Você já decidiu em quem votar nas próximas eleições? Elas estão logo aí e a gente precisa escolher candidatos que reflitam as nossas preocupações e tragam melhorias enquanto estiverem no governo. Na minha visão, e talvez na sua também, é importante escolher candidatos que mostrem preocupação com a natureza e apresentem propostas de proteção à biodiversidade e medidas de sustentabilidade. Para isso, uma ótima ação que a gente pode fazer é não votar em ruralista, os representantes do agronegócio. A questão é tão séria que a organização 350.org criou a campanha #NãoVoteEmRuralista. Entenda por que e conheça o verdadeiro negócio do agronegócio.
O agronegócio engloba a pecuária e a agricultura em larga escala, produzindo no Brasil carne, grãos e outros produtos, como café, açúcar, etanol e suco de laranja, que são os mais exportados. Isso é bom, não é? Gera emprego, comida e faz a economia girar. Na teoria, tudo é uma beleza. Mas à luz da verdade, as “belezas” do agronegócio se transformam em horrores, tanto sociais quanto ambientais. Mas por que o setor do agronegócio é tão mal? Vamos entender!
Pra começar, a gente se ilude quando a questão é comida. Na verdade, 70% do que comemos vem da agricultura familiar. De toda a produção do agronegócio, a maior parte vai para biodiesel, industrializados e exportação, enquanto a população brasileira fica com apenas 30% da comida.
O agronegócio é um dos grandes responsáveis pelas mudanças climáticas que causam enchentes e outras catástrofes como seca, furações, aumento do nível do mar, degelo das calotas polares e aumento da temperatura média do planeta. O aquecimento global é intensificado pela emissão de gases que provocam o efeito estufa. Das atividades humanas, a que mais libera esses gases é o agronegócio, responsável por 59% das emissões no Brasil, segundo a 350.org. Grande parte dos gases vem dos próprios animais criados, pois bois e vacas produzem gás metano, que é 21 vezes mais ativo em reter os raios solares na atmosfera do que o dióxido de carbono (ou gás carbônico). Ou seja, é 21 vezes pior que o CO2! E sabe quantos bovinos existem no Brasil? 209 milhões, mais que a própria população brasileira!
O agronegócio também é o setor econômico que mais utiliza água doce no país: 72% da água consumida no Brasil. Um contraste com as centenas de cidades brasileiras que sofrem com a seca. Além disso, a bancada ruralista luta contra o enfraquecimento dos direitos das populações indígenas. Não bastasse querer tirar os índios de suas terras, o agronegócio brasileiro é o que mais consome agrotóxicos no mundo, o que polui as terras e os lençóis freáticos e é prejudicial às pessoas.
Outro grande problema causado pelo agronegócio é o desmatamento. Quanto mais florestas nativas são derrubadas, maior é a perda de biodiversidade e maior é a confusão no clima, pois são as árvores que regulam o sistema de chuvas. Cada árvore adulta exala por dia, em média, 500 litros de água em forma de vapor, que posteriormente caem em forma de chuva em diversas regiões do país e do continente. Quanto menos árvores, menos chuva. A chuva é fundamental para a agricultura. Já deu pra perceber a cadeia de eventos, né. Sem contar que as árvores, quando cortadas, liberam todo o gás carbônico que armazenaram durante a vida, contribuindo para o aquecimento global.
Um dos aspectos mais vergonhosos do agronegócio é o emprego de mão de obra escrava. Sim, ainda existem escravos no mundo. Enquanto muitos trabalham de forma indigna, muitos outros passam fome. Ao passo que um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado nos processos de produção, transporte e venda, cerca de 925 milhões de pessoas passam fome no mundo. E um terço de comida mundial equivale a 1,3 bilhão de toneladas!
Você e eu podemos mudar esses cenários! Podemos combater este mercado do mal comprando direto do produtor, em feiras livres de produtos orgânicos. Ajudamos a natureza, melhoramos nossa saúde e contribuímos para a justiça social. A agricultura familiar emprega 77% dos trabalhadores do campo, o que significa mais de 15 pessoas a cada 100 hectares. No agronegócio, são apenas duas pessoas por 100 ha.
Outra forma de mudar a realidade é votar conscientemente. Então, junte-se à campanha e não vote em candidatos ruralistas. Mas como eu vou saber quem é ruralista ou não? O site da campanha ajuda! São vários links de páginas que nos dizem tudo sobre os candidatos:
- O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar disponibiliza a lista de deputados federais e senadores eleitos que compõem a bancada ruralista no congresso.
- O Tribunal Superior Eleitoral, através da plataforma Divulgacand, mostra informações precisas sobre os políticos que se candidataram a um cargo eletivo.
- Esta lista traz todos os deputados que votaram pela aprovação do Código Florestal, uma lei que acabou beneficiando mais os ruralistas do que a natureza.
- O organismo Transparência Brasil reúne várias ferramentas para ajudar a gente a fiscalizar os candidatos em quem votamos. A campanha #NãoVoteEmRuralista recomenda estas duas: Às Claras, para saber se o candidato tem um doador ligado ao agronegócio, e Excelências, que faz um raio X dos ruralistas.
- O site República dos ruralistas é obra do trabalho de organizações da sociedade civil e mostra informações sobre os políticos ruralistas. Para ver uma surpresa no site, basta digitar a palavra “ruralista” em qualquer parte.
- Nesta lista da ong Repórter Brasil, dá para descobrir se o candidato está relacionado ao agronegócio. Também é possível pesquisar por parentes, que muitas vezes servem de laranja para políticos que querem se livrar de acusações.
Pra terminar, fica aqui o vídeo da campanha.
Também deixo uma entrevista que a jornalista Francine Lima, do canal no Youtube Do campo à mesa, fez com May Boeve, diretora da 350.org e articuladora da ação global contra a emissão de gases estufa, e com Verena Glass, jornalista ambiental da Fundação Rosa Luxemburgo, sobre o poder político ruralista no Brasil e sua ligação com as mudanças climáticas globais.
Podemos fazer a diferença, então vamos usar bem o nosso voto! Leia, pesquise e, fica a dica, não vote em ruralista!
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