Espiritismo e Ecologia, de André Trigueiro [Resenha]

Por Letícia Maria Klein Lobe •
21 novembro 2013

A ecologia e o espiritismo são duas ciências que nasceram na mesma época, entre 1850 e 1870. As duas estão ganhando cada vez mais visibilidade e despertando mais interesse e curiosidade. Outra semelhança é que ambas defendem o uso sustentável dos bens naturais, o consumo consciente, a coletividade em detrimento do individualismo e utilizam a visão sistêmica da biodiversidade, pela qual tudo e todos são interligados e interdependentes (o termo vem da Teoria Geral dos Sistemas, do biólogo Ludwig Von Bertalanffy). O espiritismo e a ecologia oferecem ferramentas que nos ajudam a compreender o mundo a nossa volta. No livro, o leitor percebe as diversas crises que a humanidade vem enfrentando e a necessidade de desenvolvermos novas noções de realidade, novos hábitos, e termos mais comprometimento com a vida, em toda e qualquer forma.


O principal objetivo deste livro [...] é demonstrar que Espiritismo e Ecologia são ciências afins, sinérgicas, e que sugerem abordagens sistêmicas da realidade, as quais ainda não foram devidamente compreendidas ou aceitas. É justamente essa visão sistêmica da realidade que nos oferece amplas condições de navegabilidade num mar revolto em que o analfabetismo ambiental vem causando grandes estragos. É muito feliz o pensamento – de autor desconhecido – que inverte uma antiga máxima do movimento ambientalista: “Mais importante do que cuidar do planeta para nossos filhos e netos, é cuidar melhor dos nossos filhos e netos para o planeta.”

Escrito pelo jornalista ambiental e espírita André Trigueiro (autor de Mundo Sustentável), o livro apresenta capítulos curtos e objetivos que vão mostrando as semelhanças entre as duas ciências e despertando o leitor para a necessidade de preservar o planeta. O autor fala sobre brevemente sobre o espiritismo, que não se considera uma religião (na verdade, nós espíritas falamos em doutrina) e sobre sua origem, assim como conta sobre o nascimento da ecologia e o que ela estuda. O livro também passa por temas como sustentabilidade, lei da destruição (a destruição é necessária para a manutenção do equilíbrio), poluição e psicosfera, consumo consciente, publicidade e as crianças, ecologia na obra de Chico Xavier e traz ainda um pequeno dicionário ambiental com 140 verbetes.

Eu sou suspeita para falar, pois sou espírita e apaixonada pela temática ambiental (como o próprio blog mostra), mas o livro é excelente. André escreve de maneira clara e objetiva, e ainda assim cativante, apontando as semelhanças entre as duas ciências e a interdependência entre os seres vivos e o planeta com fatos, argumentos e citações. O livro proporciona uma leitura muito agradável e fluida, podendo ser lido em poucas horas. 

É muito mais um convite à reflexão e à mudança, mais sobre a realidade atual enfrentada pela humanidade e a urgência em cuidar de nós, dos outros e da Terra do que de fato uma exposição sobre espiritismo ou ecologia. Na verdade, as duas ciências são utilizadas como base e alicerce para mostrar que há muito mais entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia, como diria Shakespeare. Somos muito mais ligados à Terra do que supomos e toda ação vem acompanhada de uma reação, tanto para quem faz quanto para quem está ao redor (ou ainda nem nasceu).

Há várias citações durante o livro que eu adorei. Deixo algumas abaixo só para dar o gostinho.

Nenhuma atividade no bem é insignificante. As mais altas árvores são oriundas de minúsculas sementes. (Chico Xavier).
A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. (Resposta à pergunta 705 do Livro dos Espíritos, sobre consumo).
[...] como ficar indiferente diante das perspectivas de um desequilíbrio ecológico, que torna inabitáveis e hostis ao homem várias áreas do planeta? [...] É urgente uma educação sobre a responsabilidade ecológica. (Papa João Paulo II).
[...] há chance de salvamento. Mas para isso devemos percorrer um longo caminho de conversão de nossos hábitos cotidianos e políticos, privados e públicos, culturais e espirituais. A degradação crescente de nossa casa comum, a Terra, denuncia nossa crise de adolescência. Importa que entremos na idade madura e mostremos sinais de sabedoria. Sem isso, não garantiremos um futuro promissor. (pensador católico Leonardo Boff, no livro Saber Cuidar). 

Gostou da resenha? Se ficou interessado, a leitura é super recomendada. Se quiser saber mais, André Trigueiro também tem palestras sobre o assunto.

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