“No contexto industrial, a sustentabilidade não é mais uma questão de escolha, mas de sobrevivência. Ela deixou de ser diferencial para ser estratégia”. Foi o que Jorge Peron, da gerência de Meio Ambiente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) disse para exemplificar a necessidade da indústria em inovar. Inovação foi a palavra-chave do 8º Workshop Internacional Senai – Ambiental, realizado nesta terça, 22 de julho, aqui em Blumenau. Quem promoveu o encontro foi a Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina), por meio do Senai. O tema: Meio Ambiente e Competitividade.
Tudo bem organizado, pomposo pra falar a verdade. Coquetel, crachá, pastinha com folhetos, bloco de anotações, caneta, mais folhetos, coquetel de novo... Opa, opa, péra aí, algo de errado não está certo, como se diz (redundâncias à parte). Para um evento que fala sobre sustentabilidade, há papel e desperdício demais nessas linhas. Sinceramente, pra quê crachá? Ainda mais num evento de um dia. Eu deixei a caneta e a pasta com os milhares de folhetos dentro lá na cadeira, pra usaram de novo. Ah, e claro que eu deixei também um comentário sobre o assunto na folha de avaliação do evento. Todo esse material precisou de matéria-prima e energia pra ser feito e muito provavelmente a maioria vai para o lixo, o que prejudica ainda mais o meio ambiente. Não adianta só falar sobre sustentabilidade, é preciso agir. Que bom que as palestras mostraram ótimas ações em curso.
As palestras foram interessantes, principalmente para quem trabalha na indústria ou com desenvolvimento de produtos. Foram três: “Ecodesing, ecoinovação”, do espanhol Joan Pons, “A necessidade da valorização de resíduos para preservar o meio ambiente”, de Lauro Vianna e “A indústria nacional e a gestão de recursos hídricos”, de Jorge Peron (o da frase do começo do post). Lauro Vianna é diretor administrativo e operacional da Momento Engenharia Ambiental, que faz o tratamento e destinação correta de resíduos classes I e II (industriais) e resíduos dos serviços de saúde. Já falei dela por aqui, mas ele acrescentou uma informação legal ao que eu já tinha. Sabia que o gerenciamento dos resíduos começa no local de origem? O cliente também precisa fazer a parte dele, separando o lixo corretamente. Quem gera resíduo é responsável por ele o tempo todo, até a parte final, que é o descarte. Grande responsabilidade a do cliente! Mas como disse Lauro, o tratamento dos resíduos é um investimento: é bom para o cliente, bom para os clientes do cliente e bom para o meio ambiente.
Momento Engenharia Ambiental
O que também é ótimo para nosso meio ambiente é o ecodesign. Achei show de bola o tema e a palestra (com tradução simultânea, pois era em espanhol). Joan, professor e pesquisador da Universidad Autònoma de Barcelona, explicou que ecodesign é pensar um produto de forma diferente: pensar maneiras para melhorá-lo, melhorar a eficiência, a gestão de uso e gestão final. Como disse Joan, é meio que uma visão bumerangue da coisa, o produto tem que voltar, precisa ser utilizado de várias formas. Além de multifuncional, um produto “ecodesenhado” reduz, durante a sua produção, o impacto gerado no meio ambiente. Menos água é utilizada, menos energia, menos matéria-prima.
O produto do ecodesign é planejado para ser ecológico, para causar menos impacto do que um produto não ecológico. As etapas são seis: planejamento de objetivos, avaliação do produto e melhorias, ecobriefing, cenários de melhoria, validação e informe final. Joan deu alguns exemplos bem bacanas de produtos "ecodesenhados": uma privada que usa água que sai da torneira para dar a descarga (adorei!), lâmpadas de LED, jaqueta que serve para todas as estações (mangas e toca tem zíper para serem tiradas ou colocadas – super!). Tem até dois exemplos brasileiros: Natura, empresa de cosméticos e higiene pessoal, e Ciao Mao, de sapatos. Além de reduzir o impacto ambiental, o ecodesign diminui custos e aumenta a eficiência energética para as empresas.
Privada desenhada por empresa espanhola
Porém, a indústria precisa inovar além do ecodesign e um dos desafios mundiais, o maior deles diria Jorge Peron, é o uso sustentável da água. De toda a água do mundo, menos de 1% pode ser usada pela humanidade. Dá só uma olhada em como esse 1% de água é usado ao redor do globo, em média: 69% para uso agrícola, 21% para uso industrial e 10% para uso doméstico. No Brasil, a média de água para agricultura sobe para 72% e para indústria cai para 18%. A imagem abaixo, mostrada na palestra, dá detalhes de quanta água se gasta para produzir diferentes alimentos que a gente consome no dia a dia.
Bastante, né. Demais. É fato: tem escassez de água no planeta. No Brasil, ela é abundante, mas o problema é a má distribuição espacial e temporal. Na Amazônia, por exemplo, onde moram 5% da população brasileira, estão concentradas 70% da água! Outro problema: 54% dos brasileiros não têm rede de esgoto. Num cenário de escassez de água, os conflitos ficam ali de butuca, só esperando pra atrapalhar.
Soluções existem e uma delas é a gestão participativa, por meio de comitês de bacias hidrográficas. Em Santa Catarina são 17, no Rio de Janeiro (cidade do palestrante), são nove. O que precisa ficar claro é que a água é um bem comum, não commodity. Como a indústria pode contribuir para a gestão participativa? Racionalizando o uso da água. Por incrível que pareça, como disse Jorge, é no setor industrial que estão as melhores práticas de recirculação, reaproveitamento e reuso da água. Como ela é cara, seu uso deve ser eficiente. Menos desperdício é igual a mais água por mais tempo. Por isso que a inovação no setor industrial é a palavra de ordem no momento. E não só em relação à água. Gerir energia, resíduos e emissões atmosféricas significa eliminar perdas no processo industrial e otimizar os custos. Produzir mais com menos recursos. Para a indústria, uma questão de sobrevivência. Pensando melhor, para todos.
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