Diário de bordo #11 – Da terra à terra através da compostagem

Por Letícia Maria Klein •
16 novembro 2016
Na natureza não existe desperdício, tudo é reaproveitado no ciclo da vida. Por sermos também natureza, uma espécie da sua biodiversidade, é natural que a gente viva da mesma forma, sem produzir lixo (infelizmente, essa não é a regra geral, pois muito do que geramos é enterrado ou simplesmente empilhado em lixões, causando diversos impactos negativos). Neste terceiro vídeo da série sobre a Schumacher College, as responsáveis pelo cultivo de alimentos e manutenção das hortas falam sobre a importância da compostagem num sistema fechado, sem desperdícios, e explicam os processos para compostar todos os resíduos de comida, podas e humanos (sim, os do banheiro!), transformando-os em solo rico em nutrientes. As entrevistas completas estão abaixo e tem dois vídeos, um curto bem resumido e um mais longo que mostra os processos completos. Ao fim do post tem um pôster lindo que a Ella fez sobre compostagem, cheio de detalhes, desenhos e muito amor. Remember, remember, composting in November! Neste mês, estamos celebrando a compostagem aqui na Schumacher College! Aqui está a playlist com o primeiro vídeo contando a história e dia a dia da escola e o segundo sobre a relação da escola com a comida.


Vídeo curto


Vídeo completo

Entrevista com Jane Gleeson – Horticultora chefe na Schumacher College

Qual a importância de se fazer compostagem?

Se as pessoas entendessem o quão importante a compostagem é! Não é apenas uma coisa boa para fazer com os restos de comida. É bom para gerar comida em primeiro lugar. Se você é um produtor num pedaço de terra, muito da produção é colhido para consumo e outra parte pode voltar para o solo. Ao fazer compostagem do que você não come (qualquer parte dos vegetais que você não come pode ser compostada e retornada ao solo) você completa o que seria um ciclo natural. Você interfere minimamente, porque está retirando algo, mas se você retorna algo na forma de composto, então você está alimentando a vida do solo, encorajando o solo a ter sua própria fertilidade. Não precisa adicionar nenhum fertilizante artifical. Então, na verdade, o composto é matéria orgânica vital. Manter este ciclo intacto, em que a matéria orgânica volta para o solo, é a chave para um solo saudável, o que é chave para plantações saudáveis.

Como podemos reduzir o desperdício de comida em casa e começar a compostar?

O principal aspecto é que as pessoas tenham consciência do que acontece com os resíduos de comida quando são colocados em um aterro sanitário. Eles não degradam e as pessoas acham que sim, elas pensam que não tem problema porque não é plástico, que dura para sempre. Mas se as pessoas perceberem que nos aterros sanitários, o processo é amplamente anaeróbio e, portanto, gera muito gás metano como subproduto, o que é potencialmente muito perigoso para o ambiente. Então, na verdade, enviar comida para aterro sanitário é prejudicial. Esta é a primeira coisa que as pessoas precisam perceber. Dentre as muitas questões, uma é sobre a quantidade de desperdício gerada, incluindo a questão de usar no prazo e vender no prazo e como as pessoas perderam a capacidade de julgar por si mesmas quando algo ainda está fresco ou comestível. Muitas coisas são ultra cautelosas com suas datas de validade, quando continuam perfeitamente comestíveis depois da data estipulada na embalagem. Também é preciso facilitar o processo de compostagem, como ter coleta de resíduos de comida, porque nem todos têm jardim para fazer compostagem. Sendo assim, as pessoas precisam entender o porquê de compostar e ter acesso a um processo facilitado.
[Quem não tem jardim, pode ter uma composteira seca ou minhocário para fazer compostagem em casa ou apartamento.]

Entrevista com Ella Sparks – Horticultora na Schumacher College

Quais são os benefícios da compostagem?

Compostar é uma forma maravilhosa de usar o que seria considerado desperdício e então acumulado que, se enviado para o aterro sanitário, vai produzir metano e outros gases indesejados, atrair ratos e causar uma variedade de problemas. Enquanto, na verdade, os resíduos de comida, sobras do jardim e corte de grama, são recursos essenciais para nós, porque fazem parte do ciclo de cultivo. Então, nós começamos no solo, plantando as sementes, e poder retornar à terra todos os restos que não são mais úteis no sistema, extraindo nutrientes e matéria orgânica para fazer crescer as plantas, reter água e melhorar a qualidade do solo, é uma forma muito importante de fechar o ciclo. O sistema precisa ser fechado. Não gostamos de ter saídas que não possam ser reintroduzidas no sistema. Na visão da permacultura, o sistema deveria se autoconter. Nós plantamos a comida, as partes que a cozinha não usa podem voltar para nós e depois de passar pelo Ridan, as caixas térmicas e as pilhas quentes, colocamos de volta no solo e lá plantamos o próximo lote de comida. Então, é um círculo muito bom. Círculo em que usamos todas as partes que de outra forma seriam desperdiçadas.

O processo de compostagem da comida e resíduos de jardinagem explicado pela Ella Sparks

Temos uma cozinha bem ativa, então há muitos resíduos de comida, que nós juntamos em baldes. Temos um ótimo instrumento chamado Ridan, que é basicamente uma hélice dentro de uma caixa térmica. Tiramos a tampa do Ridan, adicionamos os restos de comida no topo da hélice e então colocamos um pouco de aparas de madeira. Colocamos a tampa de volta. Toda vez que você adiciona comida no Ridan, deve girar a alavanca por alguns minutos. Ao fazer isso, a hélice dentro se move e empurra os restos de comida para fora. Depois de uma semana, os restos saem numa forma seca e quebradiça. Ainda tem pedaços, mas no geral está bem degradado. Qualquer coisa pode ir no Ridan, inclusive comida cozida e carne (que não temos aqui). Evitamos colocar muitos líquidos, porque não queremos que saia pingando. Caso contrário, dá cheiro e fica muito molhado. Então, o café é drenado separadamente e quando tem sopa, nós adicionamos mais aparas de madeira.

Depois do Ridan, nós temos três caixas especialmente produzidas que têm tampas e isolamento térmico para manter o material aquecido, então o calor do Ridan continua dentro delas. Nós colocamos os baldes com material que saiu do Ridan e tampamos. Quando temos uma caixa cheia, deixamos por dois ou três meses e quando voltamos, a quantidade vai ter reduzido de tamanho até pouco mais da metade da caixa. Neste ponto, o que não estava degradado antes foi degradado aqui. Agora, incorporamos o material à próxima fase, em caixotes de madeira (do mesmo tamanho das anteriores).

Adicionamos no caixote muita matéria orgânica de uma vez, tentando balancear carbono e nitrogênio. Adicionamos o material degradado e também mais material orgânico da jardinagem. Também incorporamos a urina do banheiro seco, que é rica em nitrogênio. Então temos resíduos de comida degradados, grama cortada, palhas das galinhas e patos, plantas mortas que não seja erva daninha perene. Misturamos tudo, tampamos, o ambiente fica muito quente e depois nós tiramos tudo, mexemos e colocamos de volta. Dentro de talvez um mês nós temos um solo lindo, um produto final muito bom e quebradiço e com um conteúdo orgânico muito bom. Colocamos este composto nas camas de plantação. É um jeito rápido de gerar bastante composto. Até aqui é o processo de lidar com resíduos de comida. Não é para ervas daninhas perenes, que demoram para degradar ou tem sementes, que podem espalhar.

Para as ervas daninhas perenes, nós fazemos windrows. Empilhamos tudo em faixas longas. Quando elas atingem certa altura, cobrimos com plástico preto e colocamos peso em cima. Dois anos depois, temos solo para usar e as sementes e raízes não estão mais em condições de brotar. Então é um composto bom.

O banheiro seco

Para nós, o banheiro seco é uma importante parte do sistema. Não somente uma descarga comum de vaso sanitário usa muita água, como também manda embora um recurso muito valioso para nós (os resíduos do corpo humano), contaminando água e gerando outros problemas; enquanto que, na realidade, os nutrientes que os humanos não usaram podem ser muito úteis no nosso sistema. Este é um sistema de banheiro seco muito inteligente. O vaso sanitário tem uma divisão, a urina vai na parte da frente do vaso e os resíduos sólidos vão na parte da trás. A ideia de separar a urina dos sólidos é que o sistema não tem cheiro ruim e é muito mais seco. E para nós é muito mais útil ter a urina separada dos sólidos. Então a urina desce no vaso por um cano e fica reservada num barril. Usamos a urina nos caixotes de madeira para compostagem. Você pode usá-la diretamente em plantas se diluir uma parte de urina para dez de água. Porém, temos que ter cuidado. Não usaríamos urina em plantas que são comidas cruas ou vegetais. Mas pode ser usada em arbustos frutíferos perenes e árvores frutíferas como uma nutrição extra. Estes banheiros secos são sistemas muito seguros. Geralmente pedimos às pessoas que estão tomando medicação para não usarem o banheiro seco, pois pode haver contaminação de resíduos de antibióticos que ficam na urina. A urina em si é estéril, não espalha bactérias, então não tem problema neste sentido.

A matéria seca vai ficar estocada e sempre que você usa o banheiro seco para fezes, você adiciona aparas de madeira ou serragem depois, então temos uma mistura bem seca no final. Quando este compartimento está cheio, nós mudamos para o do lado, que no momento está inativo, e este é deixado por um ano para decompor. Ao fim do período, nós olhamos o quão decomposto está. Se sentirmos que precisa ficar mais tempo decompondo, nós tiramos daqui e deixamos mais um ano decompondo. Então serão dois anos inteiros, ao final dos quais não será possível reconhecer os resíduos humanos, teremos simplesmente solo marrom e quebradiço. Usamos este composto ao redor de arbustos frutíferos perenes e árvores frutíferas como uma nutrição extra e cobertura para evitar as ervas daninhas ao redor das raízes. É perfeito para isso e é uma forma muito boa de retornar os nutrientes para a terra. Podemos usar o composto para alimentar nossas plantas de uma forma muito melhor.
Pôster fantástico, cheio de detalhes e informações

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