Julho sem plástico: como fazer uma auditoria de marca para identificar os maiores poluidores

Por Letícia Maria Klein •
30 julho 2018
Chegamos à última semana da campanha #julhosemplastico! No começo, repassei dicas que como você pode evitar o plástico descartável no seu dia a dia, depois você viu como participar das conversas sobre poluição por plástico e ainda descobriu como pode ajudar sua comunidade a acabar com esse problema. Por fim, o Projeto A História das Coisas nos convida a fazer uma auditoria de marca e participar de campanhas contínuas para combater os resíduos de plástico.

Organize uma auditoria de marca


Fonte: The Story of Stuff Project.

Limpar lixo de lugares públicos como praias e parques é uma ótima forma de serviço comunitário. Mas com tanto plástico entrando no ambiente, é uma questão de tempo até que esses espaços sejam poluídos de novo. Para interromper esse ciclo, podemos identificar quais produtos aparecem com mais frequência e responsabilizar os fabricantes. Uma auditoria de marca é um movimento global de ciência cidadã para resolver o problema da poluição plástica. Veja o vídeo abaixo (em inglês) sobre como funciona uma auditoria de marca e conheça os 10 passos para começar a sua auditoria.


1º - Primeiro, é importante fazer um plano de destinação de resíduos. Pense com antecedência em como descartar adequadamente todos os resíduos da sua atividade de limpeza, não só os plásticos. Por exemplo, os materiais recicláveis ​​devem ir para a recuperação de materiais ou cooperativas de reciclagem e os resíduos orgânicos ​​podem ser reservados para compostagem. Os rejeitos, que são os resíduos que não podem ser reciclados nem compostados, são normalmente utilizados para a auditoria da marca, pois essas são as marcas que devem ser identificadas.

2º - Em qualquer atividade de limpeza, é importante ter o equipamento adequado para proteger você e seus voluntários. Providenciem luvas de proteção ou pinças para retirar ou manusear o lixo.

3º - Depois de ter identificado o local que será limpo, especifique e meça o tamanho da área, que deve ser deve ser relativo ao número de voluntários ou participantes. Tire fotos do local antes e depois e compartilhe-as usando a hashtag #breakfreefromplastic!

4º - Se você tiver tempo suficiente (um dia inteiro para a limpeza), recomenda-se coletar todos os tipos de resíduos no local escolhido, não apenas os plásticos. Esse processo é chamado de auditoria de resíduos e ocorre antes da auditoria de marca. Uma auditoria de resíduos identifica e quantifica os tipos diferentes de resíduos (orgânicos, plásticos recicláveis, papeis, metais, vidro, resíduos perigosos e rejeitos) de uma maneira abrangente. Essa informação pode ser usada para entender qual a porcentagem de plástico no conjunto. Para te ajudar, baixe o formulário com a metodologia de auditoria de resíduos (em inglês).

5º - Se você não tem tempo para realizar uma auditoria de resíduos, recolha o lixo no local escolhido e separe os plásticos dos demais. Agora você e sua equipe estão prontos para auditar as marcas com o lixo plástico coletado. Categorize os itens por marca à medida que coletam. As marcas não identificáveis ​​podem ser classificadas de acordo com o tipo de pacote, o que fornece informações sobre materiais problemáticos.

6º - Registre seus dados, incluindo as informações abaixo sobre cada item de plástico. Você pode baixar o formulário de auditoria de marca em planilha ou pdf (em inglês) e seguir estas etapas:

  • Anote o nome da marca, que será a palavra mais visível impressa no item.
  • Registre o fabricante da marca, que será uma impressão menor em um local menos óbvio. Grandes fabricantes como Unilever, Nestlie e Procter & Gamble têm centenas de marcas. Uma pesquisa on-line rápida já revela o fabricante do item de plástico encontrado, se não estiver claro no rótulo.
  • Preencha o restante das informações especificadas no formulário.

7º - Socialize o evento. Tire fotos das pilhas de plástico de cada fabricante e publique-as nas redes sociais. Marque o fabricante, comece uma conversa com ele sobre as soluções e utilize a hashtag #breakfreefromplastic!

8º - Se você quiser disponibilizar suas informações para uso pela iniciativa Break Free From Plastic, insira seus dados e fotos junto com um arquivo de cópia/captura de tela/excel digitalizado do formulário de dados e envie-os através de formulário on-line.

9º - Limpe toda a área de auditoria com muito cuidado, deixando-o local mais limpo do que antes da atividade.

10º - Se você tiver recursos para isso, coloque os itens de marca numa caixa e envie-os de volta para o fabricante. Inclua uma carta descrevendo o objetivo da sua auditoria de marca e instigue-a ser livre de plásticos descartáveis.

Liberte-se do plástico

Um problema global exige uma solução global. É por isso que um movimento de centenas de organizações como o The Story of Stuff Project e outras se uniram para criar uma estratégia global ambiciosa para combater a poluição do plástico. Inscreva-se para receber atualizações e oportunidades de ação do Break Free From Plastic.

Compartilhe sua história

Registre suas ações por um mundo sem poluição por plástico e compartilhe nas redes sociais usando as hashtags #julhosempalstico #plasticfreejuly e #breakfreefromplastic.

Fonte: The Story of Stuff Project.

Como está sua participação no desafio? Comente aqui embaixo suas conquistas e desafios.
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Julho sem plástico: como ajudar sua comunidade a resolver o problema do plástico descartável

Por Letícia Maria Klein •
23 julho 2018
Pode ser no seu prédio, na escola, no trabalho, na sua rua ou bairro ou em outro coletivo do qual faça parte. O terceiro e-mail da campanha do #julhosemplastico é sobre ajudar sua comunidade a diminuir o consumo de plásticos descartáveis. Confira abaixo algumas idéias de ação:



  • Nos restaurantes e mercados que você frequenta, sugira a colocação de cartazes convidando as pessoas a levarem seus copos, canudos reutilizáveis e sacolas ecológicas. Você mesmo pode criar os cartazes e já levar consigo quando for falar com os responsáveis pelo local. Explique os problemas do plástico, a campanha e os benefícios de evitar o uso de descartáveis. A organização Plastic Free July disponibilizou alguns cartazes (em inglês) que podem servir de inspiração. 

  • Identifique um grupo ou local em sua comunidade que usa ou vende plástico descartável e ajude-os a encontrar uma solução que não gere esse lixo. Por exemplo, você pode combinar com seus colegas de trabalho para cada um ter sua própria caneca e solicitar à empresa onde trabalha para instalar filtros de água, caso o consumo seja por bombonas. 

  • Comece um projeto de lei pela proibição ou taxação de sacolas plásticas, canudinhos, isopor ou outro plástico descartável que vira rejeito onde você mora. Primeiro pesquise se já existe alguma legislação referente a isso na sua cidade. Se não tiver, você pode dar o primeiro passo! Existe um guia da Fundação Surfrider (em inglês) que dá um passo-a-passo de como fazer isso. Resumidamente, é o seguinte: 
  1. Analise suas opções. 
  2. Planeje sua campanha (conheça os fatos, consiga apoio, conheça a oposição). 
  3.  Trabalhe com o o governo e faça o rascunho de um projeto de lei (encontre apoiador e patrocinador, participe de reuniões de conselhos municipais e da Câmara de Vereadores). 
  4. Construa uma rede de apoiadores na comunidade, envolvendo cidadãos e políticos. 
  5. Conheça sua oposição. 
  6. Divulgue a campanha, sessões na Câmara e audiências públicas para conseguir apoiadores para a votação. 

Quando se trata de contribuir para um planeta sem poluição por plástico, eliminar os descartáveis da sua vida é um ótimo lugar para começar, mas péssimo para parar. Resolver um problema tão grande quanto esse requer que façamos ações grandes também. Quando você se mobiliza para tornar sua comunidade sustentável, você está ampliando seu impacto e ajudando a construir um sistema melhor.

Se perdeu as primeiras semanas da campanha, não se preocupe porque ainda dá tempo de acompanhar. O primeiro post foi sobre 10 dicas para eliminar os resíduos plásticos da sua rotina e o segundo falou sobre como você pode participar das conversas sobre resíduos de plástico que estão rolando este mês.

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Julho sem plástico: participe das conversas sobre plástico e poluição

Por Letícia Maria Klein •
15 julho 2018
Depois de dar 10 dicas de como você pode reduzir a quantidade de plásticos que gera no dia a dia, aqui vão três ações que você pode fazer para aumentar o volume de conversas sobre plásticos e a poluição causada por eles. Esse é o pedido do segundo e-mail da campanha #plasticfreejuly, que nos desafia a não utilizar plásticos descartáveis no mês de julho.


Nível fácil

Compartilhe uma história, foto ou vídeo sobre poluição plástica nas ferramentas de rede social. O próprio projeto A História das Coisas tem outros vídeos que você divulgar, como a história da água engarrafada e a história das microfibras. Você pode atualizar os pontos de discussão ou enviar os links dos filmes para família e amigos.

Tem também infográficos sobre combustíveis fósseis que mostram por que as indústrias de petróleo e gás natural adoram plástico. Falando nele, somente 9% dos plásticos são reciclados no mundo! Além disso, países que costumavam receber parte do lixo de outras nações proibiram essa importação, o que obriga cada país a encontrar soluções para a gestão correta dos seus resíduos. Felizmente, as proibições ou taxas de sacolas plásticas e outros descartáveis como canudos estão se espalhando por cidades e países.

Nível impressionante

Você tem uma solução criativa, inteligente e sem plástico? Compartilhe uma foto, vídeo ou história sobre sua experiência com o desafio e publique nos seus perfis digitais com as hashtags #julhosemplastico, #plasticfreejuly e #breakfreefromplastic e marque o projeto The Story of Stuff.

Nível épico

Convide alguém para participar do desafio do julho sem plástico com você. A inscrição para receber dicas lixo zero por e-mail pode ser feita aqui.

Essa é a tarefa para essa semana: participar das conversas sobre os problemas relacionados aos plásticos descartáveis e contribuir para aumentar a discussão sobre o tema. Na próxima semana, a campanha vai enviar algumas ideias de ações para você tirar o plástico da sua comunidade. Conte aqui nos comentários se você está participando do julho sem plástico e o que tem feito na sua rotina para gerar menos lixo. Até a próxima!
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Julho sem plástico: 10 dicas para ser lixo zero no seu dia a dia

Por Letícia Maria Klein •
09 julho 2018
A campanha #plasticfreejuly, do The Story of Stuff Project (Projeto A História das Coisas, criador do documentário sobre a trajetória do lixo no mundo) está enviando e-mails semanais para quem assinou o desafio de não gerar resíduos de plástico durante o mês de julho. Apesar de reciclável, o plástico facilmente vira um rejeito e acaba indo para aterro sanitário, lixão ou oceano (90% do lixo presente nos oceanos são plásticos!). Para evitar desperdícios desde a extração até o descarte, o primeiro e-mail da campanha veio com 10 dicas para evitar o uso de plásticos descartáveis no seu dia a dia, que eu compartilho aqui para um #julhosemplastico.

Faça uma auditoria dos seus resíduos

O que você anda “jogando fora”? Assim entre aspas mesmo, porque tudo continua dentro do planeta. Preste atenção nas coisas que você está descartando, entre orgânicos, recicláveis e rejeitos. Veja quais produtos geram mais desperdício, como embalagens. Para cada item de plástico descartado, pense em como você pode adotar uma alternativa que não gere resíduos.

Comece com as coisas fáceis

O lixo da maioria das pessoas segue a regra 80/20: 80% dos seus resíduos são compostos pelos mesmos itens repetidos e materiais comuns, como sacos plásticos, garrafas e embalagens. Por isso, pequenas mudanças para evitar a geração desses itens podem ter um grande impacto.

Sacolas de pano
Sacolas de pano

Compre menos

Cerca de 40% dos resíduos que geramos são embalagens. Ao comprar menos coisas, consequentemente você produz menos resíduos. Com demanda menor, a oferta também é menor, o que significa menos extração de bens naturais para a fabricação de artefatos.

Use reutilizáveis

Escolha alternativas reutilizáveis ​​para evitar os plásticos descartáveis: bolsas de lona ou pano, ​​garrafas de água reutilizáveis, talheres reutilizáveis, canudo de bambu, vidro ou aço inoxidável, copo retrátil, guardanapo de pano e mais. Leve seu kit lixo zero ​​na bolsa ou mochila ou deixe no carro para ter sempre que precisar.

Kit de talheres para comer fora de casa
Kit de talheres para comer fora de casa

Evite embalagens de porções individuais

Produtos alimentícios empacotados em porção pequena ou para uma pessoa significam mais embalagem, o que implica mais desperdício. Sempre que possível, compre seus alimentos em embalagens maiores e distribua o conteúdo em recipientes reutilizáveis.

Recuse plásticos

Diga não ao plástico descartável que você não precisa. No restaurante, peça para servirem sua bebida sem canudo (é importante reforçar ao garçom, pois em alguns lugares o copo já vem com canudo). Na degustação de algum produto no mercado, recuse o copinho plástico e tenha sempre bom ter à mão um copinho retrátil para aproveitar essas ocasiões sem gerar resíduo.

Copo retrátil de metal
Copo retrátil de metal

Elimine os itens de plástico

Enquanto seus produtos estiverem funcionando, continue usando. Mas à medida que precisar substituir coisas feitas de plástico na sua casa, prefira alternativas livres desse material. O plástico é derivado do petróleo, um bem natural não renovável, e leva até 500 anos para se desintegrar. Escolha itens feitos de matéria-prima orgânica, como madeira, ou de longa duração, como vidro e metal.

Compre a granel

Está crescendo o número de lojas que oferecem alimentos a granel e produtos de limpeza mais naturais também a granel. As pessoas podem levar seus próprios recipientes reutilizáveis ou saquinhos de pano para comprar, ​​sem precisar de embalagens plásticas. Pesquisa na sua região se tem alguma loja assim. No Bulk Finder, aplicativo lançado pela Bea Johnson, do blog Zero Waste Home, você pode incluir e localizar pontos de venda a granel. Já são mais de 25 mil usuários ativos em mais de 30 países, que já incluíram mais de três mil pontos.

Saquinhos de pano para compras a granel
Saquinhos de pano para compras a granel

Pegue emprestado ou compre usado

Compartilhar suas coisas com família, amigos e vizinhos e comprar itens de segunda mão reduzem a quantidade de coisas novas que você consome e embalagens de plástico geradas, além de diminuir a pressão sobre o planeta pela extração de bens naturais.

Pare de comprar roupas com plástico

Você sabia que tecidos sintéticos como poliéster, acrílico, elastano, poliamida, nylon e lycra são feitos de plástico? As fibras sintéticas vêm do petróleo e são tratadas com produtos químicos durante e depois do processamento, além de usarem grandes quantidades de água e energia em sua produção. Sempre que uma peça sintética é lavada, ela solta micropartículas de plástico no sistema de água, que não são filtradas na estação de tratamento e acabam nos oceanos. Conheça mais sobre isso no vídeo A História das Microfibras abaixo.



Evitar os plásticos descartáveis no seu dia a dia é um ótimo ponto de partida. Só não pode parar por aí. Para resolver o problema da poluição plástica, é preciso mudar a conversa e o sistema. Nas próximas semanas, a campanha #plasticfreejuly vai compartilhar ideias de como fazer isso e eu vou trazê-las aqui para o blog. Até a próxima!
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Julho sem plástico: um mês para reduzir o consumo de plásticos descartáveis

Por Letícia Maria Klein •
03 julho 2018
Em 2011, um grupo de pessoas na Austrália começou um movimento pela diminuição do uso de plásticos descartáveis. Desde então, o #plasticfreejuly se espalhou para mais de 150 países e se transformou numa fundação sem fins lucrativos. Com a visão um mundo sem desperdício de plásticos, o movimento #julhosemplastico quer encorajar as pessoas a refletir sobre o uso desse material e incentivá-las a recusar os descartáveis no dia a dia.

"Aceite o desafio: escolha recusar plásticos descartáveis"

Os plásticos de uso único, especialmente embalagens, são um dos maiores problemas no mundo hoje, poluindo de ruas a oceanos e matando milhares de animais que os ingerem ou ficam presos neles. Conforme essa postagem sobre o panorama dos plásticos no planeta, de toda a quantidade produzida por ano, 40% dos itens são usados somente uma vez e descartados e só 9% são reciclados. Além do desperdício, outro problema dessa cadeia é a extração e uso de matérias-primas, como o não renovável petróleo, para produzir objetos que serão usados por tanto pouco tempo e em seguida descartados em aterros sanitários, lixões ou mares, onde demoram até 500 anos para se desintegrarem em microplásticos.

Substitua os plásticos descartáveis
Substitua os plásticos descartáveis...


... por opções reutilizáveis

A melhor forma de lutar contra essa onda de desperdício e poluição, ou pelo menos a mais fácil, é começar por nós mesmos, em casa e nos lugares que frequentamos. Nesse post eu mostrei o kit lixo zero que carrego na bolsa. Hoje ele contém trio de talheres, canudo, guardanapo de pano, copo retrátil e xícara pequena, todos reutilizáveis e embalados em saquinhos de pano. Abaixo estão mais dicas de como evitar o uso de descartáveis e a geração de rejeitos nas atividades diárias.

  • Carregar uma garrafa de inox ou vidro, que são mais saudáveis, ou pelo menos as de plástico reutilizável sem BPA.
  • Levar sua própria sacola de pano ou retornável para as compras. Muitas podem ser dobradas até caberem no bolso.
  • Ir às compras de frutas e verduras com saquinhos de tecido, tanto no mercado quanto na feira.
  • Levar potes para comprar alimentos a granel. Assim como copos, existem potes retráteis que cabem facilmente na bolsa ou mochila.
  • Usar rodelinhas de pano de algodão para retirar maquiagem e evitar cotonetes (existe uma versão com haste de papel, mas, para limpar as orelhas, o recomendado é usar uma toalha).
  • Recusar a segunda via do comprovante do cartão de crédito ou débito.
  • Substituir a sacola do lixeiro por jornal, saco de papel ou caixa de papelão – para reduzir pela metade o que vai na lata do lixo em primeiro lugar, comece sua compostagem em casa.

De forma geral, você pode seguir os seguintes princípios:

  1. Evite produtos que venham em embalagens plásticas.
  2. Reduza, sempre que possível.
  3. Recuse plásticos que viram lixo (rejeito), como canudos, copos para viagem, utensílios, balões, embalagens de isopor.
  4. Recicle o que não pode ser evitado.

O plástico é uma questão política, diz Stephanie Convery nesse artigo do jornal The Guardian sobre estilo de vida sem plástico. Isso significa, segundo ela, que são necessárias demandas coletivas de base por reforma em todos os níveis, desde como o plástico é usado e como é vendido até como é descartado. “É um problema que requer pensar muito maior do que o carrinho de compras - embora talvez o carrinho de compras seja um bom lugar para começar.” Com ações individuais e diárias, vamos influenciando familiares, amigos e colegas de trabalho a adotarem novos hábitos e assim vamos modificando culturas e instituições em prol de mundo sem desperdício.

Campanha do movimento #plasticfreejuly



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A sexta extinção - uma história não natural, de Elizabeth Kolbert [Resenha]

Por Letícia Maria Klein •
26 junho 2018
É o que procura responder a jornalista Elizabeth Kolbert no livro "A sexta extinção - uma história não natural", publicado em 2015 no Brasil pela Editora Intrínseca. O livro foi vencedor do Prêmio Pulitzer de Não Ficção em 2015 (o Pulitzer é o prêmio de jornalismo mais importante dos Estados Unidos, destinado a trabalhos de destaque nas áreas do jornalismo, literatura e composição musical).

A sexta extinção - Elizabeth Kolbert

O livro é dividido em 13 capítulos que contam a história das últimas cinco grandes extinções em massa que aconteceram no planeta no passado e revelam indícios do sexto episódio que pode estar em curso. Esta sexta extinção é uma história não natural porque está sendo provocada pela espécie humana, em sua busca frenética por riqueza, poder e satisfação de vaidades e ambições. Um dos legados da humanidade neste Antropoceno é a extinção de centenas de espécies de fauna e flora, como Elizabeth apresenta neste livro que é uma verdadeira viagem no tempo e espaço do nosso planeta. Ao longo do trajeto, entendemos que a extinção é um fenômeno natural, o problema é que a humanidade está intensificando esse processo em milhares de vezes e tornando-a uma extinção em massa.

"Em tempos normais - conceito que deve ser entendido aqui como épocas geológicas inteiras -, é muito raro ocorrer uma extinção. Mais raro até do que as especiações e só ocorre dentro de um fenômeno que é conhecido como taxa de extinção de fundo. [Essa taxa é medida em extinções por milhão de espécies-anos, que refere à frequência com que uma espécie é extinta: espera-se que a cada 700 anos desapareça uma espécie de mamífero e a cada 1000 anos, uma de anfíbio.] (...) As extinções em massa são diferentes. [Elas disparam.] (...) calcula-se que a taxa de extinção do grupo [de anfíbios] pode ser até 45 mil vezes superior à taxa de fundo. (...) Estima-se que um terço de todos os recifes de corais, um terço de todos os moluscos de água doce, um terço dos tubarões e arraias, um quarto dos mamíferos, um quinto de todos os répteis e um sexto de todas as aves estão a caminho do desaparecimento."

Cada capítulo do livro é dedicado à história de uma espécie já extinta, como o arau-gigante (o "pinguim original" Pinguinus impennis) e o mastodonte-americano (Mammut americanum, que levou ao surgimento do conceito de extinção) ou que está em vias de ser, como a rã-dourada-do-panamá (Atelopus zeteki) ou o pequeno-morcego-marrom (Myotis lucifugus). Essas histórias servem como pano de fundo para Elizabeth traçar um panorama da própria história evolutiva do planeta Terra e da humanidade, explicando conceitos relacionados à extinção de espécies, geologia, biologia, geografia, problemas ambientais como mudanças climáticas, desmatamento e espécies invasoras, entre outros.

A lista de referências para uma grande reportagem dessa qualidade é longa: foram mais de 300 livros e artigos científicos consultados, além de entrevistas com profissionais especialistas. A jornalista também viajou a diversos lugares do mundo para acompanhar pesquisadores em campo a fim de encontrar vestígios do que se passou, ver de perto as ameaças à biodiversidade e conhecer estudos que estão sendo realizados para compreender as extinções em curso. A jornalista visitou habitat de espécies extintas ou ameaçadas, sítios arqueológicos, centros de pesquisas e museus na Alemanha, Austrália, Brasil (Amazônia), Escócia, Estados Unidos, França, Islândia, Itália, Panamá, Peru.

Para nos contar a história das extinções, ela apresenta dados das vidas e obras dos cientistas e pesquisadores que, nos últimos três séculos, descobriram o fenômeno da extinção e se dedicaram a entender suas causas e consequências. Com suas teorias, eles esclareceram questões relativas ao desenvolvimento e sumiço de espécies e às mudanças tanto lentas quanto repentinas (cronologicamente falando) na história da biodiversidade. Todas as teorias acabaram contribuindo para o que se sabe hoje sobre extinção, por mais que algumas tenham sido completamente contrárias umas às outras e seus proponentes, como George Cuvier e Charles Lyell, tenham sido fortes opositores.

Em 1739, ossos de um "suposto elefante americano" foram encontrado no vale do rio Ohio e enviados ao Cabinet du Roi, do rei Luís XV, o futuro Museu de História Natural de Paris. Em 1975, Cuvier começou a trabalhar no museu. Foi estudando aqueles ossos e comparado-os aos de outros espécimes que Cuvier primeiro se deparou com a ideia de que uma espécie pudesse se extinguir. Depois de estudar quatro espécies extintas e declarar que poderia haver outras, o cientista passou a defender "a existência de um mundo anterior ao nosso" e conseguiu estabelecer a extinção como um fato. Em 1801, um esqueleto completo do mastodonte-americano foi apresentado ao público e cinco ano depois Cuvier deu nome à espécie em um ensaio publicado em Paris.

Rebanho de mastodontes-americanos (Mammut americanum). Crédito: Charles R. Knight, 1897.

Apesar de entender que "a história da vida era longa, mutável e repleta de criaturas fantásticas que não existiam mais", Cuvier não acreditava no conceito de evolução, chamado de transformisme. Já seu colega no museu, Jean-Baptiste Lamarck, era defensor da ideia e opositor do entendimento de extinção defendido pelo outro cientista. Cuvier também disse que a Terra foi perturbada por "eventos terríveis" (catástrofes) e que muitas espécies deixaram de existir. Escreve Elizabeth que o naturalista estava "sinistramente correto" em alguns de seus estudos.

A extinção do mastodonte "foi parte de uma onda de desaparecimentos que se tornou conhecida como extinção da megafauna. Essa onda coincidiu com a propagação dos seres humanos modernos e, cada vez mais, é entendida como resultado dela. Nesse sentido, a crise que Cuvier identificou logo antes do limite da história registrada somos nós".
Outro opositor de Cuvier foi Charles Lyell, que refutava a visão da história da Terra daquele e defendia que a paisagem do planeta mudava muito lentamente, assim como as espécies, cuja extinção ocorreria num ritmo muito devagar. Curiosamente, os dois eram amigos e Lyell tinha permissão do outro para fazer moldes dos fósseis e levá-los para a Inglaterra, onde morava outro cientista defensor do conceito de evolução, Charles Darwin (futuro criador da própria teoria da evolução e seguidor de Lyell). Os dois cientistas, cada um na sua área de estudo (geologia e biologia) acreditavam que o presente era a chave para entender o passado.

A amizade seguiu até o ponto em que Lyell e Darwin também começaram a divergir, pois o primeiro não compreendia como uma espécie, ao longo de milhares de anos, poderia se transformar em outra. Com seus estudos sobre evolução das espécies, Darwin descobriu que surgimento e desaparecimento eram dois lados da mesma moeda: a extinção era causada pela seleção natural. Porém, Darwin também sabia do papel do ser humano no sumiço de espécies, pois ele mesmo presenciou isso durante sua viagem ao arquipélago de Galápagos a bordo do Beagle.

Em seu livro "A origem das espécies", Darwin observou que os animais se tornam raros antes de serem extintos: "Sabemos que esse tem sido o processo dos eventos com aqueles animais que foram exterminados, seja localmente ou no mundo todo, por meio da ação humana". Apesar de não ter percebido a gravidade dessa ação, com essa frase Darwin lançou luz sobre uma extinção em massa que está sendo provocada por nós, ao contrário das Cinco Grandes Extinções anteriores (que aconteceram nos períodos Ordoviciano, Devoniano, Permiano, Triássico e Cretáceo, entre 450 e 50 milhões de anos atrás, causadas por glaciação, aquecimento global, mudança na química dos oceanos, impacto de asteroide, entre outros). Ainda não se sabe se essa terá os mesmos impactos das anteriores, que dizimaram de 75% a 100% de várias espécies de micro-organismos, animais e plantas, mas ela já recebeu o nome de Sexta Extinção - segundo estudo publicado em 2017, cerca de um terço das 27 mil espécies analisadas teve declínio populacional e diminuição em distribuição geográfica e 40% dos mamíferos estudados tiveram encolhimento superior a 80%.

Desta vez, as causas recaem sobre nós. As ações humanas estão afetando as mais variadas espécies de flora e fauna, em todas as regiões planeta. Extinção não conhece fronteiras e se alastra pelos continentes e oceanos. Assim como também acontece com milhares de espécies, que são levadas de um lado a outro do globo em diversas atividades humanas e se tornam espécies exóticas invasoras aonde chegam, contribuindo para a perda da biodiversidade local. Por dia, estima-se que 10 mil espécies são transportadas de um lugar a outro no mundo na água dos tanques de lastro de navios, sem contar outras circunstâncias de deslocamento. As mudanças climáticas também figuram na lista de impactos da humanidade sobre outras espécies, especialmente nos oceanos. A caça, a pesca e o desmatamento são outras causas da extinção de espécies que estamos provocando.

Mas tem muitas pessoas na luta para preservar as espécies ameaçadas. Indo além dos dados trágicos e da história nefasta que se desenrola aos nossos olhos, a jornalista mostra várias iniciativas que estão tentando resgatar animais e plantas do caminho do sumiço. Elizabeth sabe contar histórias. Ela atua como um guia, nos levando por viagens no tempo e espaço com uma narrativa rica em detalhes, envolvente e didática, traduzindo a linguagem científica para o nosso entendimento. Como ela mesma diz no capítulo de agradecimento, uma jornalista precisa do auxílio de muitas pessoas para escrever um livro sobre extinção em massa. Ela agradece a cada um que a ajudou de alguma forma a conhecer toda a história contada no livro. É quase como uma metáfora perversa da própria extinção: um conjunto de ações humanas está fazendo com que que muitas espécies desapareçam do planeta. No outro lado da moeda, a colaboração também pode salvar milhares de espécies enquanto há tempo. Neste livro tão relevante, entendemos o quão fundamental e complexo é o equilíbrio da teia da vida.

Serviço
Título: A sexta extinção - uma história não natural
Título original: The sixth extinction - an unnatural history
Autora: Elizabeth Kolbert
Tradutor: Mauro Pinheiro
Editora: Intrínseca
Páginas: 336
Ano de lançamento: 2015
Onde conseguir: Estante Virtual (novos e usados), Skoob (para possível troca), Amazon, Livraria Cultura, Livrarias CuritibaSaraiva.
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