Ideias para um Natal sustentável

Por Letícia Maria Klein •
05 dezembro 2017
Já ficou batido dizer que o ano passou voando, mas ele pode terminar de forma linda e sustentável (e sem correria). O Natal é uma data que nos fala sobre celebração da vida, renovação, amor e união, mas acabou se tornando extremamente comercial e legitimadora do consumismo. Por isso separei algumas dicas e sugestões para deixar seu Natal sustentável, repleto de significado e sem lixo.

Momentos com a família

Como o Natal é uma data bem familiar, nada melhor do que reunir seus parentes para desfrutar de momentos juntos. Vocês podem se reunir para preparar a ceia natalina, fazer biscoitos confeitados, bolo de frutas cristalizadas, pão doce. Prefira ingredientes orgânicos e a granel, que fazem bem para o seu corpo e o ambiente. Como não vamos conseguir todos os ingredientes sem embalagens, escolha as que podem ser reutilizadas ou que são recicláveis (e recicladas na sua cidade). Os momentos culinários podem ser embalados (com o perdão do trocadilho) por músicas típicas desta época, que harmonizam o momento e deixam tudo mais mágico.


A partir desta semana muitas pessoas começam a enfeitar suas casas, instalar luzinhas, montar árvores de Natal. Que tal usar a criatividade, restos de tecidos, roupas bem velhas e embalagens reutilizáveis para criar enfeites natalinos, como guirlandas, penduricalhos para a árvore e objetos de decoração? É uma forma de aproveitar o que seria descartado e ter um momento divertido em família, com conversas e descontração. Essa criação coletiva e sustentável também vai ajudar na poupança, pois vocês não vão precisar comprar enfeites novos.

Presentes lixo zero

Para aqueles que gostam de presentear, é muita linda a ideia de dar alguma coisa feita por você e embrulhada numa embalagem sustentável e até reaproveitada, como cestas, panos (com a técnica japonesa de furoshiki), potes de vidro ou caixas decoradas. Pensando em quem você quer agradar com um presentinho, você pode fazer comida (bolo, biscoitos, panetone), cosméticos naturais (creme, sabonete, tônico), roupas e outros objetos a partir de retalhos de tecidos ou outra coisa que seja a carinha da pessoa.

Você também pode dar uma cesta de produtos naturais comprados granel, em vidrinhos, um vaso com temperos plantados, um kit lixo zero ou mesmo algo seu que a pessoa já deu a dica que gostaria de ter, como um livro ou uma peça de roupa. Não é porque é usado que não é presente. Ao contrário, presentes com história podem ser mais significativos e tocantes. Outra dica de mimo sem embalagem e “abstrato” é um que eu costumo dar para aniversariantes: experiências. Uma massagem, um vale-cinema, ingresso para algum parque ou evento, enfim, algo diferente, que ninguém espera, mas que vai ficar na lembrança de quem recebe.

Natal solidário

Além de amor e união, o Natal também inspira boas ações, generosidade e doação de si em prol do outro. Entrando nessa sintonia (que pode te acompanhar o ano inteiro), você pode reverter o dinheiro de presentes físicos para causas que aquecem o seu coração e daqueles que recebem o seu carinho e sua boa intenção. Você pode ajudar uma ONG, um projeto de financiamento coletivo, instituições carentes. A doação não precisa ser só em forma de dinheiro. Você pode doar alimentos, roupas que não usa mais, brinquedos que seu filho deixou de lado. Você e sua família podem inclusive fazer uma limpa na casa juntos, assim você ensina a criança a desapegar e ser solidária. Vocês podem também doar seu tempo. Passar um dia em família em alguma instituição, fazendo voluntariado, é aquele tipo de presente que você dá e recebe ao mesmo tempo, que não tem preço, mas tem um valor inestimável.



Desejo-lhe um Natal com muito amor, tranquilidade, respeito e renovação!
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Um mundo de plástico (e como estamos sendo dominados por ele)

Por Letícia Maria Klein •
16 novembro 2017
O plástico está em todo lugar: da escova de dente à geladeira, do carro ao avião, das nossas roupas sintéticas ao oceano, do plâncton a nós mesmos. Sim, é verdade. O plástico já conseguiu entrar nos nossos corpos. Pesquisas recentes encontraram micropartículas de plástico nos peixes, no sal marinho, na água da torneira, na cerveja, no mel e no açúcar. Nos rios e mares, o lixo plástico vai se desintegrando e as partículas minúsculas vão sendo ingeridas pelos animais, do plâncton à baleia. Cientistas da Universidade de Ghent, na Bélgica, calcularam que as pessoas que comem frutos do mar ingerem até 11 mil micropartículas de plástico por ano!

Ainda não se sabe o efeito disso no corpo humano. Nos oceanos, por outro lado, os efeitos são visíveis, contabilizáveis e catastróficos. Até 12,7 milhões de toneladas de plástico todos os anos, o equivalente a um caminhão de lixo por minuto de acordo com as Nações Unidas, somando-se as 150 milhões de toneladas que atualmente circulam nos ambientes marinhos. Incluem-se aí sacolas, escovas de dente, embalagens, garrafas, copos, canudos e muitos outros itens de plástico que compõem 90% do lixo presente lá. Se esse cenário persistir, estima-se que em 2050 haja mais plástico do que peixe nos oceanos, de acordo com pesquisa da Fundação Ellen MacArthur. Isso pode representar a morte dos oceanos e, consequentemente, de pessoas. Um dos motivos seria a deficiência de oxigênio, pois as cianobactérias (também conhecidas como algas azuis) produzem de 60% a 80% do oxigênio que nós respiramos. Nós e outros milhares de espécies.


Microplástico dentro de um plâncton. Fonte: Corin Liddle/OrbMedia

Futuro assustador, não? A realidade já é bastante assustadora, principalmente se vamos aos números da poluição por plástico. Desde o início de sua produção industrial em 1950 até 2015, já foram produzidas 8,3 bilhões de toneladas de plástico, das quais 80% estão em aterros sanitários ou espalhadas pelo mundo, poluindo ambientes naturais e construídos. A quantidade produzida desde 2000 se equipara ao total das cinco décadas anteriores. Todo ano a produção aumenta quase 300 milhões de toneladas, sendo que 40% são usados apenas uma vez e descartados e 9% são reciclados. As garrafas plásticas representam uma grande parte desse montante. As pessoas compram um milhão delas por minuto ao redor do mundo, chegando ao total de 480 bilhões de garrafas vendidas em 2016. Se empilhadas, passariam da metade da distância até o sol. A previsão é que esse número aumente 20% até 2021, totalizando 583,3 bilhões por ano, e quadruplique até 2050!

A maioria das garrafas plásticas é usada para consumo de água e as maiores marcas de bebidas respondem por números astronômicos. A Coca-Cola produz mais de um bilhão por ano, o que dá 3.400 por segundo, conforme uma análise feita pelo Greenpeace. Um dos grandes problemas é que quase tudo provém de material virgem. As seis maiores empresas do ramo usam em média apenas 6.6% de plástico PET reciclado em seus produtos, sem metas de aumento dessa porcentagem. De acordo com a Federação Britânica de Plásticos, a produção de garrafas com 100% de material reciclado economiza 75% de energia comparada à fabricação de garrafas com matéria-prima virgem.


Praia com lixo plástico em Gana. Fonte: Christian Thompson/EPA/The Guardian

Na natureza, especialmente nos oceanos onde vai parar a maior parte, a garrafa plástica pode levar até 450 anos para se decompor, sendo que sua decomposição significa que ela vai se desintegrar em milhões de micropartículas de plástico. Essas partículas já foram encontradas em sal marinho no Reino Unido, França, Espanha, China e Estados Unidos, onde a Universidade do Estado de Nova York em Fredonia e a Universidade de Minnesota realizaram uma pesquisa, liderada pela professora Sherri Ann Mason. Foram analisados 12 tipos de sal, incluindo 10 marinhos, comprados em lojas estadunidenses ao redor do mundo. Ela descobriu que cidadãos dos EUA poderiam estar ingerindo cerca de 660 partículas de plástico por ano, se consumidas as 2.3g de sal recomendadas por dia. Níveis detectáveis de bisfenol-A, um composto do policarbonato, foram encontrados na urina de 95% dos adultos daquele país.

Em um estudo espanhol, os pesquisadores encontraram plástico em todas as 21 amostras de sal de cozinha testadas. O tipo mais comum de plástico identificado foi o PET (polietileno tereftalato). Outro grupo de cientistas da França, Reino Unido e Malásia encontrou micropartículas de plástico em 16 de 17 amostras de sal de oito países e a maioria era de polietileno e polipropileno. A primeira dessas pesquisas foi realizada na China, em 2015, e encontrou microplásticos provenientes de esfoliantes, cosméticos e garrafas em 15 amostras de sal vendido no país. Mason disse que espera que essas pesquisas não façam as pessoas simplesmente trocarem a marca do sal que usam:

"As pessoas querem se desconectar e dizer: ‘Está tudo bem se eu for ao Starbucks todos os dias e pegar uma xícara de café descartável’. Nós temos que nos concentrar no fluxo de plástico e na onipresença dos plásticos em nossa sociedade e encontrar outros materiais para usar em vez dele."

A ubiquidade dos plásticos nos atinge num aspecto extremamente sensível e diário: o consumo de águaUma pesquisa exclusiva feita pela Orb Media em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Minnesota revelou a presença de fibras de plástico em 83% das amostras de água da torneira coletadas nos cinco continentes, de Nova York a Nova Déli. A maior taxa de contaminação foi nos Estados Unidos, onde encontraram fibras plásticas em 94% das 33 amostras coletadas em lugares como os prédios do congresso, da Agência de Proteção Ambiental e na Trump Tower. No Líbano, foram 16 amostras, com a mesma porcentagem de contaminação. Em seguida vem a Índia, com 82% das 17 amostraram contaminadas e Uganda, com 81% das 26 coletas. Na Indonésia, 76% das 21 amostras tinham microplásticos e no Equador, 75% de 24. Por fim ficou a Europa, com 72% das 18 amostras contaminadas. O número médio de fibras encontradas em cada uma das amostras de 500 ml variou de 1.9 na Europa a 4.8 nos EUA. A Folha de S. Paulo participou deste levantamento e enviou ao laboratório da faculdade 10 amostras coletadas em São Paulo, em uma torneira de cozinha na região oeste, torneiras de banheiro do Parque Ibirapuera e do MASP. Nove apresentaram fibras.


Fibras de plástico na água em Nova Déli, Índia. Fonte: OrbMedia.

Da água para a cerveja é um pulinho. Um estudo alemão encontrou fibras e fragmentos plásticos em todas as 24 amostras de marcas de cerveja testadas. Ainda na Alemanha, e também na França, Itália, Espanha e México, todas as 19 amostras de mel analisadas tinham fibras e fragmentos plásticos. Esta mesma pesquisa também coletou amostras de cinco marcas de açúcar refinado e (adivinha!) todas tinham plástico. Outra fonte de microplásticos é o ar que respiramos. Pesquisadores franceses descobriram, em 2015, que Paris é recoberta com de três a 10 toneladas de fibras plásticas todos os anos, que vão parar, inclusive, dentro de casa. O mesmo estudo também identificou a presença de plástico no esgoto e em água doce, como a do Rio Sena.

Uma das fontes da emissão de fibras plásticas no ar é o desgaste de pneus e marcações rodoviárias. Outra fonte muito significativa são as roupas sintéticas, que liberam até 700 mil fibras por lavagem na tubulação. Elas vão parar nos rios e oceanos quando não são retidas na estação de tratamento de água. Nos Estados Unidos, 29 toneladas, cerca de metade do que sai dos encanamentos, vai parar nas vias fluviais todo santo dia. Quando secadas na máquina, as fibras também são liberadas, indo parar geralmente no ar.

Um dos perigos do plástico é que ele tem afinidade química com contaminantes presentes no ambiente, como pesticidas e metais, explica Felipe Gusmão, oceanógrafo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Santos. Assim, quando ingeridos por seres vivos os microplásticos liberam as toxinas no organismo. Um estudo da universidade comprovou que os contaminantes liberados pelos microplásticos são tóxicos para larvas de mexilhões. Richard Thompson, professor na Universidade de Plymouth, disse que “ficou claro desde cedo que o plástico liberaria esses produtos químicos e que, de fato, as condições do intestino facilitariam uma liberação bem rápida”. Na sua pesquisa, ele encontrou plástico em um terço dos peixes no Reino Unido, entre eles bacalhau, arinca e cavalinha, além de mariscos.

Essas pesquisas evidenciam não só problemas ambientais, mas sociais e econômicos. O lixo é uma invenção nossa. A espécie humana é a única que produz materiais que não podem ser aproveitados por outros seres e nem compostados na natureza. Essa situação provoca doenças, poluição, degradação de ecossistemas, esgotamento de bens naturais, morte de milhões de animais e perdas de bilhões de reais por ano. Essa situação reflete a desconexão das pessoas com a natureza; evidencia os efeitos dos modos de produção e consumo lineares, de estilos de vida e de padrões de sociedades pautados no imediatismo, no individualismo, na ganância e na ilusão de felicidade e bem-estar a distância de um cartão de crédito.


Fonte: UniPlanet

A problemática dos resíduos sólidos está no mesmo patamar de gravidade das mudanças climáticas, segundo ativistas. Num planeta vivo, constituído por uma teia de vidas, todos os problemas socioambientais estão interligados e se afetam mutuamente, criando uma crise global e profunda. “Mas não é possível que vivamos para perpetuar os problemas no mundo, tem que haver mais do que viver para ganhar uns trocados.” Economia e ecologia estão intrinsecamente ligadas, porque as duas são sobre casa (eco, do grego oikos, significa casa). Nossa grande casa comum. Economia quer dizer administrar a casa, cuidar de tudo que aqui existe para que continue existindo. Vamos combinar que, de forma geral, não é isso que estamos fazendo. Como disse Margaret Atwood neste artigo, precisamos de uma absoluta Reforma dos Plásticos.

Ele sugere a utilização de substitutos orgânicos e biodegradáveis para realizar as tarefas hoje feitas por plásticos, inventar métodos para filtrar e retirar os plásticos dos rios e mares e recolhê-los antes de chegarem aos oceanos. Mas, antes disso, precisamos mudar a maneira como enxergamos e nos relacionamos com o material. Na teoria, todos os tipos de plástico podem ser reciclados, mas alguns são mais difíceis e, portanto, não tem viabilidade econômica. A questão financeira é importante, visto que é uma das bases da maioria das sociedades. Cerca de 400 garrafas plásticas são vendidas por segundo no Reino Unido e metade é reciclada. Na Alemanha, onde as pessoas são reembolsadas ao devolver as garrafas, o índice de reciclagem vai a 98%.

Ao mesmo tempo em que veneramos o plástico por sua versatilidade e durabilidade, tratamos o material com descaso quando o taxamos de descartável e o utilizamos dessa forma. Qual é a lógica de retirar petróleo do subsolo, gastar bilhões de reais em processos e mão-de-obra, investir tempo, usar e poluir bens naturais para produzir coisas que vão ser subaproveitadas e enterradas (quando não largadas por aí), onde ficarão centenas de anos poluindo? É da nossa casa que estamos falando. É o planeta onde vivemos que estamos destruindo. Mas não precisa ser assim. Ou melhor, não pode ser assim. Que saibamos usar nossa racionalidade, consciência, habilidades e bons sentimentos para a prosperidade de todos e compreender o que de fato significa viver no planeta Terra.


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Como você escolhe mudar o mundo? - IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero

Por Letícia Maria Klein •
09 novembro 2017
Esta pergunta estava na apresentação da Larissa Kroeff no IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero, que aconteceu de 20 a 22 de outubro. Neste último post sobre o evento (aqui estão o primeiro e o segundo), vou transmitir as mensagens inspiradoras de algumas pessoas igualmente inspiradoras que palestraram no encontro. Para começar, como você escolhe mudar o mundo?

Thaianna Cardoso começou cedo no movimento jovem a se engajar em causas socioambientais. Hoje ela é engenheira sanitarista e ambiental e acredita que a sustentabilidade precisa ser amorosa e praticada coletivamente, pois não se faz quase nada sozinho. “Vivemos em coletividade, mas não conseguimos ser cidadãos.” Por isso é fundamental refletirmos e agirmos em prol do bem de todos os que habitam o planeta Terra.



Quem compartilha dessa ideia é Tia Kansara, que aplica o conceito Replenish Earth (reabastecer a Terra) no seu trabalho de consultoria para governos, empresas e indivíduos que querem beneficiar o mundo. O site de Tia informa que “reabastecer é a medida do serviço do ecossistema de um indivíduo para a natureza. Uma pesquisa sobre reabastecer fornecerá uma medida per capita para mudar radicalmente nossa percepção de uso de recursos, impactando positivamente o meio ambiente à medida que os cidadãos tomam passos pequenos e gerenciáveis para reduzir seu impacto negativo na Terra”.

Apesar de sermos natureza, diz Tia, achamos difícil traduzir isso para as nossas vidas [por causa da visão fragmentada de mundo ditada pela ciência ocidental por séculos]. Você pode esperar pela mudança ou pode ser a mudança. Precisamos agir como um ecossistema, com consciência de que somos integrantes da teia da vida e de que tudo o que fazemos tem consequências. Nós somos e existimos sempre em relação com o meio e com os outros. Ninguém é nem existe por si próprio, como um fim em si mesmo, mas como fruto das relações e dos contextos que vive a cada dia.



Disse Tia: pense de forma diferente. O que você sabe e conhece te serve ou não? O que você faz ou pretende fazer com isso? Qual é o momento da sua vida em que é você que escolhe? Os valores fundamentais são um manifesto pessoal que te guia, são a base do seu trabalho. Se você vive de acordo com seus valores, você é feliz. Não é sobre fazer as coisas da forma certa, mas fazer a coisa certa. O que pode te ajudar nisso é o questionamento criativo. Já ouviu falar dele?

Tia disse que se você tiver o hábito de se fazer perguntas complexas, durante cinco minutos do seu dia, você estimula a consciência reflexiva e a criatividade [além de ser uma forma bem interessante de autoconhecimento e aprimoramento]. Ela também passou outro exercício para ser feito todos os dias, por no mínimo duas semanas. É composto de seis passos e muito bom (experimentamos na palestra e já fiz algumas vezes em casa). Anote aí:

  1. Respire em três partes (abdômen, peito e garganta). A inspiração começa no abdômen, depois enche o peito e sobe para a garganta; a expiração vai seguir o caminho reverso. Você pode sentar no chão com as pernas cruzadas (em posição de meditação) e apoiar as mãos nos joelhos. Na primeira respiração, una a ponta do polegar com a ponta do indicador, formando um O. Na segunda respiração, você une o polegar ao dedo médio. Assim sucessivamente até ter feito oito respirações (duas vezes os quatro dedos).

  2. Expire com um “hum”. Faça as oito respirações novamente, unindo os dedos como antes, mas na hora de expirar você vai fazer o som de “hum” até o ar acabar.

  3. Expire com um “aham”, que significa “eu estou aqui”. Repita as oito respirações, unindo os dedos como antes, mas na hora de expirar você vai falar “aham”.

  4. Aos extremos da sua respiração. Agora faça as respirações como no item 1, prestando atenção ao momento de transição do inspirar para o expirar e vice-versa.

  5. Manifeste hoje. Visualize o que você quer que aconteça na sua vida (pode ser desde algo simples do dia a dia até um sonho para o futuro) e sinta todas as emoções e sentimentos que você vai sentir quando conseguir realizar o que quer.

  6. Envolva-se em proteção. Visualize-se envolto em proteção e sinta-se protegido.

A apresentação de Guto de Lima foi, no mínimo, inesperada. Até dançamos! Ele é daquelas pessoas que você quer abraçar e que te faz sentir bem, sabe? Ele começou seu momento tocando um instrumento musical e seguiu dizendo que precisamos ver a Terra como nossa mãe e cuidarmos dela como cuidamos da nossa mãe biológica. Precisamos dar de volta para a Terra, retribuir. Para estarmos prontos para isso, primeiro precisamos dar a nós mesmos. Com isso ele quis dizer que precisamos começar em casa, agradecendo diariamente aos nossos pais ou outros familiares com quem moramos, manter nossa casa limpa e bem cuidada, cuidar de nós mesmos. Além disso, é fundamental ter coerência entre suas atitudes e seus valores. “Não precisamos de drama, precisamos de amor, amar a nós mesmos como estamos hoje e aos outros como estão”. Na hora das perguntas, um amigo meu perguntou como foi que Guto chegou até este momento com o seu jeito tão alto astral e do bem. Guto respondeu dizendo que se o meu amigo sentia isso, é porque ele tinha nele mesmo também. Reconhecer, ele disse, é um jogo de espelho: admiramos no outro o que admiramos em nós mesmos e só reconhecemos no outro o que temos em nós mesmos. Por fim, uma pergunta bem interessante que ele fez como comentário a outra indagação da plateia: quando o agora passa?

Já passou?



Na verdade, o agora não passa nunca, pois sempre vivemos o agora.

Por falar em agora, seguem as dicas de Marcus Nakagawa, que falou sobre empreendedorismo social e como começar o seu negócio que vai melhorar o mundo. Para saber qual é, você precisa se perguntar: qual problema do mundo você quer resolver?
“Podemos fazer mais do que o “eu”, do que apenas trabalhar para pagar contas. Não é possível que gastemos nosso tempo para perpetuar os problemas do mundo. Tem uma coisa muito maior do que simplesmente ganhar uns trocados.” Além da motivação social, é preciso gerar valor agregado e financeiro, pois na vida real, como ele disse, “sem dinheiro não funciona, não dá para conversar”.

Um negócio social é movido por uma missão de impacto social, oferecendo serviços e produtos e tendo um retorno em lucro. Hoje, no Brasil, uma empresa social precisa ter CNPJ de empresa ou de associação. Ainda não existe CNPJ próprio de empresa social, mas a questão está em tramitação. Para quem quer começar, Marcus indicou algumas instituições que auxiliam negócios sociais: Ashoka Brasil, ABRAPS, Yunus, ICE, Artemisia, NESsT, VOX, Brasil27 e Pipe Social.

Partindo para a prática, aqui estão os passos para começar uma empresa social:

  1. Pesquise, busque informações, veja se já existe algum negócio similar.

  2. Veja o modelo que melhor se aplica ao que você quer (empresa, associação etc) e estude como vai prestar o serviço/produto.

  3. Conheça os personagens dos seus sonhos trabalhando numa empresa social ou organização não governamental por um tempo.

  4. Faça um bom planejamento de ações e um planejamento financeiro.

  5. Vá fazendo e testando, não espere ter tudo pronto para começar.

  6. Tenha suas contas pagas. Para isso estabeleça o mínimo que precisa por mês e comece a partir disso. Você pode vender coisas que possui para investir em você mesmo e te manter enquanto monta seu negócio.

  7. Tenha foco.



Para terminar, uma das conclusões a que cheguei depois de participar do encontro é que falar de lixo zero é falar da raiz dos problemas socioambientais, pois os resíduos refletem os modos de produção, de consumo e os estilos de vida vigentes no mundo todo e afetam milhares de espécies, interferindo em toda a teia da vida do planeta. O lixo é um problema global gerado pela humanidade, estranho à natureza, e ignorá-lo não vai fazer com que seja resolvido. Bem pelo contrário, vai agravá-lo até os danos serem irreversíveis. Por isso precisamos agir pra ontem e fazer absolutamente tudo que estiver ao nosso alcance em prol da vida no planeta. Então, como você escolhe mudar o mundo?
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Como as pessoas estão mudando o mundo com o lixo zero - IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero

Por Letícia Maria Klein •
02 novembro 2017
Neste segundo post sobre o que rolou no IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero, de 20 a 22 de outubro, você vai conhecer pessoas que foram ao evento para compartilhar seus estilos de vida e trabalho em prol de um mundo sem desperdício (no primeiro, vimos o panorama dos resíduos no mundo). Sem delongas, deixe-se inspirar por estes exemplos!

Já pensou entrar em um supermercado e pegar tudo o que precisa, mas pagar somente se puder? Este mercado existe, fica na Austrália e foi idealizado por Ronni Khan depois de mais de uma década trabalhando para evitar o desperdício de comida. Ronni é empreendedora social da OzHarvest, presente hoje em 15 cidades do mundo, cuja missão é resgatar comida boa que seria desperdiçada para alimentar pessoas com fome. A iniciativa surgiu quando Ronni, que tinha uma empresa de eventos, percebeu a quantidade de comida que não era consumida. Na Austrália, o desperdício de comida equivale à perda de 20 bilhões de dólares por ano.



Ela começou a distribuir as sobras dos seus eventos para pessoas necessitadas e desde então o negócio só cresceu, resgatando alimentos em perfeitas condições que estabelecimentos e restaurantes iriam descartar. Depois de 13 anos de atividade, a OzHarvest possui 50 veículos que entregam comida que iria para aterros sanitários a mais de mil instituições. A quantidade de comida resgatada é tão grande que Ronni investiu no OzHarvest Market, em que as pessoas pegam o que precisam, mas pagam se puderem e o quanto quiserem. Cada dólar doado é revertido em duas refeições para pessoas necessitadas. Além de resgatar comida, a empresa investe em educação, engajamento e inovação, ensinando pessoas em situação vulnerável e trabalhando pela redução do desperdício. Outra realização da empresa é o evento Pense. Coma. Poupe., que acontece em várias cidades do mundo todos os anos e reúne pessoas para um almoço grátis a partir de alimentos resgatados. Lindo, né?!

"O desperdício de meio hambúrguer equivale
à água utilizada num banho de 60 minutos"
Outro empreendimento relacionado à alimentação é a Maria Granel, primeira loja de produtos orgânicos a granel e lixo zero de Portugal, em Lisboa. A idealizadora e proprietária Eunice Maia pesquisou e estudou durante dois anos para buscar fornecedores de produtos orgânicos, sempre privilegiando a qualidade. Quando começou sua pesquisa, os dados de 2013 mostraram que cada habitante português produziu 440 kg de resíduos naquele ano, dos quais 13% foram reciclados ou compostados, 24% foram incinerados e 50% foram aterrados. Para combater tanto desperdício e prestar uma homenagem às suas origens de ter sido criada em fazenda, ela abriu a loja, onde uma boa equipe multidisciplinar vende apenas produtos sem embalagens e cultivados sem agrotóxicos e outros químicos e tem muitas opções vegetarianas e veganas. Assim, desde a sua abertura em novembro de 2015, a Maria Granel trabalha com o conceito BOYC (bring your own container): traga seu próprio recipiente. As pessoas levam seus próprios sacos ou potes e levam apenas o que precisam, o que estimula o consumo consciente de alimentos e não gera desperdício de embalagens. Para os que não levam os seus próprios, a loja disponibiliza sacos de pano, de papel e frascos de vidro.



Também são vendidos produtos ecológicos (como copo de bambu orgânico) e são feitas campanhas de épocas festivas baseadas no lixo zero (como os Miminhos de Natal). Para aplicar o conceito lixo zero de uma ponta a outra da cadeia, Eunice combinou com os fornecedores a entrega dos produtos em sacos de 25 kg, que são reutilizados para outras coisas, indo parar até em brincadeira de corrida com saco em escolas, onde a Maria Granel está presente com projetos de educação ambiental e sensibilização. Outras práticas incluem a nota fiscal digital, o programa Z(h)ero (brincadeira com hero e zero), consultoria e nutricionista presente na loja para atender gratuitamente. Todas as quintas acontecem as Quintas da Maria, dia em que a loja é reconfigurada e recebe uma grande mesa para ofertar oficinas, workshops, aulas culinárias, degustações, conversas, apresentações e lançamento de livros sobre sustentabilidade e alimentação saudável, conceitos são fundamentais neste local que é muito mais do que uma loja, é um ideal de vida. Muito, mas muito amor!



De volta ao Brasil, onde as lojas de produtos a granel estão crescendo, encontramos outra linha de produtos sustentáveis. Pensando nos 720 milhões de copos descartáveis que são (adivinha!) descartados todos os dias no Brasil, sendo que apenas 16% são reciclados, Larissa Kroeff resgatou a prática dos copos reutilizáveis para eventos. Esta ideia existe na Alemanha há quase 30 anos. Ela fundou a empresa Meu Copo Eco, que vende ou empresta em sistema consignado copos reutilizáveis, produzidos em plástico PP (polipropileno), que podem ser personalizados para cada evento. A ideia é disponibilizar os copos para as pessoas participantes por meio do conceito calção: a pessoa paga R$ 5,00 pelo copo, utiliza durante todo o evento e se não quiser levar para casa, devolve o copo e pega o dinheiro de volta. A iniciativa é louvável pelo fato de fazer as pessoas pensarem sobre o desperdício e o impacto negativo dos descartáveis ao mesmo tempo em que ajuda um evento a reduzir a quantidade de resíduos. Mas tem um lado ruim, que é o uso do plástico como matéria-prima, um bem natural não renovável e com uma pegada ecológica imensa. Então, mantenha sempre por perto seu copo retrátil, garrafa durável ou canequinha para usar quando quiser e precisar.



Ações como essa fazem parte do dia a dia de Nicole Berndt, florianopolitana que compartilha sua rotina lixo zero no blog Casa Sem Lixo. Ela, o marido e os dois filhos foram matéria numa emissora de TV local, que mostrou Nicole levando seus potes e sacos ecológicos para as compras a granel e fazendo sua própria pasta de dente. Nicole lembra que como consumidor, nós temos poder e precisamos usá-lo para contribuir com indústrias e empresas na redução da quantidade de resíduos que produzem. Não basta ter consciência, como disse alguém durante o evento, é preciso pedir infraestrutura sustentável às empresas.

Eduarda Jaeger teve um desafio grande em relação a isso. Autora do blog Cuidando do Meio Ambiente, ela falou da sua rotina lixo zero e como foi sua experiência relacionada aos resíduos durante os dois anos em que frequentou a faculdade nos Estados Unidos, onde se viu com o desafio de despertar nos colegas a preocupação com os resíduos. Como na escola não havia coleta de materiais recicláveis, ela guardava as garrafas de plástico usadas embaixo da cama, que eram eventualmente levadas a um centro de reciclagem na cidade.

Eduarda (esquerda) e Nicole

Quem também tem uma vida lixo zero é Lívia Humaire, que compartilha suas experiências no blog Jornada Lixo Zero. Para ela, lixo é um erro de design. Uma boa forma de evitá-lo é buscar soluções localmente (como lojas de produto a granel, por exemplo). Lívia ficou conhecida por planejar e fazer uma festa de aniversário lixo zero para sua filha Iuna, de nove anos, que também se envolveu na proposta. Aliás, foi Iuna que despertou Lívia para a questão dos resíduos, percebendo a quantidade que foi gerada quando a família se mudou de casa, em São Paulo. Lívia contou como foi preparar a festa, qual o resultado e mostrou algumas receitas que faz no dia a dia, de vinagre a pasta de dente. Ela também mencionou o Projeto Fruta Feia, realizado por uma cooperativa em Portugal que objetiva vende frutas e hortaliças “feias” com o objetivo de alterar padrões de consumo, gerar valor para os agricultores e consumidores e combater tanto o desperdício alimentar como o gasto desnecessário dos bens utilizados na produção.

Outra criança preocupada com o nosso planeta é Johann Neves, um pequeno ambientalista e escritor. No vídeo que enviou para ser transmitido no evento, ele mostrou como é a separação dos resíduos em sua casa e outras atitudes sustentáveis que tem no dia a dia. Johann é brasileiro, mas mora na Holanda com a família. Tem apenas 11 anos e é colunista jovem do site Green Nation.



Saindo do âmbito doméstico, vamos falar de negócios. Nara Guichon é estilista e trabalha há 30 anos com moda sustentável. Ela falou sobre o problema dos nanoplásticos, que são um dos fatores de poluição dos oceanos. Como eu contei neste post, toda vez que uma peça de roupa sintética é lavada na máquina, ela solta partículas de plástico que não são retidas na Estação de Tratamento de Água e seguem para os corpos hídricos, somando-se às sopas de plásticos nos oceanos. Por isso, Nara diz que precisamos repensar tudo que consumimos, pois estamos consumindo inconsequentemente. A indústria da moda emprega 1/6 da população mundial e é a segunda que mais polui (a primeira é do petróleo). São utilizados mais de oito mil produtos químicos e 1/3 do que é produzido vira lixo antes de chegar às lojas! Os documentários China Blue e True Cost falam sobre esses e outros impactos da indústria. Para combater isso, a moda precisa ser sustentável. Isso quer dizer que ela precisa ser atemporal (não ditada pelas estações do ano, sem data de validade), respeitar todas as formas de vida e oferecer trabalho digno para os colaboradores.

Nara

Outra percepção que precisamos mudar, diz Nara, é a de preço versus valor. Temos uma noção distorcida do que é caro e barato, devido à externalização de custos que as indústrias praticam para que o consumidor pague um preço baixo – só que desta forma, quem paga os custos reais de produção de qualquer coisa são o ambiente, as formas de vida afetadas nos processos e os trabalhadores. No seu ateliê, Nara trabalha com tecidos naturais (como linho e cânhamo, que são inclusive mais sustentáveis que o algodão) e materiais de reuso como redes de pesca, que são frequentemente deixados nas praias e matam milhões de animais marinhos a cada ano. Para estampar, ela usa a técnica ecoprint de tingimento vegetal, com coloração extraída de flores e plantas. Depois de Nara, quem falou foi Natália Fernandes, que enquanto formanda do curso de Design de Moda, desenvolveu um trabalho de transformação de redes de pesca em capas de prancha.

Natália

Foram apresentados ainda dois projetos desenvolvidos em Florianópolis. Um deles é o Projeto Lixo Zero no Colégio de Aplicação da UFSC em 2014 e 2015 e na Escola Básica Donícia Maria da Costa desde 2016. Quem apresentou o projeto foram Isabela Tsutiya Andrade e Marília Schmitz, acadêmicas do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental e educadoras do Núcleo de Educação Ambiental (NEAmb) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O projeto inclui a sensibilização quanto à temática dos resíduos sólidos na escola, a criação de um grupo coletivo lixo zero com estudantes, a preparação de atividades com esse grupo e o desafio lixo zero.

O outro projeto apresentado foi o da Coleta Seletiva Solidária na UFSC. A coleta foi implantada em junho de 2017 e tem coletores para recicláveis e rejeitos. O objetivo do projeto é consolidar a coleta por meio da sensibilização, orientação, capacitação e mobilização da comunidade universitária, além de apoiar a inclusão social, econômica e tecnológica dos catadores de materiais recicláveis.

Por fim, para incentivar as pessoas a reaproveitarem seus resíduos orgânicos, teve uma oficina de compostagem, em que Maria Gabriela Knapp, da empresa Brotei, ensinou como manter um minhocário em casa ou apartamento. Uma dica é prestar atenção no chorume (subproduto da decomposição dos orgânicos, pois 70% deles é água), porque se ele tiver cheiro é sinal de desequilíbrio nas caixas digestoras (onde as minhocas fazem a decomposição dos alimentos). Uma forma de equilibrar é evitar cozidos com sal e colocar bem pouco os cozidos sem sal (o ideal é consumir tudo o que for cozido). O importante é equilibrar o nitrogênio (orgânicos) com o carbono (elemento seco como folhas, palha e serragem). Outra dica é revirar os orgânicos já presentes na caixa antes de acrescentar para acelerar o processo de compostagem, pois isso oxigena a mistura. Durante a oficina, ela também passou outras informações bem interessantes sobre compostagem, como a do processo que utiliza a mosca soldado na fase larval no lugar da minhoca californiana, pois ela decompõe os alimentos na proporção de quatro vezes o seu próprio peso por dia, enquanto que a minhoca decompõe o dobro do seu próprio peso. Quanto à caixa, existe a opção de fazer o minhocário em caixas de feira forradas com vidro. No Peru, estão sendo produzidos minhocários de barro. A Brotei é uma empresa de Florianópolis que faz a gestão de resíduos orgânicos compostáveis com serviços de coleta seletiva de orgânicos, composteiras e hortas para escritórios, condomínios e residências.

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Não é lixo até que seja desperdiçado - IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero

Por Letícia Maria Klein •
27 outubro 2017
De 20 a 22 de outubro aconteceu o IV Encontro Internacional Juventude Lixo Zero, na Unisul Pedra Branca, em Palhoça/SC. Participei com minha amiga e colega de JLZ Blumenau e este é o primeiro de três posts em que vou contar tudo que rolou no evento. Para adiantar: foi magnífico! Este post fala sobre o panorama dos resíduos no mundo hoje, o segundo será sobre pessoas que são exemplo quando se fala em lixo zero e o terceiro trará muita inspiração para a vida.

O primeiro palestrante foi Jonathon Hannon, coordenador do Zero Waste Academy (ZWA) na Nova Zelândia, que fica no Instituto de Recursos Naturais da Universidade Massey. Ele trabalha com ensino, pesquisa e participa do Grupo de Direção à Sustentabilidade da universidade. Jonathon mostrou algumas dimensões dos resíduos, como situações de desastres, equipamentos tecnológicos, plástico nos oceanos, telefones celulares, medicamentos e outras.

De acordo com o Global Waste Management Outlook – Summary for Decision-Makers, relatório sobre o panorama dos resíduos no mundo, produzido pela UNEP (autoridade das Nações Unidas para o meio ambiente) e ISWA (Associação Internacional de Resíduos Sólidos), hoje são gerados de 7 a 10 bilhões de toneladas de resíduos sólidos no mundo por ano, dos quais 2 bilhões de toneladas são resíduos sólidos municipais (os orgânicos, recicláveis e rejeitos que produzimos todos os dias); o restante se divide em construção e demolição e comércio e indústria.

Os oceanos estão poluídos com 150 milhões de toneladas de plástico! Há 3.5 bilhões de pessoas (52% da população mundial) sem acesso a instalações para disposição final ou tratamento de resíduos, convivendo diretamente com poluição e risco de doenças. O custo de deixar tudo do jeito como está é de 5 a 10 vezes maior do que o custo de resolver os problemas causados pelo lixo e trabalhar na prevenção e tratamento.


Segundo o documento, as metas são:
- Até 2020: garantir acesso de todos a serviços de coleta de resíduos sólidos que sejam adequados, seguros e acessíveis e acabar com lixões e queima de resíduos a céu aberto.
- Até 2030: alcançar a gestão sustentável e ambientalmente saudável de todos os resíduos, particularmente os perigosos; reduzir substancialmente a geração de resíduos através da não geração e dos 3 Rs (reduzir, reutilizar, reciclar) e criar empregos verdes; reduzir pela metade o desperdício de alimentos globais per capita no varejo e níveis de consumo e reduzir as perdas de alimentos na cadeia de fornecimento.

Um dado muito interessante que Jonathon mostrou, presente no relatório, é que a quantidade de alimentos desperdiçados hoje no mundo por ano (1,3 bilhão de toneladas) daria para alimentar todas as pessoas subnutridas duas vezes. Se não houvesse esse desperdício, 9% do total de emissões de gases de efeito estufa em nível mundial deixariam de ser emitidos. Além disso, a economia circular (que prevê o reaproveitamento de tudo) tem o potencial mundial de gerar de 9 a 25 milhões de empregos verdes. Por fim, a mensagem é de que nada é lixo até que seja desperdiçado e se agirmos como nossa mãe natureza, que é um sistema lixo zero por excelência, podemos reaproveitar tudo.

Além disso, como disse Nury Morales, da Fundación Basura, do Chile, mais vale prevenir do que gerenciar resíduos, porque os impactos são bem menores e se economiza dinheiro. A fundação presta assessoria a empresas e capacita pessoas para uma vida lixo zero e para a economia circular, em que o valor dos resíduos é recuperado através da sua reinserção em novos ciclos de operação por meio do ecodesign, reutilização, reciclagem, compostagem e biodigestão.



Tião Santos apresentou vários dados nacionais. Ele cresceu no lixão do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, considerado o maior da América Latina e que foi fechado em 2012. Tião se tornou catador de materiais recicláveis e presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho e participou do documentário Lixo Extraordinário, lançado em 2007. Eu já o tinha visto no I Congresso Nacional Juventude Lixo Zero, em 2014. Uma curiosidade que Tião trouxe é a origem da palavra lixo, que vem de lix, em latim, e significa cinza, alusivo a uma época quando o que mais sobrava nas casas era a cinza do fogão. No extinto lixão, os mais de mil catadores coletavam 200 toneladas por dia de material reciclável, o equivalente aos resíduos diários de uma cidade de 400 mil habitantes e a previsão é que sejam gerados 70% mais resíduos em 2030 no Brasil.

Hoje, 60% dos catadores brasileiros vivem em situações degradantes, similares ao que acontecia em Gramacho. O país perde R$ 8 bilhões anualmente por não reaproveitar os resíduos, pagando para coletar, transportar e enterrar. Tião explica que, infelizmente, a reciclagem no país surge a partir da exclusão social e da pobreza, como uma fonte de renda. E neste contexto, os catadores não são reconhecidos por seu trabalho (que é fundamental!). Empresas de garrafas PET que contratam cooperativas para mediar a logística reversa dos seus produtos pagam cerca de R$ 1,00 por dia para o catador. Foram 294 mil toneladas de garrafas PET coletadas em 2012 e 341 mil toneladas em 2016. Como disse Tião, “consciência não se vende, se constrói com educação”.



Essa consciência vai nos fazer entender que precisamos gerenciar recursos e eliminar a ideia de lixo e de desperdício, diz Pål Mårtensson. Em São Paulo, por exemplo, são desperdiçadas 10 mil toneladas de comida por dia, que poderiam ser reaproveitadas de várias formas ou mesmo poderiam ser evitadas. Ele diz que lixo zero é sobre pessoas, pois os humanos são a única espécie que produz lixo, coisas que a natureza não consegue compostar nem reciclar. Por isso lixo zero é uma visão, precisa de tempo para acontecer, paixão e persistência sempre. Pål fundou o maior parque de reciclagem do mundo, localizado em Gotemburgo, na Suécia, coordena o departamento de gestão de resíduos e recursos hídricos da cidade e integra a Aliança Internacional Lixo Zero. É mentor do movimento Let’s do It (Movimento Limpa Brasil, por aqui), que pretende reunir mais de 300 milhões de pessoas para limpar praias no ano que vem. O World Clean Up Day está marcado para 15 de setembro de 2018.

Por falar em datas, até o dia 30 de outubro acontece a Semana Lixo Zero em 30 cidades brasileiras, com cerca de 1500 eventos. A Semana é um produto do Instituto Lixo Zero Brasil, presidido por Rodrigo Sabatini, que falou rapidamente sobre a confusão que a indústria provoca para legitimar o rejeito que vai para o aterro. A Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê uma ordem de prioridade na gestão dos resíduos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamentos para reaproveitamento (como compostagem) e, como último recurso, a disposição em aterro sanitário dos rejeitos. A mistura de resíduos recicláveis e orgânicos, que impossibilita ou no mínimo dificulta o reaproveitamento de ambos, é tida como rejeito e Rodrigo afirma que a indústria vai fazer de tudo para legitimar o rejeito para que possa mandá-lo para o aterro. A mesma coisa acontece com os conceitos de “lixo úmido” e “lixo seco”, que não são claros. Uma casca de banana é úmida ou seca? Assim, lixo zero é uma meta ética, econômica, eficiente e visionária. Para Rodrigo, não existe nada mais revolucionário no mundo do que ser lixo zero, pois é contrário ao sistema linear de produção, consumo e descarte vigente hoje.

O lixo, para Leslie Lukacs, é uma falha no sistema, pois se as entradas (insumos) são controladas, as saídas (resíduos) também são. A consultora e coordenadora de programas de sustentabilidade dos Estados Unidos, que também foi uma das fundadoras da Juventude Lixo Zero EUA, disse que a noção de “jogar fora” surgiu depois da Segunda Guerra Mundial, acalentada pela obsolescência programada. Ela mostrou artes de propagandas de antes e durante o período bélico que alertavam justamente para a importância de conservar e ter bens duráveis. A cada dois anos, os estadunidenses são estimulados a trocar de celular, por melhor que esteja o atual, e a manutenção não é incentivada. Por isso, surgiram no país movimentos clamando pelo direito de reparar e reutilizar as coisas.

No seu trabalho, ela orienta empresas e governos a gerenciar seus resíduos sólidos, priorizando a reciclagem e a compostagem. Um dos exemplos que ela mostrou foi um projeto feito nos estádios de futebol de Ohio, que após dois anos, conseguiram reduzir em 61% os resíduos que os torcedores produziam, através da separação correta e campanhas de conscientização. O que eles também fizeram foi eliminar determinados itens dos produtos à venda, como o papel alumínio que embalava um salgado (que já vinha numa embalagem de papel) e as tampas e canudos dos copos de refrigerante. Como ela disse, se as pessoas tomam cerveja direto do copo, porque precisam de canudo para outras bebidas? Outro exemplo que ela compartilhou foi a pesquisa de um agricultor, que descobriu que o composto aplicado no pasto aumentou a absorção de gás carbônico pelas gramíneas. Assim, os resíduos orgânicos, que são a terceira maior fonte mundial de emissão de metano nos aterros sanitários, o que contribui para as mudanças climáticas, podem ser compostados e ajudar a eliminar o mesmo problema que causam quando aterrados.



Leslie viajou ao Brasil com seu filho adolescente Nathan, que falou sobre a escola sustentável de Ensino Médio que frequente, a Credo High School, a primeira escola a seguir os 10 princípios da iniciativa One Planet Living, criada em 2003 pela empresa Bioregional, na Inglaterra. Os princípios são: carbono zero, lixo zero, transporte sustentável, materiais sustentáveis, alimentos locais e sustentáveis, água sustentável, uso da terra e vida selvagem, cultura e patrimônio, equidade e economia local, saúde e felicidade. A escola, localizada na Califórnia, tem vários projetos para cada princípio. Os relacionados ao lixo zero são: estudo de caracterização dos resíduos, feira lixo zero (feira de trocas, em que cada item vale pontos e quanto mais bem cuidado o item a ser trocado, mais pontos o estudante ganha para trocar por outra coisa), dia de limpeza de praia e dia do surfe, limpeza da bacia hidrográfica da região, tijolos feitos a partir da compactação dos resíduos do Dia das Bruxas, estação de hidratação para as pessoas encherem suas garrafas, programa de redução de papel, desafio dos potes, Juventude Lixo Zero EUA, compostagem e agricultura.

A JLZ EUA também participou do evento. Quatro jovens representantes (Alina Bekkerman, Allie Lalor, Dennis Uyat e Greg Dudish e) vieram da área da baía de São Francisco para contar sua experiência com o movimento. Duas delas aconteceram na Universidade Berkeley, onde foi feito um evento mostrando toda a comida desperdiçada num dia (um total de 200kg), e a criação de uma loja de roupas usadas a partir de peças que os estudantes deixam nos alojamentos quando vão embora. Outro exemplo foi o da Universidade do Texas em Austin, que fez um evento para coletar resíduos eletroeletrônicos. Eles também falaram sobre algumas metas do governo. A prefeitura de São Francisco pretende deixar de enviar 50% dos resíduos orgânicos para os aterros até 2020 e reduzir o volume dos aterros em 75%, redirecionando resíduos para compostagem e reciclagem e trabalhando a redução. A equipe fez o convite para a Zero Waste Youth USA Convergence, que será realizada em 06 de março de 2018 e deixou um recado para todos: use sua voz sempre que puder!




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O papel da alimentação num mundo sustentável

Por Letícia Maria Klein •
19 outubro 2017
No quarto e último vídeo da série “Da Schumacher para o mundo”, a conversa gira em torno da alimentação como fundamento de um mundo sustentável, a alimentação orgânica e a importância de nos conectamos com a comida, do cultivo ao consumo. Para esta conversa muito interessante, entrevistei a agricultora chefe Jane Gleeson, a cozinheira chefe Julia Ponsonby, as chefes vegetarianas Ruth Rae e Tara Vaughan-Hughes e a colaboradora Voirrey Watterson, que faz o pão de fermentação natural consumido todos os dias na Schumacher College. O vídeo com o principal das entrevistas e as entrevistas completas estão abaixo. A discussão rendeu!



Qual a importância de ter acesso à comida orgânica?Jane Gleeson: Eu acho que o acesso à comida orgânica é fundamental. Não deveria ser privilégio dos que podem comprar. E esta situação doida em que nos metemos [em termos de alimentação com agrotóxico e industrial] é de que geralmente nos custa mais do que a alimentação não orgânica. Mas, claro que há muitos fatores que não são inseridos nessa equação. Na realidade, a produção de alimentos orgânicos não é mais cara. Se feita da forma adequada, pode ser mais barata, na verdade, porque você não gasta com pesticidas e fertilizantes etc. Então, a questão dos custos é falsa. Há também outro ponto: nós teremos que mudar de opinião sobre o preço que pagamos pela comida. Precisamos pagar o valor apropriado pela nossa comida, que no momento é tão fortemente subsidiada. E claro que, se você for um pequeno agricultor, você não se beneficia com essa situação. Na verdade, é bem difícil ganhar a vida se as pessoas não estão dispostas a valorizar a comida e pagar por ela. Em termos de alimentação humana, nossa nutrição é uma necessidade básica. Porém, estamos dispostos a pagar bem mais caro por coisas mais distantes na hierarquia de necessidades. Gastamos muito mais com a nossa casa do que com a nossa comida. Por isso ela foi barateando ao longo dos anos. Até que essa visão de mundo mude, as pessoas vão considerar a comida orgânica cara, e na verdade, ela não é. Até termos um entendimento completo do nosso sistema alimentar e do seu valor, vai ser difícil convencer as pessoas, especialmente as de baixa renda, que vale a pena consumir orgânicos.

Qual a importância de se conectar com a comida?Jane Gleeson: Eu penso que é muito importante que as pessoas tenham uma conexão forte com a comida e de onde ela vem. É chocante pensar, por exemplo, que tem pessoas que não sabem qual é a aparência de um pé de brócolis. Também acho que produzir alimentos numa escala pequena, sem grandes maquinários e insumos pesados, se você se afasta do modelo industrial, é um trabalho intenso, mas se todos vissem o cultivo de alimentos como parte do seu dia a dia, de alguma forma, eu penso que isso dividiria o peso e tornaria a tarefa agradável. Algumas pessoas acabam tendo um alto ideal do que é a alimentação orgânica e pode parecer difícil às vezes, se há poucas pessoas fazendo isso. Quanto mais pessoas fizerem isso, é uma situação ganha-ganha. As pessoas se conectam com a comida, veem de onde ela vem e veem a importância do desenvolvimento dos vegetais e como eles crescem bem. Se as pessoas dividem a tarefa, a tarefa se torna agradável. É uma pena que muitas pessoas nunca tenham visto uma planta germinar. A realidade é que muitas pessoas moram em cidades e não têm acesso à terra, mas viver no campo não é a única forma de ser sustentável, tem que haver outras maneiras de as pessoas fazerem isso. Então, eu penso que todos os movimentos de permacultura e sustentabilidade urbana e como pensar e criar espaços de produção de alimentos orgânicos nas cidades são fundamentais.

Como podemos reduzir o desperdício de alimentos?Julia Posonby: Quando você cozinha, considere a quantidade de pessoas que vão comer. Se você faz uma receita para seis pessoas, mas só uma vai comer, congele o restante. Outra forma é consumir alimentos orgânicos, pois não há necessidade de descascá-los. Você também pode ver o desperdício de comida não como lixo, mas como recurso que retorna através da compostagem, que vai produzir um solo muito rico para as frutas e verduras que você produz. Com o restante dos alimentos você também pode alimentar animais, como galinhas. É mais difícil em larga escala, quando se pensa em termos de comércio e grandes mercados. Na Schumacher College nós lidamos bem com o desperdício, pois fazemos compostagem, congelamos bem os alimentos e temos o dia das sobras, em que as pessoas comem o que sobrou da semana. Você pode ser criativo ou só esquentar as sobras como estão. Não fique comprando comida nova, saiba sempre quantas sobras tem na geladeira. Não tenha vários potes com pouca comida dentro, que são empurrados para o fundo da geladeira e ficam mofados.

Como podemos nos reconectar com a comida no nosso dia a dia com nossas agendas lotadas?Julia Posonby: Com as nossas agendas lotadas, nós precisamos priorizar a comida. Preparar a comida e comer junto é muito importante para nos conectamos, compartilhar a comida é muito importante. Se mesmo nas nossas próprias rotinas nós não conseguirmos ter tempo de cultivar alimentos e cozinhar todos os dias, talvez nós possamos fazer um grupo com outras pessoas, nos revezar para cozinhar e compartilhar a comida. Talvez tenhamos algum produtor local envolvido em nosso círculo. Também podemos cultivar alguns vegetais no peitoril da janela. Há cada vez mais iniciativas relacionadas à comida. Podemos participar de um sistema de recebimento de caixa de alimentos. Precisamos encontrar um perto de onde moramos e nos inscrevermos. Você se conecta com a comida quando você vê como ela se parece e se envolve na sua preparação, em vez de comprá-la direto do mercado embalada em plástico, geralmente já um pouco velha, então o valor nutricional não é tão alto como quando você come comida fresca. E então sentir o bem-estar que os alimentos frescos, orgânicos, te dão. Reconectar com o alimento da terra à mesa, com uma atividade compartilhada.

Ruth Rae: uma das melhores formas de se conectar com a comida é vê-la de uma ponta à outra da jornada, seja indo ao mercado comprar ingredientes ou cultivando-a na sacada ou indo à feira de produtores locais. E então cozinhar em casa, juntar a família, mesmo se for uma vez por semana para fazer alguma receita. Outra forma é ter acesso a restaurantes, talvez trabalhar na cozinha por uma semana para ver como é a jornada do alimento. Ter essa questão nas escolas também é importante. Nós costumávamos ensinar as crianças a cozinhar nas escolas aqui na Inglaterra e isso acabou por um tempo, mas agora está voltando aos poucos.

Qual é o papel da comida num mundo sustentável?Julia Posonby: A alimentação é um dos fundamentos de um mundo sustentável. Quando pensamos em comida local, em um mundo sustentável, em que há menos carbono sendo emitido em viagens aéreas e marítimas, isso implica que precisamos produzir alimentos localmente. A produção local de alimentos é fundamental para um mundo sustentável, em que as pessoas possam comer onde produzem. Não estou dizendo que não pode haver comida indo de um lugar a outro, porque é muito bom poder ter alguns temperos de outras partes do mundo que não conseguimos cultivar aqui, mas eles são pequenos e leves. Podemos ter essas coisas que não têm alto custo para o ambiente, mas ter a principal parcela da sua dieta produzida localmente. Isso é muito importante num mundo sustentável. Também porque nos incentiva a nos envolver com a produção local de alimentos e isso aumenta a conexão entre as pessoas e estimula a ideia do faça você mesmo e se envolver na colheita e ver como as coisas acontecem.

Como comer bem causando o menor impacto ambiental?Tara Vaughan-Hughes: Comer orgânicos, alimentos locais e da época. Outra forma muito útil é aprender a cozinhar. Assim, você consegue fazer uma ótima refeição a partir do que tem em casa e se sentir satisfeito, porque satisfação e saciedade são uma das coisas mais importantes quando você come. Nessas condições, você consegue fazer um banquete a partir de repolhos e nabos.

Quais as diferenças entre o fermento pronto para pão e a fermentação natural?Voirrey Watterson: O fermento pronto remonta ao início da produção industrial de pão, por isso se tornou tão popular. Nos países do leste europeu ainda se usa o sourdough [fermento para fazer pão que consiste numa massa de fermentação feita a partir de farinha e água, que é produzida uma única vez e a cada receita de pão é retirado um pouco e acrescida com uma parte da mistura da nova receita, sendo “refrescada”], como Rússia e Polônia. Eles comem muito pão de sourdough e conseguem fazer numa escala industrial. Agora este processo está voltando aqui na Inglaterra e as pessoas estão querendo mais este tipo de pão. Em parte porque há muitas questões de saúde em torno do trigo, as pessoas não conseguem digeri-lo apropriadamente. Há um argumento que diz que é devido ao modo como fazemos pão, pois há muito glúten não processado no produto final. Quando você tem o processo do sourdough, o glúten é muito mais processado e há outras coisas nos grãos que também são processadas dessa forma. O processo ocidental de fermentação é muito rápido e não dá tempo para as coisas acontecerem. É preciso tempo para a massa úmida e os grãos neste processo. O processo de fazer pão é uma ciência.

O que significa para você fazer seu próprio pão? Qual é a importância de fazer o próprio pão?Voirrey Watterson: Quando você faz o sourdough, tem a ver com sintonizar com um processo que conecta você a outros processos, pequenos e grandes. Seu pote de sourdough está repleto de vida e tudo interage, é uma cultura incrível que existe lá dentro. Se você pode usar isso para fazer seu pão, você começa a conhecer como é o processo. Quando estou mexendo a massa e a deixo descansar, ela começa a soltar bolhas, podemos ver que está respirando, que há vida ali. Eu vou deixá-la descansando à noite e amanhã de manhã a massa terá perdido peso. A massa está expirando gás carbônico, assim como nós, e absorvendo oxigênio. Há todas estas trocas acontecendo, produtos diferentes de diferentes organismos, que são consumidos por outros organismos. Assim a farinha contém mais organismos e fica bem feliz dentro do seu pote na geladeira. Fazer pão significa sintonizar com a vida e com vidas misteriosas, pois sei que existem organismos e que eles estão fazendo essas trocas, não sei precisamente como eles são. Não conheço os detalhes, mas me beneficio do processo. Isso acontece em nosso estômago, no nosso corpo, no solo, no ar e nós somos parte disso. Há diferentes níveis de sistemas mágicos e misteriosos. Podemos estudar as partes e saber os detalhes, mas no todo nós esperamos que tudo funcione da maneira que é.
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Design para harmonia, resiliência e adaptação às mudanças

Por Letícia Maria Klein •
20 setembro 2017
O Ecological Design Thinking (algo como pensamento de desenho ecológico) é uma das modalidades mais recentes do design e tem tudo a ver com empatia. No terceiro vídeo da série “Da Schumacher para o mundo”, o tema é o papel do Ecological Design Thinking (EDT) no mundo e como podemos aplicá-lo nas nossas vidas. Conversei com Seaton Baxter, ex-coordenador do curso de mestrado em EDT da Schumacher College (ele se aposentou no fim de 2016) e com Mona Nasseri, que trabalha na faculdade como pesquisadora em design e membro da equipe do mestrado. As entrevistas completas e recheadas de informações interessantes estão abaixo. Como eu fico muito curiosa para saber o que você achou, deixe seu comentário no fim da postagem e nós vamos conversando. 



Como Ecological Design e Design Thinking se combinam em Ecological Design Thinking?Seaton Baxter: A ideia de Ecological Design é muito mais velha do que Ecological Design Thinking. Provavelmente, os primeiros usos de Ecological Design datam de 1980, quando começou com pessoas como John e Nancy Todd e David Orr. Eu comecei Ecological Design como um curso de mestrado em Aberdeen in 1992. Na época, Ecological Design era visto como uma extensão do trabalho dos projetistas, era orientado a pessoas que tinham habilidade de projetar e foi apenas estendido pela dimensão ecológica. Nossa preocupação era que, enquanto vimos muitos exemplos de lindos projetos, também vimos muitos maus exemplos pela perspectiva ecológica. Um exemplo clássico seria o projeto lindo de carros motorizados, mas a dimensão ecológica da poluição que sai da exaustão nunca havia sido considerada. Então, os carros são um exemplo de bela engenharia, mas ninguém pensou nas consequências dos gases saindo dos canos de exaustão. Se tivessem pensado, teriam considerado a perspectiva ecológica. Então, em 1992 começamos um curso de mestrado em Ecological Design em Aberdeen e acho que foi um dos primeiros cursos do gênero no mundo. A ideia era que reuniríamos estudantes de design e também de biologia e ecologia. Mas tivemos dificuldades: os estudantes de design não tinham nenhum conhecimento de biologia ou ecologia, portanto, eles achavam muito difícil lidar com ecologia no nível de mestrado. Eles teriam conseguido lidar em nível de graduação, mas não de mestrado. Em contraste, os cientistas que vieram dos campos de biologia e ecologia conseguiam lidar com design. Eles nunca seriam bons projetistas, pois leva tempo para isso acontecer, mas eles conseguiam lidar bem com os conceitos. Este foi o começo e Ecological Design era a matéria de então. Eu achei na época que nós não tínhamos realmente material de base para resolver a questão. Em outras palavras, era muito fácil pensar que era apenas design com “ecologia” colocada na frente. O que isso significaria? Nós ainda não tínhamos descoberto. Cerca de 10 anos depois, eu fui convidado pela Universidade de Dundee, onde eu reuni um pequeno grupo de acadêmicos de PhD e criei um centro para estudo de Design Natural. Durante os 10 anos seguintes, nós criamos 10 ou 15 teses de PhD que analisaram o que é Ecological Design [desenho/projeção ecológico]. Estávamos construindo toda uma plataforma de informação sobre esse assunto. Então a universidade quis que eu me aposentasse e três anos depois a Schumacher College decidiu criar um mestrado em Ecological Design Thinking, não apenas Ecological Design, e perguntou se eu estaria disposto a colaborar. Então esta é a diferença: Ecological Design, num nível de mestrado, realmente precisa ser voltado para pessoas treinadas em design, é uma elaboração das suas técnicas de design. É uma elaboração significativa, pois é ecológica. Porém, a Schumacher queria trazer pessoas que não necessariamente têm habilidades de design. Nos últimos 10 anos, desenvolveu-se a ideia de Design Thinking, que não precisa ser feito por designers, mas é uma técnica que designers têm usado para lidar com problemas complexos. A Schumacher decidiu que a forma com que se trabalharia aqui era desenvolver um mestrado em Ecological Design Thinking, que permitiria a participação de estudantes vindos de múltiplas disciplinas. Então, EDT é a aplicação de uma técnica de pensamento de design vista pela perspectiva ecológica.

Qual é a importância do Ecological Design Thinking para o mundo hoje?Seaton Baxter: Uma forma de analisar é olhar para trás e perguntar quais são todas as coisas que fizemos de errado. A maioria das coisas que fazemos neste mundo é projetada/desenhada. Não necessariamente profissionalmente projetadas, mas quando você pensa sobre isso, quando acorda de manhã e decide qual será seu café da manhã, você projetou sua refeição. Então, estamos sempre projetando de alguma forma. Um designer muito famoso, Victor Papanek, disse que todos somos designers, só que não todos são profissionais. A questão é que todos precisamos ser designers ecológicos, ou, pelo menos, pensadores de design ecológico. Porque quando voltamos aos problemas que criamos, nós os criamos porque nunca pensamos nas consequências de um impacto ecológico, em seu maior sentido. Pense em todas as coisas que nós aqui na Schumacher falaríamos que são terríveis: quais seriam elas? A maioria delas teriam sido decisões projetadas ou pensadas sem levar em conta as consequências ambientais. Então, a maioria dos problemas que temos são problemas para os quais poderíamos ter encontrado solução se tivéssemos tido Ecological Design Thinking. Esta é uma forma de abordagem: ver todos os erros que cometemos, aplicar o Ecological Design Thinking e pensar o que teríamos feito se o tivéssemos usado. É como um desenho do passado. Mas, claro, o que temos que lembrar é: porque tudo está mudando e evoluindo, haverá novos problemas que não têm precedentes. O mais interessante destes problemas é que todos são muito complexos, problemas que você não consegue resolver ao dividi-los em partes. Na verdade, no passado, essa é que foi nossa dificuldade. Fomos muito bons em reduzir problemas a pedaços, apenas para futuramente perceber que os reduzir a partes não é igual a quando tentamos lidar com o problema inteiro, de uma forma holística. Então, agora, nós temos que ir em frente e pensar. Estes problemas complexos e perversos, como as mudanças climáticas, pobreza, obesidade, são problemas que você não consegue retirar um pedaço dele sem entender que ele está ligado a todo o resto. Então precisamos olhar para estes problemas de novas formas. E essas formas, atualmente, nos parecem associadas a Design Thinking, a técnica de lidar com problemas complexos. O interessante do Design Thinking é que não se acredita que você consiga achar uma resposta para um problema complexo. Esta é uma ideia velha de design: “aqui está o problema, esta é forma como lidamos com ele, esta é a resposta”. Essa é uma forma muito simples de abordagem. E você não conseguiria lidar com um problema complexo dessa forma. A essência de lidar com problemas complexos é o entendimento de que não existe uma única resposta; é essencialmente sobre como você lida com o problema e não como você o resolve, porque ele sempre vai evoluir. Então tem a ver com aprender a lidar com o problema, o que significa que mais design participativo. Mais design trabalhando com comunidades pequenas significa trabalhar com a comunidade de forma que ela continue evoluindo, porque o problema está constantemente mudando e não há uma única resposta. E a única coisa que constantemente muda com o problema é a comunidade. Design Thinking é uma ótima técnica, mas precisamos ter a dimensão ecológica, caso contrário, vamos acabar com Design Thinking resolvendo problemas, mas que não são ecológicos, o que gera mais problemas. Não seria uma técnica de solução em longo prazo. E ainda, a dimensão ecológica é difícil, porque toda a noção de ecologia é em si mesma um processo em constante evolução. O ecossistema a nossa volta não é o mesmo hoje do que foi ontem, está continuamente evoluindo. Ecological Design Thinking precisa ser um sistema dinâmico em constante evolução e para fazer isso não faz sentido dizer que o designer é o solucionador de problemas, as pessoas que têm o problema é que precisam lidar com ele.

Quais são as implicações de EDT para o mundo sustentável?Mona Nasseri: Primeiro, precisamos definir o que é EDT. É uma área muito nova que estamos explorando. Até agora sabemos que EDT é uma evolução do design e do Design Thinking. Temos que ter conhecimento de como o design evoliu ao longo dos últimos 30 anos. Design não é mais só sobre criar objetos e comunicar aos clientes. Até a década de 1970, era a rentabilidade do design que definia seu sucesso. Mas, gradualmente, isso mudou. Os designers perceberam que para tornar o design bem sucedido, eles precisavam satisfazer as necessidades dos usuários. Então, o design evoluiu do foco no lucro para o foco no usuário. Por volta de 1980, um novo campo do design começou a surgir. Design Thinking tem a ver com ser empático ao usuário. Não é mais sobre obter um produto num período curto de tempo com menos dinheiro, é sobre entender o usuário. Design Thinking tem sido aplicado em gestão, negócios e até na política. Nos últimos 10 anos, Design Thinking entrou na área da sustentabilidade e teve um grande papel na expansão do design para outras áreas, especialmente inovação social. Há também design de transição nos EUA, que começou há cinco ou seis anos, que tem uma visão sustentável de sociedade em curto e longo prazo. Em EDT, tentamos incorporar tudo isso, ter uma conexão profunda com ecologia e aprender com os ecossistemas. Nós não projetamos para ecossistemas. Ecossistemas não precisam do nosso design. A natureza tem um design perfeito. Mas nós podemos aprender com a natureza e fazer design para pessoas de uma forma que a natureza possa prosperar junto com os humanos. Ao invés de explorarmos o ambiente natural, nós podemos ter uma relação sinérgica com o ambiente natural e tanto a sociedade quanto os ecossistemas prosperam. Esta é a nossa missão em EDT. No passado, era sobre resolver problemas. Agora, design é sobre ver o potencial nos problemas e ver problemas não só como problemas, mas como oportunidades de fazer as coisas de forma melhor para as pessoas e o ambiente.

Cite alguns exemplos de EDT aplicados à realidade.Mona Nasseri: Alguns dos nossos estudantes pós-graduados têm se envolvido com educação. Dois deles estão trabalhando em Woodstock School (uma escola internato), na Índia, onde estão construindo um centro para a imaginação, usando os princípios do EDT para educar jovens, instigando-os a usar a imaginação e a criatividade para liderar movimentos em prol de sociedades sustentáveis. Outro estudante trabalhou no governo de Mallorca (ou Majorca) para desenvolver uma nova logomarca para o Estado e o processo foi bem interessante. Um pensador de design ecológico sabe que tudo que ele cria ou produz, basicamente tudo que ele faz, gera uma mudança no sistema. O trabalho dele consistiu em restabelecer o que estava por trás daquela logo e criar um sistema a partir de um material real, como a cor que ele usou na logo, que foi natural. Outro exemplo com o qual me envolvi recentemente é a colaboração em pesquisa com a Universidade Plymouth no nordeste da Tanzânia para explorar a resiliência ecológica e social de uma área em particular naquela região. A ideia é ter cientistas sociais explorando o lado social de impactos ambientais, cientistas naturais explorando o aspecto natural e pensadores de design ecológico para criar pontes entre esses dois com o objetivo de usar a sabedoria local para resolver problemas locais.

Como podemos aplicar conceitos de EDT nas nossas vidas?Seaton Baxter: Tudo que eu disse até agora implica que design tem a ver com como nós nos esforçamos em mudar o mundo lá fora. Esta é visão corriqueira do design, que se aplica ao mundo externo. Mas a chave, na minha visão, se as situações estão continuamente evoluindo, é mudar a si mesmo. Se conseguirmos mudar a nós mesmos, seremos capazes de sempre responder aos problemas. Acho que até agora em nosso curso nós temos sentido muita falta deste forte elemento. Em outras palavras, investimos muito tempo em dar conhecimento e habilidades aos estudantes em relação a como eles mudam o mundo lá fora. O que precisamos fazer é ter um esforço igual em termos de conhecimento e habilidade que você precisa para mudar a si mesmo. Porque, quando fizermos isto, quando estes pensadores saírem daqui, eles também vão tentar converter, não brutalmente, as comunidades com as quais vão trabalhar para mudarem internamente tanto quanto externamente. As ideias mais significativas começam com uma pessoa e esta pessoa precisa ter total comprometimento com o que vai fazer. Este comprometimento total vem de dentro. Como alguns dizem, “você é tolo ao achar que pode mudar o mundo, a única coisa que realmente pode mudar é a si mesmo”. É verdade, mas, ao mudar a si mesmo, você começa a influenciar outras pessoas. A chave para esta mudança interna para os pensadores de design ecológico é mudar a mentalidade, a maneira de ver o mundo. O lado bom disso é que você pode usar uma variedade de técnicas para mudar sua mentalidade, as quais você pode aplicar a um problema externo. Pense, por exemplo, em David Abram e sua abordagem fenomenológica das coisas. Então, se você muda sua mentalidade, não há mal algum em imaginar você como uma ave, pois isso te ajuda a mudar sua mentalidade. Apenas imaginar você como uma ave não necessariamente te ajuda a aplicar isso à solução de um problema no mundo. Mas se você mudou sua mentalidade, você já começou a mudar de posição em relação ao mundo. Portanto, algumas coisas vão mudar sua mentalidade e algumas destas podem ser altamente imaginativas e totalmente impraticáveis. Você não pode usá-las para resolver problemas do dia a dia, mas elas mudam a forma como você vê o mundo.

Mona Nasseri: EDT não é estranho às nossas existências. Design Thinking basicamente significa ter empatia para com os outros. Ecological Design Thinking significa ter empatia para com outros e os ecossistemas. É uma prática de estar constantemente consciente de outros seres, basicamente, e ter certeza que com cada ação nossa, não estamos comprometendo seu bem-estar. Parece abstrato, mas a realidade disso é que basta ver as conexões que temos, sentindo que somos parte deste grande sistema e que estamos conectados a tudo que acontece a nossa volta. Em termos de prática, eu diria que é muito importante fazer coisas [com as mãos], fabricar coisas, conectar-se com a terra, com o lugar onde estamos. Permacultura é uma parte importante disso. EDT não é só plantar e colher vegetais, é entender a sinergia entre seres vivos e sua conexão com a terra, com o solo. É um ecossistema perfeito e nós podemos utilizar princípios ecológicos ou da permacultura nas nossas rotinas. O mesmo se aplica aos nossos relacionamentos. Design Thinking é feito de uma série de processos interativos, que basicamente diz que a cada coisa que fazemos na vida, precisamos refletir sobre ela. Você não pode simplesmente fazer as coisas e passar reto. Não existe nada pronto, tudo está sempre evoluindo, é parte de um fluxo de evolução. Precisamos parar e refletir sobre tudo que fazemos na vida, aprender com isso e levar adiante.

Fale sobre sua transição profissional, quando você começou a aplicar EDT.Seaton Baxter: Foi uma transição interessante, pois eu passei 15 anos trabalhando no setor agrícola com design de equipamentos e prédios e estudando comportamento animal na agricultura. Por um período, eu trabalhei principalmente com produção intensiva de gado, galinhas e porcos, onde eu desenvolvia soluções técnicas muito interessantes (porque as pessoas me diziam que eram). Então, finalmente me ocorreu que havia algo errado, eu tinha esquecido que era sobre os animais. Em outras palavras, eu era um verdadeiro designer técnico, que só via as mudanças técnicas. Então eu escrevi um livro sobre todo o trabalho que eu fiz de soluções técnicas e na parte dos reconhecimentos, no início do livro, eu escrevi “Eu gostaria de agradecer a todos os porcos com quem trabalhei. Deve haver um caminho melhor”. Este foi o ponto de virada para mim, que veio através dos animais. Voltei para a universidade e comecei a estudar ética e filosofia animal. Então, a minha transição foi de ser um tecnologista puro através de um lado muito técnico da agricultura para a ideia de animais, plantas, plantações em termos de posições éticas e morais no design. Isso me coloca numa posição interessante com os meus estudantes, aqui na Schumacher, porque eu levanto questões e mostro-lhes imagens de produção intensiva de animais e isso é quase banido aqui na escola, porque, você sabe, somos vegetarianos aqui. Mas vivemos num mundo real e precisamos confrontar alguns destes problemas tão difíceis. Podemos não gostar, mas está aí. Milhões de animais sofrem nesta indústria e precisamos tratar deste assunto. Não basta saber sobre isso, entrar em negação e só virar vegetariano. Precisamos ir além e encarar estas questões como bons pensadores de design ecológico.

Mas se tornar vegetariano e posteriormente vegano tem a ver com a mudança interna que você mencionou antes.Exatamente, muito bem colocado, porque apesar de não ser estruturalmente uma mudança interna, é um passo para a mudança interna. Você acharia muito difícil fazer uma viagem interna profunda se ainda comesse carne. O fato de comer ou não carne não é a mudança interna, mas é o trampolim para a mudança interna e se você não fizer ambos, você está vivendo uma vida de dissonância, é incoerente. Você é confrontado com um conjunto de conflitos internos. “Por que eu tento acreditar nisto profundamente?” enquanto eu sento e como um bife. Não faz sentido. É difícil, a mudança interna é a mais difícil, porque é muito fácil quando você luta com uma mudança interna e depois desiste, pensando que ninguém vai notar.

A não ser a própria pessoa.Exatamente, o que nos leva de volta à questão de que a única coisa que você pode mudar no mundo é você mesmo.
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