Diário do Clima, de Sônia Bridi [Resenha]

Por Letícia Maria Klein Lobe •
29 junho 2013

Impresso em papel reciclado, o livro “Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco continentes” mostra os bastidores da série “Terra, que tempo é esse?”, produzida pela repórter Sônia Bridi e o cinegrafista Paulo Zero para o programa Fantástico em 2010. Durante seis meses, o casal viajou para 12 países ao redor do planeta em busca de explicações e soluções para o aquecimento global. Austrália, Bolívia, Butão, China, Estados Unidos, Groelândia, Inglaterra, Islândia, Itália, Peru, Tanzânia e Vanuatu foram os países escolhidos para mostrar às pessoas as consequências graves do processo de aquecimento global e a urgência em reverter esse quadro antes que seja tarde demais. 


Como o nome do livro diz, é um diário, então você lê os relatos de viagens com se elas tivessem sido realizadas ontem. Uma ótima forma de imersão na narrativa! Gostei! Sônia relata com detalhes os dias passados em cada um dos países, trazendo aspectos culturais, históricos e econômicos em meio a informações sobre o aquecimento global, tudo relacionado. A narrativa é simples, divertida e objetiva, repleta de curiosidades e informações interessantes (alarmantes e chocantes também). Além de muitas fotografias das viagens. 

O livro traz até mais informações sobre os povos e os países do que sobre os efeitos da mudança climática, mas é justamente isso que torna a leitura tão rica e gostosa de acompanhar: através da costura entre temas, aspectos e realidades é que percebemos como tudo está interligado e que o que acontece de um lado do mundo afeta o outro lado, inevitavelmente. E tudo que conhecemos sobre aquecimento global hoje começou pelas mãos dos homens, mais especificamente na Revolução Industrial. Nós hoje sofremos as consequências daquela época, o que significa que as atividades humanas que provocam o aquecimento global hoje serão sentidas lá na frente, por nossos netos e bisnetos. 

De épocas de secas na Austrália e na Amazônia, derretimento de geleiras na Groelândia, Peru e no Kilimanjaro, aumento do nível dos oceanos em cidades como Veneza (e todos os litorais) ao branqueamento de corais no arquipélago Vanuatu, Austrália e Brasil, Sônia consegue mostrar com todos esses acontecimentos são afetados pelo aumento da temperatura média da Terra, como estão relacionados e também como acabam se afetando mutuamente. 

Dois exemplos para esclarecer: o aquecimento da atmosfera derrete as geleiras mais rapidamente do que seria o normal. Como a água do mar sob e ao redor das geleiras absorve calor, ao contrário do gelo branco, que reflete calor, a água também fica mais quente e acelera o processo de derretimento do gelo, pois o esquenta por baixo ao mesmo tempo em que o ar quente vai derretendo a geleira por cima. É o mesmo caso no Monte Kilimanjaro, apelidado carinhosamente de Kili por Sônia. O ar a 6 mil metros de altitude está mais quente e derrete o gelo do topo do Kili. Assim como a água do mar, a rocha também absorve calor e colabora para o processo de derretimento de gelo no alto do monte. 

E para os que dizem que o aquecimento global é sinal de que um país é bem desenvolvido, o livro deixa bem claro como o aquecimento global pode sim afetar a economia de alguns povos, como é o caso dos agricultores na Austrália, os cultivadores de ostras na China e o turismo e o acesso à água potável em Vanuatu. Quem muito vai sofrer também com o aquecimento global são os países pobres. Quem tem dinheiro e tecnologia dá um jeito, mas quem não tem? 

"A adaptação é simples para os ricos, os que mais contribuíram para o aquecimento do planeta, com a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Foi emitindo que se industrializaram, se desenvolveram e enriqueceram e agora podem contornar as consequências. Uma tarefa beirando o impossível para os pobres. As mudanças climáticas punem preferencialmente os inocentes". (Sônia)

Sônia Bridi na Groenlândia

Com depoimentos de moradores de vários dos países por onde passaram e pessoas que já sentem os efeitos do aquecimento global em suas rotinas, Sônia Bridi mostra a urgência da questão do aquecimento global e as soluções que precisam ser pensadas. Ou melhor, postas em prática. Um dos depoimentos que mais chamou a atenção foi de um morador do Butão, país pequenino entre a China e a Índia que tem como prioridade a felicidade de seus habitantes.

"Natureza e felicidade andam juntas [...] Antes cortávamos árvores (principalmente para exportar para a Índia, com sua incrível demanda), mas agora não cortamos mais. Entendemos que sem floresta não tem água e sem água não tem vida." (Habitante local)

Muito bem colocado. Quero passar umas férias no Butão, gostei da filosofia do FIB no lugar do PIB. Felicidade Interna Bruta em primeiro lugar. 

Para enriquecer a leitura e entender melhor todos os aspectos do aquecimento global, é bem legal ver a série “Terra, que tempo é esse”. O problema é que os vídeos não existem no site do Fantástico. Procurando na internet, encontrei alguns, vou deixar os links aqui embaixo. Outra opção é comprar o livro que vem com as matérias num CD. Maaaas, como estamos falando de sustentabilidade, que tal uma leitura sustentável? Antes de comprar na livraria, vale uma passada nos sebos da sua cidade para ver se encontra o livro. Pegar na biblioteca pública ou emprestado de algum amigo também é uma boa. Você adquire conhecimento e ainda pratica o consumo consciente! ;)

Série completa (mas nem todos os vídeos funcionam). 
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Que tal uma escola que ensina sustentabilidade na prática? – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein Lobe •
25 junho 2013
Você aprendeu matemática dentro do esquema quadro-professor-livro ou calculando como se monta uma horta mandala no jardim? As aulas de artes foram com modelos ao ar livre ou dentro da sala só contando com sua própria imaginação? Em ciências e biologia o máximo que você plantou foi um feijão no algodão, diz aí. Provavelmente a maioria de nós se encaixa no primeiro exemplo de cada situação, não é? - (sou grata até hoje por ter tido um professor-cantor de história para tornar as aulas divertidas e empolgantes!). No último post do especial sobre a Semana do Meio Ambiente, o tema são as escolas criativas, mais especificamente, escolas sustentáveis, com direito a muitas fotos para inspiração (exceto uma, todas as outras são da apresentação das palestrantes). 

Artes na prática

São essas escolas que estão mudando a realidade do sistema de aprendizado em sala aula. Criação de hortas e jardins, produção de jogos e brinquedos com materiais recicláveis, reflorestamento, entre outras atividades fazem parte da rotina de professores, alunos e seus familiares na Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, aqui na minha cidade de Blumenau. Em maio deste ano, ela foi certificada como Escola Criativa, a terceira do Brasil a ganhar o prêmio, depois de outras duas que ficam em São Paulo e Recife. As três integram a Rede Internacional de Escolas Criativas (Riec), um projeto idealizado pelo professor da Universidade de Barcelona, Saturnino de La Torre. Em junho de 2012, o professor palestrou no Fórum Internacional sobre Inovação e Criatividade: Adversidade e Escolas Criativas, em Barcelona, e disse uma frase que eu gosto muito: “A Educação não pode ser a mesma do século 19, do século 20. A realidade está mudando, afetando todos nós. É preciso, hoje, ter flexibilidade de pensamento, saber que há várias maneiras de interpretar a realidade”. É na prática, com experiências e exemplos, que mais se aprende.  

Professor Saturnino na entrega do prêmio à escola Visconde de 
Taunay em 13 de maio de 2013. Foto: Rogério Pires.

O objetivo da Riec é resgatar e difundir experiências transformadoras em escolas no Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Portugal. No caso da Visconde de Taunay, o que fez e faz a diferença é o ensino da sustentabilidade na prática. “Ensinar as crianças a viver dentro de um sistema sustentável, o que significa ensinar a produzir, e não apenas a consumir e gastar”, como disseram as palestrantes.

É evidente a paixão e o entusiasmo delas: Roseli de Andrade, mentora do projeto e diretora da escola na época da implantação (2011-2012), e Jeane Pitz Pukall, professora articuladora do projeto. Na palestra sobre a escola, elas contaram como nasceu a ideia de desenvolver uma escola sustentável e mostraram atividades que foram e estão sendo realizadas com os alunos dentro do projeto. Os alunos já montaram uma horta mandala, reflorestaram o pátio e o estacionamento, cuidaram dos canteiros em volta das árvores, criaram um jardim biodiverso (com várias espécies diferentes) e ainda há bastante para ser feito e preservado. Afinal, não basta criar e montar, tem que cuidar também. E as professores contaram que os alunos estão bem engajados nesse sentido. 

Pátio antes da criação do jardim biodiverso

Um jardim biodiverso enriquece o solo e evita que um determinado 
problema, como pragas, atinja todas as espécies

Alunos cuidando do jardim biodiverso

Visconde de Taunay é uma escola bem antiga, tem registros de 1903. Hoje atende cerca de 850 alunos no pré-escolar e no Ensino Fundamental. A ideia surgiu depois que professores e gestores participaram de uma viagem até o Projeto do Ecocentro IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado), em Pirenópolis, Goiás. Cheios de expectativa para tornar a sustentabilidade uma prática diária dos alunos, eles organizaram um café com ideias para firmar parcerias, que são muito importantes para a realização e manutenção do projeto, junto com o envolvimento da própria comunidade. No encontro foram criados dois conselhos: um formado por profissionais e universidade e outro por membros da comunidade. 

Professores em Pirenópolis

Os alunos, como contaram Roseli e Jeane, surpreenderam os professores, tamanho o envolvimento deles com as ações sustentáveis. Na escola, eles estudam as ações do homem no meio ambiente e os impactos causados. “Educar para uma vida sustentável é entender como dependemos da natureza e, fazendo isso, conhecemos o que é necessário para preservação do meio ambiente e para criação de cidades sustentáveis”, disseram. Com o projeto, foram adotadas práticas de sustentabilidade na escola para criar consciência nos alunos e suas famílias de que as mudanças no planeta começam “por nós, nossa casa, nossa escola e nossa comunidade”. 

O projeto começou com objetivos definidos: 
- Reduzir a produção de lixo em 50%.
- Reduzir a sujeira jogada no chão do pátio em 50%.
- Reduzir desperdício e uso de água em 15%.
- Reduzir gasto de energia em 10%.
- Expandir área de jardins em 20%. 
- Aumentar biodiversidade na escola em 50%.
Hoje, depois de um ano e meio desde a implantação, já conseguiu alcançar os dois primeiros, enquanto os outros estão no caminho. Tudo demandou muita parceria, voluntariado e ajuda dos pais e alunos, contam as palestrantes, pois a comunidade é de baixa renda e a escola, por ser pública, não tem muitos recursos financeiros. Apesar do dinheiro ser necessário, muitas ações do projeto foram feitas com produtos que as famílias têm em casa e que podem ser reutilizados, como garrafas pet e caixas de leite

Os resultados quanto à conscientização dos alunos, seus familiares, da comunidade como um todo e dos próprios professores já são visíveis. Uma coisa que Roseli e Jeane falaram na palestra é que não adianta implantar um projeto na escola que não é incorporado pelos professores. É preciso que eles queiram colocar o projeto em prática. Para o bem da sustentabilidade, felizmente foi o que aconteceu na Visconde de Taunay. Alguns inclusive trabalham em conjunto, em trabalhos interdisciplinares. 

Alunos enchem garrafas pet com água da caixa de captação 
de chuva para fazer os limites da horta mandala

Matemática na prática com compasso gigante



Horta mandala quase pronta, falta plantar

Um dos projetos que mais chamou a atenção foi o revestimento da parede de uma sala de aula com caixas de leite. Numa campanha que envolveu toda a comunidade, a escola arrecadou muitas caixas de leite, que foram utilizadas para revestir a parede e também para fazer cortinas. O revestimento com caixa de leite pode baixar a temperatura em até 8º C. não chegou a tanto, mas ajudou muito, pois a sala pega muito sol e só tem um mísero ventilador. Depois de colocadas as caixas, a parede foi pintada novamente. 


Nem dá pra perceber as caixas.

Cortinas de caixas de leite

Também com as caixinhas, os alunos criaram bolsas que substituíram as sacolas do Projeto Sacola Viajante. As novas bolsas suportam até 15 livros de literatura infantil. Como as caixas de leite têm muita utilidade, também foram usadas para fazer murais que ficam nos corredores da escola. 

Sacola Viajante de caixa de leite 

Para apagar, basta um paninho com álcool

A escola já soube de alguns alunos que levaram as experiências da escola para casa e estão plantando árvores, criando horta, separando lixo comum e reciclável. Os professores também levaram essas ações para seu dia a dia. O que mais chamou a atenção de todos foi a grande redução de lixo jogado no pátio da escola. O projeto foi se expandindo, atraindo olhares de muitas pessoas e levou a escola a ser pesquisada. Quem aplicou o questionário para saber se a escola era criativa foi a Furb (Universidade Regional de Blumenau), que assinou convênio para fazer parte da Rede Internacional de Escolas Criativas. 

Os critérios do questionário identificam o grau de desenvolvimento criativo da escola e devem gerar uma média de 6,0 pontos para que a escola receba o certificado. A Visconde de Taunay atingiu a média 8,5! Uhul, é uma nota ótima! Mas o que mais importa é a transformação que a escola está proporcionando nos seus alunos, que levam os ensinamentos para suas famílias, que comentam com vizinhos e assim toda a comunidade vai adquirindo práticas sustentáveis e fazendo do mundo um lugar mais verde, com mais respeito ao próximo e ao meio ambiente, com mais qualidade de vida e bem-estar. Sustentabilidade também tem a ver com o bem-estar das pessoas, tanto moral quanto físico e psicológico. Como disse Roseli, “o aluno aprende em qualquer espaço, desde que o conhecimento seja dirigido”. É um exemplo para ser seguido por todas as escolas.
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Parque Nacional da Serra do Itajaí e a proteção aos grandes carnívoros – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein Lobe •
20 junho 2013

Sabia que os animais carnívoros são indicadores de que um ambiente natural é saudável e equilibrado? Leões, tigres, pumas, leopardos e vários outros estão no topo da cadeia alimentar e são responsáveis por manter a harmonia da natureza. Se não fossem por eles, coitadinhas das plantas e dos pequenos animais, pois os carnívoros regulam a população das suas presas naturais, como mamíferos herbívoros, roedores, aves, répteis e insetos, mantendo assim o equilíbrio ecológico.

Fonte: apresentação da Cintia Gruener

Quando eu via uma cena de um carnívoro perseguindo e matando sua presa, um veado, por exemplo, eu pensava: “Ah, que peninha do bichinho”. Se fosse um filhote então, meu pai, que dó. Agora vejo diferente, graças à palestra da bióloga Cintia Gruener, do Instituto Caeté-Açu para a Conservação da Natureza, que falou sobre o Projeto Carnívoros durante a Semana do Meio Ambiente. Afinal, é assim que a natureza funciona, esse é o ciclo da vida.

O projeto é desenvolvido pela Cintia e outros profissionais no Parque Nacional da Serra do Itajaí, que abrange nove cidades de Santa Catarina (aqui pertinho tem pumas vivendo em liberdade e um grupo de pessoas lutando para protegê-lo, incrível!). O PNSI também foi tema de palestra. Quem falou foi a gestora do parque, Viviane Daufemback. A missão do parque, que tem 57.374 hectares, é proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental através de pesquisas científicas, educação e interpretação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico. O parque foi criado em 2004 e desde 2007 é gerido pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Quatro vezes por ano, os governos das cidades, ONGs e outras entidades se reúnem para o conselho consultivo.

O PNSI representa 2,5 % da área remanescente do bioma da Mata Atlântica no estado e protege uma grande diversidade de ambientes e biodiversidade, além de abrigar as cabeceiras de importantes cursos d’água, como o Ribeirão Encano e o Warnow, que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí. O parque também é importante para a formação de Corredor Ecológico que liga áreas remanescentes de floresta. Outra ação que ajuda a desenvolver o parque e promover sua manutenção é o plano de manejo, criado em 2009.

Mas nem tudo são flores e animais. Toda a área do parque é pública e nas redondezas e em algumas áreas internas há moradores, o que significa que as propriedades privadas existentes na área do PNSI devem ser legalizadas e indenizadas. Hoje, como Viviane disse na palestra, a porcentagem de propriedades indenizadas é bem pequena, como podemos ver neste mapa.

Fonte: Viviane Daufemback

O Parque Nacional da Serra do Itajaí é dividido em oito zonas, que vão desde a proteção integral de ecossistemas, passando por áreas para pesquisa, educação ambiental e ecoturismo até áreas onde há conflito com ações humanas e presença de rodovias e estradas. 

Fonte: Viviane Daufemback

Infelizmente, nem todos que moram perto ou dentro do parque respeitam as regras e existem muitos problemas ilegais, que são difíceis de serem flagrados. Caça, comércio de fauna silvestre, roubo de palmito, construções irregulares e pesca são os principais. Quando há apreensões de animais, os funcionários do parque, que por sinal dá para contar nos dedos, trabalham junto com a Polícia Militar e a Política Militar Ambiental.



Fonte das fotos: apresentação da Viviane

Esses atos são um grande perigo para a biodiversidade do Parque Nacional da Serra do Itajaí, que impressiona: são 340 espécies arbóreo-arbustivas, 69 espécies de mamíferos, 310 de aves, 45 de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas), 15 espécies de répteis, 23 de peixes e 159 de borboletas. De todas essas, 54 espécies de fauna e 13 de flora estão ameaçadas de extinção. É justamente para contornar esse terrível cenário, em especial para os carnívoros mamíferos, que existe o Projeto Carnívoros. Através da obtenção de dados ecológicos, minimização de conflitos com proprietários rurais e educação ambiental, o projeto tem o objetivo de conservar os mamíferos do PNSI, em especial o puma, também conhecido como leão-baio, suçuarana ou onça-parda (dá pra escolher, gente).

Em todo o país, são conhecidas 26 espécies de carnívoros, sendo que 10 estão ameaçadas de extinção. No parque existem 11 espécies e as ameaçadas representam 40%. Quase metade, é um dado assustador. Passe o mouse sobre as imagens (todas da apresentação da bióloga Cíntia Gruener) para ler o nome e ver quais estão ameaçadas.



    


As principais ameaças aos carnívoros são a perda e fragmentação de hábitat, a caça às principais presas deles e a caça por retaliação de fazendeiros à predação de suas criações domésticas. Como funciona: alguns moradores do parque ou entorno tem como atividade a caça e sempre foi assim para eles. Os pais e avós caçavam, a atual geração caça e ainda ensina os filhos na mesma direção. Cintia comentou que, durante as palestras de educação ambiental que ela dá nas escolas da região, professores falam que algumas crianças faltam um dia da semana para ir à caça com o pai. É um absurdo. Mas o pior de tudo é saber que para a criança aquilo é normal, e para o pai também se tornou normal, pois ele foi criado dessa maneira. 

Uma das soluções está na educação ambiental de toda a família. Mostrar a eles como a atitude deles é prejudicial à natureza e à própria comunidade. Como assim? Vou explicar: os caçadores vão atrás de animais que servem de alimento para os carnívoros, como mamíferos herbívoros, aves e répteis. Se o alimento na floresta fica escasso, os carnívoros têm que se virar de outra forma e acabam invadindo criações de ovelhas, por exemplo, para se alimentar. Os fazendeiros, como retaliação, correm atrás do bicho para matá-lo. Isso é o que acontece geralmente com os pumas e outros felinos carnívoros que existem no parque. A irara também sofre com as retaliações. Como ela gosta de mel, acaba destruindo as caixas repletas de abelhas dos apicultores para se deliciar com o alimento. O proprietário, então, se vinga colocando banana com veneno nas caixas. Assim, a próxima vez que a irara aparecer será a última. É preciso muita luta dos pesquisadores do projeto para reverter toda essa situação e isso é o que fazem a Cintia, seus colegas e os funcionários do parque.


Fonte das fotos: apresentação da Cintia

Para que projeto tenha bons resultados, os profissionais já entrevistaram 60 propriedades da região do parque para avaliar as pressões, ameaças e percepções sobre os carnívoros silvestres e visitaram as propriedades com criação doméstica na região do parque para verificar possíveis casos de predação por carnívoros e propor medidas preventivas. Eles também caminharam dois mil quilômetros para achar vestígios dos carnívoros, suas presas e onde eles caçam e conseguiram um total de 45 mil horas de monitoramento com armadilhas fotográficas. 

Para monitorar o puma, foram capacitadas 20 pessoas e foram feitas palestras para mais de duas mil sobre a importância dos carnívoros na região. Foram três expedições para captura de puma e seis para capturas de outros carnívoros. O projeto já foi levado para seminários científicos nacionais e para eventos como a Exposição Itinerante da Fundação SOS Mata Atlântica. A captura do puma é necessária para a colocação do colar com GPS e para fazer alguns exames. Esses procedimentos ajudam a monitorar onde os pumas estão, para onde eles vão e o que eles comem. Confirma abaixo o vídeo feito pelo Jornal de Santa Catarina na época da captura. Cintia explicou, depois de alguns “oh” do público durante a exibição do vídeo na palestra, que a armadilha para captura não doi, os pesquisadores testaram em si mesmos antes, e que o colar não fica no pescoço do puma até o animal morrer, ele cai depois de um tempo (52 semanas, no caso).

 

Parabéns à Cintia e os demais pesquisadores pelo projeto, que ele traga muitos frutos e ajude efetivamente para a conservação do puma e de outros carnívoros, e também aos poucos funcionários do Parque Nacional da Serra do Itajaí, que se desdobram em sua luta diária para proteger a biodiversidade tão rica da nossa região e tão importante para todo o país, junto com todas outras unidades de conservação espalhadas pelo Brasil. Quem quiser saber mais sobre o PNSI e agendar atividades de ecoturismo, pode entrar em contato pelos telefones: 47 3326-1527 e 47 3329-5887. Você também pode ajudar o Projeto Carnívoros, que atualmente enfrenta falta de recursos. Empresas que colaboram recebem benefícios como isenção ou redução de taxas. Para doar, entre em contato com a bióloga Cinta pelo e-mail cggbio@yahoo.com.br.
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Como uma cidade pode ser sustentável – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein Lobe •
17 junho 2013

O tema da Semana do Meio Ambiente em Blumenau foi sobre como construir uma cidade sustentável, uma Blumenau mais sustentável. Isso porque a cidade agora faz parte do programa Cidades Sustentáveis, que oferece aos gestores públicos a agenda de sustentabilidade urbana, indicadores relacionados à agenda e um banco de práticas com casos nacionais e internacionais que podem ser tidos como referências pelos municípios. Depois de falar sobre ser sustentável, hoje o post é sobre a sustentabilidade em nível municipal. Como uma cidade pode ser sustentável?





Antes do como, vamos ao porquê. Os modos de produção e consumo (consumismo, eu diria) atuais drenam cada vez mais bens naturais e matéria-prima do meio ambiente. Para que nossos filhos, netos, bisnetos e todos que vierem depois possam viver no planeta como o conhecemos hoje, precisamos mudar nossos hábitos e viver um estilo de vida mais sustentável. Mas além das ações individuais, é preciso que os governos criem e implantem políticas de sustentabilidade, assim a abrangência das ações será maior e elas terão mais impacto. Na era em que estamos, a sustentabilidade deve ser priorizada pelos que comandam as cidades.



Na palestra, o educador ambiental José Constantino Sommer deu alguns dados legais que nos mostram a necessidade da cidade sustentável. Hoje, mais da metade da população mundial vive em cidades. 52% para ser exata. No Brasil, o número de pessoas morando em cidade sobe para 85%. A previsão para 2020 é de que 60% dos habitantes da Terra residam em cidades. Em 2050, serão 70%. Outro dado importante: 80% dos gases que provocam o efeito estufa são originados nas cidades. Agora ficou mais fácil de entender por que é tão importante que as cidades se comprometam com a sustentabilidade, não é? 





O programa Cidades Sustentáveis estabelece que os eixos da cidade sustentável são: governança, equidade, proteção ecológica, planejamento urbano, cultura, educação, economia, consumo, mobilidade e saúde. Para uma cidade ser sustentável, ela depende de diagnóstico, eleição de prioridades e estabelecimento de metas. O desenvolvimento urbano, como falou o palestrante, depende de limites, sustentabilidade, lazer, mobilidade e revitalização. Um exemplo muito bom de uma cidade sustentável é Vitoria-Gasteiz, que fica no norte da Espanha e tem cerca de 240 mil habitantes. 


Ela ganhou o prêmio de Capital Verde Europeia em 2012. Bom gerenciamento de resíduos, mobilidade que privilegia pedestres e ciclistas e descentralização de serviços básicos foram algumas das ações que conferiram o prêmio a Vitoria-Gasteiz. Por exemplo: 99% da população têm acesso a serviços básicos, como saúde, escola, alimentação, cultura e lazer num raio de até 300 metros de suas casas. Essa proximidade evita que as pessoas se locomovam muito de carro e incentiva o uso de ônibus, bicicletas ou mesmo a pé.


O carro, inclusive, é um dos símbolos da insustentabilidade das pessoas. Como disse Sommer na palestra, não se trata de demonizar o veículo, mas usá-lo sabiamente. O negócio é pensar: para que usar o carro se eu posso ir de bicicleta ou a pé? Se eu for de ônibus não será mais rápido? Saindo da cidade espanhola e pegando exemplos brasileiros, como Blumenau e Curitiba, os corredores de ônibus facilitam muito a vida de quem depende do coletivo. Eu digo por experiência própria, o corredor de ônibus é uma benção nesta cidade onde há dois carros para cada três habitantes. É muito carro, gente! Dá só uma olhada nesta foto, que mostra uma noção geral da coisa. 


Mas, reforçando, não estou demonizando o carro. Se a pé, de bicicleta ou de ônibus não dá, que tal modificar o combustível? Usar álcool no lugar da gasolina ou do diesel já é uma ótima maneira de uso consciente do veículo. Em 2010, um grupo de jovens em Porto Alegre quis mostrar a sujeira que os carros emitem (daqueles 80% dos gases do efeito estufa que as cidades geram, muito sai dos veículos). 


Parece pichação, né? Acontece que é a cor original do túnel. Os jovens estavam lavando a parede! O protesto “Por uma Porto Alegre limpa” foi a forma que eles encontraram de mostrar como nós vivemos em meio a poluição sem perceber. Neste vídeo, o grupo mostra como foi a operação. Um planejamento urbano nesse sentido, para diminuir o uso do carro, também ajudou Vitoria-Gasteiz a ganhar o prêmio de capital mais verde da Europa. Foi implantada uma nova rede de ônibus urbanos e bondes, com corredores, além da criação de 95 km de ciclovias e 598 estacionamentos para bicicletas

Parque em Vitoria-Gasteiz

Outra medida bem interessante que a cidade adotou foi a valorização das áreas verdes, com incentivo à produção e estudo de hortas comunitárias, jardinagem, produção orgânica, entre outros. A cobertura vegetal na área urbana também foi ampliada, com a criação de Cinturão Verde ao redor do centro. Em Blumenau, por exemplo, 70% do município são cobertos por floresta. Das capitais brasileiras, a que mais tem cobertura florestal é a catarinense Florianópolis, com 54%

Essas e muitas outras medidas podem ser adotadas pelos governos municipais para tornar suas cidades sustentáveis e com boa qualidade de vida para seus habitantes. Hoje no Brasil são 237 cidades sustentáveis. Será que a sua é uma delas? Descubra aqui. Confira também abaixo o vídeo do programa Cidades Sustentáveis, que mostra exemplos de várias cidades ao redor do mundo que já adotaram medidas sustentáveis. Super bacana!

E independente se sua cidade estiver ou não na lista das sustentáveis brasileiras, você aí lendo este post pode adotar práticas sustentáveis no seu dia a dia. Cada ação individual é muito importante e faz uma baita diferença para o meio ambiente!
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Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

Por Letícia Maria Klein Lobe •
14 junho 2013
Recentemente, o secretário-geral assistente das Nações Unidas, Olav Kjorven, esteve no Brasil e falou ao site Mercado Ético sobre o papel do país em relação aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Os ODM, como fica a sigla, são oito e geralmente aparecem todos juntos em anúncios, assinaturas de e-mail, reportagens, calendários, entre outros.

Os objetivos foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000 com o apoio de 189 nações, incluindo o Brasil. São eles:

1 – Acabar com a fome e a miséria;
2 – Oferecer educação básica de qualidade para todos;
3 – Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
4 – Reduzir a mortalidade infantil;
5 – Melhorar a saúde das gestantes;
6 – Combater a Aids, a malária e outras doenças;
7 – Garantir qualidade de vida e respeito ao meio ambiente;
8 – Estabelecer parcerias para o desenvolvimento.


De acordo com o site nacional dos Objetivos do Milênio, o Brasil avançou muito em relação ao cumprimento dos ODM devido à participação social e políticas públicas colocadas em prática nos últimos anos que trouxeram resultados positivos. Para Olav, o Brasil também pode liderar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que já foram rascunhados pela ONU. Os ODS são as novas metas que a ONU quer estabelecer a partir de 2015, prazo final para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Pois é, ainda tem tanto para melhorar em todos aqueles aspectos ali em cima e faltam só dois anos. Oficialmente, claro. O importante é que as ações para o cumprimento dos objetivos continuem sendo desenvolvidas, tanto pelos governos e organizações quanto pós nós mesmos, pessoas como você e eu. No Portal ODM, é possível acompanhar os indicadores municipais de cumprimento dos objetivos.

Ah, uma curiosidade. Os ícones que representam os objetivos foram criados no Brasil. Em 2005 a equipe da agência McCann-Erickson, coordenada pelo publicitário Percival Caropreso, desenhou os símbolos, que foram adotados por outros países e pela própria sede das Nações Unidas. Os símbolos foram desenvolvidos para a campanha Nós Podemos – 8 Jeitos de Mudar o Mundo, do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade. O movimento objetiva o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio no Brasil. Foi criado em 2004 para conscientizar e mobilizar a sociedade civil e os governos para o alcance, até 2015, dos oito ODM.


O Movimento Nós Podemos está presente em todos os estados do país. O primeiro a criar um comitê e que também parece o mais engajado é o Paraná, que começou suas atividades em 2006. A maioria dos outros estados começou o movimento em 2009. Blumenau é uma das cidades de Santa Catarina envolvida no Movimento Nós Podemos e vai realizar sua primeira atividade no fim de junho. Quero muito participar!


Você também pode!

Com ações simples no dia a dia, todos nós podemos cuidar do planeta Terra, contribuindo para a conversação da biodiversidade e dos bens naturais. Apagar a luz ao sair de um cômodo, andar a pé, de ônibus ou bicicleta, utilizar álcool ou biodiesel como combustível do carro, utilizar embalagens de produtos como sacos de lixo, consumir conscientemente, entre muitos outros hábitos individuais que quando somados causam grande impacto.

Quem tem jardim também podem contribuir com a biodiversidade local. “No momento em que você utiliza a enxada no lugar do herbicida para matar a grama crescente na calçada, está evitando quebrar processos ecológicos que existem neste pequeno clima e, consequentemente, poderá evitar uma infestação de insetos em sua casa”, exemplifica Fabiana Dallacorte, bióloga de uma empresa blumenauense que faz estudos ambientais. Outra atitude sustentável é plantar uma espécie nativa com frutos ao invés de uma espécie exótica, pois as aves que vivem no local possam utilizar as árvores frutíferas como corredores ecológicos. “Nós somos criativos e podemos mudar o mundo!”, complementa Fabiana.

Como forma de incentivar o consumo consciente, o Instituto Akatu, o Canal Futura e a HP do Brasil criaram uma série de 10 vídeos que faz reflexões sobre os problemas gerados pelo ritmo de produção e consumo de hoje, tudo de um jeito simples e divertido. Entre os assuntos estão sustentabilidade, mudanças climáticas, consumo de água e energia, estilo de vida, entre outros, que permeiam o universo da consciência ambiental. Veja o primeiro deles abaixo.


São ótimos, não são? Adoro! Se você também gostou, dê uma olhada nos outros vídeos. E você, participa do Movimento Nós Podemos na sua cidade? 
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Para onde vai o lixo que “jogamos fora”? – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein Lobe •
12 junho 2013
Engraçado este termo, né... Jogar fora. Você já parou pra prensar que, na verdade, não existe um “fora”? Nós mandamos o lixo embora de nossas casas, mas ele não desaparece num passe de mágica. É tão cômodo jogar o lixo na lata e ver o caminhão passando para recolhê-lo. Nossa, dá até um alívio, né. Só que não. O lixo continua dentro do planeta, ele não vai para fora. Pode sair de casa, mas continua dentro de uma casa muito maior, que é a Terra. Ver a quantidade de lixo ao vivo em aterros “dá até um negócio”. Eita, que agonia. O lixo não para de crescer, o panorama é desesperador. Foi o que eu senti na visita técnica do roteiro dos resíduos, que a Fundação Municipal do Meio Ambiente e a Secretaria de Educação organizaram na Semana do Meio Ambiente em Blumenau.

A primeira parada foi a Estação de Tratamento de Esgoto do bairro Fortaleza, construída pela empresa Foz do Brasil. É uma três de Blumenau, sendo que uma ainda não tem projeto para construção. Na ETE Fortaleza há três módulos de tratamento (pré, primário e secundário) e cada um trata cerca de 160 litros de esgoto por segundo. A estrutura, que ainda está sendo finalizada, mas já está em operação, atende mais de 237 mil blumenauenses, o que representa 77% da população da cidade. Antes da Foz chegar à cidade, menos de 6% do esgoto era tratado. O objetivo é tratar o esgoto de todos os habitantes.

Prédio do pré-tratamento

Quando chega à estação, o esgoto (composto 99,9% de água) passa pelo pré-tratamento, onde são retiradas as sujeiras (fios, plástico, etc.) e areia que estavam nele. Depois, o esgoto vai para os tanques de aeração, onde é decomposto por bactérias aeróbias, que precisam de oxigênio (por isso os tanques são abertos). Nos tanques, o esgoto é misturado com o lodo que foi gerado no decantador secundário e então recirculado para os tanques de aeração novamente. A reutilização do lodo é necessária devido à grande quantidade de bactérias ativas nesse lodo, que ajudam na decomposição mais rápida do efluente bruto. 

Tanques de aeração

O lodo do decantador pode ser recirculado até 100% e deve ter no máximo 30 dias dentro do tanque. Quando este período termina, o lodo passa por um processo onde é desumidificado e depois encaminhado para o aterro sanitário. Quando sai da estação, a água originária do tratamento do esgoto está 95% mais limpa, mas ainda impróprio para consumo humano. Não pode beber, nem tomar banho.

De acordo com o coordenador operacional na Foz do Brasil em Blumenau, Guilherme Pimentel, que acompanhou a visita, para chegar a 100% de água limpa seriam necessárias dezenas de milhões de reais. Cada 1% a mais precisaria de mais R$ 10 milhões, pois seriam incluídos outros tratamentos de reuso da água e assim por diante. O coordenador afirmou que a Foz não tem o objetivo de chegar a 100%, pelo menos não por enquanto, pela questão do alto custo. Bom, o esgoto já está sendo tratado, o que é um grande avanço.

Água do esgoto tratado que volta para o rio

Lembra do lodo mencionado ali em cima, que vai para o aterro sanitário? Nós fomos até lá. É o Aterro Industrial e Sanitário de Blumenau, gerido pela empresa privada Momento Engenharia Ambiental. Lá, o lodo é misturado com cal e cimento e utilizado para fazer as camadas do aterro.

Para lá são levados os resíduos industriais da região de Blumenau desde 1999. Os resíduos industriais incluem os perigosos (Classe I) e os não perigosos (Classe II). Os resíduos vêm de indústrias e também do setor de saúde (hospitais, clínicas, farmácias). Os efluentes gerados no aterro também são tratados. Como é um serviço contratado, não são todas as indústrias nem todos os serviços de saúde que enviam seus resíduos para cá. E olha que já tem um monte, então imagina o resto!

Depois de pesados e conferidos na entrada, os resíduos são enviados para o local de descarga de acordo com o tipo e a classe. Os resíduos pastosos de Classe II são solidificados na Usina de Solidificação de Lodos, onde passam por um processo de homogeneização, adição de aglomerantes e estabilização. Os resíduos perigosos que são pastosos também são solidificados, mas passam pelas células de tratamento. Outros tipos de resíduos perigosos são prensados, encapsulados ou incinerados, dependendo de suas características.

Aparato para incineração

Exemplos de material encapsulado são as pilhas, baterias, reagentes químicos específicos e outros que necessitam de mais segurança. Você sabia que é obrigação da empresa que vende pilhas, baterias e lâmpadas recolher esses materiais? Depois que a pilha acabou ou a lâmpada queimou, você pode ir à loja onde comprou e devolver. É a empresa que deve destinar corretamente esses produtos. Se a loja se negar a receber, você pode processá-la. Isso quem determina é a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Depois de tratados, os resíduos são colocados em células impermeabilizadas com geomembrana de PEAD - Polietileno de Alta Densidade de acordo com a classe. Para o Aterro Classe II (não perigosos), vão os resíduos que foram solidificados na USL, resíduos compactados e outros conforme contratação pelo cliente.

No Aterro Classe I são colocados os resíduos processados em células de tratamento, os prensados e os encapsulados. Os efluentes gerados durante todo o tratamento, incluindo o esgoto do empreendimento, passam por um sistema de desarenação, são armazenados no tanque de equalização e depois enviados para a Estação de Tratamento de Efluentes, que trata o material antes de devolvê-lo ao meio ambiente.

A Momento tem parceria com o grupo Votorantim, que opera nos setores de cimento, metais, energia, siderurgia, celulose, agroindústria e finanças. Para lá são enviados os resíduos sólidos e líquidos com poder calorífico, como papelão, estopa e rejeito de óleo diesel, que utilizam esses materiais como combustível.

Estação de Tratamento de Efluentes

Agora repare nas fotos. O que se vê ao redor do aterro é Mata Atlântica, floresta virgem, repleta de uma mega biodiversidade. Quando o espaço onde são depositados os resíduos acabar, adivinha o que vai acontecer com a floresta? Pois é. Por mais que a empresa faça o reflorestamento em outro local, o que ela é obrigada a fazer, a própria bióloga Micheli, que trabalha na Momento, admite que nunca vai se compensar o desmatamento. A floresta que está ao redor levou milhares de anos para se constituir e desenvolver a biodiversidade existente hoje nela. Por outro lado, muitas das áreas que a empresa desmata são constituídas de pinus e eucalipto, derivadas do próprio processo de colonização da região. Por isso é tão importante não apenas tratar o lixo, mas diminuí-lo, o que fica bem evidente quando damos de cara com a quantidade que chega diariamente ao centro de reciclagem em Blumenau, a nossa última parada durante o roteiro. O projeto Recicla Blumenau é uma parceria entre o Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto) e a Associação dos Trabalhadores Coletores de Resíduos Residenciais (Reciblu).

É onde acontece a reciclagem do lixo dos blumenauenses. Menos de 5%. O QUE? Isso mesmo, menos de 5% de todo o lixo de Blumenau é reciclado. De acordo com Luiz Eduardo Pereira, da gerência de resíduos sólidos do Samae, que acompanhou a visita, a cidade gera sete mil toneladas de lixo por mês, o que representa 51% de todo o lixo gerado no Médio Vale do Itajaí. Luiz disse que o que Blumenau gera em um mês, a cidade de São Paulo produz em um dia. Cada um dos blumenauenses gera 725 gramas de lixo em um dia, o que é algo relativamente baixo, disse ele. Porém, se esse nível de consumismo continuar, em 2020 a cidade atingirá o mesmo patamar dos maiores geradores de lixo do Brasil, com uma estimativa de aproximadamente um quilo para cada habitante por dia. Há cidades nos EUA onde cada habitante gera de três a cinco quilos de lixo por dia. Credo, estou tendo palpitações neste momento!!!

Lá em cima, pessoal da Reciblu separando o lixo

Para aumentar a quantidade de lixo reciclado, que poderia chegar a 35% (o que somaria mais 2.500 toneladas à quantidade reciclada hoje em Blumenau), segundo Luiz, vários fatores são determinantes: melhoria da eficiência da coleta seletiva e triagem, investimento em infraestrutura, conscientização da população, mercado de reciclagem, educação ambiental, entre outros. Os 35% seriam a quantidade "passível de reciclagem". O lixo ainda tem 50% de resíduos orgânicos com potencial de compostagem e 15% de rejeitos, que seriam materiais que não podem ser reciclados nem virar composto (como lixo do banheiro: papel higiênico usado, fraldas, etc.). E ainda nos rejeitos, como você vê abaixo, há materiais que poderiam ser reciclado, mas não por causa desses motivos acima, o que inclui algo que as pessoas em casa podem fazer: lavar os recipientes antes de colocá-los no saco do lixo.

Rejeitos

Na foto abaixo, você vê um lixão que evolui para um aterro controlado, que no espaço mais profundo tem 45 metros de lixo enterrado. Em 2004, foram encerradas as atividades ali e foi aberta a Estação de Transbordo, que é a exportação do lixo para o Aterro Sanitário de Brusque, de responsabilidade da empresa Recicle Catarinense de Resíduos. Como diz Luiz, “o lixo é levado para lá por comodidade, por nunca ter enfrentado o problema com a seriedade que merece”. Não tem como especificar a porcentagem de capacidade de um aterro de forma correta, mas dizem que pelos próximos 30 anos o aterro conseguirá absorver o lixo gerado. O problema, segundo Luiz, é que são muitas cidades que enviam seus resíduos para lá e mesmo após o fechamento de um aterro sanitário, o monitoramento continua mais por 20 a 30 anos (por causa do tempo de decomposição do lixo). “Lixo enterrado não gera nenhum benefício”, disse Luiz e eu concordo totalmente.

Lixão que virou aterro controlado

Para finalizar, um exemplo de como a reciclagem funciona. Em Borás, na Suécia, 99% do lixo é reciclado, o oposto do que acontece em São Paulo, por exemplo, onde apenas 1,5% do lixo é reciclado. No Brasil, apenas 10% das cidades reciclam o lixo. A reciclagem é fundamental, mas não podemos contar só com ela. Não é porque ela existe que todo o mundo vai sair consumindo a rodo. Nós precisamos consumir conscientemente, pensar antes de consumir alguma coisa. Preciso mesmo comprar isto? Será que não posso trocar este produto por outro mais sustentável? Tudo que é fabricado precisou de bens naturais para existir: água, energia, matéria-prima. Quanto mais consumimos, mais lixo geramos. Às vezes enviamos para a lixeira coisas que nem usamos, o que significa que todos os bens naturais utilizados foram em vão, pois saíram direto da natureza para a lata do lixo. Por isso que apenas a reciclagem não resolve tudo, consumir menos e sabiamente é tão importante quanto.

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