Gaia: alerta final, de James Lovelock [Resenha]

Por Letícia Maria Klein •
25 junho 2020
A terra, nosso planeta casa, está viva. É um organismo que se autorregula por meio dos seres vivos, rochas, oceano e atmosfera, todos conectados em um sistema em evolução. Todos inter-relacionados e interdependentes de alguma forma.

É isso que diz James Lovelock na teoria de Gaia, que ele formulou nos anos de 1980 a partir da hipótese de Gaia, criada na década anterior. Em "Gaia: alerta final", o autor faz um retrato sombrio das ações e consequências da humanidade no planeta, que tem nos colocado rumo a uma catástrofe climática que pode ser irreversível. 

Gaia: alerta final, de James Loveck


Para ele, a redução da queima de combustíveis fósseis, do uso de energia e da destruição das florestas não é uma resposta suficiente ao aquecimento global, que pode acontecer mais rápido do que nossa capacidade de reação. Aqui ele dá um panorama geral e analítico da previsão climática, explicando os modelos e o consenso (equivocado!) do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.
“Civilizações destroem a si próprias com ideologias que, como vírus de computador, incapacitam seus sistemas operacionais. [...] A crise é o resultado de colocarmos os direitos humanos antes dos deveres humanos com a Terra e as demais formas de vida com as quais compartilhamos a Terra.” (p. 230, 232)
James Lovelock é amigo de Stephan Harding, professor com quem tive aula na Schumacher College. Ele eventualmente falava sobre o cientista – nós estudamos a teoria de Gaia, inclusive. Além de criador da teoria, Lovelock inventou o instrumento que mede a quantidade de CFCs na atmosfera.

Neste livro, o autor coloca em xeque o que se considera sustentável hoje, como energia eólica, por exemplo - ele aposta todas as fichas em energia nuclear, a partir da explicação dos prós e contras de diversas fontes de energia e alimento. Ele também explora as técnicas de geogenharia e a discussão sobre o que é ser ou não ser verde.

Lovelock sempre foi considerado polêmico, e apesar de oito previsões da sua teoria já terem sido confirmadas, ele não é majoritariamente aceito na comunidade científica.
“A aceitação lança dúvida sobre o modo como a ciência é dividida em um conjunto cômodo de disciplinas, e torna indesculpável continuar a prever e planejar nosso futuro com base na ciência reducionista dos séculos passados. [...] A teoria de Gaia é holística, um sistema teórico completo e, como tal, não pode ser modelada utilizando os conceitos das ciências da Terra ou da vida separadamente” (p. 179, 190)

A ideia da teoria é que o planeta sempre vai buscar, por meio do seu sistema integrado, regular as condições de superfície para favorecer a vida e a habitabilidade. Faz todo o sentido, e se quisermos mudar o futuro da espécie humana no planeta, precisamos todos ter consciência da interdependência dos elementos desse sistema. 
“Um entendimento correto da Terra como um planeta vivo é uma questão de vida ou morte para bilhões de pessoas e de extinção para toda uma gama de espécies. [...] Não há um conjunto de regras ou prescrição para viver com Gaia, só existem consequências.” (p. 188 – 190)
A leitura do livro foi um pouco arrastada para mim, especialmente na primeira metade, e penso que só consegui aproveitar bem a obra porque já tinha conhecimento sobre o assunto, inclusive do meu curso de Ciência Holística na Schumacher (este livro é o último de uma série sobre Gaia, então talvez seja bom começar pelo primeiro).

Lovelock usa uma linguagem mais técnica e tem pensamentos que podem ser considerados polêmicos, talvez até contraditórios. Em nove capítulos, o cientista nos leva por uma jornada sobre história humana, nossas ações e impactos no planeta, as consequências dos modos de vida antropocêntricos, alternativas e soluções (que ajudam, mas não resolvem tudo), a evolução da teoria de Gaia, percepções sobre o planeta vivo, ideias sobre o que é verde e sustentável e um cenário futuro.

Concorde com ele ou não, James Lovelock contribuiu para revolucionar o modo como se pensa e faz ciência hoje - e como as pessoas enxergam a si mesmas no planeta.

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