Bicicletando por aí

Por Letícia Maria Klein •
07 novembro 2013
As bicicletas são cada vez mais frequentes nas cidades. Se pegarmos algumas cidades da Europa como base, a frequência é bem alta. E a quantidade também. Em 2013, a venda de bicicletas na maioria nos países da União Européia ultrapassou a de carros. É uma solução para muitos problemas e uma grande aliada da sustentabilidade. Ocupa pouco espaço, tem um preço acessível, é uma ferramenta para exercício físico, não te estressa no trânsito, permite maior opção de ruas no trajeto do que o carro e tem baixo impacto ambiental, pois não emite gases de efeito estufa e não precisa de combustível. Tanto que é um símbolo da sustentabilidade. Com quase 200 anos de história, finalmente a bicicleta está ganhando o espaço que merece. E eu ainda vou aprender a andar em uma. Sim, você leu direito, eu (ainda, veja bem!) não sei andar de bicicleta. 



A bicicleta tem muita história, mas serei breve. No fim do século XV, Leonardo da Vinci desenhou o que seria o primeiro projeto de uma bicicleta, mas os desenhos só foram descobertos em 1966, por monges italianos. A história começa de fato, porém, em 1790 com a invenção do brinquedo celerífero, criado pelo conde francês de Sivrac. Era uma construção em madeira com duas rodas alinhadas, e só. Em 1817, o engenheiro alemão e barão Karl von Drais, considerado o inventor da bicicleta, aperfeiçoou o celerífero, adicionando direção, freio e selim. Ficou conhecida como draisianaPorém, ainda faltavam os pedais, que é o sistema de propulsão da bicicleta. Quem complementou o invento foi o ferreiro escocês Kirkpatrick Macmillan, em 1839. Com mais adaptações nos anos seguintes, como por exemplo, a colocação dos pedais na roda da frente, a bicicleta tomou a forma que conhecemos hoje. 

Draisiana, criada por Karl von Drais. Fonte: D Bike

Desde as draisianas, as bicicletas se tornaram muito populares, principalmente na Europa, que foi o berço da invenção. Mesmo depois do surgimento do automóvel, em 1886, pelo alemão Carl Benz, as bicicletas eram as mais pedidas, principalmente devido às duas grandes guerras. Sem dinheiro e precisando se reerguer do zero, os países europeus evitam ao máximo gastos desnecessários. A bicicleta virou até política de desenvolvimento econômico e social, como conta o site Escola de Bicicleta. Após a segunda guerra mundial, a Europa conseguiu se reerguer com a ajuda dos Estados Unidos, o que acabou fortalecendo a indústria automobilística empreendida por Henri Ford. 


Bicicleta com pedais, criada por Kirkpatrick Macmillan. Fonte: D Bike

Enquanto em alguns países a bicicleta foi sendo aos poucos substituída por carros e motos, em outros, como a Holanda, o uso dela foi intensificado, pois se viu que a bike era uma forma de uso inteligente do espaço urbano. Até hoje, países europeus são alguns dos que mais utilizam bicicletas. Em 2013, como informa o site Mobilize, a venda de bikes por lá superou a de carros. Apenas em dois países dos 27 que compõem a União Européia (Bélgica e Luxemburgo), isso ainda não é realidade. 

Na Alemanha foram 3.966 milhões de bicicletas para 3.083 milhões de automóveis; no Reino Unido foram 3.600 milhões para 2.045 milhões; na França, 2.835 milhões para 1.899 milhões, na Itália, 1.606 milhões para 1.402 milhões e na Espanha, que não tinha tradição em bicicletas, as vendas foram de 708 mil para 700 mil. Um dos fatores que fez com que houvesse esse boom de bikes na Europa foi a crise econômica dos últimos anos. O número de carros vendidos ainda é muito alto, mas ver que as bicicletas se tornaram um concorrente à altura é excelente, especialmente em tempos em que ser sustentável deixou de ser opção para se tornar necessidade e estilo de vida. 

Mas não é só lá que as bikes fazem sucesso. No oriente elas também são muito populares. Pouco depois da invenção da draisiana, segundo Escola de Bicicleta, elas foram parar no Japão, que logo entrou no mercado internacional de fabricação do veículo. Na China, as bicicletas começaram a se popularizar a partir de 1949, com a Revolução Comunista. Na Índia e em Taiwan elas também fazem parte da paisagem. Na China, de acordo com Mobilize, a venda de bikes em 2013 também superou a de carros: foram 28 milhões contra 19,3 milhões. Só que nesse caso as bicicletas são elétricas. São melhores que carros, mas eu ainda prefiro as normais, pensando pelo lado sustentável.


Chinês em sua bike elétrica

Enquanto isso, no Brasil... A realidade é outra. O Mobilize informa que as indústrias do Polo Industrial de Manaus contabilizaram 875.835 bicicletas vendidas em 2012, quase 6% a mais do que no ano anterior. Carros vendidos? Até o início de outubro deste ano, foram 2.780.330, de acordo a Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave). É uma grande diferença. Se levarmos em conta o tamanho do Brasil então, ela fica maior ainda. O incentivo ao uso de bicicletas ainda é pequeno e a cultura do carro é forte. Mas eu acredito, acho que é tendência até, que isso mude. Novos tempos pedem novos hábitos e o uso da bicicleta e de formas ambientalmente conscientes de se locomover é um deles. 

Em várias cidades existem sistemas de compartilhamento de bicicletas. Dependo da duração do trajeto, o uso pode sair de graça. Aqui em Blumenau foi implantado, mas infelizmente não deu certo. Rio de Janeiro e São Paulo têm (BikeRio e BikeSampa). Existe também em Londres (Barclays Cycle Hire), Paris (Velib) e Nova Iorque (Citi Bike), para citar alguns exemplos. Berlim é um baita modelo de cidade onde as pessoas compartilham bicicletas. São 400 serviços de compartilhamento gratuito! Conheça como funciona um deles, o Bike Surf, nesta reportagem da coluna Sustentável, do Jornal da Globo. Que show!


Mapa das ciclorrotas em São Paulo. Baixe aqui

Para que as cidades se tornem cada vez mais sustentáveis e as pessoas passem a ter estilos de vida mais saudáveis e ambientalmente amigáveis é preciso que os governos adotem políticas de mobilidade urbana que priorizem o uso de bicicletas e transportes públicos de massa, como metrô, trem e ônibus. No caso das bicicletas, é necessário também que a cidade implante ciclovias, para que seja seguro andar por aí sobre duas rodas. Na Europa, é possível ir de um país ao outro seguramente de bicicleta, seguindo, por exemplo, pela ciclovia do Rio Danúbio, que atravessa Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Croácia, Sérvia, Bulgária, Ucrânia e Romênia. É uma rota muito utilizada por cicloturistas. Quem sabe um dia eu faça esse passeio, pelo menos um trecho... Vontade não falta!


Ciclovia da Rio Danúbio

Se na sua cidade não tem ciclovia (aqui em Blumenau tem um pseudociclovia, que só passa no centro), tomar medidas de segurança nunca é demais, como andar na direção contrária à dos carros, para que você possa olhar de frente para eles e assim evitar acidentes. Além, é claro, dos itens obrigatórios pela lei brasileira, como campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor do lado esquerdo – que, aliás, é uma questão controversa, pois é mais importante para o ciclista se concentrar no que está a sua frente do que atrás (leia mais sobre isso aqui). 

Você costuma andar de bicicleta? Vai para o trabalho, escola ou centro de lazer sobre duas rodas? Ou é apenas um hobby? Ah, me conte também se ficou com vontade de viajar por aí de bike. Até mais! 

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