A copa e o tatu-bola

Por Letícia Maria Klein •
09 julho 2014
Graças à sua carapaça especial, esta fofura brasileiríssima que é o tatu-bola consegue se fechar numa bolinha para escapar dos predadores. Mas a Fifa é uma predadora grande e já chutou essa bola pra bem longe. Ofereceu uma quantia para o projeto de proteção da espécie, a ONG responsável considerou a oferta insuficiente e nada de patrocínio para o bichinho, que está ameaçado de extinção. Pois a Fifa que vá embora com a sua mesquinharia. Os holofotes sobre a situação crítica do tatu-bola chamaram atenção de muitos, dentro e fora do Brasil, e já tem iniciativas para resgatar a espécie do caminho sem volta da extinção.

Foto: Mark Payne-Gill

O tatu-bola-do-nordeste ou tatu-bola-da-caatinga, (Tolypeutes tricinctus), que virou mascote da copa, é exclusivamente brasileiro, só existe aqui, nos biomas Caatinga e Cerrado. Com sua carapaça de três cintos (daí o nome em latim), o tatu-bola se fecha quando se sente ameaçado e vira uma bolinha, resistente até a ataque de onça. 

Infelizmente, a carapaça não é à prova de seres humanos, que nos últimos 10 anos foram responsáveis por reduzir o número de indivíduos da espécie pela metade, tanto pela caça quanto pelo desmatamento. Hoje ela está classificada como vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

Considerando esse cenário, a ONG Associação Caatinga, que trabalha para a preservação do bioma, criou a campanha que elegeu o tatu-bola como mascote da copa. A ideia foi boa. Animal que vira uma bola combina com futebol. E chama atenção para a preservação do meio ambiente. Por isso o nome Fuleco, futebol + ecologia (pensando bem, deveria ser Futeco, mas acho que o primeiro soa melhor). 

Foto: Mark Payne-Gill

Em contrapartida, a Fifa patrocinaria o projeto de preservação da espécie na natureza, desenvolvido pela ONG. Aí surgiu o problema. A associação queria 1,4 milhão de dólares (mais ou menos 3 milhões de reais) e disse que recebeu da Fifa uma proposta de 300 mil reais. A Fifa diz que ofereceu 300 mil dólares. Há divergências aí. Mesmo assim, a diferença entre o que uma queria e o que a outra ofertou é grande. 

A ONG considerou o valor insuficiente para o projeto e tudo que ele requer (pesquisas e mapeamentos). A Fifa, então, destinou a quantia para outros projetos. As negociações, aparentemente, terminaram. A federação alegou que não tinha mais dinheiro para o tatu-bola. Convenhamos, com o orçamento da copa podendo chegar a R$ 28 bilhões, é muito difícil de acreditar que não houvesse mais verba para o projeto.

Foto: Rodrigo Castro

Mesmo sem o patrocínio da Fifa, Rodrigo Castro, secretário-geral da Associação Caatinga, tem motivos para comemorar. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) lançou o Plano de Ação Nacional (PAN) para preservação do tatu-bola. Aprovado em 22 de maio de 2014, ele tem o objetivo de diminuir o risco de extinção do tatu-bola-do-nordeste e do Tolypeutes matacus, o tatu-bola-do-Centro-Oeste. Eles querem alcançar o objetivo em cinco anos, a partir da prática de 38 ações, divididas em seis objetivos específicos. 

Além de petições online para convencer a Fifa a ajudar o tatu-bola e mobilizações voluntárias de pessoas de outros países, como Alemanha e Suíça, a própria ONG Associação Caatinga está angariando fundos para o projeto, principalmente com a venda de produtos. O que mais está chamando a atenção é um tatu-bola de pelúcia que vira uma bolinha, confeccionado de forma artesanal. Qualquer pessoa pode ajudar e de várias maneiras. Para saber mais, é só clicar no banner abaixo.


A associação, que ajudou na elaboração do PAN junto com outras entidades, também desenvolveu um programa em pareceria com as ONGs The Nature Conservancy e Grupo Especialista em Tatus, Preguiças e Tamanduás. Com o Projeto Tatu-bola, eles esperam fundar Unidades de Conservação e corredores ecológicos em áreas prioritárias para a conservação do tatu-bola, aumentar o conhecimento sobre a espécie e os ambientes naturais onde ela ocorre e promover ações de educação ambiental

O desejo dos envolvidos na preservação do tatu-bola é que, no futuro, ele não seja apenas lembrado como mascote da copa 2014, mas que esteja a salvo da extinção. Que assim seja. 

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