Que tal uma escola que ensina sustentabilidade na prática? – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein Lobe •
25 junho 2013
Você aprendeu matemática dentro do esquema quadro-professor-livro ou calculando como se monta uma horta mandala no jardim? As aulas de artes foram com modelos ao ar livre ou dentro da sala só contando com sua própria imaginação? Em ciências e biologia o máximo que você plantou foi um feijão no algodão, diz aí. Provavelmente a maioria de nós se encaixa no primeiro exemplo de cada situação, não é? - (sou grata até hoje por ter tido um professor-cantor de história para tornar as aulas divertidas e empolgantes!). No último post do especial sobre a Semana do Meio Ambiente, o tema são as escolas criativas, mais especificamente, escolas sustentáveis, com direito a muitas fotos para inspiração (exceto uma, todas as outras são da apresentação das palestrantes). 

Artes na prática

São essas escolas que estão mudando a realidade do sistema de aprendizado em sala aula. Criação de hortas e jardins, produção de jogos e brinquedos com materiais recicláveis, reflorestamento, entre outras atividades fazem parte da rotina de professores, alunos e seus familiares na Escola Básica Municipal Visconde de Taunay, aqui na minha cidade de Blumenau. Em maio deste ano, ela foi certificada como Escola Criativa, a terceira do Brasil a ganhar o prêmio, depois de outras duas que ficam em São Paulo e Recife. As três integram a Rede Internacional de Escolas Criativas (Riec), um projeto idealizado pelo professor da Universidade de Barcelona, Saturnino de La Torre. Em junho de 2012, o professor palestrou no Fórum Internacional sobre Inovação e Criatividade: Adversidade e Escolas Criativas, em Barcelona, e disse uma frase que eu gosto muito: “A Educação não pode ser a mesma do século 19, do século 20. A realidade está mudando, afetando todos nós. É preciso, hoje, ter flexibilidade de pensamento, saber que há várias maneiras de interpretar a realidade”. É na prática, com experiências e exemplos, que mais se aprende.  

Professor Saturnino na entrega do prêmio à escola Visconde de 
Taunay em 13 de maio de 2013. Foto: Rogério Pires.

O objetivo da Riec é resgatar e difundir experiências transformadoras em escolas no Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Portugal. No caso da Visconde de Taunay, o que fez e faz a diferença é o ensino da sustentabilidade na prática. “Ensinar as crianças a viver dentro de um sistema sustentável, o que significa ensinar a produzir, e não apenas a consumir e gastar”, como disseram as palestrantes.

É evidente a paixão e o entusiasmo delas: Roseli de Andrade, mentora do projeto e diretora da escola na época da implantação (2011-2012), e Jeane Pitz Pukall, professora articuladora do projeto. Na palestra sobre a escola, elas contaram como nasceu a ideia de desenvolver uma escola sustentável e mostraram atividades que foram e estão sendo realizadas com os alunos dentro do projeto. Os alunos já montaram uma horta mandala, reflorestaram o pátio e o estacionamento, cuidaram dos canteiros em volta das árvores, criaram um jardim biodiverso (com várias espécies diferentes) e ainda há bastante para ser feito e preservado. Afinal, não basta criar e montar, tem que cuidar também. E as professores contaram que os alunos estão bem engajados nesse sentido. 

Pátio antes da criação do jardim biodiverso

Um jardim biodiverso enriquece o solo e evita que um determinado 
problema, como pragas, atinja todas as espécies

Alunos cuidando do jardim biodiverso

Visconde de Taunay é uma escola bem antiga, tem registros de 1903. Hoje atende cerca de 850 alunos no pré-escolar e no Ensino Fundamental. A ideia surgiu depois que professores e gestores participaram de uma viagem até o Projeto do Ecocentro IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado), em Pirenópolis, Goiás. Cheios de expectativa para tornar a sustentabilidade uma prática diária dos alunos, eles organizaram um café com ideias para firmar parcerias, que são muito importantes para a realização e manutenção do projeto, junto com o envolvimento da própria comunidade. No encontro foram criados dois conselhos: um formado por profissionais e universidade e outro por membros da comunidade. 

Professores em Pirenópolis

Os alunos, como contaram Roseli e Jeane, surpreenderam os professores, tamanho o envolvimento deles com as ações sustentáveis. Na escola, eles estudam as ações do homem no meio ambiente e os impactos causados. “Educar para uma vida sustentável é entender como dependemos da natureza e, fazendo isso, conhecemos o que é necessário para preservação do meio ambiente e para criação de cidades sustentáveis”, disseram. Com o projeto, foram adotadas práticas de sustentabilidade na escola para criar consciência nos alunos e suas famílias de que as mudanças no planeta começam “por nós, nossa casa, nossa escola e nossa comunidade”. 

O projeto começou com objetivos definidos: 
- Reduzir a produção de lixo em 50%.
- Reduzir a sujeira jogada no chão do pátio em 50%.
- Reduzir desperdício e uso de água em 15%.
- Reduzir gasto de energia em 10%.
- Expandir área de jardins em 20%. 
- Aumentar biodiversidade na escola em 50%.
Hoje, depois de um ano e meio desde a implantação, já conseguiu alcançar os dois primeiros, enquanto os outros estão no caminho. Tudo demandou muita parceria, voluntariado e ajuda dos pais e alunos, contam as palestrantes, pois a comunidade é de baixa renda e a escola, por ser pública, não tem muitos recursos financeiros. Apesar do dinheiro ser necessário, muitas ações do projeto foram feitas com produtos que as famílias têm em casa e que podem ser reutilizados, como garrafas pet e caixas de leite

Os resultados quanto à conscientização dos alunos, seus familiares, da comunidade como um todo e dos próprios professores já são visíveis. Uma coisa que Roseli e Jeane falaram na palestra é que não adianta implantar um projeto na escola que não é incorporado pelos professores. É preciso que eles queiram colocar o projeto em prática. Para o bem da sustentabilidade, felizmente foi o que aconteceu na Visconde de Taunay. Alguns inclusive trabalham em conjunto, em trabalhos interdisciplinares. 

Alunos enchem garrafas pet com água da caixa de captação 
de chuva para fazer os limites da horta mandala

Matemática na prática com compasso gigante



Horta mandala quase pronta, falta plantar

Um dos projetos que mais chamou a atenção foi o revestimento da parede de uma sala de aula com caixas de leite. Numa campanha que envolveu toda a comunidade, a escola arrecadou muitas caixas de leite, que foram utilizadas para revestir a parede e também para fazer cortinas. O revestimento com caixa de leite pode baixar a temperatura em até 8º C. não chegou a tanto, mas ajudou muito, pois a sala pega muito sol e só tem um mísero ventilador. Depois de colocadas as caixas, a parede foi pintada novamente. 


Nem dá pra perceber as caixas.

Cortinas de caixas de leite

Também com as caixinhas, os alunos criaram bolsas que substituíram as sacolas do Projeto Sacola Viajante. As novas bolsas suportam até 15 livros de literatura infantil. Como as caixas de leite têm muita utilidade, também foram usadas para fazer murais que ficam nos corredores da escola. 

Sacola Viajante de caixa de leite 

Para apagar, basta um paninho com álcool

A escola já soube de alguns alunos que levaram as experiências da escola para casa e estão plantando árvores, criando horta, separando lixo comum e reciclável. Os professores também levaram essas ações para seu dia a dia. O que mais chamou a atenção de todos foi a grande redução de lixo jogado no pátio da escola. O projeto foi se expandindo, atraindo olhares de muitas pessoas e levou a escola a ser pesquisada. Quem aplicou o questionário para saber se a escola era criativa foi a Furb (Universidade Regional de Blumenau), que assinou convênio para fazer parte da Rede Internacional de Escolas Criativas. 

Os critérios do questionário identificam o grau de desenvolvimento criativo da escola e devem gerar uma média de 6,0 pontos para que a escola receba o certificado. A Visconde de Taunay atingiu a média 8,5! Uhul, é uma nota ótima! Mas o que mais importa é a transformação que a escola está proporcionando nos seus alunos, que levam os ensinamentos para suas famílias, que comentam com vizinhos e assim toda a comunidade vai adquirindo práticas sustentáveis e fazendo do mundo um lugar mais verde, com mais respeito ao próximo e ao meio ambiente, com mais qualidade de vida e bem-estar. Sustentabilidade também tem a ver com o bem-estar das pessoas, tanto moral quanto físico e psicológico. Como disse Roseli, “o aluno aprende em qualquer espaço, desde que o conhecimento seja dirigido”. É um exemplo para ser seguido por todas as escolas.

4 comentários:

  1. Anônimo2/26/2014

    Parabéns a todos os que batalharam para que a escola Visconde de Taunay se tornasse uma referência em sustentabilidade. Trabalhos como o de vocês nos dão a esperança de um futuro melhor para a escola pública.
    Um abraço solidário e amigo a todos. Cecilia dolzan

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    Respostas
    1. Olá Cecilia!
      O trabalho da Visconde de Taunay é fantástico, um belo exemplo para outras escolas e também para a comunidade.
      Obrigada por comentar!
      Abraço.

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  2. Parabéns!!!!
    Os vossos bons exemplos tornam o planeta mais sustentável

    abraço solidário a todos BEM HAJAM

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    1. Muito obrigada, Ana Paula!
      Cada ação que fazemos é um passo em direção a um mundo sustentável. ;)

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