Sabia que os animais carnívoros são indicadores de que um ambiente natural é saudável e equilibrado? Leões, tigres, pumas, leopardos e vários outros estão no topo da cadeia alimentar e são responsáveis por manter a harmonia da natureza. Se não fossem por eles, coitadinhas das plantas e dos pequenos animais, pois os carnívoros regulam a população das suas presas naturais, como mamíferos herbívoros, roedores, aves, répteis e insetos, mantendo assim o equilíbrio ecológico.
Fonte: apresentação da Cintia Gruener
Quando eu via uma cena de um carnívoro perseguindo e matando sua presa, um veado, por exemplo, eu pensava: “Ah, que peninha do bichinho”. Se fosse um filhote então, meu pai, que dó. Agora vejo diferente, graças à palestra da bióloga Cintia Gruener, do Instituto Caeté-Açu para a Conservação da Natureza, que falou sobre o Projeto Carnívoros durante a Semana do Meio Ambiente. Afinal, é assim que a natureza funciona, esse é o ciclo da vida.
O projeto é desenvolvido pela Cintia e outros profissionais no Parque Nacional da Serra do Itajaí, que abrange nove cidades de Santa Catarina (aqui pertinho tem pumas vivendo em liberdade e um grupo de pessoas lutando para protegê-lo, incrível!). O PNSI também foi tema de palestra. Quem falou foi a gestora do parque, Viviane Daufemback. A missão do parque, que tem 57.374 hectares, é proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental através de pesquisas científicas, educação e interpretação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico. O parque foi criado em 2004 e desde 2007 é gerido pelo ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Quatro vezes por ano, os governos das cidades, ONGs e outras entidades se reúnem para o conselho consultivo.
O PNSI representa 2,5 % da área remanescente do bioma da Mata Atlântica no estado e protege uma grande diversidade de ambientes e biodiversidade, além de abrigar as cabeceiras de importantes cursos d’água, como o Ribeirão Encano e o Warnow, que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí. O parque também é importante para a formação de Corredor Ecológico que liga áreas remanescentes de floresta. Outra ação que ajuda a desenvolver o parque e promover sua manutenção é o plano de manejo, criado em 2009.
Mas nem tudo são flores e animais. Toda a área do parque é pública e nas redondezas e em algumas áreas internas há moradores, o que significa que as propriedades privadas existentes na área do PNSI devem ser legalizadas e indenizadas. Hoje, como Viviane disse na palestra, a porcentagem de propriedades indenizadas é bem pequena, como podemos ver neste mapa.
Fonte: Viviane Daufemback
O Parque Nacional da Serra do Itajaí é dividido em oito zonas, que vão desde a proteção integral de ecossistemas, passando por áreas para pesquisa, educação ambiental e ecoturismo até áreas onde há conflito com ações humanas e presença de rodovias e estradas.
Fonte: Viviane Daufemback
Infelizmente, nem todos que moram perto ou dentro do parque respeitam as regras e existem muitos problemas ilegais, que são difíceis de serem flagrados. Caça, comércio de fauna silvestre, roubo de palmito, construções irregulares e pesca são os principais. Quando há apreensões de animais, os funcionários do parque, que por sinal dá para contar nos dedos, trabalham junto com a Polícia Militar e a Política Militar Ambiental.
Fonte das fotos: apresentação da Viviane
Esses atos são um grande perigo para a biodiversidade do Parque Nacional da Serra do Itajaí, que impressiona: são 340 espécies arbóreo-arbustivas, 69 espécies de mamíferos, 310 de aves, 45 de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas), 15 espécies de répteis, 23 de peixes e 159 de borboletas. De todas essas, 54 espécies de fauna e 13 de flora estão ameaçadas de extinção. É justamente para contornar esse terrível cenário, em especial para os carnívoros mamíferos, que existe o Projeto Carnívoros. Através da obtenção de dados ecológicos, minimização de conflitos com proprietários rurais e educação ambiental, o projeto tem o objetivo de conservar os mamíferos do PNSI, em especial o puma, também conhecido como leão-baio, suçuarana ou onça-parda (dá pra escolher, gente).
Em todo o país, são conhecidas 26 espécies de carnívoros, sendo que 10 estão ameaçadas de extinção. No parque existem 11 espécies e as ameaçadas representam 40%. Quase metade, é um dado assustador. Passe o mouse sobre as imagens (todas da apresentação da bióloga Cíntia Gruener) para ler o nome e ver quais estão ameaçadas.
As principais ameaças aos carnívoros são a perda e fragmentação de hábitat, a caça às principais presas deles e a caça por retaliação de fazendeiros à predação de suas criações domésticas. Como funciona: alguns moradores do parque ou entorno tem como atividade a caça e sempre foi assim para eles. Os pais e avós caçavam, a atual geração caça e ainda ensina os filhos na mesma direção. Cintia comentou que, durante as palestras de educação ambiental que ela dá nas escolas da região, professores falam que algumas crianças faltam um dia da semana para ir à caça com o pai. É um absurdo. Mas o pior de tudo é saber que para a criança aquilo é normal, e para o pai também se tornou normal, pois ele foi criado dessa maneira.
Uma das soluções está na educação ambiental de toda a família. Mostrar a eles como a atitude deles é prejudicial à natureza e à própria comunidade. Como assim? Vou explicar: os caçadores vão atrás de animais que servem de alimento para os carnívoros, como mamíferos herbívoros, aves e répteis. Se o alimento na floresta fica escasso, os carnívoros têm que se virar de outra forma e acabam invadindo criações de ovelhas, por exemplo, para se alimentar. Os fazendeiros, como retaliação, correm atrás do bicho para matá-lo. Isso é o que acontece geralmente com os pumas e outros felinos carnívoros que existem no parque. A irara também sofre com as retaliações. Como ela gosta de mel, acaba destruindo as caixas repletas de abelhas dos apicultores para se deliciar com o alimento. O proprietário, então, se vinga colocando banana com veneno nas caixas. Assim, a próxima vez que a irara aparecer será a última. É preciso muita luta dos pesquisadores do projeto para reverter toda essa situação e isso é o que fazem a Cintia, seus colegas e os funcionários do parque.
Fonte das fotos: apresentação da Cintia
Para que projeto tenha bons resultados, os profissionais já entrevistaram 60 propriedades da região do parque para avaliar as pressões, ameaças e percepções sobre os carnívoros silvestres e visitaram as propriedades com criação doméstica na região do parque para verificar possíveis casos de predação por carnívoros e propor medidas preventivas. Eles também caminharam dois mil quilômetros para achar vestígios dos carnívoros, suas presas e onde eles caçam e conseguiram um total de 45 mil horas de monitoramento com armadilhas fotográficas.
Para monitorar o puma, foram capacitadas 20 pessoas e foram feitas palestras para mais de duas mil sobre a importância dos carnívoros na região. Foram três expedições para captura de puma e seis para capturas de outros carnívoros. O projeto já foi levado para seminários científicos nacionais e para eventos como a Exposição Itinerante da Fundação SOS Mata Atlântica. A captura do puma é necessária para a colocação do colar com GPS e para fazer alguns exames. Esses procedimentos ajudam a monitorar onde os pumas estão, para onde eles vão e o que eles comem. Confirma abaixo o vídeo feito pelo Jornal de Santa Catarina na época da captura. Cintia explicou, depois de alguns “oh” do público durante a exibição do vídeo na palestra, que a armadilha para captura não doi, os pesquisadores testaram em si mesmos antes, e que o colar não fica no pescoço do puma até o animal morrer, ele cai depois de um tempo (52 semanas, no caso).
Para monitorar o puma, foram capacitadas 20 pessoas e foram feitas palestras para mais de duas mil sobre a importância dos carnívoros na região. Foram três expedições para captura de puma e seis para capturas de outros carnívoros. O projeto já foi levado para seminários científicos nacionais e para eventos como a Exposição Itinerante da Fundação SOS Mata Atlântica. A captura do puma é necessária para a colocação do colar com GPS e para fazer alguns exames. Esses procedimentos ajudam a monitorar onde os pumas estão, para onde eles vão e o que eles comem. Confirma abaixo o vídeo feito pelo Jornal de Santa Catarina na época da captura. Cintia explicou, depois de alguns “oh” do público durante a exibição do vídeo na palestra, que a armadilha para captura não doi, os pesquisadores testaram em si mesmos antes, e que o colar não fica no pescoço do puma até o animal morrer, ele cai depois de um tempo (52 semanas, no caso).
Parabéns à Cintia e os demais pesquisadores pelo projeto, que ele traga muitos frutos e ajude efetivamente para a conservação do puma e de outros carnívoros, e também aos poucos funcionários do Parque Nacional da Serra do Itajaí, que se desdobram em sua luta diária para proteger a biodiversidade tão rica da nossa região e tão importante para todo o país, junto com todas outras unidades de conservação espalhadas pelo Brasil. Quem quiser saber mais sobre o PNSI e agendar atividades de ecoturismo, pode entrar em contato pelos telefones: 47 3326-1527 e 47 3329-5887. Você também pode ajudar o Projeto Carnívoros, que atualmente enfrenta falta de recursos. Empresas que colaboram recebem benefícios como isenção ou redução de taxas. Para doar, entre em contato com a bióloga Cinta pelo e-mail cggbio@yahoo.com.br.
Conheço o trabalho da Cintia e de seus parceiros e realmente é um trabalho árduo mas gratificante quando mais pessoas abraçam a causa.
ResponderExcluirEmbora hajam dificuldades, os pesquisadores se superam diante delas.
Parabéns pela postagem.
Att
Adilson
Realmente Adilson, os pesquisadores não param diante das dificuldades e isso é admirável. É um trabalho de total dedicação e amor à causa e torna-se muito gratificante quando são obtidos bons resultados. Torço muito para que o projeto consiga novos parceiros e patrocinadores.
ExcluirObrigada por comentar!