Qual a relação da Schumacher College com a terra e a comida orgânica?
Tem a ver com o caráter da escola que nós plantemos nossa própria comida e que ela seja orgânica. Satish [Kumar] fundou a escola com outras pessoas a partir da noção de “cabeça, mãos e coração”. Então, ter o lado vocacional aliado ao ensino e à educação, como o programa de horticultura, é um aspecto importante dessa tríade. Toda a escola se beneficia das hortas e jardins. Muitos estudantes do mestrado passam um tempo jardinando, porque eles reconhecem que ficam muito em suas próprias cabeças e precisam de um equilíbrio, o que eles conseguem quando colocam a mão na massa. Seria impossível viver de acordo com o caráter e as crenças da escola sem cultivar os alimentos organicamente. Orgânica é a única forma de agricultura que é saudável para você, como consumidor dos produtos, e é também a única saudável para o solo, o que é chave para plantar a própria comida sustentavelmente. Qualquer químico que você coloca no solo é uma arma que vai matar patógenos, mas também vai matar insetos beneficiais e a vida beneficial existente no solo. Sem a vida do solo, a comida não cresce. Então não é possível cultivar comida sustentavelmente sem ser de forma orgânica.
Qual a porcentagem de comida consumida na Schumacher College que vem das hortas?
Nós tentamos cultivar uma grande proporção dos vegetais usados na cozinha. A cozinha é bem ocupada, porque às vezes temos cerca de 100 pessoas aqui. Mas neste ano, com esta expansão, nós conseguimos, dependendo da época do ano e da abundância da colheita, providenciar às vezes 100% dos vegetais, mas eu diria de 80% a 90% em média. É mais complicado no inverno, período conhecido como intervalo da fome. Mas temos dinheiro este ano para preservar as plantações e ajudar neste período. Nosso objetivo é aumentar a quantidade de comida que vai das hortas para a cozinha. Porém, não temos a determinação de sermos 100% autossuficientes, porque também queremos poder experimentar novas formas de cultivo, como cultivo agroflorestal e de vegetais perenes, que não são tão usados na nossa cozinha, mas são comuns em outras culturas. Os vegetais perenes demandam menos trabalho e não precisam da mesma quantidade de inputs (entradas no sistema/manutenção), então são mais sustentáveis. O problema é que eles não são tão saborosos ao nosso paladar. No futuro próximo, não planejamos ampliar as terras que usamos, mas vamos expandir o que estamos fazendo atualmente. Temos um espaço vazio onde vamos plantar castanheiras, porque castanhas vão ser uma fonte vital de proteína no futuro e são potencialmente resilientes às mudanças climáticas. Provavelmente não vamos expandir as nossas plantações anuais, mas vamos desenvolver a área de forest garden [um jardim florestal é um nicho do sistema agroflorestal projetado com base em árvores, arbustos e plantas perenes, que são misturados de forma a imitar a estrutura de uma floresta natural], de uma maneira que seja amigável e acessível à comunidade.
Entrevista com Julia Ponsonby – Chefe da cozinha na Schumacher College
Quais são as razões para a dieta vegetariana aqui na Schumacher College?
Aqui na Schumacher College nós somos vegetarianos desde o começo. Há várias razões para sermos vegetarianos que reforçam umas às outras. Para algumas pessoas, a razão mais importante pode ser o aspecto moral e espiritual para o vegetarianismo e o bem-estar animal, razões muito presentes na mente de Satish quando se envolveu na criação da faculdade. Também precisamos ver o aspecto ecológico do vegetarianismo. Uma dieta vegetariana não envolve muito o cultivo de soja e terra, por exemplo, cortar florestas nativas no Brasil para plantar soja para alimentar vacas. Você precisa de muito mais terra quando tem uma dieta animal, quando come carne, porque você precisa alimentar os animais e também plantar comida para alimentá-los. E há uma outra razão, que passa despercebida para as pessoas que vêm a Schumacher College, que é que se você quer cozinhar junto com outras pessoas, como nós fazemos, porque nós todos cozinhamos juntos e é uma verdadeira alegria, colocamos muito amor na comida, porque é uma experiência nova para todos. Não é somente uma pessoa sempre cozinhando para todo mundo, o que a deixaria exausta e com vontade de correr para casa. Então nós todos cozinhamos. E para cozinharmos juntos, precisamos ter o menor risco de intoxicação alimentar e contaminação cruzada e uma dieta vegetariana tem muito menos risco neste sentido. Aqui na Schumacher College, nós também temos uma dieta de alimentos integrais orgânicos, o que significa que podemos usar todo o alimento e conseguir a nutrição ideal dele, porque podemos consumir a casca e conseguir todos os nutrientes da casca. Quando você consome alimentos com agrotóxicos, é na casca que eles estão mais presentes, então você precisa descascá-los. Nós recomendamos descascar alimentos que não são orgânicos.
Entrevista com Ruth Era – Chefe vegetariana na Schumacher College
Como tornar a dieta vegetariana encantadora para as pessoas?
Eu acho que a melhor forma é ter pessoas criativas cozinhando apenas comida vegetariana e então você usa o que tem e tenta tornar a refeição empolgante. E você pode fazer pratos tão maravilhosos! Você pode ir a restaurantes vegetarianos onde pode escolher entre 12 ou 10 opções de pratos diferentes ou ir a um clube de jantar secreto, onde as pessoas pensam que vão a um evento especial e toda a comida é vegetariana. As pessoas comem com os olhos, então os pratos precisam ser bem bonitos. Para mim, as armas secretas que nós temos aqui são sal, alho, suco de limão e azeite de oliva; essa combinação sempre ajuda qualquer prato vegetariano. Também tem a ver com as pessoas se acostumarem com a comida vegetariana. Não é só um vegetal cozido num prato, sabe, é cozinhá-lo com outras coisas, misturar sabores, usar suas ervas e temperos.
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