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Reuso e reciclagem de roupas em Blumenau com a Caixa Solidária - que veio para ficar!

Por Letícia Maria Klein •
24 outubro 2023

Olá! Que bom que você está aqui! Eu não aparecia aqui há mais de dois anos, mas volto finalmente e com uma notícia muito boa! A Caixa Solidária, projeto social de reutilização e reciclagem de roupas, retorna a Blumenau de forma definitiva (um teste havia sido feito em 2019, com dois equipamentos). Agora temos 13 pontos na cidade, em diferentes unidades dos mercados Angeloni, Bistek, Brasil Atacadista, Cooper, Giassi, Komprão e Rede Top.  


A Rede Caixa Solidária Brasil é um empreendimento social, criado por Mateus Rossi, que une solidariedade e responsabilidade ambiental, ajudando pessoas em necessidade e contribuindo para a despoluição do nosso meio ambiente - a indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo, e a produção e consumo de peças representa um grande impacto no planeta.


Dados da Aliança das Nações Unidas para Moda Sustentável mostram que a indústria da moda é responsável por de 2 a 8% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, pelo consumo de 215 trilhões de litros de água por ano e pela perda material anual de 100 bilhões de dólares devido à subutilização das peças. Os têxteis também são responsáveis por aproximadamente 9% das descargas anuais de microplásticos nos oceanos. Outros dados, estes do relatório State of Fashion, revelam que a produção de material é a parte do ciclo de vida do produto que mais gera impactos ambientais, respondendo por 35% (em seguida vem a fabricação, com 30%; a manufatura responde por 5%; o consumo, por 25%, e o descarte, por 5%). Por isso o reuso e a reciclagem são tão importantes. 


Fonte: Mateus Rossi/Rede Caixa Solidária Brasil

A rede funciona por meio da coleta seletiva de produtos têxteis pós-consumo (nossas roupas, calçados e acessórios) em parceria com a iniciativa privada, organizações não governamentais e o poder público. As peças que estão em boas condições são doadas para instituições sociais, enquanto as demais são encaminhadas para a reciclagem.


Com 15 anos de atuação, o empreendimento possui hoje 350 caixas coletoras instaladas em cinco estados: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Nesse período, 5,7 milhões de itens foram doados e 1,9 milhão de peças de roupas foram reutilizadas, beneficiando 300 mil pessoas e 86 mil famílias. Considerando as 685 toneladas de peças recicladas, 17,1 mil toneladas de CO2 deixaram de ser emitidas e 1,4 milhão de litros de água foram economizados. A economia com coleta e envio das roupas para aterro sanitário foi de R$ 524 mil. 


Para participar enquanto doador, é só levar as roupas (em sacolas!) até a caixa solidária mais perto de você - chamada de PEV, ponto de entrega voluntária, que costuma estar em algum lugar estratégico com grande circulação de pessoas, como praças e supermercados. Você pode doar roupas, calçados, acessórios feitos de tecido, meias, bonés e gorros, toalhas, travesseiros, cobertores, lençóis, fronhas e demais tecidos - inclusive em mau estado, para que sejam enviados à reciclagem. Depois de recolhidas a cada semana, as peças são triadas e separadas para seu destino final. 


Entidades e instituições que desejam receber peças devem se cadastrar no Portal Social, onde é possível detalhar a demanda por material e acompanhar o status do pedido. Para os parceiros (que hospedam as caixas), são elaborados relatórios comprobatórios periódicos referentes aos PEVs instalados.


No site do projeto você consegue encontrar as caixas localizadas em Santa Catarina. A localização das caixas nos outros estados está na plataforma do Exército de Salvação, entidade parceira na gestão logística - até o fim do ano, todos os dados estarão unificados no site da Rede Caixa Solidária Brasil. 


A previsão é que mais de 400 PEVs estejam em operação até o fim de 2023. Uma das parcerias institucionais da Rede que tem viabilizado a expansão do projeto para todas as regiões de Santa Catarina é com a Associação Catarinense de Supermercados, que tem 922 lojas associadas no estado. Outra parceria é com o Judiciário catarinense, que firmou convênio com a Associação Cidadania em Ação para a colocação de Caixas Solidárias na sede do Tribunal de Justiça e comarcas polo. No Paraná, mais caixas devem aparecer ao longo dos próximos meses graças à parceria com a Associação Paranaense de Supermercados. 


Você já viu uma Caixa Solidária na sua cidade? Que destino você costuma dar para as peças que não usa mais? Comente aqui embaixo, e obrigada por vir. 

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Projeto Tamar em Florianópolis

Por Letícia Maria Klein •
21 outubro 2014
Quando era adolescente, eu queria ser bióloga para trabalhar no Projeto Tamar. Sempre achei o máximo poder cuidar de tartarugas e ajudar a preservar a espécie! Tive a oportunidade de visitar a unidade do Projeto Tamar em Florianópolis e comprovei que é mesmo o máximo. O pessoal faz um ótimo trabalho de educação ambiental e de preservação das tartarugas marinhas. Eles ajudam na hora da desova, cuidam das que não conseguiram sair do ninho e reabilitam aquelas que se machucam em redes para que possam voltar ao mar, entre outras atividades. E eu ainda quero trabalhar no Tamar!



Existem três tipos de tartarugas: as que vivem na terra (jabutis), as que vivem em aquários (cágados) e as que vivem no mar (marinhas). O Projeto Tamar se dedica às espécies marinhas, que são cinco no Brasil: tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-verde (Chelonia mydas) e tartaruga-gigante (Dermochelys coriacea). 


Todas as cinco espécies, em seu tamanho real

Adivinha por que a tartaruga-de-pente tem este nome? Porque o casco dela era utilizado para fazer pente, de cabelo mesmo. Imagina! Matar uma tartaruga pra fazer pente!? Usa um garfo, oras, estilo à la Ariel. 

Garfo pra pentear, genial!

Quando eu fui havia duas excursões de escola, uma de crianças e a outra de adolescentes. Foi bem interessante acompanhar a turma dos pequenos e ver como os instrutores do Tamar falam com eles, usando uma linguagem lúdica e falando a língua deles, por assim dizer. E as crianças estavam super empolgadas!

O que chama a atenção mesmo são as tartarugas nos tanques. Durante a desova, alguns filhotes que estão no fundo do ninho (as tartarugas marinhas fazem ninhos na areia da praia) não conseguem subir a pilha de ovos e acabam morrendo. Para evitar que isso aconteça, o Projeto Tamar recolhe estes indivíduos e cuida deles por toda a vida.  quatro tanques na unidade, sendo que um está com filhotes no momento. A maioria das espécies atinge a fase reprodutiva entre os 20 e 30 anos de idade. A diferença entre machos e fêmeas está no rabo (o deles é maior) e nas nadadeiras (os machos têm unhas para poder segurar as fêmeas na hora do acasalamento). 


Este é um filhote de tartaruga-de-pente

O espaço do Tamar em Floripa é muito bacana. Além dos aquários, tem sala de vídeo, onde você assiste a um vídeo de 15 minutos sobre o projeto. Segue o modelo de um telejornal, apresentado por duas tartarugas. Ao longo dos caminhos entre os aquários, há várias placas informativas, objetos e cascos de tartarugas. Tem até uma ossada de golfinho!



As placas dão várias informações sobre as tartarugas marinhas, incluindo os perigos que algumas atividades humanas representam para elas. A pesca e a poluição dos mares são os dois grandes vilões na vida destes animais. As tartarugas acabam se enroscando nas redes de pescas ou ficam presas em anzóis. Para contornar este problema, o Tamar, por meio de campanhas educativas, sensibilização e conscientização ambiental das comunidades locais, promove a busca de alternativas de subsistência não predatórias para os pescadores e suas famílias.

O problema do lixo é grande, principalmente o plástico. Como a tartaruga não tem dente, ela não identifica que está comendo um pedaço de plástico, por exemplo. Ela vai engolindo. Os plásticos no estômago da tartaruga vão ocupando espaço e criando bolsas de ar. A tartaruga, para se alimentar, sobe à superfície para respirar e depois retorna ao fundo do mar. Se o estômago dela está cheio de ar, ela não consegue descer para procurar comida e acaba morrendo de fome


Todos nós podemos ajudar neste quesito, evitando sacolas plásticas e não jogando lixo fora da lixeira. Outra forma de ajudar é fazer doações ao Tamar ou comprar os produtos, que são criados pelas comunidades envolvidas na preservação das tartarugas-marinhas. Pra terminar, um clipe bem legal que o grupo Dazaranha gravou para o projeto. 


Gostou? Já conhecia? Já visitou alguma unidade do Tamar pelo Brasil? São mais de 20 unidades ao longo do litoral brasileiro. Se tiver a oportunidade de visitar, visite, vale muito a pena! Veja também outras opções maravilhosas de passeios na natureza ou relacionados às questões ambientais que você pode fazer no Brasil.
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Bee or not to bee? Eis a (grande) questão.

Por Letícia Maria Klein •
02 outubro 2014
Sabia que as abelhas são responsáveis pela polinização de dois terços de toda a produção agrícola? A polinização, que é a transferência do pólen de uma planta para o óvulo de outra, faz com que as plantas fecundem e gerem frutos. O vento ajuda, mas os animais é que ficam com o trabalho pesado: mais de 80% da polinização é feita por eles, principalmente por insetos. As abelhas são parte fundamental deste processo. O problema? Elas estão sumindo! Desaparecendo mesmo, ninguém sabe pra onde elas vão! Bzzz...zzz...zz...z... Abelhas, polinização, alimento. Se as abelhas se extinguirem, adivinha o que também vai ficar escasso?

O caso é sério, sério mesmo. São as abelhas as responsáveis pela polinização em larga escala e não são poucas as culturas agrícolas que dependem delas. Conta só: maça, pêra, laranja, melão, melancia, café, castanha, abacate, morango, mirtilo, pepino, algodão, soja, pêssego, abóbora, cebola, castanhas, entre outras. Cerca de 70% das culturas dependem destes animais. Quanto menos abelhas nas plantações, menor será a quantidade de alimento necessário para suprir a demanda crescente das populações.



O sumiço das abelhas começou a chamar a atenção em 1995, nos Estados Unidos. Estudos foram feitos e indicam que o desaparecimento é causado por um distúrbio chamado CCD (Síndrome do Colapso das Abelhas, em inglês). Foi só em 2007 que o assunto foi discutido oficialmente, em um congresso na Austrália. Naquele país, 31% das abelhas desapareceram, segundo matéria da revista Veja. Os efeitos já são vistos também na Europa, Ásia e na América do Sul, inclusive em alguns Estados do Brasil, como SC, SP, RS e MG. 

O CCD acontece quando uma colônia de abelhas é reduzida a poucos indivíduos dentro de alguns dias ou semanas. Elas simplesmente desaparecem do mapa, deixando tudo para trás: filhotes, mel, pólen e até a rainha. Isto acontece porque a síndrome afeta o sistema nervoso das abelhas, o que impacta seu senso de direção e memória. Uma abelha com síndrome não consegue voltar pra colmeia depois de coletar néctar ou pólen nas flores. 

O que causa o CCD? São várias as possíveis origens, que precisam ser investigadas e combatidas para que as abelhas não sejam extintas. Doenças, pragas, fungos, ácaros, vírus, mudanças climáticas, formas de manejo, déficit nutricional, defensivos agrícolas. Dos agrotóxicos, os mais perigosos para as abelhas são os neonicotinoides. Tanto que, em abril de 2013, a União Europeia decidiu suspender seu uso por dois anos para analisar o impacto da ausência destas toxinas. 


Foto: Abelhas - Irina Tischenko/Getty Images/iStockphoto/VEJA

As abelhas existem há mais de 50 milhões de anos e são imprescindíveis para os ecossistemas. Einstein já dizia! “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana.” 

Com essa preocupação em mente, um grupo de pesquisadores liderado pelo CETAPIS (Centro Tecnológico de Apicultura e Meliponicultura do Rio Grande do Norte) criou a campanha Bee or not to be e uma petição pela proteção às abelhas. Lançada em 2013, ela “quer alertar a população e buscar apoio para a proteção dos insetos no Brasil e no mundo”. A petição será entregue ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Meio Ambiente em novembro de 2014 (próximo mês, gente!) com o objetivo de exigir ações efetivas para combater o CCD. Vamos ajudar! Assine e compartilhe a petição. Se quiser ajudar mais ainda, você pode recolher assinaturas e enviar para a sede do projeto. 

O site da campanha também disponibiliza o aplicativo Bee Alert, onde apicultores, meliponicultores e a comunidade científica podem registrar e documentar as ocorrências de desaparecimento ou perda de abelhas, indicando o local, intensidade e possíveis causas. As informações geradas colaborativamente ajudam no estudo do desaparecimento das abelhas e contribuem para o esforço de proteção a estes insetos. 

Além de assinar a petição e espalhar a palavra, podemos fazer mais pelas abelhas, como por exemplo, plantar árvores, cultivar flores em casa, consumir produtos orgânicos, ter colmeia em casa (com abelhas sem ferrão, claro) e consumir conscientemente, além de muitas outras atitudes e práticas sustentáveis que você pode adotar no dia a dia.

A frase de Shakespeare que inspirou o lema da campanha (To be or not to be – ser ou não ser) não foi usada apenas pela sonoridade com a palavra abelha em inglês (bee), ela tem tudo a ver com a questão. A nossa existência pode estar ligada diretamente à existência desses pequenos insetos.
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A copa e o tatu-bola

Por Letícia Maria Klein •
09 julho 2014
Graças à sua carapaça especial, esta fofura brasileiríssima que é o tatu-bola consegue se fechar numa bolinha para escapar dos predadores. Mas a Fifa é uma predadora grande e já chutou essa bola pra bem longe. Ofereceu uma quantia para o projeto de proteção da espécie, a ONG responsável considerou a oferta insuficiente e nada de patrocínio para o bichinho, que está ameaçado de extinção. Pois a Fifa que vá embora com a sua mesquinharia. Os holofotes sobre a situação crítica do tatu-bola chamaram atenção de muitos, dentro e fora do Brasil, e já tem iniciativas para resgatar a espécie do caminho sem volta da extinção.

Foto: Mark Payne-Gill

O tatu-bola-do-nordeste ou tatu-bola-da-caatinga, (Tolypeutes tricinctus), que virou mascote da copa, é exclusivamente brasileiro, só existe aqui, nos biomas Caatinga e Cerrado. Com sua carapaça de três cintos (daí o nome em latim), o tatu-bola se fecha quando se sente ameaçado e vira uma bolinha, resistente até a ataque de onça. 

Infelizmente, a carapaça não é à prova de seres humanos, que nos últimos 10 anos foram responsáveis por reduzir o número de indivíduos da espécie pela metade, tanto pela caça quanto pelo desmatamento. Hoje ela está classificada como vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Considerando esse cenário, a ONG Associação Caatinga, que trabalha para a preservação do bioma, criou a campanha que elegeu o tatu-bola como mascote da copa. A ideia foi boa. Animal que vira uma bola combina com futebol. E chama atenção para a preservação do meio ambiente. Por isso o nome Fuleco, futebol + ecologia (pensando bem, deveria ser Futeco, mas acho que o primeiro soa melhor). 

Foto: Mark Payne-Gill

Em contrapartida, a Fifa patrocinaria o projeto de preservação da espécie na natureza, desenvolvido pela ONG. Aí surgiu o problema. A associação queria 1,4 milhão de dólares (mais ou menos 3 milhões de reais) e disse que recebeu da Fifa uma proposta de 300 mil reais. A Fifa diz que ofereceu 300 mil dólares. Há divergências aí. Mesmo assim, a diferença entre o que uma queria e o que a outra ofertou é grande. 

A ONG considerou o valor insuficiente para o projeto e tudo que ele requer (pesquisas e mapeamentos). A Fifa, então, destinou a quantia para outros projetos. As negociações, aparentemente, terminaram. A federação alegou que não tinha mais dinheiro para o tatu-bola. Convenhamos, com o orçamento da copa podendo chegar a R$ 28 bilhões, é muito difícil de acreditar que não houvesse mais verba para o projeto.

Foto: Rodrigo Castro

Mesmo sem o patrocínio da Fifa, Rodrigo Castro, secretário-geral da Associação Caatinga, tem motivos para comemorar. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou o Plano de Ação Nacional (PAN) para preservação do tatu-bola. Aprovado em 22 de maio de 2014, ele tem o objetivo de diminuir o risco de extinção do tatu-bola-do-nordeste e do Tolypeutes matacus, o tatu-bola-do-Centro-Oeste. Eles querem alcançar o objetivo em cinco anos, a partir da prática de 38 ações, divididas em seis objetivos específicos. 

Além de petições online para convencer a Fifa a ajudar o tatu-bola e mobilizações voluntárias de pessoas de outros países, como Alemanha e Suíça, a própria ONG Associação Caatinga está angariando fundos para o projeto, principalmente com a venda de produtos. O que mais está chamando a atenção é um tatu-bola de pelúcia que vira uma bolinha, confeccionado de forma artesanal. Qualquer pessoa pode ajudar e de várias maneiras. Para saber mais, é só clicar no banner abaixo.


A associação, que ajudou na elaboração do PAN junto com outras entidades, também desenvolveu um programa em pareceria com as ONGs The Nature Conservancy e Grupo Especialista em Tatus, Preguiças e Tamanduás. Com o Projeto Tatu-bola, eles esperam fundar Unidades de Conservação e corredores ecológicos em áreas prioritárias para a conservação do tatu-bola, aumentar o conhecimento sobre a espécie e os ambientes naturais onde ela ocorre e promover ações de educação ambiental

O desejo dos envolvidos na preservação do tatu-bola é que, no futuro, ele não seja apenas lembrado como mascote da copa 2014, mas que esteja a salvo da extinção. Que assim seja. 

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O poder da natureza nas Cavernas de Botuverá

Por Letícia Maria Klein •
06 fevereiro 2014

O silêncio é absoluto e imponente, interrompido apenas pelas gotas de água que caem no chão em alto e bom som. Quando as luzes são apagadas, somos envolvidos pelo breu total, não dá para enxergar absolutamente nada. É quando se sente o poder de 65 milhões de anos de história. Estou nas Cavernas de Botuverá, localizadas no Parque Municipal das Grutas. A cidade fica a 63 quilômetros de Blumenau, coladinha no município de Brusque. É bem fácil chegar ao parque, mas tem que ir devagar. Do centro de Botuverá até lá são 14 quilômetros de estrada de terra bem sinuosa. Este passeio, assim como o da praia de Zimbros, fiz com meu namorado. Saímos de manhã, quase 9h e chegamos às 10h30 no parque, mais ou menos. Bem a tempo de tirar umas fotos das águas da cachoeira que chegam ao Rio Itajaí-Mirim e se preparar para o passeio que começava às 11h. O roteiro dura 45 minutos. Passa muito rápido, mas é o suficiente para se maravilhar com as formações rochosas esculpidas pela natureza ao longo de milhares de anos e que continuam a se transformar, gota após gota. 


As cavernas foram encontradas por caçadores em 1940, diz nosso guia. Ele leva o grupo de 15 pessoas (o máximo permitido em cada passeio) pelas três galerias abertas ao público. Subimos e descemos 400 degraus até o terceiro salão. Parece muito, mas nem dá pra sentir. Eu fiquei tão fascinada com as estalactites e estalagmites que não queria parar de admirar. É lindo demais, um trabalho primoroso da natureza. A água que forma os espeleotemas (nome das diversas formações rochosas de uma caverna) vem da chuva, que ao escorrer pela gruta, carrega sedimentos e minerais que vão formando as estruturas. A água também foi responsável por formar a caverna em primeiro lugar, na forma de um córrego que corria em seu interior. Ao todo, as grutas têm 1.200 metros de extensão e nove galerias. Seis são fechadas para preservação e pesquisa. 

Córrego dentro do parque que deságua no Rio Itajaí-Mirim 

Todo o cuidado é pouco nas grutas. Ao entrar e passear nas cavernas, nós estamos invadindo um ecossistema que estava preservado e intocado há milhares de anos, então não se pode fazer nada que venha a prejudicar ou estragar o ambiente. Não é possível, por exemplo, tirar fotos nem tocar nas formações, para não deteriorá-las. Existem muitas espécies de animais que moram nas cavernas, então não podemos perturbar o ambiente. São sete de morcegos e 35 de invertebrados, como grilos, minhocas, escorpiões, aranhas e animais endêmicos. Durante a visita, eu não vi nenhum. Apenas no final, já perto da saída, quando eu perguntei ao guia se ele já tinha visto um morcego. Foi quando ele disse “vários” e apontou a lanterna para o teto, onde um morceguinho estava dormindo. Não sei vocês, mas eu os acho tão fofinhos. O bichinho estava todo enrolado em suas asas, parecendo uma trouxinha, e era bem pequeno.


Escadas que levam à entrada das cavernas

É bem fresco dentro da caverna e liso também, devido à água. Por isso, todos devem usar tênis. Também para segurança, tem corrimãos ao longo do trajeto e precisamos usar capacete para não bater no teto, quando ele é baixo. Um item muito importante, diga-se de passagem (pois é, né, imagina se eu não bati a cabeça). Tem uma formação mais linda que a outra nas grutas. Estalactites afiadas e grandes pendem do teto, às vezes se encontrando com estalagmites e formando uma coluna fabulosa. Sabe quando você está na praia, pega um punhado de areia molhada na mão e vai deixando ela cair em montinhos até o chão, formando uma torre ou monte? Tem espeleotemas que têm um formato parecido, só para dar uma ideia da aparência de alguns. O mais fascinante é saber que aquelas formações levam milhares de anos pra se formar. Elas crescem um centímetro cúbico a cada 100 anos. Repetindo, um centímetro cúbico por século! Um trabalho lento e belo. Símbolo ao mesmo tempo do poder da natureza e da sua fragilidade. 


Foto oficial disponível no site da prefeitura de Botuverá

O guia contou que houve época em que as pessoas retiravam pedaços de estalactites para fazer órgãos, o instrumento musical. A natureza leva milhares de anos para esculpir ambientes magníficos e o homem vai lá e acaba com tudo em um minuto. Quando o respeito por outras formas de vida for uma coisa inerente a todo ser humano, todas as espécies do mundo viverão em paz, pois a preservação vai acontecer naturalmente. 


Era bem destas formações aqui que eram retirados pedaços para fazer órgãos
Foto oficial disponível no site da prefeitura de Botuverá

Saindo da caverna e voltando ao local de atendimento, percorremos uma pequena trilha que leva a uma cachoeira. Tinha algumas pessoas na água e nos deu uma vontade tamanha de nadar também. Mas já tínhamos planos de seguir para outra cachoeira. O caminho para ir até ela fica antes do Parque Municipal das Grutas, numa transversal da estrada principal. Ao chegar, me surpreendi com o número de pessoas. Estava lotado! Como era domingo e estava muito quente, dá pra entender o porquê. O lugar se chama Recanto Feliz e tem cabanas para alugar. Estacionamos o carro e fomos a pé até o laguinho que se forma embaixo da cachoeira. 


Borboleta no parque

A água estava bem gelada, uma delícia naquele calor. Foi a primeira vez que visitei uma cachoeira, estava mega feliz. Tinha vários peixinhos e vi também um caranguejo. Mas uma dica importante: já vá com a roupa de banho, pois só tem um banheiro perto do estacionamento. Como lá cima não tem, entrei com a roupa do passeio mesmo e voltei de biquíni pra casa. Sem problemas, por que valeu muito a pena. E eu não fui a única a fazer isso, tinha outras pessoas nadando com roupas não de banho.


Cachoeira no Recanto Feliz

Que passeio fantástico! O parque fica aberto de terça-feira a domingo e a entrada para as cavernas custam R$ 12,00 inteira e R$ 6, 00 meia. Muito barato, vamos combinar. Se você ficou interessado, super recomendo. Estar em meio à natureza é, pelo menos pra mim, uma das melhores coisas do mundo.
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Livres de novo: roxinhos de volta à natureza

Por Letícia Maria Klein •
23 janeiro 2014

Pioneiro no Brasil, um projeto catarinense reintegra à natureza quem dela nunca deveria ter saído. Graças ao programa desenvolvido pelo Espaço Silvestre-Instituto Carijós desde 2010, 43 papagaios-de-peito-roxo (Amazona vinacea) voltaram a viver livremente no Parque Nacional das Araucárias, unidade de conservação criada em 2005 que fica entre os municípios de Ponte Serrada e Passos Maia, no oeste de Santa Catarina. É o primeiro projeto de reintrodução de aves em uma unidade de conservação federal no Brasil. E está dando super certo! Em janeiro, o instituto comemorou o aniversário de três anos da soltura do primeiro grupo da espécie, que estava extinta na região há 20 anos. O sucesso da causa também se deve à participação das comunidades locais, que ganharam em 2013 um projeto de geração de trabalho e renda a partir da produção de produtos artesanais com referência ao papagaio-de-peito-roxo e à árvore araucária. Um grande exemplo de como preservar a natureza e suas espécies gera benefícios e ganhos para todos!


Já nasceram até filhotes, de acordo com relatos de moradores. A bióloga doutora Vanessa Kanaan, diretora técnica do Espaço Silvestre-Instituto Carijós e coordenadora do projeto (e autora das fotos deste post), conta que mais quatro papagaios estão à espera da próxima soltura. Assim como todos os que já foram reintroduzidos no parque, esses são vítimas do tráfico ilegal de animais silvestres e foram apreendidos no fim de 2013. Foi a partir das apreensões que o projeto surgiu. 

Vanessa conta que os pesquisadores que hoje fazem parte do projeto eram voluntários em um Centro de Triagem de Animais Silvestres, que abriga animais vítimas de ações humanas, como tráfico e desmatamento. Por falta de destinação adequada, os animais ficam no Centro por tempo indeterminado. Assim surgiu a idéia de reintroduzir os papagaios à natureza. “Por se tratar de uma espécie ameaçada de extinção, muitos requerimentos além dos necessários para outras espécies precisam ser atingidos para que a soltura ocorra. Durante uma reunião do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Papagaios da Mata Atlântica, eu conheci o Adrian Rupp, que havia feito o levantamento de avifauna do Parque Nacional das Araucárias e sugeriu que a soltura fosse feita no local, pois a espécie já era considerada extinta lá. Assim o projeto de soltura se tornou um projeto de reintrodução”, explica Vanessa. 


Para colocar o projeto em prática, vários requerimentos precisaram ser atendidos, como a Instrução Normativa 179 do Ibama e a licença SISBIO do ICMBio, que incluem fazer uma análise sanitária e comportamental das aves. Durante o processo de reabilitação, necessário para que os papagaios possam voltar a viver normalmente na natureza, eles são avaliados e passam por um treinamento comportamental para terem a chance de aprender a evitar humanos e predadores, a procurar e se alimentar de itens de sua dieta natural, a melhorar suas condições de voo e a demonstrar comportamentos típicos da espécie (principalmente em relação a outros indivíduos da mesma espécie).

A terceira soltura, prevista para este ano de 2014, já tem autorização dos órgãos governamentais responsáveis. A primeira foi realizada em 6 de janeiro de 2010 e teve 13 indivíduos. O segundo grupo, com 30 papagaios, foi solto no dia 5 de setembro de 2012. Para a terceira, o instituto está em busca de parceiros e patrocinadores. Por ser uma ONG (organização não governamental), os pesquisadores que trabalham no projeto são voluntários e o projeto depende de parceiros, patrocinadores e doadores. Parte da segunda soltura, por exemplo, teve patrocínio da Fundação O Boticário e uma campanha, liderada pelo ornitólogo Adrian Rupp, conseguiu um GPS, que é fundamental para o projeto.

Papagaios com rádio-colar

Todos os papagaios que foram soltos receberam anilhas metálicas com dados para identificação e 34 deles foram equipados com rádio-colar, que permite a localização das aves na floresta. Com o equipamento de GPS, os pesquisadores conseguem monitorar os indivíduos reintroduzidos à natureza, acompanhando a readaptação, a localização e o comportamento deles. “Eles vivem livremente em casais ou em pequenos bandos, mostrando que é possível reabilitar animais vitimas do tráfico, melhorando o bem-estar de indivíduos que passariam o resto da vida em cativeiro”, conta Vanessa, que espera que os animais se reproduzam e formem uma população viável em longo prazo. 

O monitoramento é feito mensalmente pela equipe e diariamente pela comunidade local, que relata ao instituto o dia a dia das aves. A rotina delas pode, inclusive, ser acompanhada na página do projeto no Facebook, atualizada constantemente com informações sobre os roxinhos, como são carinhosamente chamados os papagaios-de-peito-roxo. Com o monitoramento, os pesquisadores esperam encontrar os filhotes que foram avistados por membros da comunidade, prova de que a população de pouco mais de 40 indivíduos está aumentando. 

“Apesar de parecer um número pequeno, as duas solturas são de extrema importância para essa espécie ameaçada de extinção cuja população atual está estimada entre 1.000 e 2.500 aves em vida livre do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, Paraguai e Argentina, revelando a existência de poucos indivíduos para uma grande extensão”, afirma a coordenadora do projeto. Infelizmente, em 2011 um papagaio foi capturado por uma pessoa que não morava no local, uma evidência de que o ser humano ainda é uma ameaça às aves. O roxinho foi resgatado pelas autoridades responsáveis, mas não pôde ser solto no momento porque as penas de suas asas tinham sido cortadas. “Outros viraram presas, possibilitando que fizessem parte do ciclo da natureza, da cadeia alimentar”, conta Vanessa. 

O fato de que um papagaio foi capturado por uma pessoa de fora da região mostra que a educação ambiental realizada nas comunidades locais é uma grande aliada da conservação da natureza e da sustentabilidade. “Mensalmente são realizadas visitas às propriedades, onde conversamos com os moradores, realizamos atividades educativas em escolas e palestras em empresas locais. As pessoas não só se tornaram protetoras dos papagaios, como passaram a observar outras espécies de animais, e muitas nos auxiliam no monitoramento dos papagaios-de-peito-roxo”, diz a bióloga. O instituto também desenvolveu vários materiais educativos, como história em quadrinhos, calendário e panfletos informativos.

Palestra em escola

O programa de reintrodução dos papagaios virou até fonte de renda para quem mora na região. “Mais de 15 comunidades locais vem sendo atendidas pelo projeto e nossa área de trabalho e número de pessoas atendidas aumenta a cada mês. Em 2013 iniciamos o projeto de geração de trabalho e renda para as comunidades locais, onde mulheres produzem itens artesanais com os temas papagaio-de-peito-roxo e araucária”. Vanessa afirma que as pessoas estão mais conscientes. “Prova disso é que ainda monitoramos animais da primeira soltura em 2010 e muitas das informações que nos ajudam a localizá-los são repassadas pela comunidade. Acredita-se que a retirada de animais silvestres da natureza foi o principal motivo da extinção local, então ter animais soltos há três anos é uma das evidências dessa mudança de mentalidade”, explica. 

Que baita projeto, né! Está ajudando uma espécie a voltar a viver num local onde já estava extinta desde a década de 1980, ajudando famílias que moram na região a ter uma renda extra e propagando, através da educação ambiental, a importância de preservar a natureza. Você já conhecia o projeto? Conhece algum outro parecido na sua cidade ou região? Não deixe de comentar!
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Muitas pessoas com uma paixão por observar aves

Por Letícia Maria Klein •
19 setembro 2013
Como é bom conhecer pessoas! Quando se tem afinidades com elas ou gostos em comum, melhor ainda. Assunto não falta e a troca de experiências é riquíssima. Foi nesse clima alto astral que eu passei o fim de semana, em meio a pessoas com muita história pra contar, muito conhecimento pra compartilhar e uma grande paixão em comum: as aves. Foi minha primeira vez como observadora de aves desde que eu conheci esta atividade fantástica no começo de 2011 e que virou tema do meu projeto experimental em jornalismo. Enquanto a maioria dos participantes chamava os bichinhos pelo nome científico, eu mal sabia o nome popular. Mas tudo bem, é assim que se começa. Afinal, como diz o ditado, é de grão em grão que a galinha enche o papo. 

Foto: Maicon Mohr

E de ave em ave, minha (futura) listinha no Wikiaves vai aumentando (eu ainda não criei uma, mas abafa o caso...). A lista do pessoal que estava presente no evento já é bem extensa, todos apaixonados por observar e/ou fotografar as mais diversas espécies. Foi por causa das aves e da paixão por elas que o grupo de observadores se reuniu nos dias 14 e 15 de setembro na cidade de Timbó, vizinha a Blumenau (SC). A primeira edição do Avistar Vale Europeu Catarinense, um desmembramento regional do Avistar Brasil, foi organizada e realizada pelo Coave – Centro de Observação de Aves do Vale Europeu em parceria com o Avistar Brasil

O encontro teve 10 palestras com temas variados e dois workshops, um sobre fotografia de aves e outro para iniciantes sobre observação de aves. Foi este que eu fiz. No sábado de manhã foi a parte teórica e no domingo de manhã a parte prática (eba!). Foi incrível! Em 2011, para o projeto da faculdade, eu apenas documentei e não cheguei a observar as aves de fato. Então imagina a minha euforia cada vez que eu conseguia focalizar uma com o binóculo e enxergar direitinho as cores, o bico e outras características que ajudam a identificar a espécie. Super show, adorei! 

O savacu ficou um tempão nas pedras

Tirei algumas fotos de aves, mas como minha câmera é daquelas digitais básicas, você fica meia hora pra achar o passarinho na fotografia. Uma das que ficaram melhores é esta aqui em cima do Nycticorax nycticorax, conhecido popularmente como savacu. Bonitinho ele, né! Ele estava bem pertinho do local onde foram realizadas as palestras. Para a segunda parte dos workshops, para observar e fotografar as aves em natureza, nós fomos ao Jardim Botânico da cidade. Um lugar muito bacana e com várias aves. Algumas até ficavam perto da gente, no chão, caminhando ou pulando de um lado para o outro. 

Quem deu o workshop de observação foi o biólogo Eduardo Alexandrino. Sabe o Túlio, do filme de animação Rio? Então, Eduardo serviu de inspiração para o personagem! Haha, brincadeirinha, mas que os dois são bem parecidos, são. Os amigos até chamam Eduardo de Túlio, às vezes. Como estavam presentes observadores com bastante experiência, a parte teórica do workshop foi muita rica em conhecimento. Os encontros para observação de aves, conhecidos como Avistar, começaram oficialmente no Brasil na primeira década do século XXI. Mas, como eu soube durante o workshop, na década de 1980 já se realizava o ENOA – Encontro Nacional de Observadores de Aves. O problema é que não há registro disso, então sempre há muito que pesquisar e descobrir no campo da observação de aves no Brasil. 

Eduardo "Túlio" Alexandrino contando o histórico da 
observação de aves e ensinando técnicas para observá-las

As palestras também foram ótimas. No primeiro dia, Guto Carvalho, um dos organizadores do Avistar Brasil, falou sobre o porquê de observarmos as aves. Na verdade, são mais elas que observam a gente do que o contrário. Você sabia que elas enxergam bem melhor do que os humanos? Algumas conseguem identificar um alvo de dois milímetros a 18 metros de distância! Elas também enxergam mais cores, pois veem o infravermelho e o ultravioleta. Outra curiosidade é que elas vêm o mundo em outra velocidade. Enquanto nós enxergamos 30 quadros por segundos. (a maioria dos filmes é rodada em 24 qps), algumas aves enxergam 120 quadros por segundo. É como se elas vissem o mundo em câmera lenta. Por isso elas são tão boas predadoras. 

Excelente palestra a do Guto, falou com paixão sobre as aves

A palestra seguinte, do ornitólogo e guia de observação de aves Adrian Eisen Rupp, foi sobre os roteiros turísticos para observação de aves na natureza aqui no Vale Europeu, no estado. Ele viaja por vários lugares do Brasil e outros países da América Latina guiando pessoas que gostam de observar aves. Profissão legal, né! E de muito estudo também, com certeza. 

Adrian mostrou destinos turísticos no Vale

A terceira exposição do sábado foi feita por Ana Maria Machado, gestora da RPPN – Reserva Volta Velha, que fica na cidade de Itapoá, litoral norte de Santa Catarina. Foi a família dela que criou a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) em 1992 e desde então, o local serve de base para pesquisa científica, projetos de conservação, educação ambiental e ecoturismo, incluindo observação de aves. Ela falou sobre como é morar na reserva e receber os turistas que vão lá para observar as aves da região (o Adrian, inclusive, é um dos guias de birdwatching).

Fiquei com muita vontade de visitar a Reserva Volta Velha, da Ana Maria

Depois, quem falou foi Ari Fernando Raddatz, da Eco Pousada Rio dos Touros, em Urupema (SC). Ele contou sobre o papagaio-charão (Amazona pretrei), que em bandos, entre março e julho, migram do Rio Grande do Sul e chegam à cidade para se alimentar das sementes de pinhão. Tem até um festival dedicado à espécie, que foi criado em 2012. E o prefeito super apóia e incentiva o festival.

Ari, com a esposa e o filho Gui, de cinco anos. 
O menino é uma graça, já conhece várias espécies.

A última palestra do sábado foi dada por Luis Augusto Ebert. Ele falou sobre as aves marinhas e a diversidade de espécies que existe no litoral catarinense. É um nicho de observação de aves para ser explorado, afinal, não é só nas florestas que elas estão, podemos também observá-las no litoral. 

Luis mostrou várias espécies de aves marinhas

No domingo, quem falou primeiro foi Tietta Pivatto, bióloga e sócia da empresa Photo in Natura. Ela participa ativamente da realização e organização de encontros para observação de aves e também tem um blog onde relata suas experiências com observadora, o Bonito Birdwatching (tem um post lá sobre o encontro em Timbó). Na palestra, ela falou sobre o turismo de observação de aves, as oportunidades que existem e os desafios que devem ser superados, por parte do setor turístico e hoteleiro, para que os observadores tenham uma boa experiência durante sua viagem. 

Tietta sugeriu várias melhorias para o setor turístico de observação de aves

Em seguida, o professor Carlos Eduardo Zimmermann, da Fundação Universidade Regional de Blumenau, falou sobre os impactos que a fragmentação de habitats causa à avifauna. Em gráficos, ele apontou a relação entre o tamanho da área fragmentada e o número de espécies e aves e também mostrou fotos de algumas em áreas verdes fragmentadas em Blumenau. 

Carlos mostrou a pesquisa que desenvolve na faculdade

Depois, a vez de falar foi da gestora do Parque Nacional da Serra do Itajaí, Viviane Daufemback. Eu já assisti a uma palestra dela sobre o PNSI na Semana do Meio Ambiente. Esta foi mais focada nas aves que existem no parque e as atividades ligadas a elas. Infelizmente, ainda existe muita caça e tráfico de aves. O número de pesquisas sobre as aves também é pouco. Ela disse que de seis projetos inscritos, apenas um foi realizado e o relatório ainda está sendo escrito pelo autor. 

Viviane falou sobre as aves no Parque Nacional da Serra do Itajaí

A penúltima palestra foi sobre a Reserva Rio das Furnas, mantida pelo casal Renato Rizzaro e Gabriela Giovanka. A reserva fica num canyon no Alto da Boa Vista, em Alfredo Wagner (SC). Eles falaram sobre a atividade de educação ambiental que fazem com crianças, chamada Roda de Passarinho. Na roda, eles vão mostrando fotos de aves, objetos relacionados e vão fazendo música, mostrando alguns cantos de passarinhos. Eles viajam por todo o Brasil e, em forma de brincadeira, vão ensinando às crianças a importância de preservar a natureza e não ter passarinhos presos em gaiolas. A reserva também tem blog.

Renato falou sobre a reserva e mostrou como se faz uma Roda de Passarinho

Quem fez o fechamento foi Maicon Mohr, membro do Coave. Ele falou sobre como funciona o processo de eleição de ave símbolo nas cidades que contam com a participação da população. Aqui no estado são nove as cidades que elegeram sua ave símbolo com os votos dos cidadãos. A ave símbolo do Brasil é o sabiá-laranjeira, mas alguns ornitólogos defendem que deveria ser a ararajuba, até porque ela tem cores da bandeira do país e infelizmente está ameaçada de extinção. 

A primeira cidade brasileira a eleger uma ave símbolo com 
a participação da população foi Indaial (SC), contou Maicon

Um dos méritos da atividade de observação de aves é a consciência ambiental que ela desperta nas pessoas, tanto em crianças quanto adultos. Além da observação em si, palestras ou outras ações de educação ambiental, como fazem o Coave e Renato e Gabriela, por exemplo, ensinam às crianças, o principal público, a importância de preservar o meio ambiente e de deixar as aves livres na natureza. Afinal, elas têm asas e asas servem para voar (com exceção de algumas espécies, como galinhas e pinguins). Parece óbvio, mas muita gente se esquece disso e tranca as amadinhas em gaiolas. Imagine você ter que viver sua vida inteira trancado dentro do quarto, sem poder sair. Que desespero! 

Se você gosta de aves, quebre gaiolas e plante árvores, como diz a campanha da União Libertária Animal. Assim como um jardim bem cuidado atrai borboletas, árvores atraem aves. Se você gosta de ouvi-las cantar, plante uma árvore. Mesmo que você more em apartamento, sempre tem uma árvore por perto onde há algum passarinho. Basta ter o costume de olhar para elas e ficar de ouvidos atentos. Cada vez que eu saio de casa olho para as árvores e sempre vejo vários birds, além de escutar muitos cantos. A natureza está ao nosso redor e nós somos parte dela, não donos dela. Quem ama, cuida e quer ver o outro bem. Quem ama aves sabe que elas ficam bem estando livres. Agora, se você tem um passarinho na gaiola, deixe-o lá, porque ele não sabe caçar na natureza e provavelmente vai morrer se for solto. O importante é ter consciência da barbaridade que é deixar um ser voador preso e espalhar essa convicção. Se de cada 100 pessoas, apenas uma mudar de ideia, já será uma vitória e um pássaro a menos na gaiola.


O Avistar Vale Europeu superou minhas expectativas. Conheci pessoas super bacanas, que conhecem muito sobre aves, desenvolvem projetos incríveis, contribuem para a preservação da natureza e prezam pelo bem-estar das aves (e deixo aqui registrado meu agradecimento pelas caronas de ida e volta). Acredito que um dos motivos pelos quais gostamos tanto das aves é porque apreciamos a liberdade que elas têm. Na verdade, queríamos ser iguais a elas e poder voar livres, leves e soltos por aí. De certa forma, apenas observá-las na natureza já nos dá essa sensação gostosa de liberdade. Estar em meio a natureza, observando aves, é delicioso, reconfortante, incrível. Sobram adjetivos pra descrever a sensação. Posso dizer com certeza que essa foi a primeira experiência como observadora de muitas que ainda virão. E poder rever amigos e pessoas queridas nos encontros de birdwatching torna tudo ainda melhor. 
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Parques, pra quê te quero?

Por Letícia Maria Klein •
08 agosto 2013
Talvez você já tenha visitado o Corcovado e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ou as Cataratas do Iguaçu, no Paraná. Se não foi, com toda certeza do mundo já ouviu falar. Sabe o que eles têm em comum? Ficam dentro de parques nacionais. Então se você já tirou foto na frente do Cristo ou ficou encharcado enquanto olhava as cataratas, você esteve nos dois parques brasileiros que mais recebem turistas todo ano. Em 2012, o Parque Nacional da Tijuca, no estado fluminense, foi visitado por mais de 2,5 milhões de pessoas e o Parque Nacional do Iguaçu recebeu 1,5 milhão de turistas. No mesmo ano, cerca de 9,7 milhões de pessoas foram dar uma volta no Great Smoky Mountain, o maior parque nacional dos Estados Unidos. É mais do que o dobro da soma dos dois parques brasileiros mais visitados. O que isso nos mostra? Que o Brasil tem muito a ganhar com os seus 68 parques nacionais. Tanto em dinheiro – as contas passam de um bilhão e meio em 2016 – quanto, e principalmente, em preservação de tão rica biodiversidade e conscientização ambiental.

Os dados acima estão na reportagem de capa da revista Planeta de julho deste ano. Ela faz um apelo às autoridades para abrirem todos os parques – dos 68 apenas 26 estão abertos à visitação – e dar a devida atenção que eles merecem. O turismo sustentável também foi destaque do 3º Conatus – Congresso de Natureza, Turismo e Sustentabilidade, realizado em julho na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul. O tema está à tona e vem tarde. Frente à necessidade que temos de mudar de hábitos, viver uma vida sustentável e repensar nossos padrões de produção e consumo, o Brasil, com sua mega biodiversidade e paisagens de encher os olhos, está perdendo muito ao ignorar o potencial dos parques nacionais: fonte de renda, de empregos, de pesquisas e, especialmente, de educação ambiental e preservação de espécies, os dois objetivos primários dos parques nacionais.


Parque da Tijuca, criado em 6 de julho de 1961. Foto: ICMBio

Eu já falei aqui no blog sobre um parna (abreviação de parque nacional), o da Serra do Itajaí, com seus mais de 57 mil hectares espalhados por nove cidades de Santa Catarina, inclusive Blumenau (e eu ainda não fui visitar – que vergoooonha!!). Os parques nacionais são um tipo de unidade de conservação, na verdade, a mais antiga e também mais popular. O site do ICMBio diz que, pela lei brasileira, um parque nacional serve para preservar ecossistemas de importância ecológica e lindas paisagens, além de permitir pesquisas científicas, atividades educacionais e de interpretação ambiental, recreação e turismo ecológico. O ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é quem gerencia os parques. O instituto foi criado em 2007 e faz parte do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Ao todo no Brasil são 321 unidades de conservação, todas geridas pelo ICMBio. Elas estão divididas em dois grandes grupos, de Proteção Integral e de Uso Sustentável, somando 12 categorias. Parque Nacional é uma das categorias do grupo de Proteção Integral.

Tudo parece muito bonito, mas a realidade é bem diferente. Sabe o que o Parna da Serra do Itajaí tem em comum com a maioria absoluta dos outros parques? Aí vai a lista: falta de funcionários, falta de infraestrutura (como estradas de acesso, sinalização, segurança, banheiros), falta de investimento, falta de interesse e de comprometimento do poder público. Quando o governo federal precisa economizar, adivinha quem sofre o primeiro corte? O MMA e, por consequência, o ICMBio. A matéria da revista Planeta mostra alguns números: dos R$ 4,1 bilhões previstos para o ministério em 2012, apenas R$ 1,1 bilhão foi repassado. A parcela do orçamento da União que vai para o ministério é menos de 1%. Para ser exata, 0,15%. Em valores para o ICMBio, são R$ 503 milhões por ano. Para pagar funcionários, que são cerca de 5.600, e cumprir com as atribuições das 312 unidades de conservação. É ridículo de pouco e mostra como o meio ambiente é menosprezado pelo poder público.

Parque Nacional do Iguaçu, criado em 10 de janeiro de 1939. 
Foto: ICMBio

É claro que o dinheiro que os parques ganham com o turismo ajuda, mas nem com isso o governo colabora. A reportagem mostra que dos R$ 17 milhões que o Parque Nacional do Iguaçu arrecadou em 2012, só R$ 3 milhões ficaram no parque para pagar as despesas. O restante foi para Brasília. A falta de verba gera outros problemas. Um deles é a quantidade de funcionários. A maioria dos parques precisa se virar com menos de 10 ou 20 pessoas. O Parna da Serra do Itajaí, por exemplo, tem seis. O maior parque brasileiro, o das Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, tem quatro. São mais de três milhões e oitocentos mil hectares sob a responsabilidade de quatro pessoas! Tem as exceções, como sempre. O Parque da Tijuca tem mais de 150 funcionários e o do Iguaçu tem 800 (oitocentos, mesmo). Olha a diferença, galera!! É o parque com maior pessoal e ainda assim o gestor da unidade reconhece que não é o suficiente.

Isto porque a falta de pessoal (ou gente suficiente) abre portas para outros problemas que afetam muitas dessas unidades de conservação: caça, pesca, construções irregulares e extração ilegal de alimentos. Os parques da Serra do Itajaí e do Iguaçu, por exemplo, sofrem com o contrabando de palmito juçara. A caça e o comércio de fauna silvestre são uma das piores ameaças, mesmo fora dos parques nacionais. Neste último domingo, um casal de ambientalistas foi agredido em sua propriedade particular por um caçador, em Atalanta, Santa Catarina. Imagina o pavor da pessoa ao sair de casa pra fotografar a paisagem e dar de cara com uma arma apontada pra ela?!

E se falta verba pra manter os parques abertos e pagar as despesas, como indenizar e desapropriar as propriedades privadas que ficam dentro dos parques? Este é outro grande impasse, que tem relação com a caça e pesca ilegais. Muitos caçadores moram dentro ou nos arredores do parque (leia mais sobre isso no post sobre o PNSI). O que leva à outra questão: educação e conscientização ambiental. A segunda prioridade dos parques nacionais, depois da preservação. Está tudo interligado, relacionado, e enquanto o governo não estabelecer o meio ambiente como uma prioridade, os problemas vão continuar. Como o dinheiro está sempre na mira dos políticos, é de estranhar que eles ainda não tenham reconhecido o valor do turismo sustentável. Como disse um professor meu certa vez: uma floresta morta dá dinheiro uma vez, uma floresta viva dá dinheiro sempre. É o que mostra a reportagem da revista Planeta: um estudo da ONU revela que o Brasil poderia gerar até R$ 1,6 bilhão em receita com os parques nacionais em 2016, quando as Olimpíadas chegam às terras tupiniquins.


Parque Nacional do Itatiaia (RJ), o mais antigo do Brasil, 
criado em 14 de junho de 1937. Foto: ICMBio

Quem disse que sustentabilidade e economia caminham em direções opostas? É claro que não dá pra sair abrindo tudo que é parque a torto e a direito. Também não é pra abrir o parque inteiro à visitação. Sempre tem uma parte onde nenhuma pessoa pode entrar, pois o objetivo é a preservação ambiental integral. No Parna da Serra do Itajaí, por exemplo, cerca 2,5% estão na Zona Intangível; a maior parte, cerca de 70%, está na Zona Primitiva, que permite atividades de pesquisa e educação ambiental restritas às caminhadas em trilhas. É importante lembrar que a função dos parques não é dar dinheiro, é preservar hábitats e espécies e educar a população para a importância da conservação. A responsabilidade de abrir um parque é muito grande e é preciso muita coisa pra abrir um e mantê-lo funcionando adequadamente (e aqui a gente volta lá para os problemas): funcionários suficientes, infraestrutura adequada e um plano de manejo da unidade (que dita as ações necessárias para uma gestão sustentável do parque).

Para cumprir sua missão de proteger a natureza, o parque precisa impor limites aos visitantes, ter uma infraestrutura que suporte a presença de milhares de turistas por ano, causando o mínimo impacto possível na natureza, e ter uma educação ambiental forte. Despertar os turistas para a necessidade da sustentabilidade e da conservação é fundamental. Alertá-los para não tirar nada do parque e não deixar nada lá, principalmente lixo. A única coisa que deve sair do parque junto com o turista é a lembrança. Por isso a conscientização ambiental é tão importante. Todos nós que visitamos parques ou vamos visitar um dia precisamos entender que estamos ali para aprender e reconhecer a grandeza da natureza, entender que o ser humano não é soberano na Terra, é apenas mais uma espécie que precisa conviver em harmonia com as outras.

Eu sou a favor da abertura dos parques, mas eles precisam de rigorosidade e excelência em infraestrutura para que não acabem causando efeitos contrários ao que pretendem. E você, concorda? Já visitou algum parque nacional? Deixe sua opinião nos comentários. Se quiser saber mais sobre os parques nacionais, confira uma matéria do programa Cidades e Soluções sobre o assunto (parte 1 e parte 2), que apresenta os dois parnas brasileiros mais visitados. Tem outros links bacanas aqui embaixo sobre turismo sustentável e unidades de conservação, se você se interessou e quer aprofundar seus conhecimentos. Obrigada pela companhia e até breve!

Parques nacionais vistos do espaço: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, Sudeste.
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