Sustentabilidade pelo olhar filosófico – Semana do Meio Ambiente 2013

Por Letícia Maria Klein •
06 junho 2013
A primeira palestra da qual participei na Semana do Meio Ambiente em Blumenau abordou a sustentabilidade pela perspectiva da filosofia. Quando eu fui para a palestra, achei que ela seria mais técnica e foi uma grata surpresa ela ter seguido outro rumo. Ainda mais porque eu sempre fui fã das aulas de filosofia no colégio e na faculdade. 

O palestrante, Horst Kalvelage, é filósofo e também agrônomo, tendo seguido os passos de seu trisavô, o famoso naturalista Fritz Müller, cientista que morou em Blumenau e que se correspondia com Charles Darwin sobre a teoria da evolução. 

“Sustentabilidade, por onde começar?” era o título da palestra e Horst começou com uma questão primordial: conceitos. Afinal, o que é sustentabilidade? É a qualidade de ser sustentável, que por sua vez, significa algo que pode ser sustentado. A questão é: sustentado por quem? A-há, vamos expandir e aprofundar, como diria Horst (e, ao contrário do que parece, não é paradoxal, acredite). Reflexões dos próximos três parágrafos por minha conta (a palestra não aprofundou tanto).


A vida que nós levamos é sustentada pelo meio ambiente. Nós não seríamos ou teríamos o que somos e temos hoje se não fosse pelo meio ambiente, que nos forneceu todos os bens necessários para o nosso completo desenvolvimento. Incluindo aí tudo: alimentação, roupas, casa, lazer, etc. Tudo precisou de recursos da natureza para ser feito. A nossa mera existência afeta de qualquer maneira o meio ambiente, mas a forma como vivemos é que determina o quão forte são os impactos provocados e se eles são negativos ou positivos. Afinal, impacto é transformação, seja ela boa ou má. 

Ser sustentável significa levar uma vida que a natureza possa sustentar e não se prejudicar com isso. Pelo menos, não tanto. Como bem sabemos, é impossível não provocar nenhuma transformação sobre o meio ambiente, então quanto menor o impacto negativo, melhor. Imagine-se segurando um peso de um quilo. Tranquilo, né. Se o peso passa a dez quilos, é suportável, mas exige mais esforço. Quanto mais peso você segura, pior vai ficando, até o momento em que a carga é mais do que você pode suportar e ela te derruba. É assim com o meio ambiente, mas no caso nós somos a carga. E se formos pesados demais, derrubamos o que nos sustenta e caímos junto. 

Aí está o problema, quando o estilo de vida ultrapassa os limites do que o meio ambiente pode sustentar. Infelizmente, é nesse cenário que vivemos hoje, num mundo globalizado e capitalista, onde o consumo exagerado e o desperdício são parte da rotina. O meio ambiente não consegue suportar (sustentar) esse estilo de vida, que só retira e abusa dos bens naturais. Nesse ritmo, não só animais e plantas vão se extinguir. O ser humano vai junto (mas muitos ainda não enxergam isso). É por isso que ser sustentável, levar uma vida que o meio ambiente possa sustentar, não é uma opção. É necessidade.


Para tornar a sustentabilidade uma rotina, o ser humano precisa entender essa necessidade e compreender que está interligado ao meio ambiente. Em outras palavras, nas de Horst, o homem precisa melhorar, tornar-se “desperto e virtuoso”. Para ele ser melhor, ele precisa de educação e princípios. Os princípios, ditados pela filosofia, são três:
- Promover a fraternidade universal sem preconceitos; 
- Fomentar o estudo comparado entre as ciências, artes, religiões e filosofias (a tal interdisciplinaridade).
- Investigar as leis da natureza e desenvolver os poderes latentes (lê-se virtudes) do homem. 

Princípios, ok. Agora a educação. Aquela da escola e da faculdade? Também, com certeza ela é importante. Mas não é dessa que estamos falando. Horst falou da educação formativa. Conhece-te a ti mesmo. Lembra do tio Pitágoras? Este filósofo e matemático viveu na Grécia Antiga quinhentos séculos antes de Cristo. O pensamento é dele, o que mostra que já naquela época se evidenciava a importância de ter uma boa formação, íntegra e virtuosa. Essa educação formativa é um processo que acontece de dentro para fora, em que a pessoa precisa desvendar a si mesma, o que gosta, o que não gosta, desejos, vontades, paixões. Afinal, quem sou eu e para onde quero ir? É por aí. É o contrário da educação informativa, que recebemos na escola e que é de fora para dentro. 

Quando a pessoa conhece a si mesma verdadeiramente, ela consegue estabelecer qual é o seu ideal de vida. “Ah, eu quero ter uma casa no campo, ganhar R$ 10 mil por mês, viajar para o exterior uma vez por ano”. Bom, isso são projetos de vida, coisas materiais e externas. O ideal de vida surge a partir de um processo interno. Tem a ver com essência e desenvolvimento humano, o que você pretende para si mesmo durante a sua vida.


A partir da construção do autoconhecimento, você aprende a ter equilíbrio e domínio do próprio corpo, de ações, emoções, sentimentos, vontades e desejos. Isso também é sustentabilidade, você como sustentáculo de você mesmo, do seu ideal de vida e dos seus projetos. Quando você controla a si mesmo, você tem liberdade e evolução (“O homem verdadeiramente livre é aquele que sabe dar ordens a si mesmo”, já dizia Platão) e somente assim, como Horst falou, pode-se ser sustentável. Pois sustentabilidade não é só uma relação saudável com o meio ambiente, é também uma relação saudável com o seu eu. “Ser um ser humano melhor para poder fazer melhor” (fala do palestrante). 

O desenvolvimento humano é fundamental para o estabelecimento da sustentabilidade. Mas a evolução não vem de graça, não. Para melhorar, é preciso esforço e vontade. Nós precisamos trabalhar as nossas virtudes, nossas forças (virtus, do latim, força). Basta querer. Dessa forma, vamos nos sustentar e entender que somos sustentados. Depois que o ser humano entende o seu papel na sociedade, ele não precisa mais ser obrigado a agir de tal ou tal forma para uma melhor convivência e relação de respeito para com os outros e o meio ambiente, pois passará a fazer por livre e espontânea vontade.

Se você chegou até aqui, parabéns. A-há, só uma piadinha para descontrair depois de tanta reflexão. Mas como disse Horst, filosofia não é só papo cabeça. Na verdade, a parte do papo é bem pequena. Filosofia é vivência e prática, colocar em ação o que se tem no pensamento (coisas boas, claro). Então, “bora” pra atividade. Quem quiser se aprofundar em filosofia e cultura e se engajar em atividades voluntárias, pode acessar o site da Nova Acrópole, instituição presente em dezenas de países e da qual Horst faz parte.




Eu curti bastante esse novo olhar sobre a sustentabilidade que Horst mostrou, ainda não tinha visto por esse lado. E você, o que achou da reflexão? O espaço dos comentários é todo seu, fique à vontade!

2 comentários:

  1. Adorei! Ainda não tinha visto uma discussão sobre sustentabilidade nessa perspectiva. Ótimo texto!

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