Minimalismo, um documentário sobre as coisas importantes [Resenha]

Por Letícia Maria Klein Lobe •
29 janeiro 2019
Nem menos, nem mais, o suficiente. Mas quanto é suficiente? Em "Minimalism - A documentary about the important things" (Minimalismo - Um documentário sobre as coisas importantes, em tradução livre), dirigido por Matt d’Avilla, especialistas e autores exploram as origens e consequências do consumismo e pessoas que adotaram o estilo minimalista compartilham suas experiências e o que as levaram a mudar suas vidas. O documentário está disponível no Netflix, Vimeo, entre outros.

Uma das cenas mais interessantes no início do documentário é uma situação típica de Black Friday, em que uma multidão espera em frente a uma loja e entra como uma manada quando as portas são abertas. A cena é acompanhada por uma música tranquila, causando uma sensação de desconforto devido ao contraste com as imagens. Uma mensagem sem palavras: o consumismo não pode ser uma situação confortável nem uma onda que engole tudo no caminho.

O documentário acompanha a turnê de divulgação do livro “Everything that remains: a memoir by the minimalists” (“Tudo que resta: um livro de memórias dos minimalistas”, em tradução livre), escrito por Ryan Nicodemus e Joshua Fields Millburn como resultado de suas experiências com o minimalismo. Conhecidos como “os minimalistas”, eles mantém um site sobre o tema, com dicas e passos para viver uma vida com menos coisas e mais sentido, como dizem. Durante o filme, intercalado com as imagens da turnê, aparecem outros autores de livros com a mesma temática, como Patrick Rhone, autor de “Enough” e Tammy Strobel, autora de “You can buy happiness (and it’s cheap)”.


Ao longo de 1h18 (pouco tempo para muitos personagens), eles também falam com especialistas da área da saúde, como o neuropsicologista Rick Hanson, que aponta o fato de que apesar do padrão de vida ter melhorado de forma geral, especialmente nos EUA (foco do filme), a busca por mais nunca esteve tão intensa. Tem também profissionais do ramo da moda sustentável, da arquitetura sustentável, economia e sociologia, além de pessoas que mudaram suas vidas com o minimalismo e criaram projetos para inspirar outros, como é o caso de Courtney Carver, com o Project 333, em que ela experimentou usar 33 roupas, calçados e acessórios por três meses.

Para Ryan, minimalismo não se trata de total desapego, mas de ficar somente com aquilo que tem valor para você. O valor real, não aquele incutido pela mídia e a propaganda. O neurocientista Sam Harris diz que a mídia nos mostra modelos de ser, vestir e comer e quando as pessoas não conseguem atingir aquele padrão, elas ficam frustradas. “Estamos confusos sobre o que nos faz felizes, achando que coisas materiais trazem satisfação”, numa busca constante por dopamina e estímulo. Para Shannon Whitehead, consultora de vestuário sustentável, o problema está nas pessoas acreditarem na ilusão que a mídia cria sobre como a vida delas deveria ser. Elas querem aquela perfeição que aparece em novelas, séries, redes sociais, mas que não existe na realidade.

O tal sonho americano, como explica Juliet, era um conceito sobre oportunidades (de trabalho, renda, casa), mas que, com o passar do tempo, foi se tornando mais forte em termos materiais. Na década de 1990, roupas, eletrônicos e bens domésticos foram ficando mais baratos e o consumismo explodiu. Hoje existe até uma indústria de armazenamento para aquelas pessoas que não têm mais espaço nas suas casas para guardar o que compram. Isso reafirma a crença de Gail Steketee, PhD em acumulação compulsiva, de que as pessoas têm um mau relacionamento com as coisas, chegando até a atos de violência como se vê na cena inicial da onda Black Friday.

Para Juliet, as pessoas deveriam ser materialistas no sentido exato da palavra, ou seja, cuidando dos bens naturais e não os tratando como coisas descartáveis ou como símbolos de status e posicionamento na sociedade. Esse comportamento é comum quando o assunto é moda. A indústria lança uma nova coleção por semana (sim, são 52 coleções por ano) e vende roupas com valor menor do que comida, pois não agrega os devidos custos socioambientais da cadeia de produção. O quão insano é isso? Como diz Shannon, é a economia da insustentabilidade.

O minimalismo tem várias definições e toca cada pessoa de forma diferente. Entre as motivações, estão fatores econômicos, sociais e sustentáveis. Se você está aqui, provavelmente a questão ambiental é uma delas. Como diz o filme, nós jamais seremos capazes de melhorar o ambiente em que vivemos se não mudarmos nossas vidas e hábitos. Ao serem menos consumistas, provavelmente as pessoas vão perceber que muitas coisas não farão falta.

Não é um processo fácil, como qualquer mudança na vida. Ryan conta que foi difícil. Para a dupla, coisas materiais não satisfaziam mais seu propósito de vida. Uma das mensagens do filme é que ser minimalista não significa não consumir, mas ter uma vida que é boa para você, os outros, e o planeta, superando o apetite por coisas materiais.

Apesar de dar alguns exemplos de indivíduos, casais e até uma família grande que adotam o minimalismo, o documentário é superficial no sentido de não abordar os vários aspectos e camadas do movimento (como as pessoas fazem, impacto disso no seu dia a dia). Ele acaba falando mais sobre alguns motivos para tornar-se minimalista, especialmente relacionados ao bem-estar, do que a prática em si. O tom é motivador e funciona como um gatilho para você buscar mais informações por conta própria. Aliás, recomendo que você faça para não cair na armadilha simplista do filme.

Para mim, depois de já ter lido sobre o tema ao longo dos anos e experimentado algumas coisas, fico com a mensagem passada de que uma vida minimalista é uma vida equilibrada, nem com menos nem com mais, mas com o suficiente para você, que é o que te deixa bem.

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