cada um deve fazer a sua parte pelo seu desenvolvimento moral e pelo cuidado com o meio que habita e que lhe serve de casa. Para corroborar tudo isso, está a divina Lei de Conservação. Isso nos leva ao consumo consciente, por exemplo, como falou André. Não há planeta suficiente para os padrões de produção e consumo em voga hoje em dia, que levam à poluição da água e do ar, à produção cada vez maior de lixo, à extinção de espécies de fauna e flora, à criação e abate desumano de animais, à superexploração de combustíveis fósseis, às mudanças climáticas, à fome, entre outros. Incorporamos o Black Friday dos EUA e achamos normal ir às compras sempre que tem promoção. Mas precisamos nos fazer as perguntas do consumidor consciente (por que comprar, o que comprar, como comprar, de quem comprar, como usar, como descartar) e analisar a necessidade de adquirir algo (não comprar por que é bonito ou útil, mas porque é de fato preciso).

Não é à toa que o Espiritismo fincou raízes e se expande mais e mais no Brasil e a partir dele, um país com nome de árvore, que está assentado sobre dois aquíferos e possui 25% da biodiversidade do mundo. Seguindo o evangelho e fazendo, cada um de nós, a nossa parte, caminhamos para um mundo com água potável, terra fértil e ar puro para todos.
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Olha o coelho! Origens, significados, presentes e comemorações sustentáveis de Páscoa

Por Letícia Maria Klein •
07 março 2016

A Páscoa sempre teve um significado religioso, desde os povos pagãos, passando pelos judeus e depois integrando o calendário cristão. No paganismo (religião que não batiza ou é politeísta), a celebração ocorria no Equinócio da Primavera (entre março e abril) com homenagens à Ostara, deusa da fertilidade. A festa judaica significa libertação da opressão egípcia e a volta à terra natal, Canaã, onde os laços com Deus seriam fortalecidos. A celebração cristã refere-se aos dias que marcaram a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, exemplo de humildade, amor e renovação na fé. Essencialmente, todas estas celebrações buscam uma conexão espiritual, o fortalecimento da fé e a renovação na crença. Que tal, nesta Páscoa, voltar às origens e sair da onda consumista imposta pelo capitalismo, fortalecendo seu eu interior, suas crenças e seus laços familiares?

O ato de dar presentes pode ser um meio, ao invés de um fim. A celebração da data deve ir além do dar alguma coisa, desde fazer algo em conjunto ou passar um tempo especial que proporcione reflexões sobre os significados da data e de como vivemos nossas vidas. Estes momentos aproveitados com família ou amigos viram recordações fortes, perenes e que estreitam os laços de amor e amizade. O mercado capitalista e a onda consumista frisam o presente e o ovo de chocolate, deixando de lado a origem religiosa. Então, vamos conhecer um pouco mais estas raízes e algumas formas sustentáveis e divertidas de celebrar a Páscoa? Comecemos pelos ovos

Pintar e decorar ovos orgânicos
A deusa Ostara, também chamada de Eostre, Ēostre, Jair ou Ostera, é representada no paganismo por uma mulher olhando para um coelho e segurando um ovo, tríade que reforçava o ideal de fertilidade que os pagãos celebravam. Os ovos eram pintados mostrando alguma planta ou elemento natural ou eram cozidos com ervas para que ficassem coloridos. Para atrair mais fiéis ao cristianismo, o Concílio de Nicéia, em 325 d.C., optou por incluir a simbologia do ovo na Páscoa cristã, que passou a ser pintado com imagens de Jesus Cristo e Ave Maria. Os ovos eram presentes que representavam a renovação e o renascimento


Ovos decorados

Para uma Páscoa sustentável e convidativa à reflexão sobre seu significado (cada religião com a sua crença), uma forma legal de festejar e ter uma conversa em família sobre a data é fazer uma sessão de pintura e decoração de cascas de ovos (orgânicos, sim?) e depois dá-los de presente a entes queridos. Os ovos vão ter mais graça se recheados, então vale receitas de carapinha de amendoim ou castanhas carameladas. Quem sabe até gotas de chocolate? 

Fazer ovos de chocolate ou comprá-los sem embalagem
A versão de cacau do ovo surgiu na França e na Alemanha no início do século 19, mas era diferente dos ovos de chocolate conhecidos hoje, com gosto amargo e aparência granulada. O chocolate, especialmente os mais amargos e puros (quanto maior a porcentagem de cacau, melhor), oferecem alguns benefícios à saúde quando consumidos moderadamente, como melhora da circulação sanguínea, prevenção de câncer, estímulo do sistema nervoso central e dos músculos cardíacos e sensação de bem-estar. 

Para fazer os ovos em casa, pode ser tanto na forminha específica ou em algum pote redondo ou oval (tem algumas técnicas e é uma forma de economizar). É só derreter o chocolate, forrar a forma e deixar gelar. O recheio, se for ovo de colher, fica por conta dos gostos e da imaginação. Leva uma hora para fazer, mais ou menos, como disse minha colega de trabalho que vai fazer ovos de chocolate de colher este ano. Então, se assim como eu, você não quiser se aventurar na cozinha, vale encomendar estes ovo gourmet com confeiteiros ou amigos chefs e ainda levar seu próprio pote ou embalagem não descartável para pegar. Já falei para minha colega que vou trazer meus potinhos para ela guardar os ovos. Isso evita a montanha de resíduos de embalagens de ovos de plástico, que incluem o plástico metalizado, de difícil reciclagem devido ao processo caro e complexo, o papel alumínio envolvendo o ovo e a base plástica de apoio. 


Ovos de chocolate sem embalagem

Uma observação muito importante aqui: parte da indústria do chocolate financia o trabalho escravo infantil. A Páscoa é uma data para celebrar o amor, a renovação, a fé, a humildade, a liberdade. Nada mais contraditório do que consumir chocolate que teve a mancha do trabalho forçado de crianças em sua cadeia de produção. O documentário “O lado negro do chocolate”, fruto de uma investigação jornalística, revela como funciona esta indústria e quais as empresas que usam mão de obra infantil. Além de ficar atento à marca, é melhor procurar por chocolates orgânicos, que são cultivados em sistemas de produção sustentáveis. 

Assistir a filmes sobre a Páscoa
Munidos de chocolate, carapinha, castanhas carameladas ou biscoitos confeitados, chame a família para o sofá e promova uma sessão pipoca com doçura de um filme pascoalino. Seja desenho animado ou live action, o importante é refletir sobre as mensagens religiosas e o verdadeiro significado da data. 

Visitar lugares temáticos ou religiosos
O turismo religioso leva cerca de 18 milhões de brasileiros a viajar todos os anos, segundo dados do Ministério do Turismo. As datas religiosas, como Páscoa e Natal são um dos motivos das viagens e acabam concentrando maior número de turistas. Aparecida do Norte/SP, Bragança/PA, Bom Jesus da Lapa/BA, Juazeiro do Norte/CE, Nova Trento/SC, Ouro Preto/MG, Santa Cruz/RN e Trindade/GO estão na lista das 344 cidades com atrações e festas religiosas mapeadas pelo ministério. Além destes municípios, existem outros que criam atrações e programação especial para algumas datas comemorativas, como a Osterdorf – Vila de Páscoa aqui em Blumenau, a Osterfest em Pomerode/SC, Páscoa em Canela e Gramado/RS. A visita a atrações ou cidades religiosas é uma maneira de festejar a data em família e refletir sobre seus significados, além de, claro, conhecer novos lugares.


Osterdorf em Blumenau
Osterdorf, em Blumenau

Suas tradições ou comemorações de Páscoa já tiveram ou têm algumas destas sugestões? Conhece outras formas de comemorar a Páscoa voltando às origens e de forma sustentável? Deixe um comentário e Feliz Páscoa! 
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