Lixo Extraordinário, de Lucy Walker [Resenha]

Por Letícia Maria Klein •
02 junho 2020
Tião, Zumbi, Magna, Irmã, Isis, Suelen e Valter. Pessoas invisíveis para a maior parte da população, confundidas com o material do qual tiravam seu sustento: lixo. Em 2010, elas viraram personagens no documentário Lixo Extraordinário (Waste Land), dirigido por Lucy Walker.

Imagens aéreas do então lixão de Jardim Gramacho mostram montanhas de descarte em meio à Floresta Atlântica, uma cicatriz de danos humanos à casa Terra. Forte o suficiente, mas que não capturam a outra face do problema da produção de lixo: as vidas humanas que trabalhavam e dependiam daquele lugar para sua sobrevivência. 

Cartaz do documentário Lixo Extraordinário (Waste Land)

Para mostrá-las ao mundo, o artista plástico Vik Muniz fez da sua arte um projeto social. Um dos maiores artistas brasileiros reconhecidos internacionalmente, ele utiliza os mais diversos materiais para fazer suas obras, como sujeira, diamantes, açúcar, cabos, cordas, calda de chocolate, pasta de amendoim e pigmento. E também resíduos sólidos. O que importa para ele é “mudar a vida de um grupo de pessoas usando o material que elas usam”. Por isso a diversidade de matéria-prima.

O dinheiro arrecadado com a venda das obras (que tiveram a contribuição dos próprios catadores) foi revertido para a Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho, liderada por Tião Santos, hoje empreendedor social.

O filme, produzido e realizado a longo de três anos, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2011 e levou Tião para o tapete vermelho. Um ano depois, o lixão, considerado o maior da América Latina, foi extinto e no lugar foi implantado um Polo de Reciclagem no fim de 2013 (mas a situação não melhorou; poucas pessoas continuaram empregadas e ainda há o descarte ilegal de lixo por lá).
 
Tião Santos vendo a representação da sua própria foto

O documentário começa com foco em Vik e vai aos poucos apresentando a vida e a realidade dos catadores de materiais recicláveis do lixão, mostrando todo o desenvolvimento do projeto, desde a ideia até a exibição das obras de arte e o “depois” dos protagonistas. 

Com o retorno financeiro, algumas daquelas pessoas conseguiram mudar sua vida e saíram do lixão. O projeto não mudou só a realidade delas, mas a forma como elas se percebiam enquanto pessoas e trabalhadores.

Além da questão humana fortemente presente na narrativa, que aproxima o espectador da história, envolve e emociona, o documentário traz à tona a problemática da produção de lixo em suas dimensões sociais, ambientais e econômicas. Consumismo, desperdício, poluição, classes sociais, condições de trabalho e preconceito são alguns dos temas sobre os quais podemos refletir. 

Trailer do documentário

As artes plásticas e o cinema têm o poder de conscientizar e abrir os nossos olhos para questões que precisam ser discutidas e modificadas na sociedade. Só existe lixo no mundo porque nós, seres humanos, produzimos lixo – materiais que desperdiçamos e não reaproveitamos. É nossa responsabilidade e nosso dever mudar isso. Com consciência e ações diárias. 

Documentário recomendadíssimo! 

Um ecobeijo e até breve!

0 comentários:

Postar um comentário

Oi, tudo bem? Obrigada por passar aqui! O que achou do post? Comente aqui embaixo e participe da conversa.

© 2013 Sustenta Ações – Programação por Iunique Studio