Demain, de Melanie Laurent e Cyril Dion [Resenha] - Soluções de hoje para o amanhã que queremos

Por Letícia Maria Klein Lobe •
24 janeiro 2017
Amanhã é o título de um documentário francês lançado em 2016 que aborda a crise planetária que estamos vivendo. Mas, ao contrário de outros documentários que priorizam os problemas, Demain (no original) foca as soluções que estão sendo colocadas em prática ao redor do globo para um mundo bem melhor. O filme foi produzido por Melanie Laurent e Cyril Dion, junto com um time de quatro pessoas, e rodado em 10 países.

Assisti a este documentário na Schumacher College e, quando a sessão terminou, era palpável a esperança elevada e renovada. No filme, as soluções não são simplesmente apresentadas. Elas vêm com uma história, uma narrativa relacionada ao contexto daquelas pessoas, daquelas culturas e daqueles lugares. Em cada local que a equipe gravou, somos apresentados a pessoas e organizações que estão mudando sua economia, reinventando a democracia, recriando a educação, fortalecendo a agricultura sustentável e investindo em novas fontes de energia.



O documentário é dinâmico e bem desenvolvido, dividido em cinco blocos, cada um relacionado a um tema citado acima. Em duas horas de conversas com cerca de 20 personagens e passeios pelos projetos e programas, entendemos como é um sistema alimentar justo, limpo e sem desperdício, vemos como chegar à transição energética, reaprendemos sobre economia e o poder do “localizing” (local x global), conhecemos uma nova democracia e nos encantamos com a verdadeira e criativa educação escolar.

Estas histórias e suas respostas para combater as crises ecológica, econômica e social (ou crise ambiental, pois tudo está no ambiente) são retratos dos cenários do futuro sustentável que almejamos e buscamos – e que muitos já estão construindo. Inclusive nós mesmos, em cada atitude e ação em prol de um planeta próspero. Fica claro que um dos objetivos do documentário é não apenas mostrar soluções que estão funcionando, mas também inspirar e incentivar outras pessoas e grupos a agirem em prol da sustentabilidade. E não é difícil.

Entrevistados pela equipe

Quando passeamos por uma estrada, temos uma vista do céu. Ao fazermos uma curva, aquele céu de antes já não é mais o mesmo, a vista do horizonte mudou. Assim é com a gente. Cada curva que fazemos na estrada da vida nos mostra um novo horizonte e novas formas de agir. O nosso amanhã será o reflexo do nosso hoje e das nossas atitudes no dia a dia. O site do filme até nos ajuda nisso, sugerindo mudanças que podemos fazer enquanto indivíduos, coletividade e poder público. Aqui estão elas, em tradução livre (a introdução foi resumida a partir do site):

AÇÕES INDIVIDUAIS

Cinco ações diárias que podem realmente fazer a diferença:

Coma mais alimentos orgânicos e menos carne
Por quê? A agricultura industrial tem responsabilidade pela destruição ecológica do planeta, extinção de milhares de espécies, ruína de milhões de pequenos agricultores (relatório da FAO), esgotamento dos bens hídricos e mudanças climáticas. A pecuária responde por 18% da emissão de gases de efeito estufa. Todos os anos, 65 bilhões de animais são criados em condições sofríveis ​​para o abate. Para alimentá-los, milhões de hectares de floresta são cortados para cultivar soja e milho, desgastando e poluindo o solo (por causa dos pesticidas).
Como? Cultive e aprenda sobre permacultura ou agroecologia. Em mercados e feiras, procure por pequenos produtores independentes ou lojas orgânicas, junte-se a uma associação de produtores e consumidores, participe ou crie um grupo Incredible Edible [que objetiva o ativismo alimentar e a resiliência comunitária], use sistemas diretos de abastecimento com pequenos produtores.

Opte por um fornecedor de eletricidade renovável
Por quê? Os combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás) contribuem ativamente para as mudanças climáticas. A extração vai se tornar mais cara e os preços vão aumentar, enfraquecendo drasticamente a economia. A luta pelo controle dos combustíveis fósseis é (e será) a causa de numerosos conflitos e situações geopolíticas.
Como? Instale sistemas de energia renovável em casa (painéis fotovoltaicos, minimoinhos de vento, energia geotérmica). Reduza o consumo de energia e use transportes “suaves” como a bicicleta!

Compre em lojas locais e independentes
Por quê? Estudos mostram que comprar de uma empresa local e independente cria três vezes mais empregos, o dinheiro circula três vezes mais rápido, cria três vezes mais impostos locais e trazem três vezes mais doações para as associações locais.
Como? Saiba quem é dono das empresas das quais você compra e sua política social e ambiental.

Mude seu banco
Por quê? A maioria dos bancos franceses tem filiais em paraísos fiscais, incentivando assim seus clientes a fazer o mesmo e ocultar sua fortuna. A maioria dos bancos está envolvida na especulação financeira, visivelmente sobre a fome e a maioria dos bancos franceses financia a indústria do carvão, o pior emissor de CO2.
Como? Alguns bancos são mais éticos e responsáveis [pesquise as opções brasileiras, entre bancos e cooperativas de crédito, antes de abrir uma conta].

Reduza, reutilize, repare, compartilhe, recicle
Por quê? Em todo o mundo, 10 milhões de toneladas de resíduos são descartadas todos os dias. Aterros, rios, florestas e oceanos são saturados com o desperdício dos países ocidentais. Na África, cidades inteiras estão obstruídas com computadores antigos, TVs, veículos que não usamos mais. Descartamos um terço da comida que produzimos.
Como? Compartilhar coisas ao invés de possuí-las nos permite reduzir tremendamente nossas necessidades em matérias-primas. Aprenda ou reaprenda sobre a triagem de resíduos na sua cidade. Faça compostagem (minhocário, composteira seca, sistemas de compostagem coletivo, enterrar no jardim). Compartilhe ao invés de comprar.

AÇÕES COLETIVAS

Transforme sua vizinhança, sua aldeia, sua cidade em uma horta. Como?
Crie uma comunidade de cidadãos para produzir energia renovável. Como?
Crie uma moeda complementar (local ou em sua empresa). Como?
Crie uma escola alternativa. Como?
Candidate-se ao poder público na sua cidade e obtenha o poder de volta! Como?

AÇÕES POLÍTICAS

Cinco ações que podemos repassar aos nossos representantes:

Redirecionar os subsídios agrícolas para facilitar a mudança para a agricultura orgânica, agroecologia, permacultura.
Mudar o sistema fiscal de trabalho em relação ao carbono.
Liberar a criação de moeda [local].
Criar uma segunda câmara ou senado com cidadãos selecionados aleatoriamente.
Incluir pedagogia e formação in situ no currículo dos professores.
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Vida pós-Schumacher e ação de ano novo

Por Letícia Maria Klein Lobe •
16 janeiro 2017
Feliz 2017! Passei dezembro aproveitando minhas duas últimas semanas na Schumacher College e as outras duas semanas viajando com meu namorado por algumas cidades europeias. Cheguei no Brasil no dia 1º e no dia seguinte já comecei A arrumação aqui em casa, desapegando de muitas coisas e organizando as que ficaram. Que sensação boa! Depois de quatro meses vivendo com uma mala, vi o tamanho do meu essencial. Neste ano, desejo a você, querido leitor que acompanha o blog, muitas sensações boas que provêm do desapego, do contato com a natureza, das celebrações, da alimentação saudável, do autoconhecimento, do consumo consciente e do que mais torne sua relação com você mesmo e com o planeta melhor.

Foram tantas emoções, aprendizados e experiências que tive na Schumacher que não consigo expressar em palavras o quanto viver lá por três meses e meio me marcou. Espero ter conseguido passar um pouco do que é a magia da Schumacher (como diz um bastão de madeira esculpido por um estudante) na série de vídeos que fiz sobre a faculdade. É um local de transformação pessoal por meio da vida em comunidade, da imersão na floresta, dos momentos diários com árvores e animais, da tranquilidade e do silêncio da vida no interior, dos diálogos interculturais, de novos conhecimentos e perspectivas, da liberdade de ser quem você é e da abertura para experimentar quem você quer ser.

Brinquedos e ursinhos de pelúcia para doação

Um dos últimos momentos de profunda emoção na escola foi quando participamos do "conselho de todos os seres", um espaço para ser outro além de humano. Se você pudesse se colocar no lugar de outro ser ou elemento da teia vida e enxergar o mundo através dos olhos dele, como seria? Foi isso que fizemos naquela tarde, uma atividade integrante do “trabalho que reconecta”, de Joanna Macy, estudiosa e ativista do budismo, pensamento sistêmico e ecologia profunda. O trabalho que reconecta não tem este nome à toa. Uma reconexão profunda com a terra, outros seres vivos e elementos do planeta acontece ali e a experiência é tão forte que leva a reflexões sobre atitudes pessoais que podemos mudar em prol de um mundo de paz, justiça e sustentabilidade.

Antes de entrar no conselho em si, fizemos uma atividade também de reconexão, mas com os seres humanos mesmo, com os colegas do grupo. Aquele momento de olhar no olho, perceber e sentir o outro e o que o outro sente e percebe, de ter empatia e enxergar a profundidade da pessoa a sua frente. Este exercício expandiu nossa sensibilidade para começar o conselho e olhar o mundo pelos olhos de qualquer elemento ou outro ser vivo que não humano.

No conselho, primeiro cada um escolhe quem ou o que quer ser (ou melhor, deixa este quem ou o que vir a si), dando-se um momento para expressar este ser. Depois o conselho começa (as duas pessoas ministrando a sessão permanecem como humanas) e são feitas três rodadas de perguntas: o que te faz feliz e o que te alimenta; o que te preocupa; que conselhos você daria aos humanos para melhorar o planeta. É uma experiência muito profunda e emocional, em que ficam evidentes questões como dignidade e valor inerentes à vida na Terra e no universo, pois cada elemento e ser vivo tem valor em si mesmo independente de qualquer uso ou finalidade que tenha para seres humanos.

Livros para venda e doação

Depois de tudo que eu vi, ouvi e vivi na Schumacher College, não tem como voltar ao que era antes. Então, para começar as mudanças na minha vida aqui, nada como uma mega limpeza e organização. Nestas duas primeiras semanas de janeiro, minha prioridade foi arrumar meu quarto e o “quarto de depósito” para tirar o que pode ser repassado, reusado ou reciclado e organizar o que ficou. Tinha coisas demais estocadas por tempo demais aqui em casa. Foi muito bom ter feito isso para começar bem o ano, com energias renovadas. Ainda falta passar um pente fino nas minhas roupas, mas pelo menos duas vezes por ano eu reviso meu armário para doar peças. Livros, CDs e DVDs são coisas que eu também reorganizo ocasionalmente, passando alguns para outras mãos. Essas arrumações sacodem as energias, abrem espaço e nos ajudam a ver como precisamos de menos para viver.

Mais materiais para doação e reciclagem

O ano está só começando, cheio de oportunidades para colocar alguns planos e projetos em prática... E você, quais as boas novas que trazes para sua vida neste ano?
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